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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Capítulo XII

A festa estava perfeita! Joyce caminha sorridente entre os convidados. Observa atenta os garçons. ‘ Não posso esquecer-me de agradecer a Maria por me indicar este Bufê! São ótimos’
- Joyce! A festa está linda!
- Paula! Marcos! Que bom que chegaram! Olha em volta ansiosa. – Estão... sós?
- Junior não deve demorar Jô. E Nando também. Observa atenta a postura de Joyce e prefere se silenciar quanto a Lisa. – Mas onde está a aniversariante?
Joyce suspira frustrada e aponta para o centro do salão. Paula olha na direção indicada e sorri deliciada.
- Como ela está linda Jô! Que vestido maravilhoso!
Paula esperava vê-la de vestido rodado típico de uma debutante, mas para sua surpresa Mariana estava com um lindo vestido longo aperolado. O corpo jovem e magro revelava a beleza juvenil e expunha as curvas suaves. O rosto com uma maquiagem suave realçava os belíssimos olhos verdes.
- Marcos, vamos lá cumprimentar Mari! Marcos? Paula olha ao redor. Onde estava seu marido??
- Paula, Jô segura seu braço afetuosa. - Marcos está ali com o Carlos.
- Meu Deus! O homem some e nem me diz nada! Bom, vou lá cumprimentar Mari.
- Não Paula sente-se na mesa conosco. Eu aviso Mari que chegaram.
- Ok Jô... Obrigada.
Joyce caminha em direção a filha que sorria e brincava com as amigas. ‘ Como estava linda. ’ Mariana era a promessa de uma futura mulher maravilhosa. Se com quinze anos atraia e muito os olhares masculinos imagina aos vinte!
- Mariana, sua madrinha chegou e quer cumprimentá-la.
Mariana se vira excitadíssima. ‘Lisa chegou!’ Mas qual sua decepção ao ser o aceno de Paula e Marcos e nada de Lisa. Retribui o aceno educadamente com um sorriso simpático. Jô percebe a decepção no olhar da filha ‘ Inferno!’
- Esqueça Mariana, ela não virá. Espero dela o mínimo de bom senso.
- Ela virá sim mãe. Lisa virá. Vira-se para a mãe chateada. – E ai de você se a destratar. Ela é minha convidada.
- Ela não virá! E você não queira me dar ordens. Nunca entenderá o porquê de eu não a querer aqui. Devia ter me respeitado.
- Preconceito mãe. Puro preconceito. Mas graças a Deus não puxei isso de você.
- Cala a boca! Você não sabe nada! Nunca entenderá nada!
- O que devo entender mãe? Me diz? Me mostre sua verdade!
- Mari? As duas olham enfurecidas ante o chamado. Peter, o par de Mariana na noite, coça a cabeça constrangido. - Er... bom... o pessoal tá olhando.
Joyce olha ao redor ligeiramente avermelhada. Dá um sorriso forçado e volta o olhar para a filha.
- Será possível Mariana? Até na sua festa! Sempre sonhei em te dar o melhor! Que vexame!
Mari olha a mãe e seu coração amolece. Ela podia ter seus defeitos, mas sempre se dedicara a ela com todo o amor e carinho. Abraça mãe e lhe dá um suave beijo no rosto.
- Tem razão mãe, me desculpe. Obrigada pela festa, por tudo. Você é a melhor mãe do mundo viu!
Os olhos de Joyce se enchem de lágrimas. Sabia que a cada dia seu relacionamento com a filha deteriorava mais e não sabia como mudar isso.
- De tudo que podia me puxar foi puxar logo meu gênio né senhorita Mariana?
- Que isso mãe! Zombeteira dá uma rodada em volta de si mesmo. – Olha só que gata eu sou. Puxei minha mãe!
As duas sorriem já esquecidas do pequeno embate e Peter suspira aliviado.
- Mari, vamos lá no grupo. A Leila e o Jaques chegaram.
Mariana olha o belo rapaz a seu lado. Seu amigo mais precioso. Todos ironizam a amizade de ambos, falavam que eram namorados tamanha afinidade que sentiam. Como estavam enganados!
- Logo vou Peter. Vou ali cumprimentar minha madrinha.
Joyce sorri um pouco constrangida para as pessoas ao redor enquanto Mari se afasta. Mas logo o constrangimento desaparece quando vê os gêmeos correrem do outro lado do salão aos gritos. ‘ Mas que praga! Cadê a babá?’ Caminha apressada em direção aos filhos. ‘ Eu devia estar doida quando engravidei desses pestinhas!’

 - Nossa senhora Luiza! Que demora é essa! A festa já deve estar acabando!
- Calma Lisa... que ansiedade! Não são ainda 9 horas!
Lisa olha a porta entreaberta do banheiro ansiosa. Que desespero. Vontade de ir lá arrancar Luiza a força, por no carro e ir logo pra porra da festa. Já ia reclamar novamente quando Luiza aparece na porta. Tudo lhe some do pensamento. Que monumento era aquele? Luiza não estava apenas bonita. Estava magnífica. Vestida em um longo cor de salmão, e sapatos altíssimos ela parecia realmente uma amazona pronta a defender o que é seu. A maquiagem valorizava o rosto e o vestido destacava cada curva do corpo maravilhoso. Literalmente vestida para matar. Luiza chega sorrindo perto de Lisa e delicadamente lhe segura o queixo.
- Feche a boca meu amor. Estou pronta para o meu embate.
- Ah?
- Você é tão linda Lisa!!
Lisa estava linda. O vestido azul turquesa valorizava seu corpo harmonioso e delicado e o rosto parecia mais suave do que nunca com a maquiagem leve que destacava seus lindos olhos cor de mel. Tinha o tipo de beleza que parecia não envelhecer.
- Você é simplesmente perfeita Lisa. Toda você. Mas me parece mais baixinha. Dá um sorriso irônico e caminha em direção a porta.
- Baixinha?? Você que é uma amazona. E ainda põe esses saltos absurdos!!! Meu Deus não estou chegando nem seus ombros e... e... você esta maravilhosa...
- Ahh... finalmente um elogio! Sorri e abre a porta para a passagem de Lisa. – Lembre-se meu amor, eu estou com você.

