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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Capítulo XXII – Final da 2ª Parte (AMOR)


Lisa sente um aperto no coração. Segura o peito angustiada e corre para o telefone. Liga diversas vezes para o celular de Luiza. ‘Lu atende!’
O suor começa a brotar em sua testa. Olha para os lados do consultório e caminha ansiosa até a recepção. Observa o movimento no saguão e volta ainda mais agitada para sua sala. Algo acontecera a Luiza. Ela sabia! Segura a cabeça tentando aliviar a pressão sobre a mesma e novamente corre a recepção.
- Marcela, por favor, pode ligar para o hotel que Luiza se hospedou e ver se ela já saiu de lá?
- Pois não Doutora Lisa. Um minuto.
Lisa espera ansiosa a ligação se completar.
- Como? Já saiu? Pode me dizer a quanto tempo. Onze horas? – Olha para o relógio de pulso. Meio dia. - Ok, obrigada.
Desliga o telefone nervosa.
- Doutora... acontece alguma coisa?
- Não... Não sei... eu... bom obrigada Marcela.
Lisa mais uma vez retorna ao consultório. Apoia as mãos sobre a mesa e respira fundo. ‘Calma Lisa, está tudo bem, está tudo bem. Não aconteceu nada a Lu. É tudo coisa de sua cabeça. ’
Retoma suas tarefas na clínica tentando ignorar o aperto que não saia de seu peito. Já passava das três horas quando, sem conseguir mais conter a angustia, volta a ligar para o celular de Luiza. Não consegue esconder a surpresa ao ver a ligação ser atendida por uma voz masculina.
- Alo? Quem fala?
- Com quem estou falando?
- Senhora... meu nome é Pedro... sou médico... a senhora é parente de Luiza Stanley?
- Eu... –Lisa sente como se uma mão esmagasse seu coração – Aconteceu algo a Luiza??
- Senhora...
- Pelo amor de Deus!!! Eu sou a esposa dela! Responde! Aconteceu algo a Luiza?
- Senhora... - O médico tenta esconder a surpresa ante a informação dada e devido à mesma não busca maiores esclarecimentos sobre a pessoa do outro lado da linha - Ela teve um acidente. O carro em que estava foi atingido por um caminhão e... infelizmente nada podemos fazer por ela.
- NÃO!!!!!
 O grito ecoa pela clinica. Roberto pula assustado da cadeira e junto com outros médicos corre à sala de Lisa. A encontram em prantos inclinada sobre a mesa. Enquanto alguns colegas buscavam ampará-la Roberto pega o celular ainda ligado.
- Alô. Aqui é o Doutor Roberto Brumont da Clinica Avencar. Com quem eu falo?
Em silencio escuta as palavras do outro lado da linha. Após alguns minutos, sério e contrito desliga o telefone. Arrasado olha os colegas de trabalho, especialmente Lisa que apoiada sobre os amigos, mantinha a cabeça baixa numa postura de total derrota.
- A Doutora Luiza sofreu um acidente.
Todos se olham assustados. Lisa começa a soluçar angustiada.
- Ela... não resistiu aos ferimentos. Lisa... filha.
- Não... não... não...
Roberto olha um pouco perdido o desespero da amiga. Com um gesto discreto acena para que Jairo o acompanhe.
- Providenciarei para que a família seja avisada e depois irei para Curitiba. Não deixem Lisa sozinha.
- Tudo bem... Tranquilize, eu cuido de tudo por aqui.
Jairo retorna ao consultório e arrasado ampara Lisa. Como todos na clínica, sabia do envolvimento de Luiza e Lisa e aceitava com naturalidade o amor de ambas. ‘ Por que meu Deus? Porque fez isso com Luiza? Porque fez isso com Lisa?’
Balança a cabeça inconformado. ‘Porque a vida tinha que ser tão injusta?’

‘Finalmente em casa’
Joyce sai do carro e verifica a caixa de correio. Pega as cartas e caminha em direção a porta verificando as mesmas. Para ligeiramente ao segurar um envelope pardo. ‘Lisa...’. Vira a carta e olha o destinatário. Mariana. Nota então outro envelope parecido e o pega. Este era para si. Abre-o e arregala os olhos ao ver o Cartão Postal. ‘ Uau! Índia!’ Vira o mesmo e lê a pequena dedicatória.

Jô, a Índia é simplesmente maravilhosa com seu passado esplendoroso e seu povo hospitaleiro. Jamais vi um país tão místico.
Dê beijos a todos.
Com carinho Lisa.

