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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Capítulo XI

- Estou muito feliz com seu progresso Marcos. Acredito que em alguns dias vou te liberar da fisioterapia.
- Ainda bem né Drª Lisa. Já não aguento mais. Tô sem dor nenhuma. Na verdade to doido por uma bola. Libera ai?
Lisa sorri. Aquele rapaz não dava ponto sem nó. Antes de dar a resposta tão ansiada pelo rapaz a porta do consultório se abre. Luiza entra séria a encarando fixadamente.
- Er... eu... que falava mesmo Marcos?
- Se me libera o futebol Drª Lisa. Bom dia Drª Luiza.
Luiza apenas faz um gesto com a cabeça diante do cumprimento do rapaz. Recosta na porta agora fechada sem tirar os olhos de Lisa que sente dificuldades em respirar.
- Eu... claro Marcos. Está liberado a partir da próxima semana. Mas não abuse. Qualquer dor deve parar ok.
- Cara! Nem acredito! Deixa comigo. Vou nessa?
- Ah?? Que nessa?
- Sair. O rapaz faz um gesto de voando com as mãos.
- Ah tá. Pode ir sim... eu... tá liberado. Vai nessa. E imita o gesto do rapaz.
- Valeu! Até doutoras. Passa por Luiza que lhe abre a porta com um sorriso frio. ‘ Cara essa mulher me dá medo’
Luiza fecha novamente a porta e se volta para Lisa que se mantinha em silencio sentada atrás da mesa.
- Bom dia Lisa. A voz soa como um trovão aos ouvidos de Lisa. Não imaginava o confronto logo cedo. - Luiza... sei que lhe devo explicações mas...
- Cala a boca Lisa. Você precisa sim é de uma lição. Sua sem vergonha.
- Enlouqueceu Luiza? Pode abaixar o tom.
- Vou abaixar sim. Luiza se debruça sobre a mesa e aponta o dedo para a loira. - Você me usou. Até ai tudo bem eu aceitei. Mas deixar meu coração encher de esperanças e sair na calada da madrugada como se eu fosse uma mulher de zona extrapola todo o significado da palavra respeito. Posso ter meus defeitos, mas nunca te tratei como uma puta!
- Me faça o favor Luiza! É o que faz desde que me conheceu. Me poupe. Você transa como uma mulher de rua!
A morena tomada de uma raiva imensa avança sobre Lisa que se encolhe na cadeira.
- Tranqüilize Lisa não vou bater em você. Acabo de perceber que você é uma farsa. Uma covarde emocional. Continue sua vidinha medíocre que não vou me prezar mais a correr atrás de você. – se vira em direção à porta, mas antes que a alcance a resposta de Lisa vem certeira.
- Corre porque não tem vergonha na cara. Sempre mostrei que não queria você.
Luiza se vira lentamente ficando de frente a ela.
- Sabe Lisa. Me chama de orgulhosa e arrogante. Mas este papel se preza a você. Não tive vergonha de lutar pela pessoa que amo. E continuaria lutando se achasse que vale a pena. Mas você não passa de uma pessoa medíocre, covarde, infeliz. Prefiro sofrer a perda do amor que nunca tive que me rebaixar a sua pessoa. Você não é quem acreditei que fosse. Você não me merece. Sossegue que não incomodarei mais. Lisa sente um frio no coração.
- Luiza não! Vê a morena a ignorar e sair pela porta. Sente as pernas tremerem. ‘ Isso não pode acontecer’ Corre abre a porta e grita: – Luiza!!
A morena para, mas não olha para trás.
- Por favor... me escute. Volte. Olha me escute. Se depois que eu falar você continuar pensando assim eu... Eu não chamo mais. Por favor.
Luiza se vira em sua direção. A expectativa de sua ação futura deixa Lisa tensa.
- Por favor.
A morena suspira profundamente passa as mãos no cabelo e volta a entrar na sala. Lisa fecha a porta e se vira para ela.
- Lu... eu. Eu... ai meu Deus será que pode sentar? Sua altura me intimida! Sem uma palavra a morena se senta na cadeira. Lisa a encara ainda mais nervosa. - Para de me encarar... assim não consigo falar e... - Fala logo Lisa que merda!
- Credo que boca suja. Eu... bom... posso começar do inicio?
- Deve.
- Primeiro... eu... tenho que desmarcar um paciente. Caminha em direção ao telefone e após falar com a secretária põe as mãos sobre a mesa. Esfrega a testa. ‘ Coragem Lisa’
- Coragem Lisa. Fale.
- Lu... você tem razão. Eu sou uma covarde. Eu sou uma covarde. Como que derrotada senta sobre a mesa e encara a morena. - Há muitos anos sofri uma grande perda emocional. Eu... a partir dali jurei nunca mais deixar ninguém se aproximar.
- Lisa todos nós sofremos perdas. Isso não justifica!
- Me deixa falar Lu.
- Ok. Luiza de repente sente que aquele momento seria decisivo de sua vida. Dali teria a certeza de seu futuro... com Lisa ou sem ela.
