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terça-feira, 23 de setembro de 2008

Capitulo XXII

Mariana olhava entediada para a televisão. Naquele horário não passava nenhum desenho. Sua avó a deixara ficar acordada até mais tarde, mas não tinha graça nenhuma, já que a avó ficava só assistindo novela e se ela tentasse falar nesse momento era só para ouvir “Psiu! Está na parte mais emocionante”. Cadê esta parte que ela nunca via? Suspirou alto e se levantou do sofá. Nesse momento a campainha tocou. A avó se assustou, pois quem poderia ser naquele horário?
- Lisa? Menina, que surpresa! Soube que passou mal hoje.
- Olá Lucia, tudo bem? Eu estou bem e... Lisa foi interrompida pela menina que a abraçou fortemente pela cintura.
- LISAAA!
- Mari! Linda! - beijou-a carinhosamente no rosto. – Nossa, cada vez mais bonita! Esses olhos verdes me matam! - pôs a mão sobre o coração, em brincadeira. Mariana sorriu feliz
- Você tá bem, Lisa? Mamãe disse que você tava doente! Já sarou? Diz que sim!!
- Já, lindinha. Não foi nada, não. Não estou mais doente, viu!
Mariana junta as mãozinhas, contente, Deus tinha ouvido sua oração! De repente seu rosto se transtornou. Lisa reparou a expressão de horror no rosto da criança e se preocupou.
- Tudo bem, Mari?
- Ah... tudo... A menina virou-se repentinamente para a avó. – Vovó, amanhã terá jiló?
- Como? Jiló? Não, Mariana, por quê? - Lúcia olhava-a sem entender nada. A menina suspirou aliviada.
- Nada não... eu... posso ir pro quarto? Deu... sono.
- Claro querida. Se despeça de Lisa e boa noite. Logo vou te cobrir direitinho.
- Tchau, Lisa. Deu um beijo rápido em Lisa, que estranhou sua atitude, mas retribui com carinho o afeto. - Durma com Deus, Mari. Não esquece de rezar, viu.
A criança olhou-a com olhos meio arregalados.
- Pode deixar Li... tenho mesmo que falar com Ele - respondeu, correndo para o quarto, em seguida.
Lisa balançou a cabeça rindo. Mari só podia ser filha de Joyce, mesmo. Ambas eram imprevisíveis. Ao pensar em Jô, voltou-se para Lucia e perguntou.
- Lucia, cadê Jô? Queria falar com ela.
Lúcia olhou-a indagadora.
- Uai, Lisa, não está sabendo? Jô saiu com uns colegas.
- Saiu? Mas... como assim, saiu? Ela não me disse nada! Lucia olhou surpresa com a frase.
- Bem Lisa, ela só me disse que ia sair e não voltaria tarde.
- Eu... bom, desculpe - falou passando as mãos no cabelo. – Ela comentou algo mesmo, mas eu esqueci. Eu... bom, tenho que ir.
- Espera Lisa. Você está bem mesmo? Soube que teve um desmaio. Liguei para sua mãe. A loira olhou-a meio assustada.
- Minha mãe?
- Sim, para ter noticias suas.
- Eu... Eu tô bem. Foi só uma queda de pressão, mesmo. Nada demais. Ela... te disse algo mais?
- Só preocupação de mãe mesmo. Por quê?
- Nada não... bom, tenho mesmo que ir. Desculpa pelo horário, Lucia. Bom... boa noite.
- Boa noite, Li. Olha, se cuide, tome muito líquido. Faz bem.
- Claro... claro... Tchau.
Lúcia observou Lisa sumir na esquina. Passou a mão na testa e a franziu. Suspirou alto, fechando a porta e depois se encaminhou ao quarto de Mariana. Olha de relance a televisão. ‘Bom, espero que ainda consiga ver a última parte da novela’.
Lisa caminhou pensativa para casa. Joyce saíra e não comentara nada, tentava decifrar a charada: “para onde ela fora?”. Mesmo sem querer, relembrou o que seu irmão dissera. Bateu na testa. ‘Para Lisa! Para de pensar nisso. Ele só queria envenenar sua relação com Jô. Puros ciúmes’. Baixou a cabeça e apressou o passo. Dentro de si a semente da desconfiança germinava. Com quem Jô fora se encontrar?