Com um suave sorriso entra em casa e vê Carlos e os meninos assistindo televisão.
- Boa noite galera.
- Boa noite mãe. - Rick e Luiz nem tiram os olhos do aparelho.
Carlos abaixa os óculos e sorri educado para ela.
- Boa noite Jô. Tranquilo o dia?
- Até que foi Carlos. Ainda bem. Quero distancia de problemas. Bom vou por uma roupa mais confortável. – Sorri e sobe a escada. No caminho olha novamente o pequeno Cartão Postal. ‘ Até quando Lisa continuará sua fuga pelo mundo?’ Suspira um tanto triste e toca levemente o coração. ‘Lisa... ’
Entra no quarto de Mariana e deposita suas correspondências na cômoda. Distraidamente olha o quarto da filha. Um ambiente moderno com cores fortes. Passa as mãos no cabelo e sai do quarto, com os pensamentos agora voltados para a filha. Desde que esta soubera da tragédia que se abatera sobre a vida de Lisa mudara radicalmente seu modo de ser. O ar adolescente sumira de seu rosto, dando espaço a uma expressão mais compenetrada e séria. Terminara o namoro e passara a se dedicar com afinco aos estudos. Iniciara um curso web designer e logo conseguira estágio em uma empresa bem conceituada no mercado. Logo fora contratada por sua dedicação e envolvimento com o trabalho. Atualmente fazia Faculdade de Engenharia da Computação. Um motivo de grande orgulho para Carlos e Joyce. E também de grande preocupação. Mariana que completara 18 anos a alguns meses, nunca mais trouxera nenhum pretendente em casa. Os padrinhos Marcos e Paula às vezes brincavam dizendo que era porque ela havia puxado o gênio de Joyce. Mas o motivo real somente Mariana o podia dizer. E isso ela jamais diria.
Era como se a morte de Luiza a tivesse afetado tanto quando a Lisa.
- Mariana... filha... - sussurra Joyce baixinho.
- Joyce? Tudo bem?
Jô é interrompida de seus pensamentos por Carlos.
- Está sim Carlos. Por quê?
- Está muito séria só isso. – Carlos a abraça carinhoso.
Joyce retribui o abraço com afeto. A relação dos dois já há alguns meses melhorara bastante. Tudo caíra numa rotina cômoda, agradável e conveniente a ambos.
- Jô, estou pensando em levar os meninos para comer um sanduíche. Vem conosco?
- Hum Carlos – Joyce torce o rosto. – se não se importa prefiro ficar em casa e tomar um bom banho. Não fica chateado?
- Não, eu calculei mesmo que não ia querer ir. Deixe-me ir então. Até mais tarde.
- Até Carlos.
Jô ao ouvir o som da porta de entrada abrir e depois fechar, imediatamente pega o telefone e disca um numero.
- Alo?
- Juliana? É Joyce.
- Ei querida! Tudo bem?
- Está sim. Olha, amanhã consegui a tarde livre. Acha que pode se encontrar comigo?
- Hum... acho que sim. Vou ver se consigo uma folga. Te ligo confirmando ok.
- Ok... está tudo bem?
- Está sim Jô. Márcia andou tendo as velhas crises de ciúmes, mas agora já está tudo bem.
Joyce franze a testa preocupada.
- Acha que ela desconfia de alguma coisa?
- Acho não querida, tenho certeza. Mas desde o inicio ela aceitou termos um relacionamento aberto. Está comigo totalmente ciente disso. Não vou mudar. E você tudo bem?
- Ótimo. Carlos saiu com os meninos e a casa está um sossego. Vou aproveitar para tomar um banho bem demorado.
- Hum... pena não poder estar com você. Ia adorar te dar este banho.
- Sei senhorita Juliana! Ate parece que seria só um banho. Bom deixe-me ir. Beijos querida.
- Beijos Jô.

Mariana suspira e solta os objetos sobre a cama. O dia fora exaustivo. ‘Preguiça de ir a Faculdade’. Caminha em direção a cômoda e vê a correspondência. Pega-as sem grande interesse até ver o envelope pardo com a letra familiar.
- Lisa!
Senta-se na cama e abre o envelope ansiosa. Era da Índia. O cartão postal mostra uma
linda imagem do Taj Mahal.

Nota da autora:
O Taj Mahal, uma das construções mais perfeitas da Terra, é um memorial eterno projetado por um líder indiano em homenagem a seu amor perdido. Essa pérola da arquitetura concebida em mármore foi descrita pelo poeta Rabindranath Tagore como "uma lágrima no rosto da eternidade" e, por isso mesmo, é impossível ser traduzida apenas em palavras.

Abre a carta e a lê com um sorriso nos lábios. Lisa descrevia em tom inebriante as cidades pelo qual passara e as pessoas que conhecera.

