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sexta-feira, 4 de julho de 2008

Capitulo XI

Lisa despertou do transe em que se encontrava desde que a morena abrira a porta.
- Err... Oi, posso entrar? - Disse apontando para dentro da casa.
- Ahn? Ah, claro! - Jô se colocou ao lado da porta, dando espaço para Lisa passar – Desculpa, é que acabei de acordar. Lisa passou por ela, tocando ligeiramente em seu corpo. Sentiu todos os pelos do corpo se arrepiarem.
- Uai, está sozinha?
-Tô sim – fechou a porta – minha mãe foi passar o fim de semana na vó e levou a Mariana. Lisa sentiu uma ligeira decepção. Queria ver a menina. Mas logo a decepção se transformou em expectativa.
- Isso quer dizer que você vai estar sozinha esse fim de semana? - Perguntou como quem não quer nada.
- Sozinha? - Jô a observou – Não, não vou estar sozinha. - Viu a loira olhá-la decepcionada. – Você vai estar comigo. - concluiu sorrindo Viu um sorriso iluminar o rosto de Lisa.
- Isso quer dizer que estamos bem, né!
- Não, Li, não estamos. Nós temos que conversar você sabe disso, mas agora não dá. Tô morta. Não dormi nada esta noite.
- Que foi? Foi a Mari? Mas ela não dá trabalho! Jô a olhou meio revoltada.
- Não dá? Fica uma semana com ela e depois me disse isso de novo! - disse já se dirigindo novamente ao quarto. Lisa a seguiu e viu a morena se deitar na cama.
- Vem Li - bateu as mãos na cama, a seu lado. - Deita aqui comigo. Juro que durmo só um pouquinho e depois conversamos. Faz isso por mim?
Lisa a olhou meio sem atitude. “Ela quer que me deite a seu lado? Ora, vamos, Lisa, você sempre fez isso, por que hoje iria ser diferente? Vá em frente, anda.” Ela foi até a cama, ergueu o lençol e se deitou. Imediatamente sentiu uma mão passar por sua cintura. O coração disparou. Olhou para o teto e começou a contar. Ouviu Jô lhe chamar baixinho...
- Lisa.
- Oi, Jô - disse com a voz meio trêmula.
- Obrigada por estar aqui comigo. - Virou o rosto para Jô, a viu dar um sorriso leve, fechar os olhos e logo já estar dormindo. Lisa vira o corpo de lado, se colocando de frente com a morena para observá-la. Parecia mesmo cansada. Ergueu a mão e a passou delicadamente pelo belo rosto. “Ela fica linda quando dorme”. Jô tinha os traços muito bonitos. Uma testa alta, nariz reto, a boca larga, carnuda. O conjunto era tão exótico que era impossível não chamar a atenção. Ficou assim por vários minutos, olhando-a embevecida, até que, vencida pelo cansaço – ela também dormira mal – adormeceu.
Jô acordou lentamente... Sentia uma languidez gostosa, há muito tempo não dormia tão bem. Abriu os olhos e viu Lisa com o rosto virado para ela, dormindo tranquila. Observou- a com um olhar apaixonado. Ela era perfeita. O rosto era tão delicado, a pele tão clarinha. Os traços eram todos harmoniosos, tornando o rosto leve, suave, de uma beleza que só tendia a aumentar com os anos. E ela estava ali, com ela. Era toda sua. Olhou a sua boca que estava entreaberta, úmida. Respirou fundo e soltou o ar lentamente. Que vontade sentia de beijá-la! Ergueu os olhos e... Lisa a olhava. As duas se encararam. Lentamente, Lisa ergueu a mão e tocou o rosto de Jô. Esta a segurou e a fez acarinhá-la.
- Que horas são? Perguntou Li baixinho, observando a amiga com os profundos olhos cor de mel.
- Já é meio dia e quarenta e cinco, tá com fome? Posso fazer algo pra gente comer - falou já se erguendo para sair da cama.
- Não. - Lisa a segurou, sentando-se na cama – Tô sem fome. Fica aqui.
Jô voltou o corpo para a amiga. Sentia-se insegura, sabia que se ficasse ali muito tempo não iria resistir e beijaria a loira. Fechou os olhos um pouco angustiada. Quando os abriu, a viu com os olhos fixos em sua boca. Sentiu uma expectativa grande tomar conta de seu corpo. Parecia que o tempo tinha parado. Lisa desvia os olhos da sua boca e a encara; senta-se de frente para ela com as pernas dobradas para o lado e segura as suas mãos.
