Páginas

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Capitulo XXII

Mariana olhava entediada para a televisão. Naquele horário não passava nenhum desenho. Sua avó a deixara ficar acordada até mais tarde, mas não tinha graça nenhuma, já que a avó ficava só assistindo novela e se ela tentasse falar nesse momento era só para ouvir “Psiu! Está na parte mais emocionante”. Cadê esta parte que ela nunca via? Suspirou alto e se levantou do sofá. Nesse momento a campainha tocou. A avó se assustou, pois quem poderia ser naquele horário?
- Lisa? Menina, que surpresa! Soube que passou mal hoje.
- Olá Lucia, tudo bem? Eu estou bem e... Lisa foi interrompida pela menina que a abraçou fortemente pela cintura.
- LISAAA!
- Mari! Linda! - beijou-a carinhosamente no rosto. – Nossa, cada vez mais bonita! Esses olhos verdes me matam! - pôs a mão sobre o coração, em brincadeira. Mariana sorriu feliz
- Você tá bem, Lisa? Mamãe disse que você tava doente! Já sarou? Diz que sim!!
- Já, lindinha. Não foi nada, não. Não estou mais doente, viu!
Mariana junta as mãozinhas, contente, Deus tinha ouvido sua oração! De repente seu rosto se transtornou. Lisa reparou a expressão de horror no rosto da criança e se preocupou.
- Tudo bem, Mari?
- Ah... tudo... A menina virou-se repentinamente para a avó. – Vovó, amanhã terá jiló?
- Como? Jiló? Não, Mariana, por quê? - Lúcia olhava-a sem entender nada. A menina suspirou aliviada.
- Nada não... eu... posso ir pro quarto? Deu... sono.
- Claro querida. Se despeça de Lisa e boa noite. Logo vou te cobrir direitinho.
- Tchau, Lisa. Deu um beijo rápido em Lisa, que estranhou sua atitude, mas retribui com carinho o afeto. - Durma com Deus, Mari. Não esquece de rezar, viu.
A criança olhou-a com olhos meio arregalados.
- Pode deixar Li... tenho mesmo que falar com Ele - respondeu, correndo para o quarto, em seguida.
Lisa balançou a cabeça rindo. Mari só podia ser filha de Joyce, mesmo. Ambas eram imprevisíveis. Ao pensar em Jô, voltou-se para Lucia e perguntou.
- Lucia, cadê Jô? Queria falar com ela.
Lúcia olhou-a indagadora.
- Uai, Lisa, não está sabendo? Jô saiu com uns colegas.
- Saiu? Mas... como assim, saiu? Ela não me disse nada! Lucia olhou surpresa com a frase.
- Bem Lisa, ela só me disse que ia sair e não voltaria tarde.
- Eu... bom, desculpe - falou passando as mãos no cabelo. – Ela comentou algo mesmo, mas eu esqueci. Eu... bom, tenho que ir.
- Espera Lisa. Você está bem mesmo? Soube que teve um desmaio. Liguei para sua mãe. A loira olhou-a meio assustada.
- Minha mãe?
- Sim, para ter noticias suas.
- Eu... Eu tô bem. Foi só uma queda de pressão, mesmo. Nada demais. Ela... te disse algo mais?
- Só preocupação de mãe mesmo. Por quê?
- Nada não... bom, tenho mesmo que ir. Desculpa pelo horário, Lucia. Bom... boa noite.
- Boa noite, Li. Olha, se cuide, tome muito líquido. Faz bem.
- Claro... claro... Tchau.
Lúcia observou Lisa sumir na esquina. Passou a mão na testa e a franziu. Suspirou alto, fechando a porta e depois se encaminhou ao quarto de Mariana. Olha de relance a televisão. ‘Bom, espero que ainda consiga ver a última parte da novela’.
Lisa caminhou pensativa para casa. Joyce saíra e não comentara nada, tentava decifrar a charada: “para onde ela fora?”. Mesmo sem querer, relembrou o que seu irmão dissera. Bateu na testa. ‘Para Lisa! Para de pensar nisso. Ele só queria envenenar sua relação com Jô. Puros ciúmes’. Baixou a cabeça e apressou o passo. Dentro de si a semente da desconfiança germinava. Com quem Jô fora se encontrar?

