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sexta-feira, 4 de julho de 2008

Capítulo XV

Lisa abriu os olhos lentamente. Meio desnorteada não conseguiu, de imediato, perceber onde se encontrava. Ainda despertando, sentiu um peso em sua cintura e, virando a cabeça, viu Jô colada às suas costas, num abraço estreito e possessivo, apertando sua cintura. Sentiu então um arrepio por todo o corpo, relembrando tudo que fizerem uma com a outra. Voltou a cabeça novamente e pegou o despertador, na cabeceira da cama. Quatro horas da manhã! “Uau, nós perdemos mesmo noção do tempo”. Voltou o despertador ao seu lugar e deixou escapar um suspiro profundo. Virou-se lentamente para não despertar Jô, afastou com delicadeza seus cabelos do rosto, observando enlevada seu respirar tranquilo, satisfeito. Sua expressão estava suave, a boca ligeiramente aberta, um pouco inchada pelos sucessivos beijos trocados pelas duas. “Nossa, aquilo foi tudo de bom!” Ela não conseguia ainda assimilar tudo que acontecera entre elas, porém se sentia maravilhosamente satisfeita, plena, realizada. Jô fora tão carinhosa, tão... tão tudo com ela. Sabia como a amiga era imediatista, ansiosa, até meio brusca, mas com ela fora tão carinhosa que sentia seus olhos se encherem de lágrimas só de lembrar seus momentos juntas. Fora tanta entrega, tanta paixão e amor que não havia como se arrepender de nenhum segundo vivido. “Preciso ir ao banheiro”.
Tentou se levantar, mas Jô estreitou o abraço como que com medo que ela sumisse de seus braços. Lisa deslizou pela cama, erguendo com dificuldade o braço da morena, que acabou se virando de frente entre resmungos, ainda dormindo. Já em pé, olhou para Jô, deitada de costas, o lençol cobrindo-a até a cintura. Sentiu novamente nascer dentro de si um desejo de tomá-la em seus braços e fazê-la mais uma vez sua. “Lisa, juízo! Que coisa! Deixe-a descansar!” Desviou com dificuldade os olhos daquele monumento moreno e correu para o banheiro onde decidiu tomar um banho rápido. Deixou seu corpo dolorido pelas horas de amor praticado por elas, relaxar sob a água quente e, então, suspirou sonhadora. “Que sonho, meu Deus! Se for mesmo um sonho não me deixa acordar”. Depois de vários minutos, ensaboou todo o corpo. Estava tão entretida nesse ritual que soltou um pequeno grito de susto ao ver o box se abrir de repente.
- Ora, ora! Nem me chama pro banho, né – Jô apareceu esplendorosa, em toda sua nudez. Cruzou os braços sobre os seios fartos e desceu o olhar faminto para a nudez de Lisa. - Quem deixou você sair da cama sem minha permissão?
- Ai, Jô... Tava louca por um banho. Desculpe, tentei ao máximo não acordá-la.
- Hum... – Jô entrou no chuveiro e fechou o box. - na verdade senti falta de seu corpo no meu, Li. - tomou o sabonete da loira e começa ela mesma a passá-lo pelo delicado corpo. - Li... Acho que nunca vou cansar de olhar você. É tão linda.
- Jô... humm... – estremece quando Jô passa a mão levemente por seus seios.
- Gostoso amor? Quer mais?
Já era de manhã quando Joyce despertou. Sorriu feliz, apertando mais o corpo de uma Lisa adormecida para si. Já não sabia dizer quantas vezes se amaram. Todas ma-ra-vi-lho-sas. Pôs o nariz no pescoço de Lisa e aspirou deliciada seu cheiro. “Minha toda minha!”. Franziu ligeiramente a testa ao lembrar-se de Fred, o raquítico. Será que Lisa realmente o encontrara? Não importava, dali em diante ela seria apenas sua. Estreitou o abraço, fechou os olhos e não conseguiu deixar de pensar em tudo que acontecera. O rosto de Lisa quando estava tomada pelo prazer era algo inesquecível. Mentalizou cada momento, cada beijo, cada carícia trocada e suspirou satisfeita. “Como a vida com Lisa é rica! Em todas as suas formas”. Sorriu feliz e mordeu levemente a nuca da loira, que soltou um curto gemido, mas não acordou. Além da amizade tinha agora o amor. Riu abobada. “Eita pacote dois em um! Sou uma garota de sorte!!”
