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sexta-feira, 4 de julho de 2008

Capítulo X

O sábado chegou ensolarado. Lisa olhou o relógio... 8 horas. Levantou-se num salto e foi imediatamente ao banho. Ao chegar à cozinha sentiu o cheiro delicioso de café.
- Hummm... Ai! Tava louca num cafezinho – disse dando um beijo no rosto da mãe, que estava sentada à mesa. – Bom dia, mãe.
- Bom dia, Lisa, dormiu bem? - Perguntou observando o rosto cansado da filha.
- Na verdade não, mãe. Minha mente tava a mil. Ontem briguei com Jô. - Respondeu comendo um pedaço de pão.
- De novo? Vocês só brigam meu Deus! O que foi desta vez?
- Ah, ela tá implicando ai com um carinha que tá a fim de mim.
- Ah, é mesmo? - A mãe tentou disfarçar o interesse – Mas e você? Está a fim dele?
- Bom - acabou de engolir o pão – na verdade tava pensando seriamente em ficar com ele, mas a Jô me fez ver que não tem nada a ver a gente namorar só por namorar. Quando chegar a pessoa que quero mesmo, namoro. Não vou me cobrar.
- Entendo. ...- A mãe observava a filha – vai chegar o homem certo filha, é só ter paciência. Concordo com Jô, não se deve namorar por namorar. Ainda é nova, não precisa se precipitar. Além de quê, devemos ao máximo evitar magoar alguém. Despertar um sentimento sem intenção de retribuí-lo é uma maldade muito grande com o outro.
- É... é sim mãe – disse Lisa, a mente automaticamente indo ao irmão. Balançou a cabeça tristemente e tomou um gole de café – Mas nem sempre conseguimos evitar este sentimento, né. Nem sempre conseguimos retribuir.
- Com certeza, mas temos ao menos a consciência tranquila que não alimentamos esperanças inúteis, certo? - Observava a filha atentamente e, a seguir - Tem algo a me dizer? - Perguntou repentinamente.
- Eu? - Lisa olhava a mãe, assustada - Eu não mãe... eu não. Hã... Júnior levantou?
- Não, ainda não. O que ele queria ontem com você?
- Ontem? Nada... Só conversar. A gente conversa pouco né. - Disse, acabando de tomar seu café. – Bom mãe, vou indo nessa. – Levantou-se antes que a mãe pudesse fazer mais perguntas. “Se tem alguém que deve dizer algo a ela, se quiser, é Júnior.”
- Aonde vai? - Perguntou Paula vendo a filha se dirigir à porta de saída.
- Vou lá na Jô. Quero ficar na boa com ela senão fico ansiosa o dia todo.
- Pelo amor de Deus, Lisa! Está muito cedo para ir à casa dos outros.
- Que é isso mãe é mais de 9 horas. Acha mesmo que Mari as deixa dormir mais que isso? Só rindo, hem! - Saiu de casa rindo, enquanto a mãe balança a cabeça. “É, pensando bem, a Lisa tem razão. Quem tem filho pequeno não sabe mais o que é dormir até tarde.” Pensou sorrindo.