Joyce não conseguia deixar de rir. Carlos era divertidíssimo. Contava casos hilários do tempo de faculdade e buscava sempre agradá-la em pequenos gestos. Isto a encantava e comovia. Só agora percebia como sentira falta de paquerar, descobrir a outra pessoa. Olhou para o relógio e notou que, infelizmente a noite estava acabando, já havia passado da meia noite.
- Carlos estou adorando a noite, mas... tenho mesmo que ir.
- Claro Joyce... desculpe prendê-la por tanto tempo. Mas juro... nem senti o tempo passar. Joyce baixou a cabeça, tímida.
- Eu também não, Carlos.
- Joyce – Carlos segurou sua mão. – É muito bom estar com você. Há muito tempo não me sentia assim com alguém.
Jô sente o coração acelerar.
- Também estou adorando, Carlos. Você é divertido, tem um papo maravilhoso. Obrigada por esta noite tão especial.
Carlos insistiu em levá-la para casa. Joyce o observou pelo caminho. O assunto entre eles nunca acabava. Ela se sentia tão à vontade, que ria como uma criança. Carlos a olhava fascinado. Queria esta mulher para ele.
- Bem, linda dama, está entregue em casa, sã e salva – disse abrindo a porta do carro para ela.
- Nossa tão cavalheiro!
- Claro! Acha mesmo que não vou acompanhá-la até a porta?
Já na porta da casa de Jô, ela se voltou para ele e estendeu a mão.
- Bom - disse meio sem graça. Boa noite. Carlos segurou sua mão com carinho, mas não a soltou.
- Joyce... Jô será que poderíamos nos ver novamente? Eu gostaria muito. A morena sentiu uma alegria quase infantil com o convite.
- Claro... também adorei. O rapaz abriu um lindo sorriso.
- Você não se arrependerá, Jô. Te levarei a um lugar incrível. Em Nova Lima. Pode ser amanhã?
- Amanhã? Eu... Carlos... bom, eu tenho uma filha. Tenho que ver. Mas você podia me ligar.
- Mesmo? Então me dê o número.
- Espere... vou buscar papel e caneta.
Joyce entrou na casa. Não percebeu sua mãe deitada no sofá, que, ao contrário, viu a filha pegando papel e caneta. Curiosa, levantou-se e foi à janela. Pela cortina viu um belo rapaz anotar algo e depois sorrir para sua filha. Joyce observou o lindo sorriso que a fascinava e o retribuiu. Cauteloso Carlos aproxima sua boca dos lábios dela, e percebendo que ela não se afastou a beija delicadamente. Ela se entregou ao beijo, que se aprofundou. Um fim perfeito para uma noite perfeita. Lúcia fechou a cortina e sorriu deliciada. Caminhou em direção ao quarto de Mariana que dormia serena. Beijou-a com amor... Sim, agora sim, tudo estava caminhando bem.

O sábado amanheceu nublado. Lisa caminhou em direção à biblioteca da faculdade. Dormira muito pouco à noite pensando em Joyce e seu passeio misterioso.
- Bom dia, queria entregar este livro. A jovem atendente olhou-a por cima dos óculos.
- Infelizmente não tenho como receber. A bibliotecária não chegou e não tenho acesso às fichas de empréstimo.
- Poxa... mas se não entregar hoje pago multa! Lisa sentiu-se desanimada. Parecia que tudo estava dando errado em sua vida.
- De forma alguma. Vou anotar aqui que você esteve aqui para entregar o livro. Só não o pego porque é muita responsabilidade – pega sua carteira de estudante e escreveu seus dados em um bilhete no qual esclareceu o acontecido. - Fica mais tranquila assim?
- Muito. Não posso ficar sem minha carteira de biblioteca e já tenho uma ocorrência.
- Nossa quem diria! Logo você que é tão... certinha – Olhou-a irônica por cima dos óculos.
Lisa surpreendeu-se com o comentário. Ela a conhecia?
- Não sou certinha. Mas também não gosto de errar. Infelizmente aconteceu.
Um relâmpago iluminou toda a biblioteca. Logo após as luzes se apagaram. Uma chuva torrencial começou.
- Não acredito - Lisa bate a mão na testa e a esfrega. – Hoje é mesmo o dia. Observou que somente ela e a atendente estavam na biblioteca. Aliás, na recepção, porque a porta que dava acesso à mesma encontrava-se fechada.
- Calma menina, chuva passa. Aliás, meu nome é Juliana.
- Beleza, Juliana. Legal. Prazer – cumprimentou desanimada.
- Ave Maria, se você também tem este entusiasmo todo no amor, coitado do homem que está com você... ou mulher - disse irônica a observando atenta.
Lisa olhou assustada. ‘Deus, será que eu ser lésbica dá na cara?’
- Como é?
- Nada... nada... quer uma cadeira para sentar?
- NÃO. Quero é ir embora. Você... você disse aquilo mesmo?
- O quê? - Juliana faz cara de inocente.
- Nada! Gente, mas como você é cara de pau!
- Calma, menina, quem não faz não teme – olhou-a, agora nos olhos. – Estou certa?
- Papo mais louco, meu - Lisa olhou para fora, a chuva caia impiedosa.
- Bem, em momento algum eu disse que era normal... ou anormal. Sou apenas eu. – Juliana tirou os óculos e os limpou na blusa. A loira a observou melhor. A mulher era bem doidinha, mas era um mulherão. - Gostou?
- Ah? - Lisa a olha desentendida
- Gosta do que vê?
- Do que está falando, criatura!! Gostar do quê? Não, você definitivamente não regula bem.
A morena riu deliciada.
- Vejo que vou gostar de você, loira. Não gostaria de depois da chuva tomar um lanche comigo?
Lisa a olhava com descrédito. Lanche com aquela... maluca? Nem pensar
- Tô sem fome.
Estremeceu quando a morena aproximou o corpo do seu e lhe sussurra baixinho no ouvido.
- Posso te deixar com fome rapidinho. Lisa a encarou de boca aberta. Estava totalmente sem fala. Viu-a se afastar olhando-a nos olhos com um sorriso safado. - Sabe loira... Lisa, meu gaydar nunca falha. E ele está apitando agora.
- A... apitando?
- Sim... apitando – beijou-a na boca assim que respondeu. Lisa se afastou repentinamente.
- Endoidou mulher??? ENDOIDOU? Sai pra lá! – empurrou a morena e saiu correndo.
Juliana observou a loira correr sob a chuva e sorriu deliciada. Estendeu a mão na chuva e molhou os dedos, lambendo-os logo após. “Gostei dela... gostei mesmo. Ah, a chuva... sempre tão bela... e produtiva". Voltou a se sentar na cadeira, aguardando a chuva passar.

 “Se não queres que ninguém saiba, não o faças.”
 (Provérbio chinês)

Um comentário:

  1. rsrs...vc deixa esperando...mas quando posta ...faz valer a pena...
    ;)
    espero q não demore tanto...
    ;)
    bjsss...
    adoro seu conto!

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