A tensão toma conta do corpo de Lisa ao adentrar o salão. Um silêncio repentino acontece. ‘ Que houve meu Deus!’ Parecia que todos olhavam para elas. Luiza segura delicadamente seu braço e a empurra com delicadeza para frente.
- Lembre-se Li... estou com você... e você está maravilhosa, diz baixinho.
Luiza sabia que a presença de ambas causaria impacto. Sua altura aliada a beleza exótica e a delicadeza e perfeição de Lisa certamente não passariam despercebidas.
- Lisa minha filha!!!
Lisa vê os pais irem em sua direção e os abraça carinhosa. As palavras e a presença de Luiza a seu lado tinham aquecido e acalmado seu coração. Sentia de repente uma inesperada segurança.
- Pai, mãe, quero lhes apresentar Luiza.
Marcos, de olhos arregalados, olhava a mulher a sua frente. Que monumento era aquele? Sente um cutucão nas costelas e olha constrangido o olhar irônico da filha.
- Acorda pai!!
- Er... nossa! Desculpe filha, eu... Vira-se pra Luiza – Como você é alta filha. E bonita. Minha filha tá podendo!
Luiza sorri deliciada. O pai de Lisa não era nada discreto, mas gostara de forma como ele conduzira a situação.
- Ela merece Marcos... posso chamá-lo assim não!? Também é um prazer conhecer a você Paula.
- Sempre filha. Você é muito bem vinda à família.
Luiza olha sorridente para Lisa, mas percebe esta com o olhar parado e fixo para o outro lado do salão. Olha também e vê uma mulher olhando fixadamente para elas. Seu olhar se estreita. ‘ Joyce’ Observa melhor a outra e sente um aperto no coração. Não podia negar. Era uma das mulheres mais lindas que já vira.
- Lisa? Lisa? Olhe para mim! Olhe para mim Lisa!
- Lu?
- Lembre-se... você é melhor do que ela. E está acompanhada por mim. E é a mim que você terá sempre. Entendeu?
Lisa olha para ela séria. Mas sorri de repente divertida.
- Aff, Lu terei dor no pescoço ao final da noite. Tranquiliza. Não deixarei ela me afetar.
- Ótimo. Podemos nos sentar com seus pais?
- Estamos com eles amor.

Joyce tremia incontrolável. Lisa estava simplesmente maravilhosa. Não mudara muito da adolescente que fora. Mas estava mais bela, mais mulher. O corpo mais curvilíneo. Leva a mão aos cabelos e geme baixinho. ‘ Preciso me controlar’ Estava distraída observando se os convidados estavam sendo bem servidos quando uma força inexplicável a fez olhar para a porta do salão. Exatamente naquele momento Lisa surgira, linda, cativante como sempre fora. E quando sorrira para a mãe ela se iluminara. “Que saudade desse sorriso meu Deus! ’ Foi só quando a viu apresentar a mulher que estava a seu lado que reparara a morena. A dor em seu coração foi certeira. Quem era aquela... aquele poste? Respira raivosa e revoltada repara que todos os homens do salão não tiravam os olhos dela. ‘Também, vulgar como parecia ser! Transpira sexo. Como Lisa ousa trazer um tipo desses a festa de minha filha? ’.
Volta o olhar para Lisa e percebe que esta a encara. O coração bate acelerado. ‘Lisa... Lisa... você está linda! Que saudade de você!’ O contato visual de ambas é cortado pelo poste que cutuca Lisa. Esta sorri alegre para a outra. ‘ Vou matá-la!’ Jô angustiada sai apressadamente em direção à cozinha do bufê. Precisava de um tempo seu onde pudesse recuperar as forças. Um par de olhos escuros e profundos acompanha seu caminho. ‘ Você não é páreo para mim Joyce. ’
 - Mas vamos nos sentar.
Sorrindo Marcos Paulo oferece o braço a Luiza que aceita alegremente o gesto.
- Ahhh agora sou o homem mais invejado do salão.
- Marcos! Paula olha com fingida indignação para o marido e resmungando segura Lisa pelo braço dando uma piscadela. – Vamos filha, temos que vigiar de perto seu pai
- Luiza este é Carlos, pai de Mariana, a aniversariante - Marcos os apresenta educadamente ao chegarem à mesa. Luiza olha o homem que se levanta da cadeira para recebê-la. Este não escondia o olhar insistente sobre sua pessoa. ‘ Homem é tudo igual’.
- Prazer... Luiza.
Carlos sorria maravilhado com a bela mulher a sua frente. Que morena! Alta, mas muito alta, com uma postura muito elegante – o tipo que causa impacto por onde passa.
- Prazer Carlos. Vamos sentar Lisa?
Carlos desvia o olhar para a loira que se sentava ao lado da morena com o olhar fixo nele. ‘ Essa então é a sapata! Bonita, mais bonita que nas fotos, mas sem sal diante desse mulherão. ’ Educadamente estende a mão para Lisa.
- Então é a famosa Lisa! Um prazer conhecê-la.
Lisa olha o espécime masculino a sua frente. ‘Então este é Carlos o homem pelo qual fui trocada’. Um tanto sem graça aperta sua mão, sorri e então se vira para a mãe que estava a seu lado perguntando baixinho.
- Mãe, me diz que não estou na mesmo mesa que Jô, por favor.
- Ok filha eu não digo. O olhar desesperado que lança a mãe faz esta se justificar. - Filha, tão logo chegamos Joyce nos trouxe para esta mesa. Não podíamos ser mal educados.
Carlos já voltara a se sentar e tentava a todo custo chamar a atenção de Luiza.