Jô acordou pregada. Não dormiu nadinha. “Saco” pensou enquanto caminhava automaticamente para o banheiro.
- Mariana hoje abusou viu! - resmungou – Bebês deviam nascer mudos e já sabendo cagar.
Um pouco depois foi ao quartinho da filha, mas viu que ela não se encontra no berço. Dirigiu-se à cozinha e... pimba! Lá estava ela no colo da avó.
- Paparicando a neta, né vó! Essa coisinha aí não me deixou dormir nada. - Disse dando um beijinho na filha e outro na mãe.
- Meu Deus, Jô! Que cara! - Lúcia ria quando sua filha ergueu o rosto todo amarrotado para ela. - Desculpe rir, mas você esta horrível.
Jô olhou a mãe, linda, de banho tomado e exalando frescor e pôs a mão no rosto.
- Ai mãe, por mim dormiria o dia todo. Lúcia a observou. Sempre que podia ajudava a filha, mas não a deixava se isentar das obrigações de ser mãe. O quartinho de Mariana se interligava com o de Jô e, pela cara desta, percebia-se claramente que a neta resolvera sair de seu normal e dar trabalho à noite.
- Jô, querida. – disse enquanto observa a filha tomar uma xícara inteira de café num gole. – Se quiser levo Mariana hoje comigo para sua avó e você fica descansando, quer?
- Ai mãe, faz isso? - Olhou extasiada para a mãe. – Eu não quero abusar, mas tô mesmo derrubada.
- Não será abuso, Jô. Sabe que adoro sair com Mariana. - Disse dando um beijo no rosto da neta, que quase dormia em seus braços. Jô olhou a filha, “abusada, agora dorme, né!” pensou, com um sorriso. O telefone tocou assustando as três. Jô pôs a mão no coração e Mariana, no colo da avó, arregalou os lindos olhos verdes.
- A vingança tarda, mas não falha! - disse Jô, rindo muito ao ver a filha acordar num rompante. Pegou-a do colo da mãe, para que esta fosse atender ao telefone. Quando voltou uns minutos depois, flagrou Jô dando pedacinhos de pão à filha. Sentou-se na cadeira à frente das duas para observá-las.
- Jô, ela é sua cara! - A filha ergueu o rosto, orgulhosa. - É né! Mas de olhos verdes. Quem me dera ter estes olhos - comentou sorrindo.
- Os seus também são lindos.
- Claro, puxaram os seus, né dona Lúcia! - brincou olhando para a mãe.
- Hum hum, isso mesmo! - Lúcia sorriu. – Jô, era sua avó no telefone. Seu avô resolveu ir pescar com aquele amigo dele... qual o nome mesmo?
- João César, mãe.
- Esse mesmo. Bom, ela pediu que durmamos lá, não quer ficar só.
- Ai mãe, por favor, me tira dessa. - “Pronto lá se foi o meu descanso”, pensou – Mas pode ir, eu fico com Mariana na boa, nada vai acontecer.
A mãe observou Jô atentamente. Sabia que o dia de ontem fora estressante para a filha. Ouvira toda a conversa com Júnior e se solidarizava com ela.
- Olha se quiser e não se importar levo Mariana. Sabe que sua avó a adora. - ofereceu.
- Sério, mãe? Nossa!! Eu quero sim. Mas não vai atrapalhar?
- Fiz a oferta não fiz? - Lúcia pôs as mãos sobre o tampo da mesa e se levantou. - Vamos lá arrumar as coisas para sair. As duas saíram da cozinha. Enquanto a mãe arrumava uma malinha para a neta, Jô observava a menina em seu colo. Sentiu um aperto no coração. Seria a primeira vez que a filha dormiria longe dela. Ergueu o rosto para a mãe.
- Mãe, se ela sentir qualquer coisa, me liga tá?
- Ok, filha.
- E se ela chorar, também me liga.
- Ok, filha.
- E se ela sentir saudade me liga que falo com ela no telefone, assim ela ouve minha voz, tá?
- Ok filha. - Lúcia parou de arrumar a malinha e olhou para a filha.
- Mãe e a amamentação? Ela não vai mamar o que fazemos?
- Filha tem leite Nan e papinha. Ela não morrerá de inanição ok?! - Lúcia voltou a arrumar a mala.
- Ok... - Jô olhou sua filha e sentiu uma angústia tomando conta de si.
- Mãe acho melhor ela ficar aqui, eu não ligo não. Pode ir sozinha. Vai que depois acontece algo. Lúcia parou, exasperada, o que está fazendo e encarou sua filha.
- Joyce, por acaso eu criei você e, pelo que vejo você está perfeitinha. – a olhou de cima abaixo – Deixe de ser chata! Sei muito bem cuidar de minha neta, que coisa.
- Desculpa mãe, não foi por mal. - Jô falou sem graça. - É que tá dando um aperto no coração saber que ela vai ficar o fim de semana fora.
- Eu sei como é - a mãe deu um sorriso compreensivo – Jô aproveita este fim de semana e vá ao clube. Chame Lisa, vão passear. Ao ouvir o nome de Lisa, Jô ficou séria e pensativa.
- É mãe, pode ser não sei. Mas de momento vou é tomar banho e cair de novo na cama. - falou, rindo.
- Sim, faça isso. - Lúcia fechou a malinha – Pronto. Agora é só pegar a comida na cozinha. Já volto. - Disse saindo do quarto. Joyce voltou o olhar para a filha que adormecera. Abraçou-a com mais carinho. “Tá filhinha, eu deixo você dormir, viu? Mamãe é mais legal que você, hunf!”

