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sábado, 26 de junho de 2010

Capítulo II

Mariana desce do taxi e olha, com um olhar avaliativo, a entrada de sua casa. Saudades da simplicidade da casa da avó, dos padrinhos....da vida antiga. Sua mãe realizara todos os sonhos. Uma bela casa, um marido, filhos... e uma baita de uma amante. Contorce o rosto num espasmo de ironia e raiva. Houve um chamado e volta o olhar ao motorista que aguardava o pagamento da corrida. Num ato impulsivo volta a entrar no taxi.
- Mudei de ideia. Por favor me leve ao bairro Prado.
Paula ouve a campainha do interfone e olha preocupada o relógio. ' Quem seria a esta hora da noite?' Marcos surge na porta do quarto de pijama.
- Deixa que atendo. Quem é?
- Padrinho... é Mari...
- Mari? Meu Deus filha! - Olha assustado a esposa. - Entre. - Aperta o interfone que abre o portão, abrindo imediatamente a porta de entrada.
Abraça carinhoso a afilhada que retribui o gesto carinhosamente.
- Tudo bem Mari? Paula toca levemente o ombro da jovem
- Ah...madrinha.... - Mariana se solta dos braços de Marcos e se joga nos de Paula. - Posso passar a noite aqui?
Paula olha Marcos indagativa e carinhosamente passa a mão nos cabelos da afilhada.
- Claro filha, você é sempre bem vinda aqui.
Mariana deixa rolar uma lágrima. Estar nos braços da madrinha aliviava um pouco a angustia.
- Mari... o que aconteceu? - Paula lança um olhar ' fora daqui' a Marcos que estava ao lado delas. Ignorando ostensivamente a esposa Marcos abraça as duas.
- Eba ! Adoro abraço coletivo na madrugada!
- Marcos!
- Sim amor?
- Toma rumo! - E aponta a porta do quarto.
- Fogo mulher mandona. - Olha a afilhada mais sério. - Sabe que pode sempre contar conosco né Mari!
- Sei sim padrinho... - sorri carinhosa para ele. - Amo você viu!
- Também amo você – Olha a esposa – Já estou indo mulher!!
- Mari?
- Madrinha... - A jovem sai dos braços de Paula e caminha pela sala até parar frente à porta que dá para a cozinha – Vou tomar um pouco d'água. Posso ficar no quarto de … Lisa?
- De Lisa? Claro querida. Tenho certeza que ela não vai se importar. - Paula sente que não deve forçar a jovem a se abrir. ' Tudo a seu tempo'. - Mas vai avisar seus pais que dormirá aqui, ok!
Mariana vira o rosto de forma esconder a angustia que sentia da madrinha.
- Claro... eu... vou mandar uma mensagem. Se não se importa posso ir para o quarto?
- Pode filha. Olha, tem toalhas na gaveta da cômoda. - Quer que lhe arrume uma camisola?
- Não... não, eu me viro. Obrigada madrinha. Você é tudo!! - Abraça Paula com força e se afasta em direção ao quarto.
Paula a observa se afastar. ' Que será que aconteceu para angustiá-la tanto?'

Já no quarto Mariana senta na cama. Delicadamente toca o lençol. ' Lisa já dormiu aqui'. Suspira pesarosa e deita-se abraçando o travesseiro. ' Se Lisa estivesse aqui ela saberia o que devo fazer com tudo que aconteceu... como minha mãe pode fazer isso??' Relembra a mãe sorrindo com o rosto praticamente grudado ao da outra mulher. Balança a cabeça violentamente e tentar apagar a imagem da mente. E a mulher a olhando então? Que desaforo!
'Pera... a mulher me olhou!' Mari senta-se repentinamente. 'Meu Deus! Se ela me olhou naquela curiosidade é porque... elas me viram! Minha mãe me viu!' Mari segura a cabeça com ambas as mãos. ' Que faço meu Deus? Que faço?'