Mari é tão linda a forma de pensar indiana. Suas crenças, sua diversidade, tudo é fascinante.
Sabe o que mais me fascinou?
A flor de lótus. Pois é feiticeira, para os indianos esta flor, devido ao fato de crescer na água pantanosa e não ser afetada por ela representa que devemos ficar acima do mundo material apesar de viver nele. E suas centenas de pétalas representam a cultura da "unidade na diversidade” Ela é o símbolo da expansão espiritual, do sagrado, do puro. Na minha humilde visão ela simboliza o amor universal... tão verdadeiro quanto eterno. Não é lindo?
Mas o mais perfeito na Índia é sua filosofia. Para os indianos a vida é um eterno retorno, que gravita em ciclos concêntricos terminando no seu centro, coisa que os iluminados atingem. Os percalços do caminho não são motivo de raiva , assim como os erros não são uma questão de pecado , mas sim uma questão de imaturidade da alma.
Ah Mari!! Eu poderia te contar muito mais coisas (principalmente porque sei que é espírita e crê em reencarnação e vidas passadas), mas acredito ser melhor termos esta conversa pessoalmente.
Beijos cheios de saudade.
Com amor
Lisa
 
O fim da carta deixa Mariana comovida. Leva esta aos lábios, beija-a e a coloca sobre o coração. Sentira nas palavras de Lisa um sentimento diferente... de alegria... de tranqüilidade e aceitação. ‘ Deus tomara que eu esteja certa’.

Lisa caminha entre as árvores respirando o ar puro e fresco da tarde fria. Ao avistar a lápide que buscava prende a respiração e se aproxima. Devagar se ajoelha e passa a mão sobre o nome impresso. ‘Lu... ’ Lágrimas silenciosas caem de seus olhos.
Ergue o olhar para o céu e observa o suave entardecer. Já se passara mais de um ano que sua amada partira. Um ano de fugas e descobertas.
Presa ao sofrimento de perder Luiza vendera todos os bens conquistados, pegara suas economias e partira para uma viagem sem destino. Tudo que queria era esquecer, fugir, sufocar a angustia de seu peito. Deus para ela não mais existia. Mas os meses passavam lentos e sua dor não diminuía.
É quando em Portugal, conhece um casal idoso que mora na Índia e cuja mulher era brasileira. A amizade surge fácil e logo eles lhe falam sobre a vida, a morte, o amor e o perdão. Lisa bebe as palavras que caiam como bálsamos em suas feridas. Não percebe que aos poucos a oração volta a seus lábios e o coração, antes fechado em sua dor, se acalenta com a certeza que Luiza estava bem.
Após dias de convivência, o casal se despede da jovem solitária, não sem antes deixar o endereço para que ela os visite e passe uns dias na Índia. Lisa então continua sua viagem pela Europa. Vagarosamente começa a perceber a beleza da natureza e a historicidade dos povos por onde passa. O belo se faz presente e logo ela começa a mandar cartões postais às pessoas amadas. Aos poucos, talvez por ainda sentir dentro de si o carinho sempre sincero de Mari e sua natural curiosidade sobre tudo e todos, começa a descrever nas cartas direcionadas a ela, suas impressões e opiniões diversas. Manda também pequenas mensagens a Joyce numa clara demonstração que o passado ficara para trás.
Quando enfim decide conhecer a Índia, busca novamente o calor do casal amigo que, com grande alegria, a recebe em seu lar. São meses de aprendizado e cura de sua alma.
Inicialmente constrangida por abusar da hospitalidade dos novos amigos, logo Lisa se adapta a nova cultura e ambiente familiar. Os jovens eram festivos e alegres e logo a incluem em todas as festividades locais. Suavemente o sorriso volta aos lábios de Lisa e uma paz toma conta de todo seu ser.
Estava pronta para voltar para casa.·.
Lisa volta novamente o olhar ao túmulo onde estava enterrada sua amada.
- Lu... amor. Desculpe a demora em vir vê-la. – Novamente alisa a fria pedra de mármore. – Você, mais do que ninguém sabe que não lido bem com a dor. – Suspira tristemente – Sabe... desde que você partiu eu me vi sem chão, numa completa escuridão. A vida para mim perdeu todo o sentido, nada mais me interessava. Tudo que queria era seus braços em volta de mim... seus beijos, seus carinhos. Então parti. Parti para longe de tudo. Longe de você, amigos, família... tudo! - Suspira mais uma vez - O que eu não percebi amor, é que aonde eu ia, levava você comigo. Mas não levava o seu melhor. Levava somente a dor de sua perda, a tristeza de não tê-la mais a meu lado. Como fui burra!!! – Ri baixinho – Posso ouvi-la dizer isso Lu! Mas entenda amor! Doeu demais te perder. – Balança a cabeça desalentada - E foi com toda essa dor no peito que conheci pessoas amigas que me ajudaram a lembrar de nós. Nós Luiza! Nossa união, nossas alegrias, nossas conquistas... nosso amor. E então eu vi você amada. Em todos os cantos que olhava dentro de mim você sorria e dizia que me amava. Ah Lu... me desculpe... desculpe esquecer nosso amor. – Desliza suavemente a mão pela lápide até colocá-la sobre o colo.
- Eu te amo! Para todo o sempre vou te amar. Obrigada amada... obrigada por me ensinar que o amor existe... obrigada por ter trazido ele de volta a minha vida. Prometo nunca mais esquecer disso. Obrigada por cada dia de alegria que tivemos, por cada sorriso, por cada palavra. Obrigada por nós. Por não ter desistido de mim... por ter feito e fazer parte de minha vida.
Devagar Lisa se ergue do chão. Uma suave brisa se faz presente. É como se Luiza suavemente lhe tocasse o rosto. Um sorriso delineia os lábios perfeitos de Lisa.
Nunca o AMOR se fizera tão presente em sua vida.
- A sim, Lu... amor... eu lhe trouxe um presente.
Suavemente põe os dedos nos lábios e toca com carinho o nome da amada.
Vira-se e caminha em direção a saída. 