Joyce olhou o relógio sob o sofá. Oito horas. A mãe acabara de sair com Mariana. Teria um final de semana inteiro pra ela. Pensou em ligar para Lisa. “Hum melhor descansar um pouco antes, depois ligo pra ela”. Ainda estava baqueada com o lance de Júnior, no dia anterior. Aliás, com o lance de Júnior e Lisa. Ainda não se conformava dela tê-la deixado sozinha no shopping, naquela situação. Tomou um banho, pôs um shortinho curto, de malha e uma mine blusa do mesmo tecido, deitou-se na cama e dormiu quase que imediatamente. Ouviu um barulho ao longe... “Ai Deus só pode ser pesadelo” pensou Jô pondo o travesseiro por cima da cabeça ao notar que era a campainha da porta. “Vou ignorar, assim a pessoa vai embora.” A campainha disparou novamente, num código conhecido para ela. Era o código que Lisa usava quando ia à sua casa. Tocava duas vezes, parava, mais duas, parava e depois uma. Levantou-se e ficou por um momento sem saber o que fazer. Olhou-se ligeiramente no espelho “Que horror!” pensou se olhando e foi atender a porta.

Lisa já estava impaciente, na porta. “Será que elas não estão?”. Olhou o relógio, eram mais de 9h30. “Será que saíram?” Tocou novamente, desta vez usando o código que ela e Jô inventaram para saber que eram elas na porta. Ouviu um barulho e percebeu movimentação na casa. Aguardou que lhe atendessem. Estranho, não ouvia Mari, ela sempre há esta hora, estava acordada. A porta se abriu e Jô apareceu com a cara de quem acaba de acordar. Lisa a olhou fascinada. A morena estava com um short e uma blusinha de malha que deixava pouco de seu corpo para a imaginação. Os cabelos negros soltos, indo bem abaixo dos ombros, estavam ligeiramente atrapalhados. Seu olhar, contrastando com o rosto cansado, brilhava intensamente. Lisa sentiu o coração disparar e as mãos começarem a suar. Não se mexia. Tudo que queria era olhar para Jô para sempre.
Jô ao abrir a porta, sentiu que o coração, que já estava a mil por hora, quase parar. Lisa estava ali, linda, loira, vestida com uma bermuda jeans até o joelho, uma blusinha leve e sandálias. Simples, mas maravilhosa. Tudo caía bem nela. Tinha um corpo alongado e elegante. Sua cintura era tão fina que os quadris, mesmo sendo estreitos, ganhavam um formato maravilhoso. Resumindo, ela tinha o corpo simplesmente perfeito. Seus olhos brilham ao perceber o olhar da amiga passear por todo o seu corpo. Agora tinha certeza que a atração que sentia era recíproca. Não queria entender como ela surgira nem o porquê. Tudo que sabia é que queria viver tudo isso. Mas e Lisa? Será que ela, sendo tão certinha, arriscaria viver esse amor que estava aflorando entre elas?

“Para viver intensamente é necessário conviver com os riscos.”
Roberto Shinyashiki

Um comentário:

  1. olá queria autora, estou acompanhado o seu conto la no Xib, to amando a estoria dessas duas figuras, linda mesmo, e sei que muita coisa vai acontecer....

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