As duas passaram a tarde entre beijos, brincadeiras e descobertas. Estavam entretidas num beijo delicioso no sofá da sala quando ouviram o barulho do portão.
- É minha mãe e Mariana – Jô disse enquanto arrumava a blusa que Lisa erguera. Lisa também, na pressa, se punha decente e levanta para receber Lúcia e Mariana.
- Heiiiiii!!!! Lindinha da mamãeeeee!! Que saudade! – Jô pegou a menina nos braços e deu vários beijinhos em seu lindo rosto – Aiii não vou mais deixar você longe de mim! – Olhou para sua mãe, deu-lhe um sorriso e um beijo no rosto – Oi mãe.
- Olá, Jô. Descansou? - Disse retribuindo o beijo – Olá, Lisa
- Olá, Lúcia tudo bem, né? - Voltou o olhar para Mariana - Nossa, que saudade de você, Mari - disse se aproximando da criança nos braços de Jô, dando-lhe um beijo suave. Mariana imediatamente jogou os braços para frente, pedindo o colo de Lisa.
- Heiiiii – reclamou uma Jô indignada – a mamãe sou eu, sua danada. Não sentiu minha falta?? – disse rindo, deixando-a ir para o colo de Lisa.
- Li vou ajudar mamãe lá na cozinha, tá?
- Tá bom, Jô – respondeu Lisa, entretida com a criança em seu colo. Sentou-se no sofá e começou a brincar com Mari, que ria muito de suas gracinhas. - Ah Mari... Que olhos hem, Mari? Quantos corações vai quebrar tendo essa carinha linda, igual a da mamãe e esse verdão ofuscante. – disse sorrindo.
A menina sorriu e pulou em suas pernas, como a pedir mais e mais atenção. Lisa nunca se cansava de estar com Mariana. Sentia tanta alegria com ela que nem sentia o tempo passar. Tomou um susto quando sentiu mãos enlaçarem sua cintura e um beijo leve na nuca.
- Nossa como está distraída! – brincou Jô, rindo
- Jô! Que susto! Tava mesmo – olhou para os lados - Uai, cadê sua mãe?
- Ehh Li, ela já passou aqui e agora foi pro banho. Nossa, mas a Mariana tem o dom de te desligar do mundo, hein.
- Ahh, Jô – disse meio sem graça por não ter notado mesmo a aproximação de Jô - Mas olha que coisa gostosa ela é - falou fazendo caretas para a criança que soltou mais e mais gargalhadas.
- Gostosa igual à mãe? – Jô falou insinuante, com um olhar safado para Lisa, que foi totalmente retribuído.
- Hum... Menos Jô... menos... – disse aproximando os lábios de Jô que se afastou de rompante
- Liii olha a Mariana!
- Que isso, Jô, ela ainda nem entende isso.
- Ah, não! Nem pensar, na frente dela, não.
- Chata – Lisa lhe mostrou a língua.
- Boba.
- Feia.
- Gostosa.
- Saborosa.
- Tesuda.
- Jooo!!! Que horror – disse Lisa caindo na gargalhada.
- Quem manda provocar - Jô ria, fazendo-lhe cócegas, as três caíram no sofá, cheias de brincadeiras. Lisa teve a nítida impressão que nunca um dia passara tão rápido. Foi tristonha que se despediu de Lúcia, Mari e Jô – esta, com uma olhar mais que especial - e fez o caminho de volta para casa.
- Olha só!! Voltou a margarida – o pai a esperava sentado no sofá, com o braço enlaçado em sua mãe.
- Oi pai, oi mãe. E ai como foram as férias sem mim? - disse rindo e se jogando entre eles, no sofá. - Aiiiiii, eu tô tão felizzz!!!!!!!!
- Nossa senhora! – Marcos olhou a esposa – Muiéé tira esse peso de meu colo. Paula riu e abraçou a filha.
- Fizeram as pazes, você e Jô, Lisa?
- Ah? Sim mãe, fizemos. Foi um fim de semana muito... legal. -”Divino, estupendo, maravilhoso, extasiante, tudo, tudooooo”, pensou sonhadora. Levantou-se de um salto.
- Vou estudar. Esqueci que tinha um trabalho pra fazer. Beijo pai, beijo mãe.
Os pais a observaram ir para o quarto e se entreolham, cada um com seus pensamentos. Marcos rindo da alegria da filha, Paula pensativa. Nunca a filha lhe parecera tão inconstante nas atitudes como nos últimos tempos.
 Deitada na cama, Jô não conseguia parar de pensar nos momentos com Lisa. Tudo estava tão perfeito que tinha medo de dormir e ver que era irreal. Acariciou o lençol com a palma da mão e sorriu enlevada. Após um tempo, foi ao quarto de Mariana e viu que ela adormecera. “Ai Mariana, sua mamãe tá boba, uma apaixonada boba”. Voltou ao próprio quarto e novamente se deitou na cama. Tudo que queria era sonhar... sonhar... sonhar...