- Mas... Já nos conhecemos? Você me parece familiar. É advogada?
Luiza o observa estreitando os olhos.
- De forma alguma. Sou médica e com certeza não nos conhecemos.
- Médica? Uma linda profissão.
- Sem duvida. Maravilhosa. Eu e Lisa trabalhamos juntas e temos os mesmos... ideais.
Sorri educadamente e se vira para Lisa que parecia não prestar atenção ao papo.
- Tudo bem Lisa?
Lisa há olha um pouco angustiada.
- Eu... . Vou ao banheiro Lu.
- Quer que eu vá com você?
- Não, eu não demoro. Com licença a todos.
Luiza esquecida de todos na mesa observa sua amada se retirar. Lisa visivelmente estava perturbada com toda a situação. De repente seu olhar se torna duro. Olha novamente Carlos que percebendo lhe dá um sorriso. ‘ Se Carlos está na mesa significa que... Joyce também está. Mas que miserável esta mulher!’
Lisa já no toalete respira fundo várias vezes. ‘ Você consegue Lisa... você consegue’ Já estava se acalmando quando ouve a voz que tantas vezes lhe assombrara no passado.
- Não acredito que teve coragem de vir.
Sente o corpo tenso e ergue o olhar. Pelo espelho vê a imagem daquela que fora o grande amor de sua vida. Joyce belíssima num vestido branco a encarava com raiva no olhar. Seu coração dá um baque. ‘Jô... Jô... Meu Deus... Minha Jô... ’ Vira-se lentamente para ela.
- Não vim por você Joyce. Vim por Mari.
- Mariana, Lisa, minha filha. Se você tivesse a mínima decência teria inventado uma desculpa.
O coração batia acelerado no peito de ambas. Lisa sente o sangue correr mais rápido nas veias. A raiva começa a brotar e sem pensar revida a agressividade da outra.
- Se fosse por sua pessoa com certeza não apareceria Joyce... mas Mari merece todo meu carinho e respeito.
- Você veio porque não tem vergonha na cara isso sim. Devia se colocar em seu lugar e sumir de minha vida e de minha filha.
- Você realmente se acha né Jô? Por mim você podia explodir que não estaria nem ai.
- Vá embora Lisa. Tenha o mínimo de decência e vá embora. Não estrague a festa de minha filha.
- Eu não vou embora Joyce. Se quer saber, o passado está morto. Não gosto de você, mas não permitirei que isso influencie em meu carinho por Mari.
De tão nervosa que estava Lisa não percebe o olhar sofrido de Joyce por trás de toda a raiva expressa.
- Morto? Morto Lisa? Joyce aproxima o corpo de Lisa. – Então porque esta com a respiração acelerada me diz? Você sempre mentiu muito mal. Sorri irônica.
Lisa afasta- se de Joyce surpreendida com sua atitude.
- Sabe Lisa... Joyce a olha agora mais calma e misteriosa - Na verdade não me surpreendo com você aqui. Sempre quis mostrar ser mais forte do que todos. Ser mais forte que eu! Sempre a boazinha, a melhor. Não deixaria passar a oportunidade de se fazer de coitadinha diante de todos... a vitima.
- Você enlouqueceu Joyce.
Novamente Joyce aproxima o corpo do de Lisa. Esta sente o perfume sensual e um frêmito de desejo passa por seu corpo. - Ainda usa o mesmo perfume...
Joyce se surpreende com a frase inesperada, dita baixinho. Olha para Lisa e estremece ao ver o olhar saudoso no seu rosto.
- Lisa... eu... sim eu uso... sempre gostou dele.
Lisa a olha com um olhar nublado como que perdido no passado. Joyce, quase que instintivamente, ergue o braço e toca o rosto de Lisa. O coração enternece e o desejo tão reprimido renasce em seu coração.
- Você continua linda... Li. O toque inesperado desperta Lisa do passado. Novamente se afasta de Joyce. - Não me toque Joyce. Nunca mais me toque.
- Seu corpo diz o contrario Lisa. Você sempre foi tão... previsível. Dizendo isso desliza o dedo pelo decote de Lisa. – Quem sabe não podemos recordar um pouco o passado já que fez tanta questão de voltar para o meio de minha família.
- Enlouqueceu Joyce? Ignorando a ânsia de tomar aquela mulher nos braços afasta com grosseria seus dedos de si e diz raivosa. – Deixe de ser oferecida. É uma mulher casada.
Joyce sorri sentindo-se poderosa.
- Pode dizer o que quiser Lisa. Você me quer. Seu passado esta mais vivo do que nunca.
- Você continua não valendo nada. O desprezo na voz de Lisa faz Joyce ficar séria.
- Não Lisa... Você se engana. Só você me faz perder meus valores. Você não me deixa ser feliz Lisa! Diz quase desesperada.
- Eu? Ora, me poupe! Me faz um favor Joyce, me deixe passar que vou voltar para perto dos meus.
- Dos seus? Quem? Seus pais? Me faz rir. Quase nem vem vê-los. Olha para ela com revolta – Não seria para perto daquela... mulher que trouxe com você? É para ela que vai voltar? Anda perdendo o bom gosto Lisa. Aquilo parece um homem travestido. Deve faltar só um bom p...
- Se fosse você pensaria duas vezes antes de terminar a frase.
A voz repentina assusta as duas mulheres. Lisa arregala os olhos assustada e avermelha. Joyce se vira cautelosa diante da expressão que vê no rosto da loira e dá de cara com a mulher quase 20 centímetros mais alta que ela. O olhar duro, frio e arrogante faz seu coração gelar.
- Não vai me apresentar Lisa?

