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sexta-feira, 4 de julho de 2008

Capítulo V

- E Mari, como está? - Perguntou Lisa após sair do vestiário.
- Tá bem... – Olhou revoltada para a amiga - Porra, Li! Quantas vezes vai me perguntar dela? É a quarta vez hoje e não são ainda nem - olhou o relógio – dez horas!
- Nossa, desculpe não sabia que te agredia tanto eu querer saber dela. - Saiu andando.
- Não é isso, Li... Para... Droga, Li para de andar! Pensa bem! - ofegava seguindo a amiga. – Não quis ser grossa, mas, puxa vida, né! Isto cansa!
- Tem razão. - Lisa diminuiu os passos – Eu fui sem noção, desculpe aê Jô. É que me preocupo com ela.
- Sei sempre ela né! E eu? Nem me pergunta de mim!- Lisa a olhou assustada.
- Você? Que isso, Jô, sei que você tá bem.
- Sabe? Como sabe? Me diz, vai - parou e colocou a mão na cintura.
- Ora... Sei lá, você tá aí na minha frente. Linda, leve e solta. - Disse estendendo os braços, como a mostrá-la num todo.
- Lisa, você já nem pergunta por mim, não fala direito comigo. Quando vai lá em casa sempre é para paparicar a Mariana. - Jô se sentia desolada com o que ela via como uma indiferença da amiga para com ela.
- Quer que paparique você, é? - Disse, rindo
- SIM! Por que não?- Lisa a olhou assustada.
- Quer?
- Quero! - disse resoluta. - Hoje vamos ao shopping. Eu e você. Só eu e você.
Lisa paralisou. Estava fazendo de tudo para evitar estar a sós com a amiga. Ultimamente não gostava nada dos pensamentos que estava tendo com ela. Nada inocentes. Isto a assustava bastante.
- Jô, estamos em semanas de provas e... Bom... Resolvi que vou aceitar o Fred.
- COMO É? Aquele babaca? Aquele... Trucinho magrelo. Tem dó Lisa! - Jô estava possessa. – Tem paciência, pirou?
- Que é isso, Jô? - Vira-se de frente a ela. – Ele é muito legal, tá?! E... Bom está na hora de namorar.
- Sei. E resolveu agora? Tá. Muito bom. Que merda! - Olhava a amiga, nervosa. - Bom, -  respirou fundo. - e o que isso tem a ver com o passeio no shopping?
- Bom... Bom...
- Somos amigas, não podemos ir ao shopping??? - Olhou-a, séria. - Ou não somos mais amigas? Vai fazer o mesmo que fiz? A mancada de deixar os amigos por um babaca aí?
- Para, Jô! Não disse que não iria ao shopping com você!
- Bom, então vamos hoje à noite, minha mãe não vai se importar de ficar com a Mariana. Disse sorrindo e voltando a caminhar toda saltitante, rindo e olhando meio irônica a amiga. Lisa se sentia uma verdadeira idiota. Como sempre, sem entender como, acabava fazendo exatamente o que Jô queria. ‘Como ela consegue?’ Pensou balançando a cabeça numa negativa enquanto seguia a amiga.
- Ok, Ok, Ok. vamos ver... - pôs o vestido em frente ao corpo. - Não, este não. - Pegou outro no armário. - É... Um dia volto a entrar em você. - pensou desgostosa. Apesar de Mariana já estar com nove meses, ela ainda não conseguira voltar ao corpo de antes. Colocou uma calça jeans linda.
- ARREEEEEE! - gritou desesperada quando ela não fechou - Vou me matar. Que vou usar? Droga! Caraça! Saco!
- Nossa Senhora, que é isto, Joyce? - Dona Lúcia tinha entrado no quarto, com a neta no colo.
- Mãe, nada me entra. Que faço?
- Hei, tem muita roupa bonita aí. Que nervosismo é esse? - A mãe a olhou desconfiada. - É mesmo com Lisa que vai sair?
- Claro mãe! Qual é? Claro que é com Lisa. Eu... Só queria me sentir bonita é isso. - Ergueu os braços em desalento e se sentou desanimada na cama. Mariana começa a sorrir para a mãe, que estendeu os braços e lhe fez cosquinhas.
- É né filha! Tá rindo da mamãe, né! Quero ver você daqui uns anos. Eu que vou rir de você! - Pôs a língua pra fora o que, imediatamente, arrancou mais um sorriso da filha. Ergueu-se novamente da cama, olhou o armário e tirou uma bata azul marinho toda bordada.
- Que acha dessa, mãe?
- Linda, filha. E vai ficar muito bonita com aquela calça preta de lycra que tem.
- Mas... Olha o decote... Tô com uns peitões... Sei lá.
- Que isso, menina! Vai ficar lindo... Vamos, pegue. Jô tirou a blusa do cabide. E colocou-a sobre o corpo.
- É acho que vai ser essa.

Lisa já não sabia mais quantas roupas vestira. “Aff, só tô indo no shopping”, pensou enquanto descartava mais uma blusa que não gostara sobre a cama. Pegou um vestido de verão, todo florido, e o vestiu. Ele se ajustava em seu corpo como uma luva, alongando ainda mais sua silhueta.
- É este! - Sorriu e começou a se maquiar. Soltou os cabelos e se olhou no espelho. Deu uma rodada.
- Uau, que gata!
- Aiiiiii. Que susto Fernando! Aff! Mas... E ai... tô mesmo bonita?
- Bem, tirando esses olhos esbugalhados, tá um tesão. - disse rindo e se jogando na cama da irmã. -Mas aonde vai assim toda produzida?
- Shopping.
- Sério? Gata assim? Hum... Tá de paquera, aêeeeeee!
- Ah, cala a boca! Só vou sair com a Jô.
- A Jô? Sério? Nossa!  Duas gatas soltas no shopping? Isso aí rende hein! - ele continuava rindo
- Tá bom. Até parece. Só vamos conversar, tá legal.
- Só conversar? Sei...
- Ah, sai daqui Nando!!! - falou enquanto erguia o irmão da cama e o empurrava para fora do quarto.
- Ui, mulher geniosa!!!
- Que tá acontecendo? - Fernando olhava o irmão que vinha do seu quarto.
- É sua irmã, cheia de frescurite. Só porque disse que acho que ela e a Jô tão indo paquerar no shopping.
- Jô? Elas tão indo onde?- Perguntou Júnior, curioso.
- No shopping, cara.
- Qual? O BH?
- E qual mais poderia ser? Tua irmã adora aquilo ali. E Jô então e uma viciada - riu.
- Sei... E que hora elas vão pra lá? - Perguntou como quem não quer nada.
- Uai, sei lá. Por quê? Se quer mesmo saber, pergunta pra ela. - Disse apontando a porta fechada.
- Não... Deixa... Deixa pra lá. - Dizendo isso deu meia volta e entrou de volta no próprio quarto. “Arre”, pensou Fernando, coçando a cabeça, “esse povo aqui em casa cada dia tá mais doido”.

 “As pessoas não se tornam especiais pela maneira de ser ou agir, mas pela profundidade em que atingem nossos sentimentos.”
Tiago Costa

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