Páginas

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Capítulo IV

Lisa olha Mariana em choque. Como assim gosta de mulher? Como assim herdar? COMO ASSIM GOSTA DE MULHER??
- Gosta de … mulher?
Mari a olha agora mais angustiada
- Sim Li... eu... eu sempre as olho.
Lisa a olha quase indignada
- Como assim as olha?? Olha o que?
Assustada com o tom ligeiramente elevado e frio de Lisa, Mari tenta se justificar.
- Quer dizer... eu...olho sem maldade...eu... nem canto, não mexe...eu... - faz um gesto desalentado com a mão – Na verdade eu só olho achando bonito... mas sem vontade... - Olha Lisa em expectativa – Entendeu?
- Deixe eu tentar entender. - Lisa a olha arrogante e altiva - Você diz que gosta de mulher, olha para elas, mas não as deseja? - Esfrega a testa tensa – não acredito que estou tendo este papo com Você.
- Ah Li, para de me ver como a criança do passado! Eu cresci, dá pra entender isso? Eu trabalho, faço faculdade, paquero, namoro, faço tudo sozinha ok.
- Tudo! Tudo! E o tudo significa mais o que?
- Ah?
- Responde Mariana!!! Tudo é o que?
- Que isso Li! Nada a ver sua pergunta. Putz, nem falávamos sobre isso! Falávamos que vi minha mãe quase trepando numa mesa de bar e você quer saber se eu faço... tudo! - Olha Li surpresa – Pera... Tudo?? Você quer saber se eu transo com mulher?
Lisa a olha desconcertada. Transa? Sua Mari... transar com alguem? Se ergue do chão quase possessa.
-Você está transando com mulher???????
Mariana aproxima de Lisa quase encostando seu corpo ao dela. Lisa vagamente percebe que são praticamente da mesma altura. Diferente de Jô que é menor que ela.
- Você endoidou Lisa? Eu estou aqui falando de meu choque em ver minha mãe num bar com uma mulher, te conto que to apavorada porque também gosto de mulher e isso me assusta e você só sabe perguntar se estou transando??? E com uma mulher?
- Mari... Deus... olha, não tente me entender, apenas responde. Você esta … está... com alguem? - Faz gesto alentado com a mão – Está... transando? Homem? Mulher? Apenas responde!
Mariana balança a cabeça incrédula. Que loucura aquilo!
- Não Li... eu não transo, trepo o diabo a quatro com ninguém. Eu sou virgem tá legal. Satisfeita?
Lisa sente toda a tensão do corpo se esvair. Virgem... graças! Virgem... Olha Mari. Virgem...
Desliza o olhar sobre a jovem mulher a sua frente. Meu Deus! Ela era simplesmente linda demais. Como era virgem? Graças a Deus era virgem!!
Lisa esfrega a testa com força . Que confusão... que tensão. 'Droga Lisa que acontece com você?'
- Eu... desculpe Mari... Você... tem razão. Não sei porque fiz isso. Acho que estou surpresa... eu... bom. - Olha a outra procurando se mostrar calma – Você … se nunca ficou com uma mulher, como sabe que gosta delas Mari?
- Merda Li! Eu não disse que nunca fiquei! Apenas que não transei!
- Como é?? - Lisa se vira bruscamente para ela. 'Se controla Lisa!' - Você... ficou. Beijar, é isso né.
- É Li... tem um tempo já. Depois eu... bom... eu não quis continuar.
- E ela sim.
- E ela sim.
- Porque não quis continuar?
- Lisa isso vem ao caso? Cara, to me sentindo pressionada! Você está fazendo um interrogatório. Tá te incomodando é?
- Mari, que isso! Quero apenas te entender. Eu... ok, assumo que estou surpresa. Você é tao linda … tao... sei lá. Não consigo te ver assim.
- Lisa nem acredito que to ouvindo isso de Você!!! Você é lésbica! Você é linda! E Você tá sendo preconceituosa!
- Não sou preconceituosa! Eu sou lésbica! Estou é... sem ação. Surpresa. Ah, sei lá o que estou. Droga Mariana, eu sei como é difícil estas escolhas. Eu sei como as pessoas podem ser cruéis. É normal não desejar que passe por isso.
- Preferia que eu fosse como minha mãe??? Casar e trepar com mulheres por ai?
- Mari você está prejulgando sua mãe.
- Ah não! Só me falta você defender ela!
- Não estou defendendo ninguém. Só não acho certo você desrespeitar ou mesmo desmerecer sua mãe desta forma ok.
- Lisa me poupe! Que deu em você? Achei que ia me apoiar, tentar me entender.
- Eu entendo Mari! Mas... ah meu Deus, nem sei o que pensar. Você … como sabe que é lésbica? Nunca realmente ficou com uma para ter esta certeza!
- E você Li? Descobriu que gosta de mulher já trepando é isso?
- Mari, comece a me respeitar!
- Respeitar? E quem disse que não respeito? Estou é te tratando como mulher. De mulher para mulher! Da mesma forma que fala comigo, falo com você. O mesmo tom que usar usarei. Te respeito sim, mas falarei como igual. Não é porque temos alguns anos de diferença que isso muda.
- Eu vi Você nascer!
- E daí? Agora me vê mulher, adulta! Te incomoda eu ter crescido? Ser mulher agora?
- Que isso Mari! Só não consigo associar Você com a minha... minha... com a criança que vi crescer.
- Não é pra associar. Eu … sou esta que vê. Uma mulher Li... com sonhos, desejos, objetivos, tudo.
Lisa nesse momento percebe o quão perto estão uma da outra.
Mulher... sua Mari é uma mulher. Desliza os olhos para os seios da outra. Logo lhe vem a lembrança deles nus. Aperta as mãos para controlar a ânsia súbita que tem de tocá-los.
Mari sente o coração acelerar ao ver Lisa deslizar o olhar para seus seios. Percebe os olhos cor de âmbar escurecerem e solta um gemido baixo. É o suficiente para Lisa reagir. Esta afasta-se do corpo quente e suspira.
- Mari... acho que Você deve conversar com sua mãe. Esclarecer sobre o que viu.
- Ah sei. Tambem quer que fale que gosta de mulher e tal? - ' Porque estamos discutindo Lisa?'
- Quero apenas que você pense bastante nas escolhas que fará para sua vida.
- Lisa... deixa eu te clarear uma coisinha.
Mari se aproxima novamente, desta vez encostando seu corpo ao da loira.
- Você só está em minha vida a algumas horas. Sobrevivi bem a vida e às minhas escolhas sem seu achismo. Na boa, você quem deveria conversar com minha mãe. Até porque pelo que sei não são mais tao boas amigas né.
Caminha em direção a saída.
- Eu não preciso de orientação Lisa, preciso de alguem que me compreenda. Para me induzir ou mesmo conduzir a um caminho que sei que não me basta já tenho minha mãe. - Antes de sair olha para traz. - Bom ver você.

