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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Capítulo V


Sheila observa Mariana na cantina. Parecia compenetrada nos livros, mas sabia que era apenas para inibir as pessoas de se aproximarem.
- Ei bela, pode parar que sei quando está estudando.
Suspirando Mari fecha os livros e encara a amiga.
- Nunca consigo te enganar né.
- A mim não. Sou observadora e você não estava franzindo a testa. - Aponta-lhe a testa - Você sempre a franze quando esta atenta nos estudos - Joga a pasta sobre a mesa e senta. - Que olheiras são essas bonitona?
- Dormi mal a noite.
- Algo a ver com sua fuga desesperada na sexta? Alias tentei te ligar e você necas né. Fugindo do que?
- Sheila... não quero falar nisso ok.
- Ah.... mas vai falar. Eu te conheço, jamais sairia daquele jeito se não fosse algo sério. - Inclina o corpo para frente – Quem você viu lá?
Mari encara a amiga tensa. Sabia que ela não ia deixar passar em branco o acontecido.
- Quer mesmo saber?
- Tô perguntando, não tó?
Mari abaixa a cabeça e os longos cabelos cobrem seu rosto. Ergue-se e aponta a saída para a amiga.
- Se quer saber vamos cair fora.

Sentadas sobre uma arvore no pátio as duas jovens conversavam sérias. Quem passava as olhava com curiosidade. Bonitas, simpáticas... e lésbicas?
- Meu... imagina eu e estas duas numa cama... sussurra baixinho um rapaz para o outro que o acompanhava
- Sonha não meu... a bela não te daria mole. E a amiga dela tem namorada. A Taninha esqueceu?
- A Taninha da psico?
- Fala sério que não sabia.
- Cara, não sabia não... pô que desperdício de fêmea nessa faculdade.
E seguem o caminho, não sem antes lançarem olhares de pena e despeito as duas jovens.

- Mentira!! Sua mãe de agarro com uma mulher??
- Fala baixo Sheila! - Mari olha para os lados – Quer que o Brasil inteiro saiba?
Sheila tapa a boca com as mãos e olha para os lados com olhar cauteloso.
- Desculpe... é que o choque foi grande. Meu... fala sério. Sua mãe... cara – Passa a mão no rosto – Tô bobs ate agora.
- Se você está, imagina eu.
- E que você fez? - Sheila a olha em expectativa.
- Corri igual criança pro colo de minha madrinha.. Ou seja, covarde, não dormi em casa. - Olha a amiga agora um pouco mais agitada. - Sheila... dormi lá. E de manhã quando acordei... adivinha quem estava me olhando!
- Quem? -Sheila se ajoelha sobre o gramado. Estava cada vez mais emocionante o que Mari lhe contava.
- Lisa.
- Lisa?
- A filha de minha madrinha! A Lisa!
- Sei... a filha da madrinha tava te olhando...ah... - Olha a amiga como a dizer ' e daí?'
-Sheila...a Lisa!
Sheila tenta fazer um ar de surpresa e emoção , mas não consegue. 'Lisa... quem é Lisa. Que Lisa?'
-Tá Mari você venceu. Quem é Lisa?
Mariana a olha surpresa. Ela não sabia de Lisa?
- Lisa... lembra quando te conheci e disse que uma pessoa que eu amava muito era lés?
- Mentira!!! Cara! A Lisa! - Sheila a olha com olhos arregalados – Faltava só me dizer o nome dela né. Mas... você a ama... hum...
- Hum o que? - Mari a olha séria.
- Só hum.
- Sheila... voltando a minha mãe – Bela a olha um pouco impaciente – não tive coragem de enfrentá-la. O pouco que disse ela desmentiu. O que faço agora? Isso tá entalado em minha garganta.
- Uai... eu não sei. Eu falaria na cara na boa. Mas... cara é muito doido meu.
- Doido para você. Minha mãe é a maior preconceituosa que já vi. Ela e Lisa eram as melhores amigas. Foi Lisa se descobrir lés ela cortou amizade.
- Sério??? Que horror. Mas vê o melhor lado. Ela não impediu você de manter contato com Lisa né.
-Também né Sheila. Meus padrinhos são pais de Lisa. Ainda assim sinto que perdi tempo demais de convivência com ela.
- Então corre atrás uai. Ela não esta de volta? Corre miga. Conquista e curte !
- Conquista e curte o que??
Sheila faz cara de inocente.
- O tempo que agora tem com ela... entendeu? Aliás não devia perder tempo... que faz aqui?
Mariana coloca a cabeça de lado e olha desconfiada a amiga. Estreita os olhos e depois sorri divertida.
- Seguirei seu conselho.

