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sexta-feira, 4 de julho de 2008

Capitulo II


Joyce não cansava de olhar sua filha. Pega seus dedinhos e observa um a um... Tão perfeitos. Sorri extasiada. Tudo pelo qual passara resumia-se agora a nada. Ela tinha o amor em seus braços. Levanta os olhos para Lisa que observa o bebê lhe segurando a outra mãozinha. Lisa... Sua melhor amiga... Seu anjo, aquela que nunca lhe faltou. E ela tivera coragem de se afastar dela por um merdinha como Daniel. ‘Não, Joyce não pense assim... Graças ao merdinha tem sua filha nos braços... Mas homens nunca mais!’
Nesse momento Lisa ergue seus lindos olhos cor de mel e lhe sorri. Isso lhe trouxe o passado de volta, quando ainda criança, e aquele mesmo sorriso iluminou o coração de uma menina que pela primeira vez ia à escola. “Não chora, eu estou com você e vamos brincar juntas”.
Joyce, com os olhos cheios de lágrimas ergue o rosto para aquela menina loirinha, da mesma idade que a sua, que lhe sorria. Tinha os olhos mais doces do mundo. Sentiu todo o medo ir embora e a partir dali elas se tornaram inseparáveis. E hoje mais uma vez Lisa estivera presente em sua vida e lhe mostrara o quanto ela era importante. Ela tinha esse dom de fazê-la se sentir melhor, segura, capaz. Ela e sua família a receberam de braços abertos e pela primeira vez na vida Joyce sentira o que era um lar. Em sua casa era só ela e sua mãe. Sua mãe era ótima pessoa, mas ainda jovem. Separara de seu pai quando Joyce ainda era bebê e esta nunca mais o vira. Ele também nunca a procurara. Sua mãe saía muito, namorava bastante, mas jamais trazia homem algum em casa. Não que Joyce se importasse, ao contrário, ela a incentivava muito a se casar novamente, mas a mesma não parecia ter interesse algum nisso. A amizade com Lisa lhe proporcionou toda a alegria e confusão que era um lar cheio de crianças e de muita alegria. Lisa era a caçula, tinha dois irmãos super protetores, um pai muito brincalhão e uma mãe muito amorosa que vivia para a família. Fora recebida de braços abertos por todos e não entendia porque Lisa reclamava tanto deles. Enfim, mesmo tendo se afastado deles por causa de um merdinha - que se dane ser o pai de sua filha – eles permaneceram a seu lado e, quando precisou, junto com sua mãe, lhe apoiaram, estiveram a seu lado. Para ela, eles seriam sempre a sua família. Sua segunda família reavalia ao ver sua mãe entrar no quarto sorrindo com um lindo ursinho rosa nas mãos.

- Mariana? É um belo nome, adorável. Lindinho como você né lindinha? - Faz cosquinhas de brincadeira na criança que tem nos braços. Marcos Paulo, pai de Lisa, olhava com carinho a menina que ergue seus lindos olhos verdes para ele e lhe dá um maravilhoso sorriso desdentado.
– Olhe ela sorriu pra mim! - ergue os olhos maravilhados para a esposa Paula que está sentada a seu lado.
- Shiuuu!! Estamos na igreja Marcos será que reparou? - diz o olhando com reprovação.
- Claro, querida, claro, mas você perdeu o sorriso mais lindo do mundo. É um segundo que não volta mais e esta lembrança será só minha - diz, nem um pouco chateado com a reprimenda da esposa. Estava muito feliz por Jô tê-los escolhido para padrinhos da criança. Sabia o quanto devia ser difícil para uma jovem de dezesseis anos ter a responsabilidade de ser mãe e a considerava como filha. Ergueu os olhos e sorriu para Lúcia, avó da criança, que olhava a toda hora o relógio. Parecia tão entediada quanto ele. Volta seus olhos a Jô e repara como ela parecia amadurecida. Lisa a seu lado, sempre uma ao lado da outra, aliás, parecia tão orgulhosa como se a filha fosse dela. Admirava muito a amizade das duas, mas no fundo, bem lá no fundinho, agradecia muito não ser Lisa nesta situação.
- Ai saco será que vai demorar muito ainda? - diz uma Jô totalmente impaciente.
- Jô tem paciência pô, é o batizado de sua filha sabia!? - Lisa já estava embirrada com a agitação da amiga. Jô começa a bater a perna ritmadamente no chão e esta é segura imediatamente por Lisa que a olha reprovadora.
- Aja Deus Jô, aquieta!!! Jô vira o rosto para Lisa e os olhos de ambas se encontram.
- O Batismo nos dá, pela primeira vez, a graça santificante, que é a amizade e a presença de Deus no nosso coração. Junto com a graça recebemos o dom da fé, da esperança e da caridade, assim como todas as demais virtudes, que devemos procurar proteger no nosso coração.
À medida que o padre falava os olhos de ambas pareciam hipnotizados um no outro. Ambas não sabiam dizer por que de repente o coração bateu mais rápido e a boca secou numa ânsia sem sentido. Lisa, com esforço supremo, volta os olhos para frente e procura retornar sua atenção às palavras proferidas pelo padre. Jô em silêncio volta lentamente os olhos para frente, a testa franzida, os pensamentos confusos, o coração agitado. Lisa lhe parecera diferente, por alguns segundos uma estranha. Uma linda e atraente estranha.
- Hei me deixa segurar um pouco essa delícia!
- Você não muda em Fernando, até as mulheres de fralda você quer agarrar - diz Júnior o irmão mais velho de Lisa para o outro.
- Hei, tu tá é com inveja de meu charme cara! Agora passa ela aqui! Não existe mulher no mundo que não queira esses braços gostosos ao seu redor. - Fernando pega Mariana nos braços e imediatamente ela abre o bocão a chorar.
- Cruzes que sirene!! Nossa senhora!! Toma de volta.
- Rsrsrs cadê o charme mano? - diz Júnior pegando a “sobrinha” de volta nos braços, que imediatamente para de chorar. Olha triunfante o irmão e segura desajeitado a pequena em seus braços.
- Que nada, é como você disse, as fraldas intimidaram a paquera. - Fernando sai rindo e dá de encontro com Jô que vinha da área de churrasco. – Jô, como sua menina grita aff. Lembra-me alguém - diz irônico olhando a jovem a sua frente.
- Ah Fernando vai te catar! - Ignora a ironia - O pessoal tá chamando você lá fora. - Aproxima-se da filha e sorri. Jamais se vira maternal, mas aquela menina conseguira despertar o melhor dela.
- Toma Jô sua filha, ela parece com fome.
- Valeu Júnior. Obrigada por ficar com ela, pega a menina nos braços. Você viu a Lisa?
- Estava a pouco aqui, mas a mãe a chamou lá dentro. Tá gostando da festa?
- Muito! Vocês são demais viu. Não esperava isso. O batizado foi um saco. Ainda bem que o depois tá salvando.
- Tenho certeza Jô. Porque acha que escolhi só o melhor! Nunca poderá dizer a minha “sobrinha” aqui que não fui ao balizado dela. - Sorriu safado - Estou aqui, mesmo que seja só na festinha hehe. Tô fora de igreja. - Jô ri e pede licença para poder amamentar a filha. Caminha em direção ao quarto de Lisa onde estão suas coisas. Não repara que Júnior lhe acompanha os passos sério e pensativo.

 “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.
Fernando Sabino

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