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quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Capitulo XVII

Joyce caminhava apressada pelo campus da universidade. Olhou para o relógio constatando que iria se atrasar. “Droga, já são 7h40min! Logo hoje que tenho trabalho”. Acelerou os passos e...
- Aiii, que porra! - reclamou ao trombar violentamente contra outro aluno da faculdade.
- Uff desculpe garota, foi sem querer! Eu não quis te machucar. Ela olhou para cima e viu um rapaz muito bonito, um pouco mais velho que seus 21 anos, estendendo-lhe a mão.
- Você se machucou? Me perdoe, foi sem querer. Às vezes eu me distraio.
Joyce, ainda no chão, encarava muda aquele belo exemplar masculino à sua frente. Moreno, olhos castanhos esverdeados, físico alongado. “Como é bonito!” Olhou para a mão estendida à sua frente e a segurou, erguendo-se do chão.
- Não, tudo bem... Eu que estava correndo, tava distraída. Tô super atrasada.
- Então somos dois, hem. Vamos lá!
- Como? - E isto foi tudo que Jô conseguiu dizer antes que o rapaz, que até então segurava sua mão, saísse correndo em direção ao prédio da universidade, a levando junto. Chegaram ofegantes ao prédio onde Joyce fazia o primeiro ano de Direito. Ainda buscando ar para respirar, olhou para o rapaz que segurava sua mão com a dele.
- Obrigado pela bela corrida. - risonho, inclinou-se numa mesura frente à Jô - Minha linda dama. Saiba que fui eu e não você quem caiu a seus pés. – disse dando-lhe um suave beijo na mão e, soltando-a em seguida, deu um tchau alegre e simplesmente se foi. Joyce ficou ali, parada, ainda com a mão meio erguida, sentido uma deliciosa sensação de bem estar.