- Sabe... eu sempre acreditei nas pessoas. No lado bom delas. Fui criada em uma família nota 10. Era a típica adolescente classe media de BH. E tinha uma amiga nota 10 também. Olha Luiza desolada. – Ao menos acreditava nisso. Mas percebi que as pessoas te usam. E os amigos que você acredita são capazes das maiores atrocidades.
- Li... seja mais clara
- Eu me apaixonei por minha amiga Luiza. Profundamente. Ela... bom ela tinha uma historia de vida sofrida. Foi abandonada grávida pelo primeiro namorado aos 16 anos e fui uma das poucas pessoas que se colocaram desde o inicio ao lado dela.
Lisa se silencia e seu olhar se torna vago... seu retorno ao passado dolorido. Luiza respeita este momento sentindo um aperto no coração ante o rosto sofrido.
- O nome dela era... é Joyce. Acompanhei cada momento da gravidez junto com ela. Estive a seu lado no hospital e durante os anos seguintes. Nesse tempo... descobrimos o amor... ao menos eu descobri. Olha para a morena angustiada. - Daria a vida por ela Lu. Tudo... mas não foi suficiente. Ela fugiu de mim... me condenou se afastou. Disse que não queria aquela vida para ela... e me traiu. Lagrimas começam a escorrer de seus olhos e ela as seca com raiva. – Jurei nunca mais deixar que alguém me magoasse daquela forma. Que ninguém mais me usaria.
- Você ainda a vê Lisa?
- Vê-la? Não. Eu literalmente fugi dela e de todo o mal que ela me fez. Fui estudar fora, trabalhar em outro estado... nunca mais a vi.
- E tem vontade de vê-la?
- Não!! Nunca! Odeio aquela mulher. Ela se casou Lu! Com o homem com quem me traiu! Sorri revoltada - Sabe o mais engraçado! Quando descobri ela... ela sugeriu sermos amantes. Que gostaria que eu fosse... sua amante. Só este papel me daria em sua vida.
Luiza sente o coração se encher de ódio diante da frase. Gostaria de estrangular a mulher que fizera tamanho mal a sua amada. Mas respira fundo sabendo não ser este o caminho a ser tomado. Ergue o braço e segura mão de Lisa que apertava na mesa do qual estava sentada. Lisa observa a mão morena e sente os olhos novamente encherem de lagrimas.
- Ela me jogou fora Lu... como um produto descartável, sem utilidade. Eu me senti tão... pequena. Minha família toda estendeu a mão pra ela. Meus pais são padrinhos de Mari. Demos tudo a ela... eu dei tudo a ela. Meu amor... meu corpo... minha alma.
- Lisa... Lisa.
- E ela achou pouco... ela riu de meu amor... ela só queria possuir, usar. Ela não amou. Ela me usou Lu! Ela me usou!!
- Lisa... calma amor... vocês duas eram jovens. Não pode deixar isso interferir em sua vida.
- Não era jovem para amar Lu. Não era jovem para ser ferida, magoada, traída. Jô fez de mim um boneco para manipular e fazer suas vontades. Uma egoísta que só pensou nela... na satisfação dela.
- Lisa... deve esquecer o passado meu Deus!! Você hoje é adulta! Sabe que tem que recomeçar. Você tem tanto amor pra dar. Esqueça-a, comece de novo!
Lisa sorri irônica.
- Esquecer? Como? Vira o corpo na direção de Luiza. - Meus pais são padrinhos de Mari, Lu. Filha de Joyce. A criança que amei como se fosse minha. O ser que dediquei todo o sentimento mais puro de minha vida. Todas as vezes que ia à casa de meus pais ela estava lá. Me esperando. É um carinho que jamais foi perdido com a distância. Amo Mari... na mesma proporção que odeio a mãe dela. E por ela, exatamente daqui a um mês, quando completa 15 anos, vou encarar Joyce... a mulher que destruiu minha vida.
Luiza sente o coração gelar. Lisa encarar Joyce? O amor perdido, mas não esquecido?
- Lisa... Meu Deus...
- Ela vai me esfregar aquele... merda na minha cara... seu casamento perfeito...seus lindos filhos e eu... eu... Deus Lu que eu faço?? QUE EU FAÇO??? ODEIO ELA! ODEIO ELA!!!
Finalmente depois de anos de angustia e dor guardados na alma Lisa explode em lágrimas sentidas. Luiza se ergue a abraçando forte e sussurrando palavras sem sentido em seu ouvido. Seu coração nada mais se fazia sentir. Só a dor da perda, da rejeição. Lisa ali expunha seu sofrimento e lavava sem saber a alma. O choro descontrolado se tornou lagrimas sentidas. Após longos minutos Lisa suspira e exausta se afasta de Luiza.
- Desculpe... desculpe. Luiza olha o rosto vermelho da loira e o carinha com afeto.
- Está tudo bem? Lisa somente meneia a cabeça num gesto afirmativo.
- Lisa... você vai a festa não vai?
- Tenho que ir... Deus...