Lisa boquiaberta vê Mariana ir embora. Senta-se sem ação na cadeira e ali permanece por um bom tempo. Sua mente funcionava a mil por hora. Bate a mão sobre a mesa nervosa. A muito tempo alguem não conseguia deixa-la tao nervosa, ansiosa, tensa. Santa paciência! E ainda dizia não ter um gênio parecido com o da mãe! 'Aff... é muita informação em pouco tempo.' Mariana conseguira bagunçar sua vida em poucas horas. Imagina o que não é capaz de fazer com dias e meses!'
Ouve a porta se abrir e os pais adentrarem o ambiente.
- Uai Lisa, já levantou?
- Ei mãe, pai. - Levanta-se dando-lhes um beijo.- Na verdade nem deitei ainda. Mariana acabou de ir embora. Mas se não se importam vou descansar um pouco agora.
-Tudo bem filha. O almoço sairá mais tarde viu. Achei que Mari ia almoçar com a gente.
- Não mudem a rotina por mim. - Olha a mãe séria. - Falando em Mari como ela é geniosa hem mãe.
Paula olha a filha surpresa.
- Mari? Que isso filha! Mariana sempre foi ponderada, bem na dela..
- Bom, se você diz então tá.
- Não me diga que vocês se estranharam.
Lisa sorri divertida.
- Ok eu não digo.
Paula se senta perto da filha.
- Olha filha, se Mari ficou nervosa é porque deve estar sob pressão. Ela odeia imaginar que possa ter herdado o gênio da mãe.
- Bom... então despertei o pior dela.
- Que nada filha. Ela está com algum problema sério. Mas logo volta aqui e se desculpa. Ela te adora.
- Mudou tanto... - Lisa fala quase para si mesma – esperava encontrar uma adolescente não uma mulher feita.
- Mari cresceu rápido filha. Mas ainda é uma adolescente, com atitudes típicas da idade. Vai descobrir isso com o tempo. Agora vai deitar.- Dá um beijo no rosto da filha.