Joyce não conseguia deixar de rir. Carlos era divertidíssimo. Contava casos hilários do tempo de faculdade e buscava sempre agradá-la em pequenos gestos. Isto a encantava e comovia. Só agora percebia como sentira falta de paquerar, descobrir a outra pessoa. Olhou para o relógio e notou que, infelizmente a noite estava acabando, já havia passado da meia noite.
- Carlos estou adorando a noite, mas... tenho mesmo que ir.
- Claro Joyce... desculpe prendê-la por tanto tempo. Mas juro... nem senti o tempo passar. Joyce baixou a cabeça, tímida.
- Eu também não, Carlos.
- Joyce – Carlos segurou sua mão. – É muito bom estar com você. Há muito tempo não me sentia assim com alguém.
Jô sente o coração acelerar.
- Também estou adorando, Carlos. Você é divertido, tem um papo maravilhoso. Obrigada por esta noite tão especial.
Carlos insistiu em levá-la para casa. Joyce o observou pelo caminho. O assunto entre eles nunca acabava. Ela se sentia tão à vontade, que ria como uma criança. Carlos a olhava fascinado. Queria esta mulher para ele.
- Bem, linda dama, está entregue em casa, sã e salva – disse abrindo a porta do carro para ela.
- Nossa tão cavalheiro!
- Claro! Acha mesmo que não vou acompanhá-la até a porta?
Já na porta da casa de Jô, ela se voltou para ele e estendeu a mão.
- Bom - disse meio sem graça. Boa noite. Carlos segurou sua mão com carinho, mas não a soltou.
- Joyce... Jô será que poderíamos nos ver novamente? Eu gostaria muito. A morena sentiu uma alegria quase infantil com o convite.
- Claro... também adorei. O rapaz abriu um lindo sorriso.
- Você não se arrependerá, Jô. Te levarei a um lugar incrível. Em Nova Lima. Pode ser amanhã?
- Amanhã? Eu... Carlos... bom, eu tenho uma filha. Tenho que ver. Mas você podia me ligar.
- Mesmo? Então me dê o número.
- Espere... vou buscar papel e caneta.
Joyce entrou na casa. Não percebeu sua mãe deitada no sofá, que, ao contrário, viu a filha pegando papel e caneta. Curiosa, levantou-se e foi à janela. Pela cortina viu um belo rapaz anotar algo e depois sorrir para sua filha. Joyce observou o lindo sorriso que a fascinava e o retribuiu. Cauteloso Carlos aproxima sua boca dos lábios dela, e percebendo que ela não se afastou a beija delicadamente. Ela se entregou ao beijo, que se aprofundou. Um fim perfeito para uma noite perfeita. Lúcia fechou a cortina e sorriu deliciada. Caminhou em direção ao quarto de Mariana que dormia serena. Beijou-a com amor... Sim, agora sim, tudo estava caminhando bem.