 “Cuidado... ao dizer alguma coisa, cuide para que suas palavras não sejam piores que o seu silêncio."
(Autor desconhecido)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Capítulo XI

- Estou muito feliz com seu progresso Marcos. Acredito que em alguns dias vou te liberar da fisioterapia.
- Ainda bem né Drª Lisa. Já não aguento mais. Tô sem dor nenhuma. Na verdade to doido por uma bola. Libera ai?
Lisa sorri. Aquele rapaz não dava ponto sem nó. Antes de dar a resposta tão ansiada pelo rapaz a porta do consultório se abre. Luiza entra séria a encarando fixadamente.
- Er... eu... que falava mesmo Marcos?
- Se me libera o futebol Drª Lisa. Bom dia Drª Luiza.
Luiza apenas faz um gesto com a cabeça diante do cumprimento do rapaz. Recosta na porta agora fechada sem tirar os olhos de Lisa que sente dificuldades em respirar.
- Eu... claro Marcos. Está liberado a partir da próxima semana. Mas não abuse. Qualquer dor deve parar ok.
- Cara! Nem acredito! Deixa comigo. Vou nessa?
- Ah?? Que nessa?
- Sair. O rapaz faz um gesto de voando com as mãos.
- Ah tá. Pode ir sim... eu... tá liberado. Vai nessa. E imita o gesto do rapaz.
- Valeu! Até doutoras. Passa por Luiza que lhe abre a porta com um sorriso frio. ‘ Cara essa mulher me dá medo’
Luiza fecha novamente a porta e se volta para Lisa que se mantinha em silencio sentada atrás da mesa.
- Bom dia Lisa. A voz soa como um trovão aos ouvidos de Lisa. Não imaginava o confronto logo cedo. - Luiza... sei que lhe devo explicações mas...
- Cala a boca Lisa. Você precisa sim é de uma lição. Sua sem vergonha.
- Enlouqueceu Luiza? Pode abaixar o tom.
- Vou abaixar sim. Luiza se debruça sobre a mesa e aponta o dedo para a loira. - Você me usou. Até ai tudo bem eu aceitei. Mas deixar meu coração encher de esperanças e sair na calada da madrugada como se eu fosse uma mulher de zona extrapola todo o significado da palavra respeito. Posso ter meus defeitos, mas nunca te tratei como uma puta!
- Me faça o favor Luiza! É o que faz desde que me conheceu. Me poupe. Você transa como uma mulher de rua!
A morena tomada de uma raiva imensa avança sobre Lisa que se encolhe na cadeira.
- Tranqüilize Lisa não vou bater em você. Acabo de perceber que você é uma farsa. Uma covarde emocional. Continue sua vidinha medíocre que não vou me prezar mais a correr atrás de você. – se vira em direção à porta, mas antes que a alcance a resposta de Lisa vem certeira.
- Corre porque não tem vergonha na cara. Sempre mostrei que não queria você.
Luiza se vira lentamente ficando de frente a ela.
- Sabe Lisa. Me chama de orgulhosa e arrogante. Mas este papel se preza a você. Não tive vergonha de lutar pela pessoa que amo. E continuaria lutando se achasse que vale a pena. Mas você não passa de uma pessoa medíocre, covarde, infeliz. Prefiro sofrer a perda do amor que nunca tive que me rebaixar a sua pessoa. Você não é quem acreditei que fosse. Você não me merece. Sossegue que não incomodarei mais. Lisa sente um frio no coração.
- Luiza não! Vê a morena a ignorar e sair pela porta. Sente as pernas tremerem. ‘ Isso não pode acontecer’ Corre abre a porta e grita: – Luiza!!
A morena para, mas não olha para trás.
- Por favor... me escute. Volte. Olha me escute. Se depois que eu falar você continuar pensando assim eu... Eu não chamo mais. Por favor.
Luiza se vira em sua direção. A expectativa de sua ação futura deixa Lisa tensa.
- Por favor.
A morena suspira profundamente passa as mãos no cabelo e volta a entrar na sala. Lisa fecha a porta e se vira para ela.
- Lu... eu. Eu... ai meu Deus será que pode sentar? Sua altura me intimida! Sem uma palavra a morena se senta na cadeira. Lisa a encara ainda mais nervosa. - Para de me encarar... assim não consigo falar e... - Fala logo Lisa que merda!
- Credo que boca suja. Eu... bom... posso começar do inicio?
- Deve.
- Primeiro... eu... tenho que desmarcar um paciente. Caminha em direção ao telefone e após falar com a secretária põe as mãos sobre a mesa. Esfrega a testa. ‘ Coragem Lisa’
- Coragem Lisa. Fale.
- Lu... você tem razão. Eu sou uma covarde. Eu sou uma covarde. Como que derrotada senta sobre a mesa e encara a morena. - Há muitos anos sofri uma grande perda emocional. Eu... a partir dali jurei nunca mais deixar ninguém se aproximar.
- Lisa todos nós sofremos perdas. Isso não justifica!
- Me deixa falar Lu.
- Ok. Luiza de repente sente que aquele momento seria decisivo de sua vida. Dali teria a certeza de seu futuro... com Lisa ou sem ela.
- Sabe... eu sempre acreditei nas pessoas. No lado bom delas. Fui criada em uma família nota 10. Era a típica adolescente classe media de BH. E tinha uma amiga nota 10 também. Olha Luiza desolada. – Ao menos acreditava nisso. Mas percebi que as pessoas te usam. E os amigos que você acredita são capazes das maiores atrocidades.
- Li... seja mais clara
- Eu me apaixonei por minha amiga Luiza. Profundamente. Ela... bom ela tinha uma historia de vida sofrida. Foi abandonada grávida pelo primeiro namorado aos 16 anos e fui uma das poucas pessoas que se colocaram desde o inicio ao lado dela.
Lisa se silencia e seu olhar se torna vago... seu retorno ao passado dolorido. Luiza respeita este momento sentindo um aperto no coração ante o rosto sofrido.
- O nome dela era... é Joyce. Acompanhei cada momento da gravidez junto com ela. Estive a seu lado no hospital e durante os anos seguintes. Nesse tempo... descobrimos o amor... ao menos eu descobri. Olha para a morena angustiada. - Daria a vida por ela Lu. Tudo... mas não foi suficiente. Ela fugiu de mim... me condenou se afastou. Disse que não queria aquela vida para ela... e me traiu. Lagrimas começam a escorrer de seus olhos e ela as seca com raiva. – Jurei nunca mais deixar que alguém me magoasse daquela forma. Que ninguém mais me usaria.
- Você ainda a vê Lisa?
- Vê-la? Não. Eu literalmente fugi dela e de todo o mal que ela me fez. Fui estudar fora, trabalhar em outro estado... nunca mais a vi.
