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sexta-feira, 4 de julho de 2008

Capítulo IX

Lisa se sentia morrer por dentro. Sabia que deixara Jô numa situação horrível, mas a angústia dentro de seu peito iria explodir se não saísse dali. Deixar a mulher que desejava com seu irmão que também a queria, foi desesperador. Começou a circular sem rumo pelo shopping, sem saber exatamente por onde andava. Segurou-se no corrimão e olhou o vão à sua frente. Quantas pessoas! Eram tantas, e todas com seus problemas. Não sabemos o que se passa nas suas mentes, mas tinha certeza que não era a única sofrendo ali. Direcionou o olhar a sua frente, para o outro lado do shopping e... surpresa! Viu seu irmão e Jô se dirigindo para a saída do shopping. Sentiu o coração oprimido. “Mas porque eles estão saindo tão cedo?”, Observou a mão de seu irmão tocar de leve as costas de Joyce e sentiu uma vontade louca de ir atrás deles e a arrancar dali. Respirou fundo, ergueu o olhar cheio de lágrimas e tornou a caminhar pelas lojas do shopping. Parou em frente à loja que Jô vira o vestido. “Realmente, ficaria lindo nela”, pensou. Balançou a cabeça enquanto se senta em um banco. “Ok, Lisa, vamos ponderar”, segurou o queixo, “reveja a situação. O que Jô ia te dizer na mesa? Bom, não é difícil deduzir. Ou estou imaginando coisas?” Balançou a cabeça lentamente e baixou o olhar ao chão. “Lisa, Lisa! Isso não é brincadeira. Você está gostando da sua melhor amiga. Não consegue mais vê-la sem imaginar seu beijo, seu corpo... Que corpo, meu Deus!”, esfregou a testa, como que querendo afastar o pensamento que fazia seu corpo queimar, “Estou desejando uma mulher!”
Sua posição era tão desolada que atraia os olhares de diversas pessoas. Era uma linda jovem parecendo tão derrotada, amargando solitária, algum pensamento irremediável. “Meu Deus!”, sentia seus pensamentos darem um nó, “E o Júnior, aff! Ele gosta dela! Como nunca notei isso? E se ela der bola pra ele?? E se ela aceitar namorar com ele?”. Ela se levantou do banco num rompante e olhou para os lados, perdida, confusa. “Onde será que eles foram? Devem estar no ponto de ônibus, ainda”. Pensando nisto, correu para fora, mas eles não estavam onde para a lotação. “Onde foram? Ai, Deus, que merda! Onde foram? E se eles tão namorando agora? Nem vou pensar, não pode ser!” Resolveu ir para casa de táxi.
No caminho começou a se lembrar como ela e Jô sempre foram próximas. Poderia mesmo uma amizade assim se tornar amor? Poderia o amor acontecer realmente entre duas mulheres? E o mais inquietante: ela saberia enfrentar isso? “NÃO! Não saberia!” Seus pais iriam matá-la. E Júnior? “Cara ele tá apaixonado pela Jô. E... Eu também”. Olhou pela janela do carro. Sua vida parecia mesmo seguir um destino inimaginável a ela. Será que teria coragem de ir mesmo por este caminho?
Lisa chegou a casa triste e angustiada.
- Oi mãe. - disse ao vê-la deitada no sofá vendo televisão.
- Uai, olá filha, chegou cedo! – estranhou o semblante triste da filha – o que aconteceu?
- Nada não e só uma dor de cabeça, achei melhor vir pra casa. Vou deitar tá? Boa noite.
- Boa noite... – a mãe a observou ir para o quarto silenciosa. Sabia que não adiantaria falar agora com Lisa. Quando esta se fechava em seus pensamentos ninguém conseguia tirar nada dela. Estava tão estranha ultimamente. Queria tanto que se abrisse com ela. “Bem”, pensou, “haverá o momento certo” e volta a assistir a novela, porém com a mente voltada para a filha.
Lisa foi direto para o banho. Tirou o vestido e se olhou no espelho. É... ela não era feia. Deslizou as mãos pelo corpo, sentiu toda sua maciez. Segurou os seios e observou o gesto. Agradava-lhe o que via. Tirou o sutiã e os segurou novamente. Fechou os olhos e imaginou que segurava os seios de Jô. Imediatamente sentiu um arrepio e uma dorzinha gostosa abaixo do estômago. Sentiu os bicos dos seios enrijecerem e os apertou de leve. Desceu uma das mãos ao sexo, sobre a calcinha... Ele estava... “Molhado!!” Arregalou os olhos de repente, ciente de seus pensamentos. Parou imediatamente de se tocar, tirou o resto da roupa e foi para baixo do chuveiro. Ergueu o rosto e deixou a água escorrer por ele. Começou a chorar lentamente. Já se tocara outras vezes, mas nunca tocara em si sentindo não ser ela. Porque ela, na verdade, não estava se tocando... tocava Jô.