O sábado amanheceu nublado. Lisa caminhou em direção à biblioteca da faculdade. Dormira muito pouco à noite pensando em Joyce e seu passeio misterioso.
- Bom dia, queria entregar este livro. A jovem atendente olhou-a por cima dos óculos.
- Infelizmente não tenho como receber. A bibliotecária não chegou e não tenho acesso às fichas de empréstimo.
- Poxa... mas se não entregar hoje pago multa! Lisa sentiu-se desanimada. Parecia que tudo estava dando errado em sua vida.
- De forma alguma. Vou anotar aqui que você esteve aqui para entregar o livro. Só não o pego porque é muita responsabilidade – pega sua carteira de estudante e escreveu seus dados em um bilhete no qual esclareceu o acontecido. - Fica mais tranquila assim?
- Muito. Não posso ficar sem minha carteira de biblioteca e já tenho uma ocorrência.
- Nossa quem diria! Logo você que é tão... certinha – Olhou-a irônica por cima dos óculos.
Lisa surpreendeu-se com o comentário. Ela a conhecia?
- Não sou certinha. Mas também não gosto de errar. Infelizmente aconteceu.
Um relâmpago iluminou toda a biblioteca. Logo após as luzes se apagaram. Uma chuva torrencial começou.
- Não acredito - Lisa bate a mão na testa e a esfrega. – Hoje é mesmo o dia. Observou que somente ela e a atendente estavam na biblioteca. Aliás, na recepção, porque a porta que dava acesso à mesma encontrava-se fechada.
- Calma menina, chuva passa. Aliás, meu nome é Juliana.
- Beleza, Juliana. Legal. Prazer – cumprimentou desanimada.
- Ave Maria, se você também tem este entusiasmo todo no amor, coitado do homem que está com você... ou mulher - disse irônica a observando atenta.
Lisa olhou assustada. ‘Deus, será que eu ser lésbica dá na cara?’
- Como é?
- Nada... nada... quer uma cadeira para sentar?
- NÃO. Quero é ir embora. Você... você disse aquilo mesmo?
- O quê? - Juliana faz cara de inocente.
- Nada! Gente, mas como você é cara de pau!
- Calma, menina, quem não faz não teme – olhou-a, agora nos olhos. – Estou certa?
- Papo mais louco, meu - Lisa olhou para fora, a chuva caia impiedosa.
- Bem, em momento algum eu disse que era normal... ou anormal. Sou apenas eu. – Juliana tirou os óculos e os limpou na blusa. A loira a observou melhor. A mulher era bem doidinha, mas era um mulherão. - Gostou?
- Ah? - Lisa a olha desentendida
- Gosta do que vê?
- Do que está falando, criatura!! Gostar do quê? Não, você definitivamente não regula bem.
A morena riu deliciada.
- Vejo que vou gostar de você, loira. Não gostaria de depois da chuva tomar um lanche comigo?
Lisa a olhava com descrédito. Lanche com aquela... maluca? Nem pensar
- Tô sem fome.
Estremeceu quando a morena aproximou o corpo do seu e lhe sussurra baixinho no ouvido.
- Posso te deixar com fome rapidinho. Lisa a encarou de boca aberta. Estava totalmente sem fala. Viu-a se afastar olhando-a nos olhos com um sorriso safado. - Sabe loira... Lisa, meu gaydar nunca falha. E ele está apitando agora.
- A... apitando?
- Sim... apitando – beijou-a na boca assim que respondeu. Lisa se afastou repentinamente.
- Endoidou mulher??? ENDOIDOU? Sai pra lá! – empurrou a morena e saiu correndo.
Juliana observou a loira correr sob a chuva e sorriu deliciada. Estendeu a mão na chuva e molhou os dedos, lambendo-os logo após. “Gostei dela... gostei mesmo. Ah, a chuva... sempre tão bela... e produtiva". Voltou a se sentar na cadeira, aguardando a chuva passar.

 “Se não queres que ninguém saiba, não o faças.”
 (Provérbio chinês)

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Capitulo XXI

Lisa entrou em casa quase na ponta dos pés. Ouviu barulho na cozinha, mas seguiu em direção ao quarto. Tinha ainda a mente agitada pelos acontecimentos da semana e, principalmente, do desentendimento com Junior. Assim, trancara-se dentro de si mesma e, evitando muita conversa, não dava margem para que sua mãe se aproximasse para o tão comentado papo. Bem... ao menos acreditava nisso.
- Lisa, não precisa evitar fazer barulho. Percebi que chegou.
A loira olhou para trás e viu sua mãe parada na porta da cozinha enxugando as mãos no pano de prato, encarando-a.
- Ahh... Oi, mãe. É que eu... estou com dor de cabeça e preferi evitar muito barulho... É isso.
- Lisa... – a mãe se aproximou séria. – Sei que está me evitando.
- Eu? Que é isto! – Lisa ensaiou uma cara de espanto, mas sentindo o quão falso soaria, baixou o rosto. - Desculpa mãe. É que não estou mesmo me sentindo bem.
- Não está bem desde a conversa com Junior, certo?
- Mãe, não quero falar nisso, ok. Vou para o meu quarto – virou-se em direção ao quarto.
- Filha, eu sei o assunto que você e Junior conversaram.
Lisa virou-se repentinamente para a mãe e respondeu agressiva.
- Não! Você não sabe nada! Nada, entendeu! Junior é um intrometido! Você não sabe da missa a metade, dona Paula! Então não se ache entendida do assunto!
- Lisa, não adianta ser agressiva comigo! Baixe o tom, modere a língua e me respeite! – Paula elevou ligeiramente a voz.
- Então não se intrometa na minha vida! - Lisa entrou no quarto e tentou fechar a porta, mas sua mãe a impediu.
- Eu sei de você e Joyce, Lisa! - falou alto. - Eu sei que vocês são... estão... que vocês... estão juntas.
Lisa parou, em choque. Olhou sua mãe fixamente até sentir perder a força das pernas. Caminhou com dificuldade até a cama, sentou-se e começou a tremer. Paula lentamente adentrou no quarto, fechou a porta e foi sentar-se ao lado da filha.
- Lisa, eu sempre desconfiei. Sempre! Quando Junior me contou eu já percebia os sinais, mas não queria ver. Só que existe sempre o momento em que não da mais para fechar os olhos. Ultimamente percebia sua angústia e criava coragem para lhe falar.
- Mãe... mãe... Deus... eu... mãe... – Lisa explodiu em lágrimas desesperadas. – Não me odeie mãe!! Eu... eu não faço por querer... eu... não faço por querer... desculpe – começou a balançar o corpo para frente e para trás abraçando os próprios braços.
- Lisa... filha! - Paula abraçou a filha, angustiada. – Filha, eu... não chore, por favor! – beijava o rosto tão amado de sua menina. - Calma Lisa...
Lisa, porém, não a escutava. Em prantos abraçava a mãe fortemente, temerosa. Sabia que agora não havia mais volta. O que mais temia estava acontecendo e só conseguia pensar que o bem maior de sua vida - sua família - estava por um fio. Sentiu as forças lhe faltarem e, lentamente, perdeu a consciência. Paula, em pânico, a segurou com mais força, deitando-a na cama em seguida. Chorando, percebeu que começava naquele momento a maior provação de sua vida. Sabia não ter opções. Só havia dois caminhos a tomar: apoiar sua filha em sua escolha, ou não. E sabia que qualquer que fosse a decisão tomada, sofreria.
- Ah Lisa... Lisa... Por que você não é como as outras? Por quê?

