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sexta-feira, 4 de julho de 2008

Capítulo VI

As duas haviam combinado de se encontrar no ponto de ônibus. Ambas moravam no Prado, um bairro tranquilo de Belo Horizonte. Só que para chegarem ao shopping teriam que pegar dois ônibus. Mas isso não importava, estavam indo se encontrar. ‘Estamos tendo um encontro’, pensava Lisa caminhando apressada para o ponto de ônibus. ‘Que é isso, que encontro o que, sempre saímos juntas, encontro você tem com garotos ora. Mas... Bom é um encontro. Tá, diferente, né. '
Parou para ajeitar os cabelos e virou a esquina; alguns metros à frente... “Jô!! UAUUU!!! Nossa senhora, ela tá linda! Calma Lisa, calma. Que isso? Que pensamentos são esses? Droga, agora só pensa isso! Desde quando gosta de mulher? Aff!” Baixou a cabeça ligeiramente, “desde que Jô... desde que a viu... na maternidade!” Pôs a mão na cabeça... “Deus! Desde a maternidade!” Parou e olhou a amiga que se virou neste instante e a viu. Percebeu o olhar de Jô se modificar. Seria possível aqueles olhos ficarem ainda mais negros? Baixou os olhos para... para... “Ai meus Deus... Virei tarada de seios. Que decote!!!!” Viu a mão da amiga apertar o decote tentando diminuí-lo e sentiu o rosto se avermelhar. “Manoteira, burra, tarada” se xingou mentalmente balançando a cabeça e caminhando em direção à amiga.