Lisa desliga o computador. 'Dever cumprido'
Mandara seu currículo a algumas das maiores clinicas de fisioterapia de Belo Horizonte. Com sua experiência e capacidade profissional logo estaria atuando novamente em sua profissão. Ergue os cabelos afastando-o do pescoço e se abana com uma das mãos. Como BH estava quente. Olha a cama onde a pouco tempo vira Mariana deitada e suspira. Desde aquele momento dormir se tornara uma tortura. Bastava fechar os olhos e ela lhe vinha a mente. O belo rosto, o corpo maravilhoso, a discussão entre elas. Ela...ela... os seios... a cintura... Chega!! Lisa balança a cabeça enérgica e sai do quarto com passos tensos.
- Ei Dona Paula, que pensa fazer a tarde?
- Ei filha, ia mesmo te chamar. Vou a casa de Idosos. Sou voluntaria lá. - Ri divertida - Uma idosa ajudando outras.
- Que isso mãezinha. Você não é idosa. - beija carinhosa o rosto da mãe – Bom programa.
- É uma forma de dizer que nem é para chamá-la?
- Mãezinha, adoro como é perceptiva.
- Mais que imagina filha... - E a olha séria.
Lisa, meio desconcertada, faz a primeira pergunta que lhe vem a mente
- Cadê meu pai?
- No sitio. Ele agora só vive para aquilo.
- Hum... e porque não me chamou?
- Não deve demorar. Foi levar uns adubos, materiais de limpeza. Saiu muito cedo e não quis acordá-la.
- Ok... bom... vou aproveitar o dia para colocar minha vida em ordem, cortar o cabelo, fazer as unhas. Está na hora de me cuidar.

Joyce sai do carro tensa. Caminha em direção ao portão da casa dos pais de Lisa e , tremula, toca a campainha. Mal conseguia conter a ansiedade de ver Lisa. Bate o pé no chão angustiada. Ninguém atendia. Toca novamente a campainha desta vez mais impaciente. Ninguém. 'Merda, não é possível!'
Devia ter ligado antes. Na verdade queria pegar Lisa de surpresa. Bem... agora era esperar. Voltaria depois. Entra no carro e arranca sem perceber a mulher que a observava a menos de um quarteirão.
Lisa observa o carro virar a esquina. 'Joyce...'
Distraída em seus pensamentos entra na casa sem perceber que deixara o portão aberto. O que Joyce poderia querer com ela?
'Meu Deus nem uma semana que voltei e minha vida virou um caus. Vontade de voltar para a Índia.' Mas acabara os tempos de fuga. Caminha em direção ao quarto e se olha no espelho. O cabelo ficara lindo. Cortado em camadas, moldava seu rosto, deixando-o mais leve e jovem. Troca o jeans por um vestido leve. Segura com um sorriso o CD que seus amigos indianos lhe presentearam. Uma das coisas que mais adorara na Índia foi o estilo de dança. Vigorosa, sensual, mas de uma espiritualidade maravilhosa. Caminha em direção a sala e coloca o CD para tocar. Começa a mexer os quadris ao ritmo da música procurando esvaziar a mente de todos os pensamentos. Fecha os olhos e se deixa levar pelo som e pelos movimentos do corpo.

