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quinta-feira, 7 de maio de 2009

Capítulo III

Deise caminhava lentamente pelos corredores da clínica. Sentia uma dor constante na mão depois dos exercícios de fisioterapia. Percebe passos próximos e abaixa o rosto de forma que os longos cabelos ruivos escondessem seu rosto marejado de lágrimas.
Lisa diminui os passos ao notar a jovem a sua frente. Nunca a vira na clínica, mas pela sua postura e a forma que segurava a mão esquerda notava-se que estava tomada pela dor.
- Olá, você está bem? Pergunta de forma profissional, mas delicada. Deise olha a bela loira vestida com um jaleco que parara a seu lado.
- Eu... doutora... tá tudo bem... eu...é que é minha primeira semana e eu... – Deise não suporta mais se controlar e cai num choro compulsivo. Instintivamente Lisa a abraça acariciando os longos fios ruivos e dizendo palavras de consolo.
- Calma logo tudo vai melhorar você vai ver.
- Desculpe, desculpe... dói tanto. Meu Deus como dói.
- Eu sei... mas é preciso ser forte. Vai tudo dar certo, mas precisa persistência.
Aos poucos Deise se acalma e afasta-se constrangida. A dor em sua mão parecia cada vez mais forte e latejante e para ajudar agora se misturava com a vergonha de cair nos braços de uma desconhecida.
- Tomou o remédio prescrito? Deise a olha mais atentamente. A mulher sabia como eram os procedimentos da clinica. Volta o olhar para o bolso do jaleco que ela usava. Dr°. Lisa... mais uma torturadora.
- Eu... sim... eu faço tudo conforme mandam aqui na clinica tortura
Lisa ri alto. A jovem apesar da dor conseguia ser espirituosa. Muito bom. Atitude uma pessoa lutadora, que não desiste facilmente.
- É seu primeiro dia?
- Não... terceiro. Mas parece pior que o primeiro. Deise torce o nariz. – Bom... tenho que ir. Obrigada por se preocupar.
- Tudo bem. Verá com o tempo que cada esforço vale à pena.
Vê a jovem se afastar ainda segurando a mão. Nova ainda, não deve ter vinte anos. Sorri sozinha ao lembrar o rostinho de menina. ‘Sardas... combinam com o tipo dela... delicada, suave e tímida’. Ao chegar à sala se surpreende ao ver uma bela morena observando os livros de sua estante.
- Pois não? Lisa se surpreende com o rosto forte da visitante. Morena clara, ligeiramente bronzeada de sol, olhos grandes, escuros e amendoados e uma linda covinha no queixo. Não tinha uma beleza clássica, mas o conjunto de traços irregulares dava-lhe uma beleza única. Seu porte elegante e um olhar arrogante completavam a sua pessoa que ajudada pela altura intimidava as pessoas.
- Olá, meu nome é Luiza. A voz forte e grossa ressoa na pequena sala. Sou a nova medica especialista em distúrbios da dor.
- Verdade! Soube que chegaria hoje. Aperta a mão que a outra estendia e sorri educadamente.
- Espero que possamos trabalhar bem juntas... Lisa. E faz um ligeiro movimento com a cabeça atestando que soubera seu nome porque o vira escrito em sua roupa. Isso a intimida. Quem ela pensa que é? Que arrogância é essa?
- Com certeza que sim.
- Conto mesmo com sua ajuda. Desta vez sorri mais simpática. - Sinto-me como no meu primeiro dia de emprego. Aponta os livros. - Ótima coleção, espero que empreste alguns. Dizendo isso caminha rapidamente para a porta e se retira fazendo um ligeiro aceno.
Lisa não o retribui. Fica ali parada meio assustada com sua insegurança, meio revoltada com a arrogância da outra. Passa a mão na testa. ‘ Vejo problemas ali’.

Luiza caminha lentamente pelo corredor. ‘Uau que loira!’. Sabia que não fora nada simpática, mas quando a vira entrar na sala sentiu um deslumbre tão grande, um choque de reconhecimento tão maravilhoso que se desconcentrara totalmente sobre os motivos que fora procurá-la. Põe a mão sobre o coração.
- Achei você... achei você. Diz baixinho suspirando profundamente – Achei você... Lisa.