Joyce deita-se de lado e observa a amante que ainda recuperava a respiração após o prazer que ela lhe proporcionara.
- Uau mulher! Se cada vez que passarmos sufoco você vier quente como agora, quero passar isso mais vezes.
- Tá doida Ju? - Joyce põe a mão sobre os seios. - Tremo só de pensar no que poderia ter acontecido naquele bar. Nunca mais vou lá.
Juliana sorri e vira o rosto para a morena.
- Nada a ver. Poderia acontecer em qualquer bar da cidade.
- Pode ser, mas nunca seria tão suspeito quanto um GLS.
- Jô.. Belo Horizonte é uma capital com ar de interior, acontecimentos de cidade do interior. Você sempre encontra um conhecido em cada esquina, em qualquer lugar, até os mais inesperados.
- Tudo bem, mas não vou facilitar. Alias, não gostei nada de ver minha filha naquele ambiente.
- Nada a ver, que isso! Bar GLS agora é moda Jô
- Ai que saco... vamos mesmo ficar falando disso? - Jô olha a amante com um olhar safado – Você devia é retribuir tudo que te dei.
Insinuante entreabre as pernas expondo a vulva molhada e sedenta de satisfação. Juliana sorri safada e se inclina lambendo lascivamente o centro de prazer da bela morena. Joyce joga a cabeça para trás e geme languidamente.
- Que delicia.... continua gostosa.
Juliana morde sem dó os grandes lábios de Jô e se delicia com o pequeno grito que esta dá.
- Safada! Isso dói!
- É para doer Jô... você não quer prazer? Pois vai ter.
Chupa quase com violência a morena e começa a mordiscar o clitóris inchado. Jô abre ainda mais as pernas. Juliana a segura pelas coxas e com a língua penetra seu interior, saboreando o gosto adocicado de sua amante. Repentinamente ergue- lhe as pernas e a vira, colocando-a de quatro. Abri-lhe bem as nádegas insinuando o dedo pelo anus de Jô. Esta trava imediatamente.
- Nem ouse Juliana.
- Porque? Vai impedir?
- Não quero.
- Pois não te perguntei.
- Eu disse que não quero e.... ai!!!
Juliana numa única estocada a penetra por trás.
- Não quero! Para!
- Sim, você quer Jô. Você não presta. É uma sem vergonha sem limites. Você só quer prazer, tesão, satisfação. Não quer? Então por que geme? - Bate nas nádegas expostas. - Rebola sua vagabunda. Rebola para mim.
Joyce queria evitar o prazer, o orgasmo. Sem conseguir se conter começa a rebolar. Os tapas lhe doíam corpo e alma. O corpo clamava a satisfação por um prazer quase proibido, mas a mente não aceitava sua vontade contrariada. Gemia com prazer, raiva, angustia. Grita entre soluços ao sentir o orgasmo. Força o quadril nos dedos que a penetram e machucam. Assim era o sexo entre elas. Animal, satisfatório e superficial. Extenuada, Joyce se deixa cair sobre a cama de lado. Juliana sorri satisfeita e, lançando lhe um olhar arrogante, ergue-se caminhando em direção ao banheiro. Jô a observa. Uma tristeza toma conta de si. Essa era a vida que escolhera? Estava realmente feliz? Pensa no marido, nos filhos... ' Mariana...'.
Sem forças a mente volta ao passado, nas duas adolescentes que se tocam descobrindo juntas a satisfação de ' fazer amor'. Suavemente relembra Lisa, o rosto iluminado pelo seu primeiro orgasmo. O coração se preenche.
Suspira tristemente. De repente a vida não lhe parecia mais tão perfeita.

Joyce suspira ao entrar dentro de casa. O silencio era quase opressivo. Olha o relógio sobre o sofá da sala. Duas horas da manhã. Já previa Carlos reclamar da demora. Achar absurdo uma mãe de família voltar de madrugada. ' Aja paciência'.
Caminha em direção ao quarto evitando fazer barulho. Para frente ao quarto de Mariana. Devagar abre a porta e surpresa vê a cama arrumada. Angustiada sente o ar lhe faltar. Onde estava Mariana?
Sem pensar abre a porta do quarto de casal quase aos gritos.
- Carlos, cadê Mariana??
- Carlos acorda assustado.
- Que? Que houve? Jó? Endoidou mulher? - Olha o relógio assustado – Isso são horas de chegar?
- Não interessa?? Cadê Mariana??
- E eu que tenho que dar conta dela??? Se você fosse uma mãe mais presente saberia onde SUA filha está.
- Ah vai pra merda! Você é uma ameba mesmo! - Jô sai batendo a porta.
Carlos indignado levanta e só com a calça de pijama vai atrás dela.
- Vai a merda você, Joyce. você chega tarde e exige saber onde anda sua filha?
- Você quer que eu de conta sozinha das crianças? - Pois é obrigação sua saber com quem e por onde eles andam. Você nem se interessa né! Ela sumiu e não está nem aí.
- Me poupe Jô. Ela tem dezoito anos. Deve estar se divertindo com os amigos. Mas e você? Se divertia também?
- Isso não é hora de me encher o saco Carlos! Quero saber onde Mariana está. Se não pode ajudar, desapareça de minha frente.
- Quer saber! Tô de saco cheio de você. Resolva sozinha seus problemas. - Carlos vira as costas a esposa e volta para o quarto batendo a porta.
Ignorando o rompante nervoso do marido, Joyce, angustiada, esfrega a testa com a mão 'Cadê você Mariana?' Abre a bolsa e pega o celular sem saber exatamente que atitude tomar. Observa o visor e surpreendida vê uma mensagem da filha a piscar.