... Uma linda Flor de Lótus jazia perfumada sobre a lápide.

Because You Loved Me (com tradução)

For all those times you stood by me
For all the truth that you made me see
For all the joy you brought to my life
For all the wrong that you made right
For every dream you made come true
For all the love I found in you
I'll be forever thankful baby
You're the one who held me up
Never let me fall
You're the one who saw me through it all

You were my strength when I was weak
You were my voice when I couldn't speak
You were my eyes when I couldn't see
You saw the best there was in me
Lifted me up when I couldn't reach
You gave me faith 'coz you believed
I'm everything I am
Because you loved me

You gave me wings and made me fly
You touched my hand I could touch the sky
I lost my faith, you gave it back to me
You said no star was out of reach
You stood by me and I stood tall
I had your love I had it all
I'm grateful for each day you gave me
Maybe I don't know that much
But I know this much is true
I was blessed because I was loved by you

You were my strength when I was weak
You were my voice when I couldn't speak
You were my eyes when I couldn't see
You saw the best there was in me
Lifted me up when I couldn't reach
You gave me faith cause you believed
I'm everything I am
Because you loved me

You were always there for me
The tender wind that carried me
A light in the dark shining your love into my life
You've been my inspiration
Through the lies you were the truth
My world is a better place because of you

You were my strength when I was weak
You were my voice when I couldn't speak
You were my eyes when I couldn't see
You saw the best there was in me
Lifted me up when I couldn't reach
You gave me faith 'coz you believed
I'm everything I am
Because you loved me

Tradução
Por que você me amou.


Por todas as vezes que você me apoiou
Por todas as verdades que você me fez ver
Por toda alegria que você trouxe para minha vida
Por todos os erros que você fez certo
Por todos os sonhos que você fez tornarem-se reais
Por todo amor que encontrei em você
Eu serei eternamente grata, baby
Você foi a única que me ajudou a me levantar
Nunca me deixou cair
Você foi a única que me viu através de tudo isto

Você foi a minha força quando estava fraca
Você foi minha voz quando não podia falar
Você foi meus olhos quando não podia ver
Você viu o melhor que estava em mim
Me levantou quando não podia alcançar
Você me deu fé porque você acreditou
Eu sou tudo que sou porque você me amou

Você me deu asas e me fez voar
Você tocou minha mão, eu toquei o céu
Eu perdi minha fé, você me trouxe ela de volta
Você disse que nenhuma estrela estava fora de alcance
Você ficou do meu lado, e eu suportei
Eu tenho seu amor, eu tenho tudo
Eu sou grata por esses dias que você me deu
Talvez eu não saiba muito disso
Mas eu sei que este muito é verdade
Eu fui abençoada porque eu fui amada por você

Você foi a minha força quando estava fraca
Você foi minha voz quando não podia falar
Você foi meus olhos quando não podia ver
Você viu o melhor que estava em mim
Levantou-me quando não podia alcançar
Você me deu fé porque você acreditou
Eu sou tudo que sou porque você me amou

Você esteve sempre aqui por mim
O vento gentil que me carregava
Uma luz no escuro brilhando seu amor na minha vida
Você tem sido minha inspiração
Através das mentiras, você foi a verdade
Meu mundo é o melhor por sua causa

Você foi a minha força quando estava fraca
Você foi minha voz quando não podia falar
Você foi meus olhos quando não podia ver
Você viu o melhor que estava em mim
Me levantou quando não podia alcançar
Você me deu fé porque você acreditou
Eu sou tudo que sou porque você me amou

http://www.youtube.com/watch?v=xvqCr0L2r7c

FIM


Pois é... a imagem n combina mas procurem sentir a musica ;)


terça-feira, 3 de novembro de 2009

Capítulo XXI

- Mariana!! Lucas já chegou!
- To indo mãe.