- E tem vontade de vê-la?
- Não!! Nunca! Odeio aquela mulher. Ela se casou Lu! Com o homem com quem me traiu! Sorri revoltada - Sabe o mais engraçado! Quando descobri ela... ela sugeriu sermos amantes. Que gostaria que eu fosse... sua amante. Só este papel me daria em sua vida.
Luiza sente o coração se encher de ódio diante da frase. Gostaria de estrangular a mulher que fizera tamanho mal a sua amada. Mas respira fundo sabendo não ser este o caminho a ser tomado. Ergue o braço e segura mão de Lisa que apertava na mesa do qual estava sentada. Lisa observa a mão morena e sente os olhos novamente encherem de lagrimas.
- Ela me jogou fora Lu... como um produto descartável, sem utilidade. Eu me senti tão... pequena. Minha família toda estendeu a mão pra ela. Meus pais são padrinhos de Mari. Demos tudo a ela... eu dei tudo a ela. Meu amor... meu corpo... minha alma.
- Lisa... Lisa.
- E ela achou pouco... ela riu de meu amor... ela só queria possuir, usar. Ela não amou. Ela me usou Lu! Ela me usou!!
- Lisa... calma amor... vocês duas eram jovens. Não pode deixar isso interferir em sua vida.
- Não era jovem para amar Lu. Não era jovem para ser ferida, magoada, traída. Jô fez de mim um boneco para manipular e fazer suas vontades. Uma egoísta que só pensou nela... na satisfação dela.
- Lisa... deve esquecer o passado meu Deus!! Você hoje é adulta! Sabe que tem que recomeçar. Você tem tanto amor pra dar. Esqueça-a, comece de novo!
Lisa sorri irônica.
- Esquecer? Como? Vira o corpo na direção de Luiza. - Meus pais são padrinhos de Mari, Lu. Filha de Joyce. A criança que amei como se fosse minha. O ser que dediquei todo o sentimento mais puro de minha vida. Todas as vezes que ia à casa de meus pais ela estava lá. Me esperando. É um carinho que jamais foi perdido com a distância. Amo Mari... na mesma proporção que odeio a mãe dela. E por ela, exatamente daqui a um mês, quando completa 15 anos, vou encarar Joyce... a mulher que destruiu minha vida.
Luiza sente o coração gelar. Lisa encarar Joyce? O amor perdido, mas não esquecido?
- Lisa... Meu Deus...
- Ela vai me esfregar aquele... merda na minha cara... seu casamento perfeito...seus lindos filhos e eu... eu... Deus Lu que eu faço?? QUE EU FAÇO??? ODEIO ELA! ODEIO ELA!!!
Finalmente depois de anos de angustia e dor guardados na alma Lisa explode em lágrimas sentidas. Luiza se ergue a abraçando forte e sussurrando palavras sem sentido em seu ouvido. Seu coração nada mais se fazia sentir. Só a dor da perda, da rejeição. Lisa ali expunha seu sofrimento e lavava sem saber a alma. O choro descontrolado se tornou lagrimas sentidas. Após longos minutos Lisa suspira e exausta se afasta de Luiza.
- Desculpe... desculpe. Luiza olha o rosto vermelho da loira e o carinha com afeto.
- Está tudo bem? Lisa somente meneia a cabeça num gesto afirmativo.
- Lisa... você vai a festa não vai?
- Tenho que ir... Deus...
- Me deixe ir com você.
- Como?
- Me leve com você Lisa. Como sua namorada.
- Como é que é?
- Lisa... quer namorar comigo?
Lisa encara Luiza em choque. Namorar??? Não se sentia com forças nem para se levantar quanto mais namorar.
- Lu... Luiza...eu... não é hora para isso... eu preciso lavar o rosto.
- Tudo bem eu te espero.
Enquanto Lisa lava o rosto Luiza vai à recepção e pede à secretaria que desmarque todos os pacientes de ambas.
- Mas doutora. Isso é impossível!
- Então os direcione para outros médicos. Ninguém é indispensável garota.
- Não posso fazer isso sem a permissão da direção.
Luiza ergue o corpo intimidando ainda mais a jovem secretaria.
- Se eles questionarem minha decisão diga que me liguem. Se coloque em seu lugar e apenas faça o que mando. Vira-lhe as costas e retorna a sala de Lisa. ‘ Tem gente que não se põe em seu lugar’
- Luiza?
- Lisa, já desmarquei nossos pacientes. Vamos para casa.
- Como assim desmarcou? Com que permissão?
- Não preciso de permissão Lisa. Você está sem condições de trabalhar hoje. Pega bolsa de Lisa. – Vamos.
- Mas... você também vai?
- Acha realmente que vou deixá-la sozinha num momento desses? Aproxima-se de Lisa a ponto desta sentir o calor de seu corpo. - Você agora não está só Lisa. Você tem a mim. No seu carro ou no meu?
- Como? Você me confunde Luiza.
- Ok decidido. Meu carro. Depois pegamos o seu. Vamos para sua casa.
Lisa se sente tão cansada que não discute as decisões da morena. Na verdade estava achando ótimo não ter que tomar decisões. A cabeça doía se sentia sem energias. Luiza de repente se tornara sua força. Em casa vê a movimentação de Luiza em seu apartamento. Parecia que estivera ali várias vezes tamanha desenvoltura em sua cozinha.
- Está se sentindo em casa né Luiza.
- De forma alguma Lisa. Seu apartamento é um ovo. Me sufoca. Terrível!
Lisa revoltada prepara-se para responder, mas ao ver o olhar zombeteiro da outra percebe que esta a provocava.
- Você gosta de me deixar nervosa né Lu?
- Gosto de ver vida em seus olhos Li... Sorrindo lhe estende uma xícara de café fresquinho. - Saboreie o mais delicioso café madame.
- Que honra... hum... gostoso mesmo. Sorri agradecida. – Obrigada Lu.
- De nada senhorita
- Lu... você não falava serio né?
- Sobre o namoro? Sim, falava sim Li. Sei que posso fazer você esquecer o passado.
- Mas Lu... você merece alguém que te ame... eu... não quero usar você.
O coração de Luiza se aperta. Queria tanto o amor de Lisa. E iria conquistá-lo tinha certeza disso.
- Lisa... sei que gosta de mim... por mais que negue isso. Dê-me a oportunidade de provar que posso te fazer feliz. Arrisque. Permita-se sorrir para a vida. Se dê esta chance
- Lu... você me acompanha mesmo ao aniversário?
- Não o perderia por nada neste mundo.
 Lisa se aproxima da morena e lhe dá um pequeno beijo nos lábios.
- Sim...
- Sim?
- Sim Lu... quero namorar você.
O sorriso e o grito de alegria de Luiza enternecem a loira. Presa nos braços morenos Lisa sente o coração se aquecer. Ergue os belos olhos cor de mel para a morena. Não estava mais só.