Joyce respirou fundo. “Ok, vamos ligar para Lisa”. Discou o número e... desligou. Soltou o ar que prendia angustiada. “Vamos, Jô! Que covardia é essa?” Discou novamente o número. Ouviu o toque chamando e sentiu o coração disparar.
- Alô?
- Dona Paula? Oi... é Joyce. Lisa está?
O silêncio do outro lado deixou-a insegura.
- Paula? Dona Paula?
- Desculpa Joyce... eu... bem, Lisa passou mal e está deitada. Melhor que ligue mais tarde.
Joyce sentiu a apreensão tomar conta de seu corpo. “Como assim passando mal? Lisa tem uma saúde de ferro!”
- Mas... ela tá bem? O que ela tem? Eu vou pra aí agora!
- NÃO! Não... Joyce, não. Olha, ela está dormindo... Melhor não vir, não quero nada a agitando.
Joyce sentiu um gelo descer ao coração que antes batia acelerado. A voz de Paula estava estranha, tensa, fria. Começa a se sentir como uma menininha que fez algo muito, mas muito errado. “Será que ela está chateada com meu sumiço?”
- Ah, olha Dona Paula... sei que andei sumida. Sabe como é, a faculdade, Mariana. Andei meio agitada esta semana. Mas... eu quero muito, mas muito mesmo ver Lisa. Por favor.
Um novo silêncio tomou conta da conversa. Jô começou a sentir o ar lhe faltar. “Mas o que está acontecendo?”
- Esta bem, Jô. Mas olha, não quero Lisa agitada. Se estiver dormindo não irei acordá-la entendeu?
- Mas... que aconteceu? Dona Paula, que aconteceu?
- Emocional Jô. Apenas isso. Ou melhor, tudo isso. Bem, até logo.
Paula desligou o telefone. Jô se sentia na Antártida tal o gelo que sentia na voz de Paula. Desligou rapidamente o telefone.
- Mãe vou à casa de Lisa! Ela não está bem! Não demoro!
Jô saiu correndo sem esperar a resposta. Pelo caminho só rezava que não fosse nada sério. Lisa não! Sua loirinha tinha que estar bem! Emocional!? “Será que foi por minha culpa? Aff! Com certeza! Ah, Jô você está magoando a melhor pessoa de sua vida! Loirinha, amo você. Amo você. Tô chegando!” Parou em frente à casa de Lisa e tocou a companhia. Ouviu os passos que reconheceu serem de Paula. Sem entender bem por que, sentiu o peito se oprimir. Nunca sentira isso com a mãe de Lisa. Por que isso agora?
- Olá, Joyce. Veio rápido.
- Eu... Oi Dona Paula. Eu... Cadê Lisa?
- Olha Jô... Joyce. Ela está dormindo. Pode vê-la sim, mas, por favor, não a acorde, ok.
- Mas... o que ela teve?
- O médico esteve aqui. A pressão caiu e ela desmaiou. Mas está tudo bem. Vá lá vê-la.
Joyce queria fazer mais perguntas, mas via-se claramente que Paula não estaria disposta a responder. Aliás, a mãe de Lisa também estava muito abatida. Caminhou em direção ao quarto de Lisa sentindo o olhar de Paula em suas costas. O ambiente estava pesado e ela, sem saber como agir, entrou no quarto de Lisa de cabeça baixa. Ao ver sua loirinha dormindo, o coração deu um baque. Lisa! Sua loirinha! Aproximou-se dela. Estava com um semblante tão triste, abatido. “Loirinha... que aconteceu?” Segurou a mão amada e começou lentamente a acarinhá-la. Perdeu minutos ali, procurando transmitir a Lisa todo seu amor e carinho. “Lisa, diz que não está assim por minha causa, diz. Acorda, diz que me ama, que me entende. Desculpe... desculpe.“ Levou a mão de Lisa ao rosto e o acariciou com ela se pondo logo depois a beijá-la.
- Ah, loirinha... loirinha - disse baixinho. Sentiu então alguém nas suas costas, olhando para trás viu Paula a encarando fixamente. Voltou o olhar a Lisa, colocou sua mão calmamente sobre a cama com carinho e se ergueu lentamente.
- Ela está mesmo bem, Paula? - perguntou ainda olhando Lisa.
Paula percebeu em Jô o olhar preocupado, carinhoso, fixo em sua filha. Teve uma vontade louca de tirá-la dali, afastá-la de Lisa. Expulsá-la. Mas ao mesmo tempo sentia um carinho imenso por esta jovem que vira crescer. Ainda assim não se sentia pronta para o que estava acontecendo.
- Sim, Joyce. Eu já disse que ela está bem. Só precisa descansar. Fique... tranquila. Melhor sairmos agora e a deixarmos dormir.
- Claro... claro - Joyce deu um beijo no rosto de Lisa e acompanhou Paula na saída do quarto.
- Dona... Paula – segurou o braço da mãe de Lisa e a sentiu ficar tensa. – Eu... é verdade que Lisa está bem, né.
Paula virou-se devagar para a jovem e responde carinhosamente.
- Sim, Jô. Ela está bem. Só precisa descansar. Mais tarde ela te liga, fique tranquila.
- Está bem... Qualquer coisa me avisa??
- Aviso sim... pode deixar. Mas está tudo bem.
Jô baixou ligeiramente e cabeça e quando a ergueu os olhos estavam cheios de lágrimas.
- Eu não quero que nada aconteça a Lisa, Paula. Não me esconde nada, tá! Se precisar durmo aqui... eu..
- JÔ! Eu já disse que está tudo bem. Façamos assim, se algo acontecer te ligo. Dê um beijo em Mariana e em sua mãe por mim, está bem. E fica calma porque não foi nada.
Joyce percebeu que foi dispensada e se retirou devagar da casa de Lisa. Despediu-se da mãe da loira sem se sentir ressentida com a atitude dela. Acreditava ser tensão por Lisa não estar bem. Ao chegar em casa viu que tanto a mãe como Mariana não estavam. Sentou-se lentamente no sofá e suspirou. Ainda bem que sua loirinha estava bem. Por que a vida tinha que ser tão complicada?