Joyce observa a filha que desce as escadas da nova residência da família. Estava linda. Deixara os cabelos crescerem e estes agora lhe caiam pelas costas como uma linda cascata de fios negros. Os olhos verdes realçados pelo rímel eram tristes e misteriosos. Sua filha tinha uma beleza única.

- Olha mãe não devo demorar ok. Beija rapidamente o rosto amado e caminha em direção ao namorado que não conseguia desviar o olhar de sua bela figura.

- Fecha a boquinha querido. – Mariana diz irônica e brincando lhe segura o queixo.

- Você esta linda Mari.

- Você também Lucas. Vamos?



Joyce observa o jovem casal sair. Que saudade da adolescência. Um sorriso suave desponta nos lábios. Carlos aparece na porta da sala.

- Mariana saiu?

- Sim, foi com Lucas para uma festa de aniversário.

- Jô não acha cedo demais ela namorar?

- Cedo Carlos? Mariana já tem dezessete anos!

- Então! Muito cedo. Nesta idade a menina não sabe bem o que quer. Tudo são ilusões. Você mais que ninguém sabe disso.

Joyce se vira agressivamente para Carlos.

- O que está exatamente querendo dizer com isso Carlos?

- Não quero dizer nada! Só acho que você é muito condescendente com Mariana.

- Carlos do céu! Ela está somente namorando!

- Somente! Por acaso não é ela que é fruto de um ‘somente namorando’?

Joyce fecha o punho nervosa. Encara o marido quase com ódio.

- Se eu fosse você limitava a manter a boca fechada. Casou comigo ciente de tudo. Nunca lhe escondi nada. Não te dou o direito de me julgar agora.

- Contou mesmo Joyce? Tem certeza? – Carlos se aproxima da esposa intimidando-a com sua altura.

- O que exatamente está querendo dizer com isso Carlos? Meu Deus! Estou cansada! Cansada de suas insinuações, suas brigas, suas frustrações. – Passa as mãos no cabelo num gesto seu de nervosismo.

- Não estou insinuando nada! Vou sair. Não me espere pro jantar. – E sai batendo a porta.

Joyce bufando senta-se no sofá da sala. A cada dia Carlos estava mais insuportável. O casamento antes tão perfeito agora lhe era uma prisão. Não tinha um companheiro, tinha um ditador em casa. ‘ Paciência Jô. Você sabe que está exagerando’ Passa as mãos no cabelo tensa.

- Mãe!!! O Ri pegou minha bala!!!

- Mentira mãe! Era minha! Ele comeu a dele e agora ta querendo a minha!

- Meninos calem agora!! – Joyce lança um olhar assassino aos gêmeos silenciando-os imediatamente. – Me deixem em paz e resolvam vocês esse problema enooorme!! E ai de vocês se ouvir uma palavra dita em tom mais alto! Fora daqui!

Os gêmeos saem em ritmo “de flash” da sala. Não são doidos de mexer com a mãe naquele estado de espírito.

‘Preciso sair’. Jô se ergue do sofá e liga para a mãe que se casara e morava no bairro vizinho ao seu.

- Mãe? Tudo bem? Olha, eu queria sair um pouco, esfriar a cabeça. Será que poderia deixar os gêmeos com você hoje? Não se importa mesmo? Não quero atrapalhar. Ok, então. Obrigada mesmo mãe.

Desliga o telefone e deixa o olhar se perder no infinito. Balança então a cabeça numa negativa e novamente pega o telefone.

- Fabi? Tudo bem? Olha estava pensando em sair esta noite. Por acaso tem tempo livre? Serio? GLS? Mas... que bar é esse? Bom... eu... tudo bem eu topo. Que horas? Ok me passa o endereço que encontro você lá. Como? Passa aqui para me pegar? Tudo bem espero você então. Beijos.

Desliga o telefone empolgada. Há muito tempo não tinha um momento só seu.

- Rick! Luiz! Troquem agora de roupa. Vocês vão dormir na casa da avó!