Mariana ouve o som vindo da casa dos padrinhos.' Que melodia linda...'
Surpresa percebe o portão aberto e entra, fechando-o devagar. Concentra sua atenção na grande janela que dá para a sala. Devagar se aproxima e vê Lisa dançando de olhos fechados. Fascinada observa os movimentos do corpo da loira a acompanhar o ritmo da musica. Eram movimentos exóticos, com gestos vigorosos. A sensualidade no movimento dos quadris , das mãos.... instintivamente toca levemente a própria virilha que parecia latejar.
Lisa sente uma queimação nas costas como se alguem a observasse. Se vira lentamente e abre os olhos. Automaticamente para de dançar. As duas se encaram pela janela. Tremula, Mariana entra na sala.
- Eu voltei...
- Mari...
Sorriem tímidas.
Devagar Mariana caminha em sua direção.
- Eu... me desculpe sair daquele jeito no sábado...
- Não...eu que errei... não devia me meter em historia que não é minha.
- Que isso Li... eu que pedi conselho... eu... - desliza o olhar pelo corpo de Lisa. O vestido se ajustava maravilhosamente no corpo esguio da loira. - Eu... nunca vi você dançar... quer dizer até hoje.
- Gostou?
- Demais... - engole em seco e coloca as mãos para trás. Como que sentindo a tensão entre as duas Lisa se afasta colocando uma distância segura entre elas.
- Er... eu não sabia dançar... aprendi na Índia. - Faz um gesto em direção ao pequeno som de onde vinha a melodia. - É uma dança indiana.
- Sério?
- Sim... se chama Bharata nathyan. Na verdade sigo pouco o ritual da dança. Mas gosto dela. Que os deuses me perdoem. - E sorri delicada.
- Ah??
- Bharata nathyan. É um estilo de dança da Índia.

Nota da autora:
De grande beleza visual e apelo espiritual, o bharata natyan é um dos estilos indianos mais praticados no Oriente e conhecidos no Ocidente. Considerada um meio de conectar o homem ao sagrado, mesmo nos dias de hoje não é iniciada sem que o bailarino peça permissão para a terra para bater com os pés no chão, saude todos os deuses e ofereça flores a Brahma.