Mariana bate o pé ritmadamente na calçada enquanto espera o ônibus. Lisa é demais. Precisando de conselhos e ela vem dar moral, tirar satisfação. Que atitude estranha! Que raiva! Ergue os olhos para o céu bufando. Odiava quando lhe tiravam do sério.
Tambem o que ela queria? Que Lisa a visse como a mulher maravilha? A solução de todos os seus problemas? Respira fundo e segura o pescoço. Ela não parecera muito assustada com o fato de sua mãe ter estado com uma mulher. Indignada talvez, surpresa, mas não chocada. Isso significava que Lisa sabia mais de sua mãe que ela pensava.
Mariana começa a caminhar de um lado para o outro. Será que sua mãe também gostava de mulher e depois mudou de ideia? Mas e a existência dela? Não... sua mãe a teve com 16 anos. Gostava de homens. Mas a melhor amiga era lésbica. Será que brigaram porque não aceitava a melhor amiga ser lésbica? Do jeito que é preconceituosa com certeza. Mas depois do casamento infeliz pode ter pensado que com uma mulher acharia mais... prazer. Pode ser isso. Mas como Lisa saberia disso?
Bate o pé no chão. Odiava não ter as respostas. Respira fundo. Sempre fora paciente. Não era agora que iria mudar. Principalmente agora.
Li... nossa como ela era linda! Olhar para ela não cansava. Tudo nela era fascinante. Olha para trás e suspira. 'Merda. Deve estar pensando que sou uma criança. Tambem com a atitude que tive como não pensar.'
Senta na beira do passeio e põe a mão sobre o queixo. Não seria com atitudes como as que tivera que conquistaria Lisa. Conquistar... fecha os olhos triste. Como fazer Lisa a notar como mulher e não como a filha daquela que fora sua melhor amiga? Um carro buzina e alguns rapazes mexem com ela. 'Aff, como tem mulheres que tem paciência com essa raça?' Balança a cabeça enérgica e ignora ostensivamente o grupo. Aliviada vê o ônibus se aproximando e levanta.
Depois pensaria em Lisa e em tudo que passara. Agora era hora de confrontar sua mãe.

Joyce levanta tensa. Carlos já não se encontrava a seu lado. Saíra cedo. Um bom fim de semana. Caminha mal humorada pelo corredor, adentra a cozinha e começa a preparar um café. Estranhando o silencio vai em direção ao quarto dos filhos. Vazio. Suspirando procura algum bilhete que lhe responda onde se encontravam. Na sala acha o recado de Carlos.

Jô,
Os meninos pediram para ir para a casa de sua mãe. Não vi por que negar. Nos vemos a noite.


'Ok...ok. Os meninos vão para a casa da avó. E Você Carlos? Para onde está indo?'
Passa a mão nos cabelos bagunçados e senta-se à mesa saboreando o café fresquinho. Vê a porta se abrir e a filha adentrar a cozinha. Levanta-se um pouco tensa.
- Mariana! Que bom que chegou. Estou sozinha, os meninos estão com sua avó. Quer um café?
- Não mãe, obrigada. E o Carlos?
A mãe fecha a cara.
- Este não dou noticia. Mas deve estar no clube. Passou bem a noite na sua madrinha? Alias, da próxima vez que for poderia avisar mais cedo e não de ultima hora. Ainda tem mãe mocinha.
Mariana abre a boca para responder-lhe mal, mas ao encara-la emudece. Joyce estava pálida, com ar cansado. De repente toda a vontade de confrontá-la desaparece. Parecia tao...triste, deprimida. Uma necessidade de abraça-la surge e esquecendo todas suas angustias, Mariana a enlaça em seus braços.
-Tudo vai ficar bem mãe.
Joyce emocionada com o carinho inesperado da filha suspira e se aconchega nos braços queridos.
-Vai sim Mariana... tem que ficar.
As duas permanecem ali, abraçados em silencio. Cada uma perdida em seus pensamentos. Uma angustiada, triste... quase sem esperanças. Outra em expectativa, ansiosa. Cheia de esperança.
- Mãe... - Mari, sem saber exatamente o que dizer, fala a primeira coisa que lhe vem a cabeça – sabe quem voltou?
- Não filha. - Jô a olha cansada.
- Lisa.
- Como? Quem?
- Lisa, mãe.
Mariana observa o semblante da mãe modificar. Onde antes havia desanimo surge uma nova energia. Os olhos, antes apagados, ganham nova luz. Sem entender bem o porque, sente seu coração se oprimir.
- Parece ter gostado da noticia – diz fria
- Lisa voltou...
- Mãe... ela é minha amiga. Não vai causar confusão.
- Não somos mais inimigas filha. Eu mudei! Eu... preciso ir vê-la não acha?
- Como é?
- Vou tomar um banho e visita-la. Eu... Nossa senhora. Ela deve ter muitas coisas para contar. Vá se arrumar. Vamos lá vê-la.
- Mãe acabei de vir de lá. Não vou voltar.
- Então vou só.
- Mãe!! Para! Ela chegou hoje! Ela tá descansando!
- Isso nunca foi problema entre nós. Vou tomar banho.
Mariana vê a mãe sair agitada da cozinha.
- Droga! Sozinha que você não vai!