- Jô... Desculpa ter deixado você no shopping daquele jeito, eu tava mal – Desculpou-se. Baixou os olhos para as mãos que mantinha entre as suas, soltou uma delas para acariciar a palma da que reteve. Jô sentia calafrios subirem por seu braço e respondeu com a voz trêmula.
- Eu... Li, eu fiquei... sei lá... Não queria que saísse... Seu irmão... Ele...
- Xiuu... - Lisa pôs os dedos em sua boca – não precisa falar. Eu já sei de tudo.
- Eu o magoei Li... - disse baixando a cabeça, seus cabelos cobrindo-lhe o rosto como um manto negro.
- Jô... Você fez o certo. - disse Lisa se ajoelhando na cama, ainda de frente com a morena e, segurando rosto com ambas as mãos, ergueu-o para ela - Fez bem em não iludir ele. O Ju vai se recuperar vai ver. A gente conversou ontem e ele vai sair dessa. Ele tá bem, viu.
- Ai Li... tomara viu! Doeu muito magoar ele daquele jeito – disse fechando os olhos enquanto uma lágrima solitária descia por sua face.
Lisa  enxugou a lagrima delicadamente, olhando para o rosto de Jô... Os olhos fechados, a boca macia... macia... linda... Jô sentiu mãos carinhosas enxugarem a lágrima que escorria por seu rosto... “É tão bom sentir este carinho... tão gostoso”. Quando ainda saboreava o calor daquelas mãos, sentiu um suave tocar de lábios nos seus... Seu coração disparou imediatamente enquanto seu corpo tremia. Os lábios de ambas se encontram... Tímidos, num roçar suave. Jô instintivamente levou as mãos à cintura de Lisa e a puxou mais para perto de si. Um gemido escapou suave da boca de Lisa, que queria mais, mas que não soube como demonstrar isso. Seguindo seu instinto, afastou suavemente o rosto e tocou o lábio inferior de Jô, pressionando-o com o polegar, obrigando-a a se entreabrir. Olhou para aqueles lábios entreabertos e então baixou os seus de encontro a eles, desta vez com mais vontade, mais ânsia de senti-los por completo. Jô, enlouquecida com a iniciativa de Lisa, apertou-a mais em seus braços e estremeceu violentamente quando sentiu a língua penetrar por entre seus lábios. “Deus, que delicia!” Ela não conseguia acreditar que aquilo estivesse realmente acontecendo. Um beijo tão esperado tão... desejado! Sugava a língua de Lisa, insegura. “É tão gostoso o sabor”. O beijo terminou tão suave quanto começou. Lisa ergueu os olhos para o rosto de Jô e pode a ver ainda com os olhos fechados e as mãos em sua cintura. Observou-a passando a língua suavemente nos lábios como a saborear a lembrança do beijo e assim voltar a sentir seu sabor.
- Jô... eu tô... Jô... – disse que a voz quase sumida. Joyce abriu os olhos, observou com um desejo evidente a loira à sua frente e disse
- Não diga nada, Lisa... Não diga nada – e buscou novamente os lábios da loira, desta vez não pedindo, mas exigindo, tomando. Invadiu com a língua, sua boca estava cheia de vontade de sentir de novo aquele sabor. Lisa correspondeu com o mesmo desejo, levando as mãos aos quadris da morena. Sentiu uma necessidade imensa de senti-la por completo. Ouviu Jô gemer e, então, os apertou com mais força.
- Jô... Jô... - disse sussurrando entre os lábios da morena.
O telefone tocou de repente, assustando-as e levando-as a se afastarem automaticamente. Jô olhou desoladamente para o aparelho, sem iniciativa, ainda em choque com o que acabara de acontecer entre elas. Quando ele parou de tocar, voltou o olhar para Lisa que a observava com os olhos cor de mel, escurecidos de desejo. Desceu os olhos para seus lábios sem notar que expressava claramente em seu rosto o desejo de beijá-los novamente.
- Ai Jô... não me olha assim... eu... Jô... - diz a loira se aproximando dela novamente. – Eu sou louca por você... louca! Me ajuda... que eu faço?- Abaixa a cabeça meio sem jeito, tentando esconder sem sucesso o olhar cheio de desejo. – eu... eu preciso de você Jô... preciso de você!
- Eu também, Lisa... Eu também – sussurrou Jô estendendo os braços e abraçando Lisa com força. - quero você para sempre aqui... em meus braços... sendo minha... minha... só minha.

“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”
Clarice Lispector

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