- Deve ser muito legal Li.
- É maravilhoso querida. É... dá uma sensação de plenitude, de elevação. Eu me desligo do mundo quando danço.
-Você parece que aprendeu coisas incríveis na Índia.
Lisa a olha agora com um olhar mais distante, perdida nas lembranças do passado.
- Incríveis e maravilhosos... A Índia, seus ensinamentos, seu povo, trouxeram uma nova luz a minha existência. - Olha a jovem com um sorriso saudoso. - E esta luz me trouxe de volta a vida.
Mariana a olha agora mais séria.
- Eu... Li... quando fala assim quer dizer ...depois de perder a … Luiza?
- Luiza? Lu? Luiza foi minha vida, Mariana – Os belos olhos castanhos se iluminam. Um sorriso suave e ao mesmo tempo triste surge em seus lábios.
- Luiza foi minha vida... - repete agora mais baixinho – E quando ela partiu pensei ter perdido a ela e a minha vida. Corri o mundo buscando fugir desta realidade. - Olha Mari tranquila – Mas um dia percebi que Lu estava aqui – põe a mão sobre o coração – Em todo a plenitude de seu amor.
- Sabe Mari, muitas pessoas a achavam arrogante, antipática. Mas ela não era nada disso. Era linda, de um coração imenso. Preocupava-se com as pessoas , mas odiava que vissem isso. Foi o amor dela que curou as mágoas que eu tinha em meu coração.
Mariana permanece em silencio. Gostaria de perguntar que mágoas eram essas, por quais tristezas passara para desacreditar no amor. Mas sentia, sabia não ser esta a hora certa.
- Luiza me trouxe amor, alegria, a vida de volta. E hoje eu sei que não posso, não devo deixar toda esta herança, esse aprendizado de lado. Ela não merece menos que isso.
- Com isso quer dizer que... acredita que possa amar de novo?
Lisa sente o coração palpitar ao ouvir a frase da boca de Mari. Amar... amar novamente? Desliza o olhar pelo belo rosto de Mari e encara os belos olhos verdes. Eles estavam brilhantes, determinados... e ao mesmo tempo inocentes, ansiosos.
- Amar... sim... pode ser. O amor faz parte da vida. - Se esquiva de uma resposta mais pessoal.
- Lisa, falo do amor entre duas pessoas. Ter um... uma companheira, alguem para compartilhar a vida.
- Mari, eu tive essa companheira.
- Eu sei...mas... ah Li... nós seres humanos temos tanto amor para dar! - Olha loira suavemente – Sabe, eu acredito em almas afins. Sei que temos várias delas no plano físico.
- Plano físico querida? Você acredita nisso realmente?
- Acredito no plano físico e espiritual. Acredito em reencarnação e que aqui estamos para evoluir, reencontrar afetos e desafetos. Por isso existe a lei de causa e efeito. Por isso temos uso de nosso livre arbítrio.
- Me deixe entender. - Lisa caminha ate o sofá e senta-se. Mariana senta a sua frente. - Você é espirita.
- kardecista.
- Hum... e como chegou ao espiritismo?
- Eu nunca me adaptei ao catolicismo. Mãe até tentou, Carlos também. - Mariana sorri balançando a cabeça desalentada. - Eles nem são praticantes. Mas a verdade é que nunca me identifiquei com a Igreja Católica. Sempre queria mais, buscava respostas que ela não podia e não sabia me dar. Sempre ouvia... a resposta está na bíblia. - Faz careta imitando um padre – Leia a Bíblia! Mas nunca me davam respostas.
- Respostas de que?
- De tudo, Li – Mari a encara com os maravilhosos olhos verdes. - O porque de sentir um vazio tao grande em minha alma... tentar entender o que eu sentia, pressentia.
- Como assim pressentir? Você sente o que?
Lisa sente um calor imenso tomar conta de si quando percebe o olhar de Mariana escurecer e aprofundar nos seus. Parecia desvendar sua alma. E isso a incomodava.
- Pressentimento Li. Desde criança eu sabia que tinha um porque de estar aqui. Percebi cedo a missão que tinha e as pessoas que precisava ter a meu lado. Cresci e corri atrás de respostas para as certezas de meu coração. E achei-as no espiritismo.
- Não entendi a resposta Mari.
- Li... existem várias almas afins no mundo... mas apenas uma delas é a destinada a ser dona do seu coração. Eu sempre soube a minha.
- Eu... - Lisa, sentindo uma ansiedade inexplicável, projeta o corpo para frente, procurando se aproximar mais de Mariana. Esta não consegue evitar que o olhar desça para o generoso decote da loira, vislumbrando o colo maravilhoso.
- Explique melhor isso Mari.
- Eu.. eu – com um grande esforço Mari desvia a atenção dos seios de Li e procura novamente seu olhar. Os olhos verdes estavam escuros, cheios de desejo oculto. - Eu .. sempre que vejo … uma pessoa, tenho a sensação de predestinação. A certeza que ela é meu destino... minha alma gêmea.
Lisa se levanta num rompante, o corpo tenso, a expressão de rosto abalada.
- Eu... não acredito nisso. Não em almas gêmeas. Acredito no amor universal, na ligação com um ser maior.
- Mesmo Li? - Mari a olha quase suplicante – Tem certeza disso?
Lisa de costas para a jovem sussurra.
- Se acreditasse nisso poderia dizer que minha alma gêmea já não se encontra mais neste mundo...
Mari fecha os olhos entristecida.
- Li... sabe... - Se levanta e aproxima-se da loira tocando-a levemente no ombro – Na minha festa de quinze anos... quando conheci Lu...Luiza.... ela... eu a achei uma mulher fascinante. Ela não escondia como era feliz com você sabe. Eu vi o quanto estavam felizes e agradeci a Deus você tê-la a seu lado. Porque você merece.
Lisa olha a jovem de lado com um olhar terno. Segura com delicadeza a mão em seu ombro.
- Lu era especial Mari.
- Eu sei... eu... ela olhou pra mim na festa. Tinha um olhar... compreensivo, carinhoso. Acho que gostou de mim.
- Ela te achou linda Mari. E muito simpática.
- Foi mais do que isso Li... eu senti como se ela lesse minha alma. Ela me impressionou muito. Só pude desejar que vocês fossem muito felizes.