O barzinho estava cheio. As duas mulheres sentam-se em uma mesa central. Curiosa Joyce observa o ambiente rústico e sorri para a amiga.

- Fabi, não sabia que você gostava de freqüentar estes ambientes.

- Que isso Jô! São os melhores! Aqui você encontra de tudo. Gays, lésbicas, simpatizantes, heteros. Eu adoro!

- Mas você curte mulheres?

- Uai, se pintar uma que vale a pena estamos aqui! - E ri alto. Fabiana era uma executiva de 42 anos de idade, separada e independente.

- Hum... acho que vou adotar sua forma de pensamento! E olha para os lados curiosa. Fixa o olhar na mesa ao lado onde dois belos rapazes trocavam um beijo apaixonado.

- Jô, ei Jô. – Fabi estala os dedos perto do rosto da amiga – Seja mais discreta, por favor.

- Eu... er... desculpa. É que é tão... diferente.

Uma musica suave domina o ambiente. Joyce olha o palco e vê uma bela morena cantar musicas ao vivo. Fabiana acompanha seu olhar.

- O nome dela é Andrea. Excelente cantora.

- Também é lês?

- É sim. Mas indiferente disso é uma excelente cantora. Canta em vários locais na cidade. – Fabi aponta a uma bela mulher sentada ao lado do palco olhando enlevada a cantora. – Aquela é a namorada dela.

- Hum... linda.

- Com certeza.

As duas são interrompidas por um rapaz que surge espalhafatoso frente à mesa das duas.

- Fabinha? Meu amor que saudades!

- João? Lindãooo! Esta se ergue e dá um abraço apertado no outro.

- Menina quanto tempo! Você anda sumida. – Se vira para Joyce com um sorriso admirado – Não vai me apresentar esse belo exemplar feminino de formosura?

Joyce sorri divertida. O rapaz era um dos homens mais jeitosos que já vira na vida.

Depois das apresentações João faz questão que ambas sentem à sua mesa. A mesma estava repleta de casais de todos os tipos. Logo Fabi se distrai com uma jovem mulher que não tirava os olhos dela. Um tempo depois sussurra aos ouvidos de Joyce.

- As novinhas são as melhores.

Joyce distraída faz um sinal afirmativo com a cabeça. Observava silenciosa uma bela morena de óculos que distraída bebericava uma caipivodca de limão. Algo nela lhe chamava a atenção. Talvez o ar intelectual que não combinava em nada com a festividade do ambiente.

Como a se sentir observada a morena ergue os olhos e encara Joyce fixadamente. Então com um sorriso de lado levanta um brinde a mesma. Timidamente Jô retribui o gesto.

A morena então se ergue e caminha em sua direção. O coração de Jô dispara alucinadamente. ‘ Meu Deus o que estou fazendo’?

- Oi tudo bem? Posso me sentar a sua mesa?

- Eu... não sei... depende do pessoal... eu...

- Acho que o pessoal esta bem ocupado. – A morena aponta displicente a mesa. Jô lhe acompanha o gesto e percebe que quase todos estavam dançando. Quem permanecia sentado trocava carinhos apaixonados entre si. Olha para a pista de dança e arregala ligeiramente os olhos. Fabi já se encontrava aos agarros com a mulher mais nova.

- Verdade... – Volta o olhar a morena e estende a mão – meu nome é Joyce.

- Prazer Joyce... A morena segura sua mão sem soltá-la – Meu nome é Juliana.



Lisa debruçada sobre os relatórios dos pacientes não escuta a porta do consultório se abrir.

- Ocupada amada?

- Lu! Para você nunca. Contorna a mesa e dá um suave beijo na esposa. – Aconteceu alguma coisa?

- Amor – Luiza a segura pela cintura. – Fui convidada como palestrante para um encontro dentro de minha área em Curitiba.

- Serio? Mas isso é maravilhoso!

- Pois é. Também adorei. Começa dia vinte agora. Acha que consegue uns dias para me acompanhar?

- Amor... – Lisa lhe toca o rosto carinhosa. - Você sabe que não posso. Não posso deixar a clinica nesse momento.

- Puxa Lisa... Tente ao menos o fim de semana! Só participarei terça feira do evento. Podemos passar o fim de semana por lá. Que acha?

- O fim de semana? Bom, ai já é discutível. – Bate palmas feliz. - Curitiba, aqui vamos nós! E sorrindo se joga nos braços da amada



O avião desce suavemente na pista. Todos reparam as duas mulheres que caminham lado a lado no saguão. Eram lindas e elegantes. Seus gestos carinhosos denunciam o amor presente entre ambas. Só não via quem não queria ver.