Foi um mês de descobertas e alegrias para ambas. Lisa descobriu que por trás da arrogância e petulância morena existia uma mulher entregue que lhe dedicava imensa ternura. Seu sorriso se tornava mais fácil e sincero, seus gestos mais suaves e naturais. Brincalhona chamava Luiza de Valquíria e esta em resposta agarrava-a pela cintura num sentimento de posse que preenchia seu coração. Não sentia necessidade de outras mulheres e nunca se sentira tão segura nos braços de alguém. Lisa aos poucos ia cicatrizando o coração repleto de magoas e devagar instalava nele o amor maduro, forte e presente que a libertava do passado.
- Você é linda Lisa... Você é o meu amor. O amor que me completa, me torna a mulher mais feliz do mundo. Obrigada por existir. Obrigada por fazer parte de minha vida.

 "A mudança é a lei da vida. E aqueles que confiam somente no passado ou no presente estão destinados a perder o futuro.”
John F. Kennedy

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Capítulo X

‘Dia tenso’ Luiza suspira cansada e acaba de passar o café. Enche a xícara e prova em pequenos goles a bebida quente. ‘ Delicioso’. Caminha na direção da sala onde se joga desajeitada sobre o sofá. Sem lugar se levanta e caminha em direção ao quarto. Olha a cama e recorda os momentos maravilhosos vividos com Lisa. ‘ Por que sempre desejo o mais complicado?’ O telefone toca a tirando do passado recente.
- Luiza?
- Li... Lisa?
- Tudo bem?
Luiza sentia como se a garganta tivesse travada. Puxa o ar repetidas vezes e quando fala sente a voz rouca.
- Tudo... aconteceu algo? Eu...
- Lu sei que esta surpresa com meu telefonema. Eu... bom... Lu eu posso subir?
- Subir? Luiza sente o coração disparar. – Subir onde?? Eu... Subir?
- Eu to em frente a seu prédio Lu... Posso subir? Luiza estremece. ‘ Ela esta aqui?’
- Clã... claro... eu... sobe sim... agora?
- Sim.
- Suba agora. Vou avisar o porteiro.
Mal termina de falar como porteiro Luiza começa a esconder a bagunça à vista. ‘Merda, porque sou tão desorganizada’ A batida na porta a assusta. Corre e a abre de supetão sorrindo abobada ao ver a loira a sua frente.
- Que... surpresa Lisa
- Espero não estar incomodando.
- Não, claro que não. Acompanha o olhar de Lisa para sua mão e avermelha ao ver que ainda segura uma calcinha estilo cueca que estava jogada no chão do banheiro
- Er... é... bom...é confortável. Diz erguendo sem graça a mão com a peça intima. Lisa dá um meio sorriso.
- Na mão? Novo uso?
- Não... eu ... arre entra.
Caminha sem graça em direção a área de serviço e joga a calcinha no cesto de roupa suja. Ergue os ombros, respira como que a criar coragem se vira e...
- Lisa!! Que susto! Me seguiu...
Não termina a frase, pois é agarrada quase com desespero. Lisa busca sua boca com verocidade e a beija sequiosa. Luiza nem se pergunta o porquê daquilo. Retribui o beijo trazendo Lisa para mais perto de si. As duas parecem se digladiar na área de serviço. Lisa quase cegamente agarra a camiseta que Luiza usa e a puxa. O som de algo rasgando soa no silencio, mas ambas ignoram. Voltam a se beijar e Luiza termina de rasgar a peça agora inútil. Sente os seios serem agarrados e geme entre os lábios de Lisa. A loira abaixa a cabeça e se delicia com a visão dos seios fartos
- Você é minha? Você é minha?
A morena escuta as palavras abafadas por seus seios que Li chupava e beijava enlouquecida. Segura os belos cabelos loiros e ergue o belo rosto de sua amada.
- Sim Lisa. Sou sua... Mal termina de ouvir a frase Lisa se afasta como que em choque. Esfrega a testa com os dedos e geme.
- Eu... nossa... desculpe... eu...
Como dizer que endoidara ao ver a calcinha na mão da outra? Como dizer que vela só de camiseta e calcinha atender a porta lhe tirara as defesas? Evitando olhar em direção a morena Lisa olha para a área externa do prédio.
- Nossa poderiam ter visto a gente. Desculpe mesmo.
- Lisa me poupe. E eu me preocupo com vizinhos? Alem que não tem ninguém. Lisa olhe pra mim. Lisa?
Ainda olhando para fora Lisa evita olhar em sua direção. O coração batia descompassado e tentava sem muito sucesso restabelecer o bom senso.
- Lisa?
O chamado em um tom de voz diferente chama a atenção de Lisa que cautelosamente olha para o lado buscando a morena. O coração antes disparado explode em chamas ante a visão a sua frente. Esplendorosa em sua nudez Luiza a olhava por sobre o ombro apoiada sobre a máquina de lavar. A visão das nadegas nuas e tão sedutoramente oferecidas lhe mina qualquer chance de resistência. Um gemido rouco sai de sua garganta e sem mais pensar se volta para a morena agarrando seus quadris com volúpia.
- Você é minha morena! Minha!
Puxa os cabelos castanhos e a obriga a se por de quatro sobre o chão. Se sentindo poderosa toda vestida com a outra nua em seus braços Lisa sorri deliciada. Hoje Luiza satisfaria todas as suas taras. Seria sua fuga, sua satisfação, suas respostas. Luiza geme ao toque ansioso de Lisa. Entregue se deixa usar submissa às vontades da outra. Geme de prazer ante as estocadas firmes e aceleradas de Lisa dentro de si e rebola para delírio dos olhos da loira. Quem agora assumia o momento? Luiza com toda a experiência busca insaciável o prazer com o toque de Lisa em si e dentro de si. Seus gemidos e movimentos ritmados impõem a Lisa um comando indireto em busca do próprio prazer. Lisa sente um frêmito dentro de si ao acompanhar todo aquele show de sensualidade animal. Sem perceber começa a gemer junto com a morena e surpreendida vê seu corpo estremecer em um orgasmo delicioso ao ver a outra gritar chegar ao ápice do prazer. Exausta deixa-se cair ao lado de Luiza no chão frio.
- Lisa? A voz parecia vir de longe – Lisa levanta, o chão está frio e estamos aqui há muito tempo aqui. Lisa abre os olhos lentamente e olha o teto branco da área de serviço. Olha para o lado e percebe Luiza já de joelhos, linda em sua nudez, lhe estendendo as mãos. Aceita a ajuda e juntas se erguem colocando-se de pé uma frente à outra. Sem mais palavras Luiza a leva para o banheiro e frente ao Box começa a lhe tirar as roupas. A água quente aquece não só o corpo como o espírito de Lisa. Sentindo-se leve e segura nos braços de Luiza se deixa ensaboar. O toque de Luiza nunca seria delicado e macio. Mas transmitia segurança e uma certeza de continuidade que há muito tempo não sentia. Já enrolada na toalha Lisa se deixa levar para a cama onde juntas deitam e se abraçam. A paixão não tinha lugar naquele momento. O sentimento era de plenitude. Um sentimento que Lisa jamais esperou encontrar nos braços daquela mulher arrogante e intrometida. E dormiu... profundamente. Pela primeira vez em muitos e muitos dias.