O telefone toca surpreendendo Mariana
- Oi Mari, passou bem a noite?
- Carlos? Tudo bem foi ótima. Quer falar com mãe?
- Por favor
Mariana bate a porta do banheiro
- Carlos no tel!
Joyce surge enrolada na toalha.
- Que hora para ligar! Oi Carlos.
- Jô, eu estou aqui em sua mãe com os meninos e estávamos pensando em ir a Ouro Preto dar uma volta. Vamos?
- Mas... Ouro Preto?
- Sim... chama Mariana também. - Carlos abaixa o tom da voz – Jô... sua mãe e seu padrasto não parecem muito bem. Acho que ela precisa conversar e lá vocês terão sossego enquanto passeio com os meninos. Vamos lá. Sabe o quanto gosto dela.
- Puta que pariu... Jô diz baixinho. - Tudo bem Carlos... vem me buscar em... 30 minutos?
- Combinado.
Jô desliga o telefone frustrada e olha Mariana.
- Carlos está nos chamando para ir a Ouro preto. Não posso deixar de ir. Vamos?
Sentindo um alivio imenso e inexplicável Mariana responde.
- Passo essa mãe. Prefiro estudar um pouco.
- Ok... bom, deixa eu tomar banho. - Aborrecida começa a fechar a porta do banheiro.
- Ah... mãe!
- Oi.
- Onde você foi ontem?
Jô olha surpreendida e um pouco assustada para a filha
- Por que quer saber?
Mariana a olha fixadamente.
- É que ontem acompanhei uns amigos num barzinho no centro e... vi uma mulher parecida com você numa mesa. Quando tava pensando em levantar e cumprimentar foi embora.
Joyce tenta manter a expressão neutra.
- Barzinho? Não... não era eu. Fui para a casa de umas amigas jogar conversa fora e desanuviar a mente. Sabe como é. Um bom vinho, conversar abobrinhas... rir bastante. Nada de sair na noite. Mas... que bar era esse?
Mariana desvia o olhar do da mãe.
- Um barzinho que é ponto de encontro da galera da UFMG. No alto da Contorno. Bom, eu também vou tomar um banho e estudar. Bom passeio.
Vira as costas e sai em direção ao quarto. Joyce acompanha a filha com o olhar. Devagar fecha a porta do banheiro e encosta na mesma. O coração quase saia pela boca. 'Meu Deus, ela percebeu algo. Ela viu algo. Conheço Mariana.' Passa a mão na testa. Estava suando. Cerra os dentes controlando a vontade de gritar. ' Merda, merda. Que merda!! Preciso falar com Juliana... e Lisa!! Lisa pode me ajudar!' respira fundo tentando se controlar. 'Calma Jô... ela não viu nada....só desconfia, mas você resolve. Vamos tomar banho e depois pensa nisso. Depois pensa nisso...'

“Porque há o direito ao grito.
então eu grito.”
Clarice Lispector

4 comentários:

  1. Nossa mistery demoro mais volto pra tira o fôlego hem?
    Amando cada capitulo.
    Beijão.

    ResponderExcluir
  2. Nossaaa.. quem bom q vc voltouu =p
    Tenho loucura por esse contoo... Parabéns!
    Beeijos

    ResponderExcluir
  3. estou adorando esta historia...
    bjos

    ResponderExcluir
  4. Missssssssstery...
    poxa q tenso..
    nenhum beijo..bua..
    rsrs,,..
    brincadeira..ta maravilhosoo...
    super beijo..

    ResponderExcluir