Entram felizes no taxi e suspiram felizes.

- Meu Deus, que saudade daqui! Luiza olha Lisa de lado.

- Hum... acho povo muito fechado. – Lisa se acomoda melhor no banco.

- Amor são duas culturas diferentes. Mas seu tipo físico combina com a região. – Sorri deliciada e faz um gesto de carinho na amada.

- Sei... Mas o que vamos fazer hoje.

Com um sorriso indecente Luiza olha meio de lado para o motorista de taxi que mantinha os ouvidos bem atentos as duas mulheres.

- Bem... pensei em entrar numa deliciosa hidromassagem e fazer um amor delicioso com minha esposa.

Com um sorriso ainda mais atentado aproxima a boca da orelha de Lisa e sussurra tudo que lhe fará dentro da banheiro. O rosto de Lisa se transforma de paixão. O motorista de taxi engole sem seco ‘ Nossa senhora! Dois mulherões desses juntas? É muito para o coração!’

Os dias foram maravilhosos. Lisa e Luiza passeiam por toda a bela Curitiba. As noites regadas de amor e paixão deixavam claro o amor entre as duas belas mulheres.

Já era domingo e terça seria o dia que Luiza palestraria no evento de medicina.

Lisa percebe sua tensão ao vê-la estudar atentamente o assunto.

- Amor, abraça-a suavemente - Não tem porque estar tão preocupada. Você vai tirar de letra sobre este assunto.

- Eu sei Lisa, mas sempre é bom dar uma revisão no assunto né. – Sorrindo deixa as anotações de lado e abraça a esposa. – Seria tão bom que pudesse ver a palestra. Não queria que fosse embora hoje.

- Eu também amor. Você sabe que tentei. Infelizmente não posso deixar de dar assistência ao Roberto na clinica. Já estaremos sem você e o Jairo estes dias.

- Eu sei. Luiza suspira tensa – Amada...

- Que foi?

- Sabe quando você sabe que algo muito importante vai acontecer em sua vida? Você sente isso?

- Como assim Lu? Não to entendendo.

Luiza a olha seria.

- Eu não sei explicar. Mas desde que recebi esta carta sobre o evento senti que algo muito importante vai acontecer em minha vida. Em nossas vidas. Não sei bem o que é, mas... eu sinto.

- Mas o que pode ser Lu?

- Ah, sei lá – Faz um gesto vago com a mão. – Na verdade nem sei se acredito nestas coisas.

- Eu acredito – Lisa se acomoda melhor nos braços de Luiza.

- Bom, seja o que for que seja maravilhoso. A cada dia me sinto mais feliz a seu lado. Você é tudo que sempre quis na vida Lisa.

- Hum... Lisa sorri contente – Sou é?

- Sim... Você é. Luiza ergue ligeiramente o corpo de forma olhar o rosto de Lisa. – não me canso de agradecer a Deus você em minha vida. Nunca me senti merecedora de tamanha felicidade. Sei que as pessoas em maioria não gostam de mim, me acham arrogante... mas... Lisa meu amor por você é sincero. É o melhor que existe dentro de mim. Seu amor me torna uma pessoa melhor, mais pura, mais cheia de fé. Nunca poderei lhe agradecer o suficiente por isso.

- Lu... Você é uma pessoa maravilhosa. Sempre se preocupando com as pessoas, curando-as, ajudando-as. Não entendo porque não se permite expor mais às outras pessoas.

- Porque nesta vida só você me importa Lisa. Só você. Meu coração não é como o seu, tão sincero e aberto ao mundo. Sou egoísta em meus sentimentos. Você não. Você é capaz de um amor gigantesco, não só por mim, mas por outras pessoas também. Antes eu via isso com pena. Por que pessoas assim sofrem. Mas hoje a compreendo melhor. E aceito. O que me importa é saber que uma parte de sua vida pertence só a mim. Que seu amor por mim é único e verdadeiro como você. Eu te admiro Lisa. E tenho muito orgulho de você.

- Oh amor... Não a vejo como se vê. Não mesmo. Lu, você é dedicada e persistente. Você é alguém tão especial amor! Quem sabe ver a alma sabe disso.

- E você sabe ver a alma Lisa?

- Sei amor. E a sua é maravilhosa. Graças a Deus faz parte de minha vida. Você me faz muito feliz.

As duas se abraçam com carinho. Lisa ergue o rosto e se deixa beijar pela bela mulher que a abraçava. Era um amor único como elas. Sincero como elas. Infinito em seus corações e alma.