'Mãe, resolvi dormir na madrinha. Estava com saudades deles. Não se preocupe comigo.
Mari'


Joyce sente-se tonta e segura o batente da porta. Suspira tensa e após alguns minutos volta o olhar para porta do quarto de casal. Sentindo-se sem opção, caminha em direção à mesma e a abre ainda tensa.
- Carlos, me desculpe. Você tem razão.
Carlos ergue a cabeça do travesseiro observando a esposa que se encontrava numa postura de 'quase' submissão. Põe o braço sobre a testa.
- Tudo bem.
- Eu sei que não está tudo bem.- Joyce senta-se na cama e tira o braço do marido do rosto.
- Me desculpe, Você está certo. Eu não deveria ter chegado tão tarde. É que o encontro estava tão bom e havia tempo que não via as meninas. Vou evitar fazer isso novamente ok.
Carlos observa a esposa sério. Ele não era bobo. Sabia que havia mais por trás das palavras e atitudes da esposa. Desiludido faz um gesto afirmativo com a cabeça. Aonde fora parar os dois jovens apaixonados do passado? Ergue a mão e toca o rosto da esposa. Joyce era uma mulher linda. Mas algo morrera. Cansara de contar as vezes que a traía. Na verdade, buscava fora do casamento a satisfação que faltava neste.
Joyce percebe o olhar distante do marido. Desanimada se ergue da cama e afasta-se em direção ao guarda-roupa. Tira o vestido de costas para o marido sentindo-se estranhamente inibida. Este observa a postura intimidada da esposa. Um suave sentimento de ternura assola seu coração. 'Meu Deus será que valia mesmo a pena manter um casamento por amizade, aparências?'
Observa, desta vez analisador, o corpo da esposa. ' Linda...'
Um sentimento de posse começa a substituir a ternura antes sentida. Que diabos... ela era sua esposa. Devia-lhe satisfação e prazer. A luxuria se faz presente em seu olhar. Ele era homem. E ela sua mulher. Ergue-se e caminha em direção a esposa erguendo-a pela cintura. Joyce solta um grito de surpresa ao ser agarrada por trás. Sem atitude se vê jogada sobre a cama.
- Carlos...
- Você me deve isso Jô. Você me deve isso.
Jô observa o marido tirar a calça do pijama. Estava duro, firme. Carlos sobe em cima, dela abre-lhe as pernas e a penetra. Movimentando-se quase violentamente segura-lhe os seios possessivo. O suor começa a escorrer por sua pele a medida que seus movimentos se tornam mais frenéticos. Submissa a esposa se submete a seu domínio. Perto do orgasmo Carlos lhe segura o queixo e a faz encara-lo.
- Aprenda Jô... - e dá-lhe uma estocada. - Eu sou seu marido. E eu faço o que quiser de você. - Novamente a penetra fundo – Você me … deve isso.
Joyce vê o rosto do marido se transformar com o orgasmo. Não sente nada. Nem desejo, nem prazer, nem satisfação. Após o orgasmo, Carlos sai de cima dela, se vira para o lado e logo adormece.
E o resto da noite Jô permanece acordada, pensativa... nua e vulnerável.
 