Já deitada na cama, Lisa procurava não pensar em Jô e Júnior juntos. Tentava se distrair com uma leitura leve, mas toda hora enxugava uma lágrima que insistia em cair. Fechou o livro pensando em desligar a luz e se entregar de vez ao pranto quando viu a porta de seu quarto ser aberta com brusquidão.
- Hei, não se usa mais bater na porta, não!? - Disse puxando a coberta sobre o pijaminha curto.
- Mana nem ligo, já te vi com menos que isso. Desculpa entrar assim, nem pensei - sentou angustiado na cama.
- Que foi Júnior? - Lisa se sentou ereta
- Olha... Eu vi que você deixou uma brecha pra eu ter um olé com a Jô. Tava na cara assim que eu queria estar com ela né?! Lisa o olha meio desconcertada. “Ele pensou que o deixei lá com ela para ter uma oportunidade pra se declarar? Ai Lisa a coisa só tá piorando”, pensou automaticamente pondo a mão na testa.
- Lisa, - Júnior a olha desesperado – ela me deu o fora!
- Hã?
- Ela me deu o fora - Disse baixando a cabeça. Lisa viu o irmão por a mão no rosto e inclinar o corpo à frente, se balançando para frente e para trás. Ficou sem ação. Os sentimentos se embolaram dentro de si. Ao mesmo tempo em que sentia uma alegria por Jô tê-lo negado, também se condoía com a dor que via no irmão. Como nunca percebera antes que ele gostava de Jô? Estava tão voltada para si mesma que nada via ao seu redor.
 - Mano, fica assim não! – Tocou lentamente as costas de seu irmão.
- Lisa, gosto dela desde os 17 anos cara! Sempre tive certeza que a gente ia ficar junto. Mesmo quando ela namorou aquele babaca, eu sentia que ia dar, sim. Que ainda tinha chance. Mas hoje... Cara... Não sei por que, mas deu um desanimo uma certeza que ela nunca vai ser minha. Tô arrasado. - “Bom agora tenho certeza... Sou uma irmã relapsa.” Deduziu mentalmente Lisa se aproximando do irmão e o abraçando.
- Jú, a Jô nos vê como irmãos, não fez por mal.
- Li, não sou irmão dela, saco!- Junior a interrompeu. Que merda cara, não sou – a abraçou forte. Lisa o segurou nos braços carinhosamente pensando como a vida era injusta. “Porque gostamos de quem não gosta da gente?” Não percebia que nem ela nem Jô não se viam como irmãs. Que o que era amizade transformara-se num sentimento maior e que ambas ainda tentavam entender, tanto o que sentiam, como todas as transformações que ocorriam dentro delas.
- Jú, e agora? - Perguntou desalentada pela tristeza de seu irmão.
- Agora, Li? Agora é tentar olhar pra ela sem desejar, tentar fingir que não disse nada. Ai meu, vai ser foda. – saiu dos braços da irmã, balançando a cabeça, a olhando triste, porém conformado - Li não conta pra ninguém, tá? O Nando nem pode imaginar, nem o pai e a mãe. Fala com a Jô pra ficar na dela. O idiota aqui não vai mais dar de bobo.
- Pode deixar, eu digo sim, a Jô é discreta nisso. Ela também deve tá arrasada. E você não é idiota – olhou para o irmão solidária. Sentia-se mal pelo grande alívio que invadia seu peito, porém... não podia negar, estava mesmo aliviada! Não tinha como evitar esse sentimento que tomou conta de seu coração. Ainda assim, não queria ver seu irmão sofrendo.
- Jú, vai ficar tudo bem você vai ver – não sabia o que dizer, mas queria vê-lo bem.
- É, tem que ficar. Bom, vou pro meu quarto – levantou-se e olhou para a irmã – Lisa isso fica aqui entre nós mesmo, entendeu?
- Fica sim Júnior. Força aê mano. - Disse enquanto o observa sair do quarto com os ombros caídos, numa postura de derrota igual a que ela estava alguns minutos antes.
Lisa dobrou os joelhos na cama e os abraçou. Olhou para frente pensativa e assim permaneceu por vários minutos. Sentia que as coisas teriam que, de alguma forma, caminhar para frente e isso pedia atitude. “Pois é Lisa, está na hora de você ser mais madura, né”, pensou, colocando o queixo nos joelhos e dando um sorriso enigmático, “Me aguarde Jô”.

 "Você não pode impedir que os pássaros da tristeza voem sobre sua cabeça, mas pode, sim, impedir que façam um ninho em seu cabelo.”
Provérbio Chinês

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