Luiza observa o rosto amado adormecido. Como a amava! Lisa talvez ainda não entendesse, mas ambas eram a força uma da outra. Este momento pertencia a elas, era destinado a elas. Estreitando mais o abraço suspira enternecida. Tinha o seu sonho nos braços. As horas passam e Luiza percebe quando sua amada acorda suavemente. Afrouxa o abraço e Lisa se movimenta alongando o corpo.
- Lu?
- Oi linda
Lisa ri divertida.
- Linda? De onde tirou isso?
- Você fica linda quando dorme.
- Ah tá. Sei... Lisa a olha séria. – Lu... precisamos conversar. Sabe disso né.
Luiza se senta na cama.
- Lisa... eu sei. Sei também que não veio aqui atrás de... de...
- Sexo? Não Lu não vim... eu... quando vi você na porta tudo mais me sumiu da cabeça. Eu... precisava de ...
- De satisfação? De me dar uma lição? Mostrar que mesmo alguém como eu, arrogante e metida como você mesmo diz, pode ser usada e gostar disso?
Lisa sente o olhar angustiado de Luiza em si e percebe que pela primeira vez há muito tempo não quer embora sem olhar para trás e esquecer a mulher sobre a cama.
- NÃO LU... não... não foi minha intenção. Eu... precisava de alguém que me entendesse... mesmo quando eu não soubesse usar as palavras. Seus olhos buscam a compreensão da outra. O silencio impera entre as duas.
- Lu... se eu disser que não gostei do que aconteceu... eu estarei mentindo. Lisa se vira para a morena – Eu amei você entregue em meus braços. Há muito tempo não sinto... eu... há muito tempo não me entrego a alguém como o fiz hoje.
- Quem se entregou fui eu Lisa.
Luiza tenta não deixar a esperança tomar conta de seu coração.
- Não Lu. Eu me entreguei. Vim aqui disposta a tirar satisfação de tudo que você fez desde que nos conhecemos, a forma como agiu com Deise a afastando de meu caminho. Luiza tenta falar, mas Lisa ergue o braço e com um gesto a silencia. - Não negue Lu... eu sei. Achei-a tão arrogante, tão... sem limites. Você imperava sobre o meu destino com sua certeza e se impunha a minha pessoa com essa postura irritante achando que eu devia simplesmente abaixar a cabeça.
- E você abaixou Lisa.
- Não me venha com sua arrogância Luiza. Você arrisca cada passo de sua vida com essa atitude e eu não gosto disso. Não gostei da forma que planejou a minha sedução aqui na festa, a forma como tirou Deise do caminho, a forma como busca me dominar. Sou uma pessoa com opiniões e vontades.
- E então veio aqui e quando me percebeu entregue, mostrou como sabe usar uma mulher. É isso?
- Já disse que não Luiza! Que inferno! Não sou como você! Você que usa métodos assim para alcançar seus objetivos.
- Meus métodos podem não ser de seu agrado, mas jamais os usaria para magoar alguém. Deise não era para você Luiza. Mesmo gostando dela você a estaria usando e sabe disso.
- Mas você não acaba de dizer que te usei?
- Me usou porque sabia ou acreditava que eu saberia lidar bem com isso. Me usou porque comigo acreditava que poderia virar as costas e partir sem remorsos.
- Já disse que não a usei.
- Não me importo Lisa. Não importo que me use. Sabe por quê? Porque comigo você sabe que estará segura.
Lisa não responde. Abaixa a cabeça sem saber exatamente como agir ou o que falar.
- Mas sabe? Não está tão segura quanto pensa. E eu particularmente cansei de tentar entende-la. Tenho coisas melhores para fazer a esta hora. Olha com um olhar sedutor para Lisa e puxa o lençol até expor totalmente a nudez amada. – Minha vez de mostrar aqui quem manda.
Já era quase manhã quando Lisa acorda. Observa Luiza adormecida, fecha os olhos e os abre novamente lentamente. Luiza perdia toda a postura arrogante quando dormia. A expressão se tornava suave, tranqüila, sem aquele ar que tanto intimidava as pessoas. ‘Parece outra pessoa’ Levanta-se delicadamente da cama procurando não acordá-la e, na ponta dos pés, caminha em direção ao banheiro de onde já sai vestida e arrumada. Sai do apartamento sem despertar a morena e já a caminho de casa suspira angustiada. ‘Nada ocorre como quero quando o assunto envolve Luiza. Não acredito no que fiz droga, no que aconteceu. Não fui eu que entrei naquele apartamento, não pode!’ Estremece ao lembrar todos os momentos da noite ao lado dela. A sensualidade morena, a confiança em cada toque cada beijo. Com Luiza ela se tornava mais impulsiva, conseguia se libertar da postura imposta de não sentir e viver apenas o momento. Com ela tudo se tornava mais vivo mais intenso, a ponto de não conseguir deixar de pensar, desejar, querer tudo de novo. Essa era a verdade. Luiza a impulsionava a viver. E é esta mulher que irá acordar sozinha, se sentindo usada na sua entrega. ‘ Só faço merda’  

"É preciso viver, não apenas existir".
(Plutarco)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Capítulo IX

Paula caminhava lentamente pela rua. As sacolas de supermercado pesavam. ‘ Maridos! Para que servem? Futebol, cerveja e só depois esposa. Deixa ele chegar!’ resmungava baixo.
- Madrinha! Deixa eu ajudá-la.
- Mari, que bom vê-la. Pega tudo vai – diz rindo mas só entregando as que estavam na mão esquerda.
- Saudades – Mari beija o rosto amado.
- Eu também querida. E como esta sua avó, sua mãe, os meninos?
- A avó depois que firmou o namoro com o seu Leal está só nas nuvens. Os meninos insuportáveis. A mãe um saco.
- Que isso Mari. Não são modos de falar de sua mãe.
- Ah... madrinha, mas ela está insuportável desde q confirmei que mandei o convite a Lisa. Disse que sou desobediente, não a respeito e tudo mais.
- Hum... – Paula meneia a cabeça. Essa história sem fim ainda ia dar muita dor de cabeça.
- Sabe madrinha – Mari a olha de relance – sabe o que penso?
- Porque sei que não vou gostar do que pensa?
Mari a ignora. Paula era ‘cabeça aberta’ apesar da idade, a única que podia falar de tudo.
- Acho minha mãe uma tremenda preconceituosa. Não aceita que a amiga dela seja... você sabe né.
- Sei... sabe filha, eu também me sinto desconfortável com isso, com toda esta situação. Mas é minha filha e eu a amo.
- Mas madrinha! Que tem de mais?? A Lisa não incomoda ninguém! É super legal, am... er... adoro ela!                                                                                                                      - Eu também a adoro Mari – Paula ri descontraída. - mas sofro porque sei que ela sofre.
- Minha mãe devia ter ficado ao lado dela! Era a melhor amiga dela pô!!No entanto só malha ela, critica. Que raiva. Olha, desculpe madrinha... a Lisa é sua filha e eu... bom... pra mim mãe tá errada.
- Filha – Paula para em frente a seu portão. – Não importa o que acontece entre minha filha e sua mãe. Você está em meu coração assim como as duas. Um dia tudo se resolve você vai ver.
- Será? Pois eu duvido. Bom, tá entregue. Vou pra casa que hoje lá tá o bicho. A bruxa tá solta, ou seja, minha mãe.
- Uai, ela não foi trabalhar?
- Quem dera! Ela se deu folga hoje. E já tá brigando. Xô ir.
Paula observa Mariana se afastar. A ligação entre ela e Lisa era impressionante. Joyce teria um dia que aceitar que nenhuma atitude afastaria as duas. Era uma ligação espiritual muito bonita. Pena que por causa do passado Lisa tenha se distanciado tanto de todos. Alias Lisa não lhe telefonara esta semana. ‘ À noite vou ligar. Que saudade de você filha’

