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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Capítulo IX

Paula caminhava lentamente pela rua. As sacolas de supermercado pesavam. ‘ Maridos! Para que servem? Futebol, cerveja e só depois esposa. Deixa ele chegar!’ resmungava baixo.
- Madrinha! Deixa eu ajudá-la.
- Mari, que bom vê-la. Pega tudo vai – diz rindo mas só entregando as que estavam na mão esquerda.
- Saudades – Mari beija o rosto amado.
- Eu também querida. E como esta sua avó, sua mãe, os meninos?
- A avó depois que firmou o namoro com o seu Leal está só nas nuvens. Os meninos insuportáveis. A mãe um saco.
- Que isso Mari. Não são modos de falar de sua mãe.
- Ah... madrinha, mas ela está insuportável desde q confirmei que mandei o convite a Lisa. Disse que sou desobediente, não a respeito e tudo mais.
- Hum... – Paula meneia a cabeça. Essa história sem fim ainda ia dar muita dor de cabeça.
- Sabe madrinha – Mari a olha de relance – sabe o que penso?
- Porque sei que não vou gostar do que pensa?
Mari a ignora. Paula era ‘cabeça aberta’ apesar da idade, a única que podia falar de tudo.
- Acho minha mãe uma tremenda preconceituosa. Não aceita que a amiga dela seja... você sabe né.
- Sei... sabe filha, eu também me sinto desconfortável com isso, com toda esta situação. Mas é minha filha e eu a amo.
- Mas madrinha! Que tem de mais?? A Lisa não incomoda ninguém! É super legal, am... er... adoro ela!                                                                                                                      - Eu também a adoro Mari – Paula ri descontraída. - mas sofro porque sei que ela sofre.
- Minha mãe devia ter ficado ao lado dela! Era a melhor amiga dela pô!!No entanto só malha ela, critica. Que raiva. Olha, desculpe madrinha... a Lisa é sua filha e eu... bom... pra mim mãe tá errada.
- Filha – Paula para em frente a seu portão. – Não importa o que acontece entre minha filha e sua mãe. Você está em meu coração assim como as duas. Um dia tudo se resolve você vai ver.
- Será? Pois eu duvido. Bom, tá entregue. Vou pra casa que hoje lá tá o bicho. A bruxa tá solta, ou seja, minha mãe.
- Uai, ela não foi trabalhar?
- Quem dera! Ela se deu folga hoje. E já tá brigando. Xô ir.
Paula observa Mariana se afastar. A ligação entre ela e Lisa era impressionante. Joyce teria um dia que aceitar que nenhuma atitude afastaria as duas. Era uma ligação espiritual muito bonita. Pena que por causa do passado Lisa tenha se distanciado tanto de todos. Alias Lisa não lhe telefonara esta semana. ‘ À noite vou ligar. Que saudade de você filha’