Marcos boceja preguiçoso. Toma um gole de café e faz uma careta. Detestava café dormido. 'Vontade de acordar Paula para fazer um café fresquinho'. Toma um novo gole do café e observa o dia amanhecer lentamente pela janela. Olha o relógio sobre a geladeira. Cinco horas da manhã. Passa a mão pelo cabelo já ralo e espreguiça com um bocejo alto. Levanta-se põe a xícara sobre a pia e abre a porta da cozinha. Caminha pelo jardim e num gesto quase automático abre o portão para ver melhor a rua.
- Ah!!!
Assustado, pula para trás para não ser atingido pela mulher sentada a beirada do portão. Esta se ergue também assustada para logo depois soltar um grito de felicidade.
- Paizinho!!
Marcos pisca várias vezes na certeza de ainda estar dormindo.
- Lisa? Lisa é você??? - Enlouquecido a abraça apertado rodando-a pelo passeio – LISA!!!
Os dois permanecem unidos no abraço por vários minutos. Logo Marcos a segura pelo rosto.
- Mas veja a minha menina! Que saudades! Você está com a pele bronzeada! Veio para ficar? Meu Deus, não quero nem imaginar a reação de sua mãe!!! Quando chegou! Você nos mata ainda de preocupação menina! Nossa senhora, nem acredito que está aqui!! - E a abraça novamente
- Pai... calma... pai... pai... pai... Você está me sufocando!! Pai!! - Lisa se desprende, sorrindo emocionada, dos braços de Marcos. - Eu voltei. - Olha o pai séria. - Voltei para ficar.
Paula acorda com o aroma delicioso de café fresco vindo da cozinha. ' Mentira! Marcos fez café?'
Ergue da cama põe um roupão e caminha desconfiada em direção à cozinha. Para surpresa, ao ouvir vozes animadas vindo da mesma. Mas com quem Marcos conversava a esta hora da manhã? Apura a audição e , levando a mão a boca, sente os olhos encherem de lágrimas. Era a voz de …
- Lisa... é você filha? A voz sai quase um sussurro, tamanha a emoção contida. Mas é suficiente.
Lisa interrompe uma frase ao meio e a olha com os olhos repletos de amor. Ergue-se quase cambaleante, ficando frente a frente com a mãe
- Mãe.. minha mãe..
As duas se abraçam sem mais palavras. Marcos observa feliz o reencontro de mãe e filha. E após vários minutos, aguardando impaciente as duas se desprenderem do longo abraço, levanta-se e une-se a elas esfuziante.
- Adoro abraço coletivo – diz rindo, logo sendo acompanhado pelas duas mulheres amadas.
O tempo parecia passar rápido demais. Paula, ansiosa, queria saber mais e mais da filha. Lisa rindo respondia pacientemente às perguntas da mãe. Esta, a cada caso contado pela filha, sentia os olhos se encherem de lágrimas. Lisa estava tão... viva. Tao... iluminada. Seu olhar estava firme e direto. O cabelo mais claro, cumprido e queimado de sol. O sorriso, suave, voltara a ser o mesmo que tantas vezes vira em suas feições antes adolescentes. Só que agora num rosto de mulher, forte, firme, com linhas suaves a lhe definir e enobrecer as feições. Lisa, expressivamente mostrava nas marcas da vida, todas as alegrias e tristezas que passara. Mas também toda a determinação de uma mulher que estava em paz consigo mesma e com a vida.
- Mãe, pai... estou cansada. A viagem foi longa. Se importam se eu tomar um banho e descansar um pouco?
- Claro que não Lisa! Vou arrumar seu quarto agora! - Paula para no caminho do quarto – Ah... Lisa... seu quarto... está ocupado.
- Sério? Já me substituíram né! - Lisa sorri brincando. - Sem problema mãe Posso usar outro.
- Não filha. Ele ainda é seu, mas... bom, Mari chegou tarde da noite ontem e pediu se podia dormir nele... eu...
- Mari? Minha Mari está aqui? - Lisa sente o coração se aquecer.
- Sim filha. Ela não chegou muito bem ontem, mas não quis falar nada. Só foi para o quarto dormir.
Lisa a olha um pouco preocupada.
- Tudo bem mãe. Bom... eu... bom, então vou tomar banho em meu quarto mesmo... sorri feliz. - Meu Deus... mesmo depois de tantos anos ainda falo ' meu quarto'.
- Mas ele é seu Lisa... sempre seu.
A loira caminha em direção ao quarto. Segura a maçaneta emocionada e se vira sorrindo para os pais.
- É bom estar em casa.
Sorridente Lisa abre a porta do quarto delicadamente. Ia ver sua menina, seu anjinho. Se vira emocionada para a cama, ansiosa para acordar e abraçar a jovem.
- Mari? - a voz sai como um sussurro. Sem acreditar, Lisa lentamente se aproxima da cama.
- Mari? Diz baixinho, quase para si mesma em choque. Olha incrédula a bela mulher que dorme de bruços em sua cama. Esta não podia ser Mariana! Morena clara, cabelos longos a lhe cobrir parcialmente o rosto, a jovem mulher ressona baixinho com os lábios entreabertos. O corpo descoberto da cintura para cima deixa ver as costas alvas e perfeitas. Trêmula, sem saber bem o porquê, Lisa aproxima-se da cama e ajoelha-se perto do rosto adormecido. Delicadamente afasta uma mecha do longo cabelo negro e olha maravilhada a beleza facial que vislumbra. Percorre deslumbrada o olhar pelo corpo feminino.
- Meu Deus... Mari... - volta o olhar ao belo rosto e instintivamente se afasta da cama assustada.
Não esperava o impacto do olhos verdes sobre si. Mariana estava acordada.

"Felicidade é ter algo o que fazer, ter algo que amar e algo que esperar".
(Aristóteles)