 Lisa acordou lentamente. Sentia fraqueza no corpo, mas ainda assim se levantou. Parecia que dormira por séculos. Olhou o relógio e se assustou ao perceber que já eram dezessete horas. Caminhou lentamente em direção à sala onde a mãe assistia televisão. Paula, ao vê-la, ergueu-se imediatamente. As duas se encararam e então, lentamente, a mãe estendeu os braços para a filha. Lisa correu e se aconchegou neles. A escolha estava feita. Paula apoiaria Lisa em todas as circunstâncias e a amaria... sempre. E para sempre.
Mais tarde, já bem mais calma, Lisa resolveu ligar para Joyce. Ficara muito feliz ao saber que ela estivera lá. Estranhou que não tivesse permanecido, mas sua mãe assumiu alguma culpa nisso, pois expressara certa resistência à presença da morena.
- Alô, Jô?
- Lisa? Meu Deus, Lisa!! Como você está? Nossa, tava aqui já meio enlouquecida, mas não liguei porque sua mãe disse para deixar você descansar. Você está bem? Que houve? Como está agora? Quer que eu vá ai? Tá sentindo fraqueza? Não devia estar deitada? – parou para puxar fôlego, e Lisa aproveitou o momento para interrompê-la, sorrindo.
- Jô, calma! Está tudo bem. Eu estou bem. Foi só minha pressão que baixou. Eu... bom... depois queria falar com você.
- Claro Li, tudo bem. Vamos falar, sim. Eu sei que tive meio ausente estes dias, mas... eu... a faculdade tá foda. Mas eu vou aí. Claro que vou. Mas... bom... acho que nem pensar ir lá na festa da sua faculdade, né!? O melhor é você deitar e descansar viu!
- Claro Jô, eu já desisti! Bom, vem pra cá, então. A gente vê um filme, sei lá.
- Não, Lisa hoje não. Sua mãe tava meio estranha, sei lá. Prefiro ir amanhã, tá.
- Hum... ok te entendo. Mas amanhã você vem, né. Tenho muita coisa pra te contar mesmo, Jô.
- Claro que vou, né loirinha! Pode me esperar. E vê se cuida melhor de sua saúde.
- Jô... é serio. Eu... bom, te conto amanhã.
- Está tudo bem mesmo, Lisa?
- Está. Só queria te ver um pouco. Mas amanhã falamos, então.
- Esta bem. Lisa... eu te amo loirinha.
Lisa sentiu o coração se aquecer.
- Também te amo, Jô. Boa noite.
- Boa noite, loirinha.
Lisa desligou o telefone. Estava feliz de ver que ela e Joyce estavam bem, mas ainda assim sentia necessidade de contar a ela tudo que acontecera durante o dia. Estava se sentindo muito bem. Sabia que muita coisa ainda tinha a enfrentar, mas no momento só queria estar com Jô.
- Mãe! – gritou. – Eu vou à casa de Joyce. Não demoro, tá.
- Lisa, espera – Paula surgiu na porta. – Eer... jante primeiro, depois você vai. Por favor. Ficarei mais tranquila.
Lisa olhou para ela. Estava ansiosa para ver a morena, mas sabia que a mãe tinha razão, e que isso a tranquilizaria.
- Está bem, mãe. Vou jantar primeiro.
Lisa viu a mãe caminhar um pouco arqueada em direção à cozinha. Sabia que ela estava triste, confusa e se entristecia de saber ser ela a causadora de tudo isso. Mas ao mesmo tempo sentia alívio. Era muito bom poder ser o que era para as pessoas que amava. “Espero que meu pai tenha a mesma ponderância”