 Joyce respirava com dificuldade. Os meninos estavam impossíveis. ‘merda ter ficado em casa’. Ouve a porta da sala se abrir e Mari entrar cautelosa.
- QUE FOI QUE ENTRA ASSIM? TEM BICHO NESTA CASA POR ACASO??
- Credo mãe. Nem posso entrar em casa mais?
- Entra na ponta dos pés porque sabe que fez coisa errada!
- E o que fiz Doutora Joyce? Será que o errado foi convidar quem queria pra MINHA festa???
- Convidou quem eu proibi!
- E que queria o que MÃE? Que meus padrinhos chegassem aqui e eu dissesse ‘ olha padrinhos, não convidei a FILHA DE VOCES porque a minha mãe brigou com ela há séculos e a trata como se tivesse lepra e tudo porque ela escolheu SER FELIZ!!! '
- Ser feliz a merda! Ela é uma... uma...
- Uma o que mãe? Diz!
- Uma sapata!
- Porque você não mostra essa sua mesquinharia, seu preconceito pros padrinhos hem? Você é uma falsa!
- Olha o respeito menina!
- Que respeito! Você nem sabe o que é isso! Joyce avança em direção a Mariana, mas se contém ao ver a porta se abrir.
- Que isso gente! Ouvi os gritos das duas lá da esquina.
Joyce cerra os punhos e vira as costas ao marido e filha saindo abruptamente da sala. Já na cozinha se apoia na pia procurando controlar o tremor do corpo. Cada dia os conflitos entre ela e Mariana se tornavam mais freqüentes. Porque ela fazia questão da presença de... Lisa? Elas nem tinham tanto contato assim. Ela fizera de tudo para que se afastassem. Mas não... teimosa como ela só, Mariana dava sempre um jeito de contatar a outra. ‘Lisa’... sua mente vaga para o passado. Começa a lembrar dos momentos que passaram e sente o coração bater diferente. Joga os cabelos para trás e ergue os olhos para cima. ‘Não vou pensar nisso... não vou pensar nisso’ e bate com punho fechado na cabeça.
- Que isso Joyce? Assustada olha para trás e vê Carlos seu marido a olhar sério. - Você anda insustentável!
- Não vem você também não Carlos! Basta Mariana! Carlos se aproxima da esposa conciliador.
- Jô... não entendo porque tanta implicância com Mariana realmente. É por causa de Lisa? Por a ter convidado para a festa? Sei que ela fez uma opção errada, é uma doente, mas não podemos fazer nada. Se queria ter mais atitude devia ter afastado a menina desde cedo de toda a família. Se não o fez, agora que não pode mesmo fazer nada.
- Doente? Quem é doente? Lisa? Carlos você endoidou? Doente é você de pensar isso! Lisa não é doente. ORIENTAÇÃO SEXUAL NÃO É DOENÇA!
- Joyce você pode, por favor, ser coerente? Não entendo! Olha, estou cansado. Cansado de suas brigas seu estresse. Trate de acalmar!
- Eu não gosto de Lisa, tenho meus motivos para não a querer perto de mim, mas ela não é doente! Discordar de você é ser incoerente? É isso??
- Valha-me Deus! – Carlos ergue as mãos para o alto - desisto. Vou para o quarto.
Jô vê o marido sair da cozinha e passa as mãos nos belos cabelos negros. Sabia que estava sendo difícil conviver com ela, mas tremia só de pensar olhar Lisa nos olhos novamente. Durante todos estes anos conseguira evitá-la e fora um alivio ela ir morar fora de Minas. Evitava pensar nela, no passado e tudo que a envolvia. Quando a filha ia à casa dos padrinhos não perguntava nada e se recusava a ouvir qualquer assunto referente à loira. Só assim conseguia viver seu mundinho seguro em paz.
Mariana entra no quarto deprimida. A mãe cada dia parecia mais nervosa. As duas não conseguiam se entender e isso a angustiava. Sabia que para tudo amenizar bastava desistir de ter contato com Lisa, mas isto estava fora de cogitação. Mesmo a vendo tão pouco ela era muito importante em sua vida. Na verdade essencial. Não conseguia esquecer uma passagem de sua infância, quando Lisa e sua mãe tiveram uma briga que a assustara muito. Impossível não lembrar o olhar de Lisa, meigo e amoroso a acalmando, e o sorriso suave que lhe dera a certeza que elas estariam sempre juntas. Que o amor supera tudo. Balança a cabeça triste. ‘ Lisa eu te amo’ como sempre fez a vida toda, Mari conversa sozinha como se Lisa estivesse presente. ‘ Eu te amo Lisa. Será que um dia você vai notar isso? Eu vim pra você... ’ Mariana se deita na cama e pega o livro na gaveta ao lado. O observa e suspira... outro motivo de conflito com a mãe. Adorava a Doutrina Espírita. Sua amiga Leila era kardecista e lhe emprestara vários livros sobre o assunto. Ela adorava. Começara a freqüentar escondido o grupo de jovens nos sábados à tarde, mas a mãe não podia nem sonhar. Dizia que espiritismo era coisa de demônio, de pessoas sem ter o que fazer. Mas só nele encontrara respostas para o elo que sentia com Lisa. Abraça o livro e começa a chorar baixinho. ‘ Lisa! Me ajude! Preciso de você! Sei que tenho que ter paciência, mas tá difícil... ME AJUDE LI!’

Lisa caminha nos corredores da clinica em direção a sua sala. O dia estava sendo bem cansativo. Isso fora a mágica que fazia para não cruzar o caminho de Luiza. Não se sentia ainda pronta para o confronto entre elas. De repente sente um aperto no coração enorme e põe a mão sobre o peito. Sente uma angustia tomar conta de si como se alguém a chamasse. Em sua mente passa a imagem de Mariana, ainda criança, lhe abraçando com a confiança de quem sabe que ela nunca lhe faltará. Sua respiração falha e gotas de suor surgem em sua testa. Lisa se apoia na parede e começa a tremer ‘ mas o que foi isso?’
- Lisa? Sente alguém lhe segurar o braço e olha para o lado. Luiza com o ar muito preocupado a apoia. - Vem Lisa... vamos até sua sala Já sentada e sentindo a respiração normalizar Lisa observa Luiza que lhe aplica uma compressa na testa.
- Eu... estou bem.
- Não, não está. Esta tensa e angustiada. Você quase desfaleceu Lisa!
- Eu sei... eu... to bem. Por favor... não me toque.
- Lisa... Luiza abaixa a cabeça. – está bem. Vá para casa.
- Não posso Lu... não quero. Está tudo bem.
- Lisa... precisamos conversar.
- Luiza... me deixe. Não me perturbe. Eu não estou bem.
Luiza a observa calada. Lisa parecia muito longe dali. Ergue-se e caminha em direção a porta. Não era hora de se impor.
- Ok Lisa... precisando sabe onde estou. Lisa de cabeça baixa parece não ouvi-la. Luiza então, agindo impulsivamente, se volta para perto dela ergue-lhe a cabeça e lhe dá um suave beijo nos lábios. - Eu vim para você...
Lisa a olha chocada e sem palavras. Lu passa a mão delicadamente por seu rosto sorri e se retira. Lisa põe a mão sobre a face onde a morena lhe tocara. Sente um calor e uma sensação de bem estar tomar conta do coração antes oprimido. ‘ Para mim... ela veio para mim... ’

 "Cada um tem um papel único na vida. Todo mundo, especialmente você, é indispensável."
(Nathaniel Hawthorne)