- AIIIIIIII!!! Esqueciii! Meu Deus, o trabalho! – Jô levou as mãos à cabeça, desesperada – Lisa, sua merdinha, você não me avisou!!!!
- Pô, Jô só lembrei ontem à noite. Como ia saber que você esqueceu?
- Ahh, sei!? Você não sabia! Nossa, que inocente você é! – Lançou um olhar mortal para a loira. – Me passa essa coisa ai logo, vou tentar copiar. – disse tomando o trabalho da mão da outra.
- Ai tá, mas vê se muda alguma coisa viu.
- Viu, viu, arreeee que droga!!!! – saiu correndo em direção à biblioteca. – Não vou pro primeiro horário!!
Lisa caminhou meio que rindo para a sala. “Achei mesmo que as coisas iriam mudar?” Joyce nunca mudaria. Para sempre seria esta, meio mulher meio criança inconsequente que tanto a fascinava. Durante todo o dia custaram a disfarçar os olhares maliciosos e insinuantes que lançavam uma para a outra. Ninguém reparava, mas Lisa se deu conta que, se antes tocava Jô naturalmente nas aulas, agora esta parecia inibida com os mesmos toques. No recreio evitou lhe dar as mãos, coisa que antes fazia sem receio.
- Jô, que tem dar as mãos? – diz baixinho
- Ahh, Li e se alguém notar? – retrucou olhando discretamente para os lados.
- Arre, Jô! Nós fazemos isto desde o jardim de infância!
- Tá, mas agora é diferente, sei lá! - jogou os longos cabelos para trás – É diferente.
Lisa ficou emburrada e se encostou à parede da cantina, cruzando os braços.
- Lisaaa! Tava te procurando gata! – Ambas viraram os olhos em direção ao chamado. Fred vinha sorrindo de orelha a orelha em sua direção. Estava bonito. Era magro, mas não raquítico como Jô adorava ressaltar. Enfim, um lindo adolescente caminhando para a beleza da idade adulta. Lisa sorriu meio sem graça e, diante do olhar furioso de Joyce, trocou três demorados beijinhos com o rapaz
- Oi Fred, tudo bem?
- Melhor agora gata. E ai? Quando vamos pegar aquele cineminha que combinamos?
- Bom... - Lisa passa a mão no rosto - Não sei... Eu...
- Nunca!! – Ambos viraram a cabeça para Jô que se manifestara – Nunca, Fred! Quando você vai cair na real que a Lisa não quer nada com você?
- JÔ! - Lisa gritou assustada
- E você Lisa, quando vai ter cara de assumir pro coitado que não é a fim dele? – virou-se novamente para o rapaz - Olha Fred, vai miar noutra freguesia porque a Lisa não tá na sua – Quase rosnava para ele.
Pegou a mão da loira e, com passos duros, saiu puxando-a pelo pátio, deixando um Fred com cara de “tô entendendo nada” plantado na cantina. Lisa a acompanha docemente com um sorriso bobo no rosto. E o resto do recreio uma Joyce emburrada não soltou sua mão.

 “Há, no mundo, milhares de formas de alegria, mas no fundo todas elas se resumem a uma única: a
alegria de poder amar.”
Michael Glent

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