Mariana abaixa a cabeça e volta a memoria ao passado. Relembra a figura altiva de Luiza. Ninguém em sã consciência deixaria uma mulher como aquela...ainda mais tão apaixonada e apaixonante como era. Lisa estava tão feliz, tao de bem com a vida que tivera que conformar que seu destino não era aquele que sempre acreditara. Fecha os olhos e revê com a mente o olhar de Luiza para ela. Era um olhar de compreensão , até pena. Nada tirava de seu coração que ela percebera seu sentimento por Lisa. Mas sabia que, exatamente por causa deste sentimento, desejara a felicidade de ambas. E exatamente por tambem ter um sentimento parecido, Lu aceitara sua pessoa, tratando-a com carinho e consideração.
Mas o destino quando estava marcado, não podia ser modificado. Luiza tivera seu papel na vida de Lisa, um papel com certeza muito importante e do qual só Deus sabia. E agora chegou a vez dela ter seu papel neste destino. E lutaria contra tudo e todos para cumpri-lo.

- Então querida... Lu era meu amor... me completava, me compreendia.
Mariana abre os olhos.
- Verdade Li...ela te amava sim... demais. Mas se Deus a levou é porque já tinha cumprido sua missão entre nós. E não ia aceitar você chorar por ela para sempre.
- Não Mari, não ia aceitar. Mas ainda choro.
- Li... Li... somos seres em constante evolução. Temos várias vidas. Como tambem não termos muitos amores? Mas existe sempre uma alma, aquela que você percebe ser a sua predestinada. Que basta olhar nos olhos e sabe. Lisa é sério. Os olhos são o espelho da alma... isso é a mais pura verdade.
Lisa vira o corpo para Mari e a encara nos olhos. Seu coração palpita ao ler neles uma verdade que não aceita. Vira esta menina nascer. Estremece ao lembrar que ela mesma tivera a sensação de predestinação desde o primeiro momento em que tivera Mari nos braços.
- Mari eu.... acho que não quero mais continuar esta conversa. - E esfrega os dedos na testa.
- Li...
- Por favor... minha cabeça dói. Eu... também acredito em muitas coisas do espiritismo. Mas predestinação, essas coisas... acho irreal demais ok.
- Li... eu amo você.
Lisa a olha surpresa.
- Eu... também a amo Mari... você sempre foi minha princesinha.
- Para Li!!! Para com isso! Não sou aquela criança que faz questão de lembrar!
- Como não Mari? Eu a tive nos braços. Vi você nascer!
- Quantas vezes mais vai repetir isso? Quantas vezes? Eu sou uma alma imortal como a sua, Lisa. Porque Deus me trouxe a sua vida pelos braços de minha mãe eu não sei. Só sei que isso não me impedirá de lutar por aquela que sou destinada.
- Não entendo Mari... pare com isso. - Lisa se afasta esfregando ainda mais forte a mão na testa. - Meu Deus menina, você me angustia mais que a sua mãe
- Não sou minha mãe Li... sou uma mulher totalmente diferente dela. E a criança que um dia conheceu não mais existe.
-Você parece muito com sua mãe
- Diz isso fisicamente? Personalidade? Isso prova o quão pouco olhou para mim todos estes anos. Será que me enganei tanto Li? Você nunca me viu como pessoa? Será que estou tao errada assim? - Os olhos de Mari se enchem de lágrimas
- Eu não sou extensão de minha mãe. Não sou sua filha, nada. Porque teme tanto Li? Você voltou cheia de teorias lindas da Índia, mas ainda está arraigada na matéria e nos moldes de uma sociedade que nunca te amparou! Olhe para mim !! Para o que sou hoje! Não o ontem, nem o amanha. Sou o presente Li! E me orgulho do que sou.
- Meu Deus Mari. Jamais disse o contrario. Você consegue fazer com que um comentário se torne uma novela!
-Você quem teme a novela de sua vida Li. Puta merda Li! Eu sei que devia ter paciência, mas... eu sinto... sei que não posso esperar. Tenho urgência de você. Tenho urgência de não perder mais tempo.
- Eu não posso estar ouvindo isso. Não estou ouvindo nada disso. - E infantilmente tapa os ouvidos com as mãos.
Mariana olha a amada em desespero. Fora longe demais... longe demais. Olha a boca comprimida, os olhos fechados como a ignorar os últimos momentos. E num impulso segura-a mais forte e a beija. Um beijo tanto tempo reprimido. Um beijo por ela tão esperado. Lisa, surpresa, abre a boca. É suficiente para que Mariana aprofunde o beijo, forçando passagem entre seus dentes. Por um momento sente Lisa corresponder, até que esta, num grito desesperado, se solta de seus braços.
-Vá embora Mariana!!!
- Lisa... Li não faz isso! Por favor, eu... amo você Li.
- Vá embora!!!!
O grito surpreende tanto Mariana quanto Lisa. As duas se enfrentam com o olhar. Mari passa as mãos pelo cabelo e sussurra inconformada.
- Eu vou Li... mas vou voltar. Eu vou voltar.
Lisa observa a bela morena se retirar da casa. Geme angustiada e põe a mão sobre a boca. Mariana a beijara. Sua menina, aquela que vira crescer a beijara! Grita mais uma vez em angustia. Estava totalmente descontrolada. Ergue as mãos tremulas e percebe o poder que Mariana tinha sobre si. A criança de ontem era hoje uma mulher. Uma mulher determinada e impulsiva. E que a atraia muito.
- Senhor do céu... me ajude....
Toca de leve os lábios e recorda o gosto doce da língua de Mari. Nunca um beijo lhe fora tao tocante, tao perfeito. Suas bocas se encaixavam com perfeição.
Seu olhar se perde no vazio... não havia mais paz em seu coração. Mais uma vez o destino tomava a vida de sua mãos.