 - Lisa, você aqui?
- Olá, Lúcia!
- Não foi à aula??
- Hoje não tive aula e resolvi vir ver a Mari. Ela já melhorou da gripe?
- Menina – Lucia lhe deu passagem para que entrasse na casa – Quem está ruim agora sou eu. Essa gripe derruba até elefante - comentou sorrindo - Assim tirei hoje o dia de folga. As duas seguiram em direção ao quarto onde Mariana, na altura de seus quatro anos, tentava trocar alguns passos de Balé.
- MARIANA!! Não era para estar deitada??
- Vovó! Er... eu... – a menina olhou a avó desconcertada, mas ao ver Lisa logo atrás dela gritou feliz, esquecendo qualquer justificativa. - Liiii!!
As duas se abraçam sorrindo, numa troca de energias positivas, repleta de amor e muito carinho.
- Mari, amorzinho, não devia desobedecer a sua avó – Lisa disse carinhosa, enquanto colocava uma mecha dos longos cabelos negros da criança atrás da orelha. A menina a encarou dengosa, com seus belíssimos olhos verdes e, fazendo biquinho.
- Ahhh Li, não aguento mais a cama. E vovó toda hora trás coisa ruim pra eu tomar.
- Psiu – faz cara de repreensão – é para seu bem. Pegou-a no colo e a levou de volta à cama, tudo sob o olhar atento de Lucia, que sorria para elas. Sempre a impressionava a afinidade existente entre as duas. Mariana tinha uma personalidade fortíssima, como a mãe, mas com Lisa a pequena fera virava uma gatinha.
- Pronto! - Lisa disse assim que ajeitou a garota na cama – E esta proibida de sair daí sem ordem expressa de sua avó, entendido?
- Mas é chato!  Você vai ficar aqui comigo, Li? Diz que vai!
- Sim, vou sim, minha linda. Será que agora posso te contar a queda que tive ontem quando saia da escola?
- Contaaaa!
Lucia se afastou ouvindo as risadas das duas. Balançou a cabeça com um sorriso. Lisa era mesmo um anjo na vida de sua filha e neta. Por um momento, o sorriso lhe sumiu do rosto e ela parou sob o batente da porta da cozinha. Depois, balançou a cabeça ligeiramente como que a espantar seus pensamentos e seguiu em direção ao fogão, iniciando o preparo de um belo sopão.
Já era quase uma hora da tarde quando Jô chegou em casa. Entrou silenciosa, sabendo que tanto sua mãe quanto a filha estavam adoentadas. Viu a mãe deitada no sofá da sala, dormindo calmamente. Caminhou até ela e pôs a mão em sua testa e, sorrindo, lhe deu um beijo no rosto adormecido. Deixou o material sobre a outra poltrona e caminhou ao quarto da filha. Ao abrir a porta, sorriu embevecida com a cena à sua frente. Lisa e Mariana dormiam de mãos dadas sobre a cama. Mariana, com a cabeça sobre o ombro de Lisa, parecia tão serena! Seu coração se encheu de amor. Daria a vida por sua filha. Olhou então para Lisa e mais uma vez sentiu o coração se aquecer. Ela se transformara da adolescente lindinha em uma loira de arrasar quarteirão. Os cabelos loiros e lisos agora quase na cintura, as curvas mais pronunciadas, a cintura mais marcada, por onde passava arrancava suspiros apaixonados. Mas ainda eram os olhos, os lindos olhos cor de mel, suaves e sonhadores, que aqueciam e cativavam as pessoas que a conheciam. Era linda por fora e por dentro. Jô suspirou um pouco cansada. Aproximou-se da cama e deu um suave beijo no rosto da filha. Olhou para Lisa e, com carinho, passou a mão em seus lábios.
- Li...
- Jô?
- Acorda Li... vem comigo.
Lisa, ainda sonolenta, afastou com cuidado a cabecinha de Mariana de seus ombros, sem acordá-la, e seguiu Joyce em direção ao seu quarto. Ao entrarem no quarto Joyce segurou a loira sonolenta nos braços e lhe dá um beijo suave.
- Com sono, loirinha?
- Hummm... Vai continuar tentando me acordar assim se disser que sim?
- Boba – Jô, rindo, deitou-se na cama acompanhada por Lisa – Não teve aula hoje? - Perguntou afagando Lisa nos braços.
- Não... Hoje foi dia de paralisação. Estudar em Federal dá nisto.
- Sei... Então pague uma particular pra ver o que é pior.
- Mas, Jô, assim você vai formar primeiro que eu.
- Ah, dá um tempo, Li! Você tá dois anos na minha frente.
Lisa passara na UFMG (Universidade do Estado de Minas Gerais), em Fisioterapia, aos dezoito anos em sua primeira tentativa de vestibular. Joyce já preferira não arriscar e fizera um ano de cursinho. Mas depois de tentar Direito por dois anos consecutivos na Federal e não passar arriscou uma particular na qual agora estudava.