- Me deixe ir com você.
- Como?
- Me leve com você Lisa. Como sua namorada.
- Como é que é?
- Lisa... quer namorar comigo?
Lisa encara Luiza em choque. Namorar??? Não se sentia com forças nem para se levantar quanto mais namorar.
- Lu... Luiza...eu... não é hora para isso... eu preciso lavar o rosto.
- Tudo bem eu te espero.
Enquanto Lisa lava o rosto Luiza vai à recepção e pede à secretaria que desmarque todos os pacientes de ambas.
- Mas doutora. Isso é impossível!
- Então os direcione para outros médicos. Ninguém é indispensável garota.
- Não posso fazer isso sem a permissão da direção.
Luiza ergue o corpo intimidando ainda mais a jovem secretaria.
- Se eles questionarem minha decisão diga que me liguem. Se coloque em seu lugar e apenas faça o que mando. Vira-lhe as costas e retorna a sala de Lisa. ‘ Tem gente que não se põe em seu lugar’
- Luiza?
- Lisa, já desmarquei nossos pacientes. Vamos para casa.
- Como assim desmarcou? Com que permissão?
- Não preciso de permissão Lisa. Você está sem condições de trabalhar hoje. Pega bolsa de Lisa. – Vamos.
- Mas... você também vai?
- Acha realmente que vou deixá-la sozinha num momento desses? Aproxima-se de Lisa a ponto desta sentir o calor de seu corpo. - Você agora não está só Lisa. Você tem a mim. No seu carro ou no meu?
- Como? Você me confunde Luiza.
- Ok decidido. Meu carro. Depois pegamos o seu. Vamos para sua casa.
Lisa se sente tão cansada que não discute as decisões da morena. Na verdade estava achando ótimo não ter que tomar decisões. A cabeça doía se sentia sem energias. Luiza de repente se tornara sua força. Em casa vê a movimentação de Luiza em seu apartamento. Parecia que estivera ali várias vezes tamanha desenvoltura em sua cozinha.
- Está se sentindo em casa né Luiza.
- De forma alguma Lisa. Seu apartamento é um ovo. Me sufoca. Terrível!
Lisa revoltada prepara-se para responder, mas ao ver o olhar zombeteiro da outra percebe que esta a provocava.
- Você gosta de me deixar nervosa né Lu?
- Gosto de ver vida em seus olhos Li... Sorrindo lhe estende uma xícara de café fresquinho. - Saboreie o mais delicioso café madame.
- Que honra... hum... gostoso mesmo. Sorri agradecida. – Obrigada Lu.
- De nada senhorita
- Lu... você não falava serio né?
- Sobre o namoro? Sim, falava sim Li. Sei que posso fazer você esquecer o passado.
- Mas Lu... você merece alguém que te ame... eu... não quero usar você.
O coração de Luiza se aperta. Queria tanto o amor de Lisa. E iria conquistá-lo tinha certeza disso.
- Lisa... sei que gosta de mim... por mais que negue isso. Dê-me a oportunidade de provar que posso te fazer feliz. Arrisque. Permita-se sorrir para a vida. Se dê esta chance
- Lu... você me acompanha mesmo ao aniversário?
- Não o perderia por nada neste mundo.
 Lisa se aproxima da morena e lhe dá um pequeno beijo nos lábios.
- Sim...
- Sim?
- Sim Lu... quero namorar você.
O sorriso e o grito de alegria de Luiza enternecem a loira. Presa nos braços morenos Lisa sente o coração se aquecer. Ergue os belos olhos cor de mel para a morena. Não estava mais só.

Foi um mês de descobertas e alegrias para ambas. Lisa descobriu que por trás da arrogância e petulância morena existia uma mulher entregue que lhe dedicava imensa ternura. Seu sorriso se tornava mais fácil e sincero, seus gestos mais suaves e naturais. Brincalhona chamava Luiza de Valquíria e esta em resposta agarrava-a pela cintura num sentimento de posse que preenchia seu coração. Não sentia necessidade de outras mulheres e nunca se sentira tão segura nos braços de alguém. Lisa aos poucos ia cicatrizando o coração repleto de magoas e devagar instalava nele o amor maduro, forte e presente que a libertava do passado.
- Você é linda Lisa... Você é o meu amor. O amor que me completa, me torna a mulher mais feliz do mundo. Obrigada por existir. Obrigada por fazer parte de minha vida.

 "A mudança é a lei da vida. E aqueles que confiam somente no passado ou no presente estão destinados a perder o futuro.”
John F. Kennedy

3 comentários:

  1. Nossa este capitulo esta demais. amei muito.bjssss

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  2. ora ora...
    dessa vez foi mais rapido em...
    caramba...
    de onde sai tamanha criatividade em...
    nossa amei como sempre...
    bjs..
    amu mt seu conto...assim como vc...

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