 Joyce respirava com dificuldade. Os meninos estavam impossíveis. ‘merda ter ficado em casa’. Ouve a porta da sala se abrir e Mari entrar cautelosa.
- QUE FOI QUE ENTRA ASSIM? TEM BICHO NESTA CASA POR ACASO??
- Credo mãe. Nem posso entrar em casa mais?
- Entra na ponta dos pés porque sabe que fez coisa errada!
- E o que fiz Doutora Joyce? Será que o errado foi convidar quem queria pra MINHA festa???
- Convidou quem eu proibi!
- E que queria o que MÃE? Que meus padrinhos chegassem aqui e eu dissesse ‘ olha padrinhos, não convidei a FILHA DE VOCES porque a minha mãe brigou com ela há séculos e a trata como se tivesse lepra e tudo porque ela escolheu SER FELIZ!!! '
- Ser feliz a merda! Ela é uma... uma...
- Uma o que mãe? Diz!
- Uma sapata!
- Porque você não mostra essa sua mesquinharia, seu preconceito pros padrinhos hem? Você é uma falsa!
- Olha o respeito menina!
- Que respeito! Você nem sabe o que é isso! Joyce avança em direção a Mariana, mas se contém ao ver a porta se abrir.
- Que isso gente! Ouvi os gritos das duas lá da esquina.
Joyce cerra os punhos e vira as costas ao marido e filha saindo abruptamente da sala. Já na cozinha se apoia na pia procurando controlar o tremor do corpo. Cada dia os conflitos entre ela e Mariana se tornavam mais freqüentes. Porque ela fazia questão da presença de... Lisa? Elas nem tinham tanto contato assim. Ela fizera de tudo para que se afastassem. Mas não... teimosa como ela só, Mariana dava sempre um jeito de contatar a outra. ‘Lisa’... sua mente vaga para o passado. Começa a lembrar dos momentos que passaram e sente o coração bater diferente. Joga os cabelos para trás e ergue os olhos para cima. ‘Não vou pensar nisso... não vou pensar nisso’ e bate com punho fechado na cabeça.
- Que isso Joyce? Assustada olha para trás e vê Carlos seu marido a olhar sério. - Você anda insustentável!
- Não vem você também não Carlos! Basta Mariana! Carlos se aproxima da esposa conciliador.
- Jô... não entendo porque tanta implicância com Mariana realmente. É por causa de Lisa? Por a ter convidado para a festa? Sei que ela fez uma opção errada, é uma doente, mas não podemos fazer nada. Se queria ter mais atitude devia ter afastado a menina desde cedo de toda a família. Se não o fez, agora que não pode mesmo fazer nada.
- Doente? Quem é doente? Lisa? Carlos você endoidou? Doente é você de pensar isso! Lisa não é doente. ORIENTAÇÃO SEXUAL NÃO É DOENÇA!
- Joyce você pode, por favor, ser coerente? Não entendo! Olha, estou cansado. Cansado de suas brigas seu estresse. Trate de acalmar!
- Eu não gosto de Lisa, tenho meus motivos para não a querer perto de mim, mas ela não é doente! Discordar de você é ser incoerente? É isso??
- Valha-me Deus! – Carlos ergue as mãos para o alto - desisto. Vou para o quarto.
Jô vê o marido sair da cozinha e passa as mãos nos belos cabelos negros. Sabia que estava sendo difícil conviver com ela, mas tremia só de pensar olhar Lisa nos olhos novamente. Durante todos estes anos conseguira evitá-la e fora um alivio ela ir morar fora de Minas. Evitava pensar nela, no passado e tudo que a envolvia. Quando a filha ia à casa dos padrinhos não perguntava nada e se recusava a ouvir qualquer assunto referente à loira. Só assim conseguia viver seu mundinho seguro em paz.
Mariana entra no quarto deprimida. A mãe cada dia parecia mais nervosa. As duas não conseguiam se entender e isso a angustiava. Sabia que para tudo amenizar bastava desistir de ter contato com Lisa, mas isto estava fora de cogitação. Mesmo a vendo tão pouco ela era muito importante em sua vida. Na verdade essencial. Não conseguia esquecer uma passagem de sua infância, quando Lisa e sua mãe tiveram uma briga que a assustara muito. Impossível não lembrar o olhar de Lisa, meigo e amoroso a acalmando, e o sorriso suave que lhe dera a certeza que elas estariam sempre juntas. Que o amor supera tudo. Balança a cabeça triste. ‘ Lisa eu te amo’ como sempre fez a vida toda, Mari conversa sozinha como se Lisa estivesse presente. ‘ Eu te amo Lisa. Será que um dia você vai notar isso? Eu vim pra você... ’ Mariana se deita na cama e pega o livro na gaveta ao lado. O observa e suspira... outro motivo de conflito com a mãe. Adorava a Doutrina Espírita. Sua amiga Leila era kardecista e lhe emprestara vários livros sobre o assunto. Ela adorava. Começara a freqüentar escondido o grupo de jovens nos sábados à tarde, mas a mãe não podia nem sonhar. Dizia que espiritismo era coisa de demônio, de pessoas sem ter o que fazer. Mas só nele encontrara respostas para o elo que sentia com Lisa. Abraça o livro e começa a chorar baixinho. ‘ Lisa! Me ajude! Preciso de você! Sei que tenho que ter paciência, mas tá difícil... ME AJUDE LI!’

Lisa caminha nos corredores da clinica em direção a sua sala. O dia estava sendo bem cansativo. Isso fora a mágica que fazia para não cruzar o caminho de Luiza. Não se sentia ainda pronta para o confronto entre elas. De repente sente um aperto no coração enorme e põe a mão sobre o peito. Sente uma angustia tomar conta de si como se alguém a chamasse. Em sua mente passa a imagem de Mariana, ainda criança, lhe abraçando com a confiança de quem sabe que ela nunca lhe faltará. Sua respiração falha e gotas de suor surgem em sua testa. Lisa se apoia na parede e começa a tremer ‘ mas o que foi isso?’
- Lisa? Sente alguém lhe segurar o braço e olha para o lado. Luiza com o ar muito preocupado a apoia. - Vem Lisa... vamos até sua sala Já sentada e sentindo a respiração normalizar Lisa observa Luiza que lhe aplica uma compressa na testa.
- Eu... estou bem.
- Não, não está. Esta tensa e angustiada. Você quase desfaleceu Lisa!
- Eu sei... eu... to bem. Por favor... não me toque.
- Lisa... Luiza abaixa a cabeça. – está bem. Vá para casa.
- Não posso Lu... não quero. Está tudo bem.
- Lisa... precisamos conversar.
- Luiza... me deixe. Não me perturbe. Eu não estou bem.
Luiza a observa calada. Lisa parecia muito longe dali. Ergue-se e caminha em direção a porta. Não era hora de se impor.
- Ok Lisa... precisando sabe onde estou. Lisa de cabeça baixa parece não ouvi-la. Luiza então, agindo impulsivamente, se volta para perto dela ergue-lhe a cabeça e lhe dá um suave beijo nos lábios. - Eu vim para você...
Lisa a olha chocada e sem palavras. Lu passa a mão delicadamente por seu rosto sorri e se retira. Lisa põe a mão sobre a face onde a morena lhe tocara. Sente um calor e uma sensação de bem estar tomar conta do coração antes oprimido. ‘ Para mim... ela veio para mim... ’

 "Cada um tem um papel único na vida. Todo mundo, especialmente você, é indispensável."
(Nathaniel Hawthorne)

3 comentários:

  1. Eu vim pra você..
    Te amo amor.
    Lindo texto

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  2. amei como sempre...
    cada capítulo melhor q o anterior...
    cada vez mais de parabens...
    bjs...

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  3. Eu vim pro meu amor, Rômulo.
    Quero muito ele
    pra mim, quero casar com ele e ter filhos.
    lindo o texto.

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