Jô já estava ansiosa. “Que merdinha, Lisa como sempre atrasada”, pensava enquanto via o ônibus que perderam se afastar. ‘Paciência, Jô, paciência! “Lembre-se, é um dom.” Começou a bater o pé ritmadamente no chão. Cruzou os braços e olhou para a esquina que sabia que a amiga surgiria. Ela morava algumas quadras adiante. Seu olhar se nublou e ela novamente o fixou à sua frente. ‘Fred... Quem ele pensa que é? Aquela coisinha magrela quer... comer minha Li. E pensa que vou deixar? Hã! Iludido’. Caminhava de um lado para o outro, agora mais nervosa. ‘Não vai mesmo!’ Não conseguia entender bem o que estava acontecendo. Tudo que sabia é que descobriu que estava a fim de Li. Se era certo ou errado não queria saber. Joyce sempre fora impulsiva, do tipo “ajo primeiro penso depois”. Sente a nuca se arrepiar. Vira-se para a esquina e... Lá está ela! Lisa! Linda... Linda. Parada com o olhar fixo nela. Jô sente a garganta secar e o coração disparar. Vê quando Li desce o olhar para seu decote e automaticamente, meio sem jeito, leva a mão a ele procurando diminuí-lo. Percebe que a outra balança a cabeça e caminha em sua direção. A cada passo dela, seu coração bate mais rápido. Desce o olhar por seu corpo. Aquele vestido... Nossa, ela está estonteante. Ergue a cabeça quando a amiga para a sua frente. Os olhos negros se fixam nos mel. Estavam mais escuros, brilhantes, realçados pelo preto do rímel. Era bonita demais!!! “E o raquítico do Fred acha que ela vai namorar com ele? SÓ POR CIMA DO MEU CADÁVER”, pensou fechando a cara.
- Que foi Jô? Que cara é essa?
- Ah? Nada.... - Mas ela sentia o rosto esquentar. – Você tá... Tá linda! - “Gostosa deliciosa, um tesão.”
- Puxa... obrigada - Lisa baixou ligeiramente os olhos. – Você também está... linda. - “Um manjar dos deuses. Ia me fartar neste... decote” pensou olhando pra ele. Jô desceu o olhar para o decote.
- Tá muito indecente?
- Hã?
- Tá indecente? - Perguntou apontando para o próprio decote.
- Há? NÃO! Err, não... tá... tá...bom - “Maravilhoso, na verdade. Uau. Que seios my God”, sentia um calor enorme.
- Nossa, tá quente hoje, né? - Disse se abanando com a mão. - Olha o ônibus!!! - Acenava quase que desesperadamente para ele.
- Calma Li! Não precisa se jogar embaixo dele, não. Ele vai parar. O ônibus parou e o motorista arregalou o olho quando Joyce subiu, já que em Belo Horizonte se entra pela porta da frente. Seu olhar a acompanhou e quando voltou para a porta de novo deu de cara com um olhar mortal, assassino.
- Perdeu algo ali? - Lisa falou apontando para a amiga
- Como? Não entendi senhorita.
- Você estava olhando o decote da minha amiga!
- Menina, estou trabalhando! Claro que não fiz isso. Melhor entrar logo que tenho horário.
- Tá querendo enganar quem? Eu vi tá. Você tava olhando o decote dela!!! - Disse avermelhada, quando sentiu uma mão praticamente lhe arrancando de cima do motorista.
- PIROU, LI????? Que vexame é esse???
- Mas Jô ele... viu como ele te olhou? E volta de novo o olhar furioso para o motorista.
- Tá... tá... eu vi...mas ignorei, diz empurrando a amiga para o fundo do ônibus.
- Faz o mesmo vai. As duas se sentaram no mesmo banco, mas não conversaram. Cada uma imersa em seus pensamentos. Jô feliz, se regozijando com a reação de Lisa e esta emburrada, se martirizando de ciúmes.
- Ai, finalmente chegamos, que trânsito viu! - disse Lisa já descendo do ônibus. Jô permaneceu por mais uns segundos sentada. Adorava a forma como o vestido se moldava ao corpo da amiga. Aquela cinturinha era uma tentação.
- Você não vem?
- Tô descendo. - respondeu, literalmente saltando do banco. As duas adentraram o shopping e começam a caminhar lentamente pelos corredores, olhando as vitrines. Não sabia qual das duas era a mais fanática por compras.
- Aiiiiiii Li olha que lindo!!!! - Apontava um vestido preto. - É a minha cara!
- Realmente lindo, mas já olhou o decote?
- Uai, o que tem? Não é maior que este que estou usando. - virou- se para a amiga.
- Ah, pois é... é mesmo, né.
- Vou lá ver.
- Ah nãoooo, Jô! Sem entrar nas lojas, senão só saímos amanhã! Você nem tem grana!
- Sempre desmancha prazeres, tenha paciência! - Jô a encarava emburrada. Lisa ergueu os braços, impotente, e saiu caminhando na frente. “Hum... Que visão” pensou Jô, seguindo lentamente a amiga e a olhando discretamente (ao menos pensava que sim) todo o delicioso corpo. “Bom, vamos ver”, Lisa pensava “melhor irmos à praça de alimentação e comermos uma boa pizza.” Virou-se repentinamente para Li e a pegou olhando sua... “Ela está mesmo olhando minha bunda?!?!?!”
Pega em flagrante, Jô parou. Onde antes via lindos quadris e belas pernas agora via, subindo o olhar, seios, colo, pescoço e... Um par de olhos esbugalhados a encará-la.
- Que foi? - Perguntou inocentemente - Tá me olhando assim por quê?
- Jô, tu tava olhando a minha... a minha... - Lisa perguntou se aproximando da amiga.
- Bunda? – “Ai, vai Jô, ache uma saída estratégica” - Tava sim, uai. Quis ver o que o Fredinho tanto vê. - riu irônica.
- Ah, para Jô! Você quando quer, enche, viu.
- Mas fala sério, você não vai namorar ele, né? - Jô a olhava em expectativa.
- Tô pensando seriamente em namorar sim.
- Mas por quê?????
- Ah, Jô! Sei lá... eu... quero e pronto. - “Em outras palavras, quero fugir dessa atração louca e impensada que tô por você’ pensou encarando a amiga. - Ele é legal, gosta de mim...
- Nossa, também adoro meu cachorro! - Interrompeu Jô, falando com ironia.
- Ah cala!! Você nem tem cachorro! Sempre me critica, né? Acha o quê?
- Acho que tá se contentando com pouco.- Disse alterada - Você consegue melhor que o Fred. Aliás, você tem péssimo gosto pra caras. Lembra aquele Sérgio? Nossa parecia o Drácula com aqueles caninos! Ierkkkkk.- Fingia tremer de medo.
Lisa empinou o corpo e se aproximou da amiga colocando o rosto bem próximo a ela. Jô sentiu o sangue gelar na veia. “aí vem bomba”!”.
- Pois não fui eu que dei pra bonitões e fiquei a ver navios e ainda dou de gostosa pra motoristas me cantarem e babarem em mim! - ‘Ai droga, droga! Que fui dizer?’, pensou enquanto observava Jô empalidecer. Arrependeu-se amargamente das suas palavras.
- Bem Li isso é bem de você. Sabe bem como atingir as pessoas né. Mas esse foi golpe baixo – disse baixando a cabeça.
- Eu... Ai Jô desculpe... eu.
- Deixa pra lá. - Jô parecia ter perdido todo seu brilho. - Bom o que vamos comer?
- Ai, Jô desculpe você sabe que custo a perder a cabeça... Eu não quis dizer isso, eu não acho nada disso.
- Quero comer, vamos? - Ignorava as palavras da amiga e voltou a caminhar, agora em direção a praça da alimentação.
- Jô para - Lisa segurava o braço da amiga. - Olha, briga comigo, grita como você sempre faz. Eu errei, olha desculpe, eu errei.
- É o Fredinho né!- Jô tinha se virado abruptamente e falava alto - Aquela... aquele cara! É ele né? A gente não pode nem falar dele que você fica cheia de lero-lero - terminou a frase já gritando.
- Ah... Ai Jô não grita, aqui é um shopping – sorriu sem graça para um rapaz que passava e arregalou os olhos ao ouvir o grito. – Nada a ver isso que você disse.
- Por que não grito? Não disse pra eu gritar? Hã? Você me ofende, falta me chamar de... de... - estremecia de raiva - e quer que eu cale? Olha, tentei controlar, mas melhor tu calar a boca senão tem troco sacou? - Disse já com o dedo em riste para a amiga.
- Ok - Lisa levantou as mãos - calei... - Olhava de esguelha pros lados, as duas estavam sendo a atração do shopping. Jô se virou orgulhosa e caminhou até uma mesa. Um garçom chegou cauteloso na mesa, mas ela, ao erguer o rosto deu um sorriso maravilhoso.
- Posso ver o cardápio? – Virou-se para Lisa – e então não vem sentar?

“É preciso buscar o amor onde estiver, mesmo que isso signifique horas, dias, semanas de decepção e tristeza. Porque ao momento em que partimos em busca do amor, ele também parte ao nosso encontro.”
Paulo Coelho

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