Joyce desligou o telefone aliviada. Lisa estava bem. Olhou para o relógio. Ainda estava em tempo de se encontrar com Carlos. Mas se questionava se devia ir. “Bom, Lisa já está bem, não foi nada sério. Não vamos mesmo à festa da Federal. Não vejo problema de sair.”
- Mãeeeee! Eu vou sair mais à noite. Será que você pode ficar com Mariana pra mim?
- Joyce, não grite! Fico sim, você vai sair com Lisa?
- Lisa? Não, ela passou mal, mas já está bem. Eu... eu vou sair com uns colegas, nada muito chique. Tudo bem?
- Tudo bem, Jô. Mas não volte tarde.
Joyce revirou os olhos. Sua mãe ainda era jovem, mas sempre a tratava como uma menininha.
- Dona Lúcia, a criança aqui agora é Mariana. Aliás, você anda saindo bem menos. Está agindo como uma velha.
- Bom, alguém tem que cuidar de Mariana.
- Ah, me poupe! Te peço isso uma vez ou outra.
- Sei... Jô, melhor ir se arrumar que faz mais negócio.
Joyce saiu rindo. Agora tudo estava bem. Sentia que seria uma bela noite. “Bom, com que roupa vou?” pensou franzindo a testa e caminhando em direção ao seu quarto.
Mariana viu a mãe caminhar para fora da sala. Ouvira-a falando com a avó e não gostara de saber que Lisa estava doente. Caminhou em direção ao seu quarto e se ajoelhou frente à cama. Rezou baixinho. “Papai do céu, cuida da Lisa. Não deixa ela sofrer, não. Eu amo ela muito... muito. Se ela sarar eu prometo pro Senhor que serei boazinha e comerei... argh, jiló.” Ergueu-se feliz. Tinha certeza que depois da promessa de comer jiló, Deus iria sarar Lisa rapidinho.

 “Não é a montanha que nos faz desanimar, mas a pedrinha que trazemos no sapato.”
 (Autor desconhecido)