- Jô, mas que dá preguiça dá. O governo é foda. Sempre dá com uma mão, mas tira com outra. Sabia que os funcionários federais não têm aumento decente há mais de 10 anos? O salário tá super defasado. Pô, o pessoal estuda horrores pra estar lá repassando seus conhecimentos e não é valorizado. Tô sendo prejudicada, mas eles também, né.
- Ah não, Li, não me vem com filosofia, não. Nem papo cabeça. Hoje a aula foi um saco e ainda me deram uma trombada que beijei o chão.
- Sério? Como foi? - Lisa se apoiou no cotovelo.
- Ah, um cara lá tava maluco que nem eu por causa do atraso e deu de frente comigo. A diferença é que ele ficou em pé e eu cai que nem jaca.
Lisa explodiu em gargalhadas.
- Minha Jaquinha. – disse rindo e dando um selinho na namorada. Joyce faz um bico, mas logo acompanha a loira nas risadas.
- Ahh Li... Li você é linda sabia? – disse dando um abraço apertado na loira.
- Você que é Jô. - Lisa a olhou, como sempre, deslumbrada com a beleza morena. Joyce recuperara de vez a forma, mas manteve um corpo maravilhosamente curvilíneo. Seus cabelos negros agora só um pouco abaixo dos ombros emolduravam o rosto anguloso, dando-lhe um ar quase felino. Jô não era apenas bonita. Era deslumbrante em seu ar aparentemente descontraído e ciente de sua feminilidade. As duas mantinham o namoro em segredo e nunca haviam sido descobertas. Como sempre foram muito unidas as pessoas achavam mais que natural o grude que viviam. Nem mesmo a opção por cursos diferentes na universidade conseguira afasta-las. Lisa sempre pensava que o amor das duas era indestrutível e que nada nem ninguém as separaria. Jô, de olhos fechados, pensava em todos os momentos que ela e Lisa viveram depois que assumiram o amor uma pela outra. Os conflitos que vivera, o medo da mãe descobrir tudo. Alias – pôs a mão no queixo – percebera ultimamente olhares estranhos da mãe sobre ela. Muito estranhos.
- Li... - Olhou para a loira indagadora – você percebeu alguma mudança no comportamento de minha mãe, ultimamente?
- Hum? Não Jô, por quê? Tem algo te grilando?
- Sei não... Ela anda parando o olhar em mim e ficaaaaaa... Tá muito estranho. Sabe quando você sente que tem algo ali?
- Jô, você acha que ela tá desconfiando de nós? É isso? – Lisa afastou ligeiramente o corpo do de Jô
- Ave Maria, Nossa Senhora, São tudo que houver! Tá doida? Nem pode sonhar! Lisa ao escutar aquilo e o tom de pânico de Jô ao dizê-lo sentiu uma tristeza tomar conta de si. Já há muito tempo repensava a situação das duas e achava que deviam dar mais um passo no relacionamento.
- Jô olha... - afastou-se da morena e a olhou nos olhos – Seria tão ruim assim???
- Lisa, tá doida??? Claro que seria! Pensa! Acha mesmo que as pessoas aceitam assim? O pessoal só finge ser cabeça. Quando é pra provar isso a mente é desse tamanhinho – e faz um gesto com os dedos a mostrar algo minúsculo.
- Jô... para. Quer que a gente fique assim sempre, é??? Temos que começar a pensar nisso.
- Lisa, não quero falar nisso, tá bom? Para! Vai voltar de novo esse papo?
- Joyce, não é papo. Poxa, a gente se ama. Não tô pedindo que grite ao mundo que gosta de mulher, mas sei lá, a gente pode contar... - Calou e passou mão nos cabelos. – Jô, tô cansada de esconder, é isso.
Joyce se levantou da cama e olhou a loira.
- Li... não tô pronta pra isso, você sabe. Pô, a gente nem formou nem nada. Eu tenho uma filha, não posso ser impulsiva.
- Impulsiva??? - Lisa se ergue e ficou de frente à Jô. – Impulsiva? Acorda Jô! Estamos nessa há quatro anos.
- Então amor, vê... Nôs damos bem assim – ergueu a mão e tocou a loira levemente – não apressa, vai. Não faz isso. Eu amo você, mas não tô pronta pra mais. Segura a onda.
Abraçou Lisa sabendo que assim ela iria ceder e a beijou. Não gostava muito de usar este artifício, mas seu coração gelava sempre que ela vinha com este papo de assumir.
- Eu te amo Li... Beija-a profundamente e uma pontada de desejo despertou em seu íntimo. – Que tal se fecharmos a porta???

 "No amor não existem pessoas certas, existem pessoas que lutam para dar certo."

3 comentários:

  1. cada dia mais apaixonada
    pelo seu conto amiga.

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  2. Nossa!! Você escreve muitisso bem, eu li em um dia todos os capítulos do seu conto. Volto mais por aqui :).

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  3. Nah
    qns vai terminar?to anciosa?

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