“Eu já não sou o que era: devo ser o que me tornei”
Gabrielle Bonheur Chanel

6 comentários:

  1. uaaaall..
    queixo caido..
    muito lindo..
    perfect..
    ain ain..
    ta quase acabando..
    e já vai dando angustia..=/
    ..
    Parabéns novamente Mistery..
    super bjo

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  2. Nusss de tirar o fô lego!!!1
    To sem ar até agora.
    Beijão Mistery.

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  3. Obrigada a todas pelos comentarios.
    :)

    Mts vezes damos mt atençao ao amor mas nao percebemos sua verdadeira essencia e plenitude.
    O amor ensina, o sofrimento engrandece. Mas quem teme, se encolhe, nao luta, prefere o caminho mais facil. E perde pelo caminho pessoas que sao vitais em sua vida.
    Outras preferem correr atras; viver e nao sobreviver.

    A Joyce representa a pessoa em seu limite, buscando sempre satisfaçao a si mesma, mas caminhando lado a lado com a sociedade. O sofrimento a acompanha sempre, pq abre mao de tudo para representar o papel que acredita ter sido imposto a ela. Ama, demais, sofre demais, teme demais. E anula todas as chances de ser feliz.

    Lisa representa a revolta branda. Aquela que tudo perde e compreende que a vida é efemera e que devemos lutar por nossa felicidade - ainda que por mts vezes tema o caminho. Contraditória, persegue ideais, teme por suas escolhas, mas persiste na sua luta interior e exterior em busca de algo que lhe preencha a vida

    Mari é a credula, protegida por seus ideais, sua certeza e crença interior. Aquela que acredita que basta amor para ser feliz. Seu sofrimento é interior, marcado pela aceitação. São as pessoas que mais sofrem na nossa existencia. Mas fortes e mts vezes intransigentes, nao abrem mão do que acreditam e podem fazer sofrer aqueles que nao lhes compreende.

    Todas tem suas qualidades e defeitos e merecem amar e serem amadas. Mas diferente do que Mari pensa, nós fazemos nosso destino. Ainda que Deus coloque em nossa existencia as almas afins, para que possamos cumprir a meta de evolução e sabedoria espiritual, somos nós que fazemos as escolhas e seguimos por caminhos inesperados.

    Bom, é minha opinião pessoal. Mas as personagens parecem ter vida propria e nunca sei o que poderá acontecer nas proximas linhas rsrs.

    Bjs a todas

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  4. Muito Bom!!!
    Quero mais...logo!!!!
    ; )

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