A despedida no aeroporto é carinhosa. Lisa antes de embarcar volta o olhar para Luiza sorridente. Luiza acena feliz e põe a mão sobre o coração. Não era necessário palavras entre elas naquele momento. Elas simplesmente sabiam.



Lisa chega cansada a São Paulo. A viagem fora turbulenta. Pega o telefone e liga para Luiza.

- Amor já cheguei.

- Ei amada! Que bom! Já estou morrendo de saudades! É horrível ficar neste hotel sem você a meu lado. A cama está vazia!

- Hum... Pois saiba que estarei esquentando a nossa para quando chegar! Também morro de saudades de você amor!

- A viagem foi tranqüila?

- Nada! Foi exaustiva. Pegamos muita turbulência.

- Então vai deitar amor. Amanha terá um dia cheio na clinica.

- Tudo bem amor. Olha, vê se não vai aprontar por ai viu? Sabe que tem uma esposa muito ciumenta!

Luiza ri alto.

- Tranqüiliza amada. Não vou sair do quarto. E tão logo termine a palestra já pego um avião para casa. Deixe tudo preparado para mim. – Novamente ri alto.

- Nem vou perguntar por que riu Lu. Já conheço sua mente maldosa. Dorme com Deus amor e sonhe comigo. Te amo muito viu.

- Sempre sonho amada. Durma com Deus também. Te amo muito. Demais. Boa noite.

Luiza desliga o telefone feliz. Era tão bom ser amada!



A palestra fora perfeita. Tosos estavam maravilhados com os conhecimentos da jovem doutora. Luiza agradecia e cumprimentava as pessoas que vinham lhe elogiar o desempenho.

Já era tarde quando finalmente consegue se desvencilhar do grupo que a rodeava. Estava doida para ir para o aeroporto e voar ao encontro de sua amada.

Já no hotel faz rapidamente as malas e chama o taxi. Observa distraída as paisagens pelo qual passava e deixa seus pensamentos se direcionarem para Lisa. ‘Linda... tão linda o meu amor’ Suspira apaixonada e fecha os olhos enlevada. Perdida em seus pensamentos não vê o enorme caminhão avançar o sinal e em velocidade e vir em direção ao carro em que se encontrava.

O barulho da batida se faz ouvir por longa distancia. Pessoas desesperadas correm em direção ao taxi destruído e arrastado pelo enorme veiculo. O motorista do caminhão abre desesperado a porta e foge em disparada, apavorado com o acidente que seu ato de irresponsabilidade causara.

Todos observam a mulher morena caída sobre o banco. Seu rosto tranqüilo e suave contrastava com o desespero e angustia dos trausentes que tentavam salvar sua vida e do motorista que também se encontrava preso nas ferragens em gemidos angustiados. Parecia dormir, um sorriso leve se desenhava em seus lábios.



- Luiza... Luiza! Filha abra os olhos!

- Maia? Maia é você?

- Sim filha, abra os olhos. Está tudo bem

Luiza abre os olhos e se extasia com a luz maravilhosa a sua frente. Sente o coração leve e observa o seu redor deslumbrada. Nunca sentira o corpo tão leve e uma paz tão grande em seu ser. Lagrimas vem aos seus olhos. Vira-se para Maia e chorando pergunta.

- Maia... Isso é um sonho?

- Sim minha criança. Isso é um sonho por toda a sua vida. – Abre os braços amorosos para Luiza que corre e se abriga neles.

- Lisa... Eu preciso de Lisa! Preciso ver Lisa, Maia!

- Criança, Lisa está bem. Anjos cuidam para que ela esteja amparada. Confia.

- Maia... Eu a amo... Mais que tudo em minha vida.

- E ela a você filha. Almas unidas pelo amor universal jamais se separam. O amor faz parte de Lisa. Faz parte da vida!

Luiza fecha os olhos e permite que mais lágrimas escorram por eles. Está nos braços daquela que sempre lhe amparara em todas as suas angustias. Era novamente aquela adolescente perdida e vulnerável do passado.

- Maia... isso é um sonho? Volta a perguntar já sentindo os olhos pesarem em um sono inexplicável.

- Sim Luiza... é um sonho. Beija a testa morena com amor e sorri ao ver sua criança dormir suavemente. – Bem vinda de volta ao lar minha filha. – Sussurra baixinho.



Ainda presa sob as ferragens a mulher solta um leve suspiro e suavemente seu peito para de mexer. Os bombeiros desanimados sentem a vida se esvair do corpo jovem. Não havia mais o que fazer. Eles a haviam perdido.


Luiza estava em paz.



A alma humana é como a água: ela vem do Céu e volta para o Céu, e depois retorna à Terra, num eterno ir e vir. (Goethe)