A semana passa rápido. Luiza rapidamente se adaptara a equipe da clinica e Lisa a cada dia se surpreendia mais com a competência profissional da outra apesar de manter uma distancia segura de sua pessoa. Não só isso. Diferente de sua primeira impressão a medica não era nada arrogante... ao menos com os pacientes. Firme, decidida e porque não dizer manipuladora, deixava os pacientes tranqüilos e confiantes na recuperação.
- Boa tarde Lisa, procurava mesmo por você. Gostaria de sua opinião sobre uma paciente. Luiza segurava uma ficha na mão.
- Claro, venha a minha sala.
Já em posse da ficha da paciente vê que esta fazia um tratamento para recuperar os movimentos da mão após um acidente de carro.
- Hum... rompeu os tendões de três dedos.
- Exato. O problema é que a jovem tem pouca resistência a dor. Estou pensando em amenizar isso com bloqueios nervosos. Qual sua opinião?
- Bem, nesse caso, diz Lisa ainda lendo o relatório, acho o procedimento mais correto. Pode levar a abolição temporária ou permanente da dor tornando todo o tratamento mais produtivo e os resultados mais satisfatórios. Levanta os olhos e encara a médica. -  Há quantos dias que... olha novamente o relatório para ver o nome da paciente, Deise está em fisioterapia?
- Começou a duas semanas, mas os resultados, como vê, foram insignificantes.
- Jorge que te encaminhou ela? Jorge era outro fisioterapeuta da clinica e excelente colega de trabalho. - Exato. Já conversei com ele que sugeriu também uma terceira opinião. No caso a sua.
- Tudo bem. Lisa se levanta. - Encaminhe a paciente a mim e te confirmo minha opinião.
- Ok. Luiza se levanta tranquilamente. Até mais ver Lisa.
- Luiza!
- Pois não. A morena olha para trás ao chamado da Loira.
- Queria lhe agradecer e pedir desculpas.
- Por?
- Agradecer por pedir minha opinião em um caso que sei que tem total competência de decisão. E desculpas por deixar que minha primeira impressão prejudicasse nosso convívio. Achei - a arrogante e hoje vejo o quanto estava errada. A médica sorri irônica.
- Você não me conhece Lisa. Sou arrogante sim, reconheço e lido bem com isso. Mas também sei reconhecer que um bom trabalho se faz em equipe. Quero dar meu melhor sem margem para erros. Por isso a procurei.
- Não é o que vejo em suas atitudes com os pacientes.
- Eles são o meu sustento e a minha propaganda. Bom, obrigada por seu tempo.
Lisa observa a medica sair sentindo que algo de estranho permanecera no ar. Que mulher estranha... que médica competente. Que pessoa difícil, que... perfume fascinante... pensa respirando profundamente e inalando essa essência que sem ela perceber começa a dominar seus sentidos.
A tarde passa rapidamente. Lisa já descabelada de tanto passar as mãos nos cabelos levanta os olhos às primeiras batidas na porta.
- Entra, diz impaciente
Deise intimidada pelo tom da fisioterapeuta caminha ligeiramente até a mesa.
- Boa tarde... sou Deise e a Doutora Luiza me encaminhou a você. Lisa observa há jovem um pouco surpresa. Não associara a ruiva do corredor ao relatório que lera.
- Claro. Sente-se. Procura pela mesa o relatório da jovem que Luiza deixara ali. Abre-o ligeiramente. Deise Vasconcelos. 25 anos. Tudo isso??? Levanta rapidamente os olhos e os abaixa novamente. Cara de ninfeta. Ouve um suspiro. Jeito de ninfeta. Levanta novamente o olhar e a jovem está lhe franzindo o nariz meio em desdém. É uma ninfeta! Pensa ligeiramente irritada.
- Gostaria de examinar melhor sua mão. Pode se sentar naquela mesa?
Uma hora depois com o relatório sobre sua mesa Lisa sorri deliciada. Folheia-o distraidamente relembrando flashes da conversa com Deise. Que rosto lindo, um sorriso infantil com dentes ligeiramente tortos que lhe dá um ar brejeiro. Não gosta de envolver trabalho com sua vida pessoal mas a jovem a encantara. Sim... ela valia a pena. Fecha o relatório. Amanha daria seu parecer a Luiza. Era hora de ir para casa.

Mariana olha o envelope em suas mãos. Passa os dedos ligeiramente sobre o nome escrito... Lisa. Sorri delicada, os olhos verdes iluminados por uma luz que vinha da alma. Ela tinha certeza que Lisa viria a sua festa de 15 anos. Nunca esquecera a força de seu olhar, as cartas carinhosas que ela sempre lhe escrevia, os abraços aconchegantes que ela sempre lhe dava quando ia visitar a madrinha Paula. Levanta os olhos do envelope ao ouvir a porta bater. Sua família entra espalhafatosa e agitada como sempre enchendo todo o ambiente da casa. Com um suspiro conformado, calmamente Mariana guarda os envelopes na caixa.
- Mariana? Já preencheu todos os convites?
- Sim mãe. Acabei de fazer o ultimo.
- Quer que eu ponha no correio para você?
Mariana, desatenta, observa os irmãos brigarem por causa de um chocolate no meio da sala e ri ao ver o padrasto desajeitado tentar lhes separar.
- Mariana!! Assusta com os estalos frente a seu rosto. - Falei com você.
- Desculpe mãe. Que disse mesmo?
- Eu disse, quer que eu ponha no correio para você? Repete Joyce já mexendo na caixa.
- Não. Mãe... eu mesmo faço isso. Diz tentando lhe impedir de mexer nos envelopes.
Joyce observa o nome sobre o ultimo envelope da pilha e sente o coração gelar.
- Pelo que vejo não vai me atender e chamar mesmo ela a sua festa.
- Ela tem nome mãe. Se chama Lisa e um dia foi sua melhor amiga. Joyce altera a voz
- Foi, disse bem!! Não a quero na festa Mariana, já disse.
- Mãe, ela é filha de meus padrinhos e só tenho lindas recordações dela. Nunca esqueceu meus aniversários e só não esteve mais presente por causa dessa rixa estúpida de vocês. Não tenho nada com isso e ela será chamada. Mariana responde em um tom ainda mais alto.
Os gêmeos param empolgados. A briga entre elas prometia ser mais emocionante que a deles. Carlos seu padrasto a muito desaparecera em direção ao quarto.
Joyce encara a filha em silencio. Como lhe dizer que não quer ver Lisa? Que sua presença pode desenterrar fatos que ela quer deixar no passado? Num rompante vira as costas para a filha e caminha para fora da sala batendo a porta com força. Mariana observa-lhe a saída e passa a mão nos cabelos curtos arrepiando-os ainda mais. Sorri divertida ao ver a decepção dos irmãos com a saída intempestiva da mãe. Até parece que não a conheciam. Com certeza aquilo não terminaria ali. Pega a caixa e coloca-à frente ao corpo. Nada como se prevenir, pensa despedindo-se dos gêmeos e caminhando em direção a seu quarto.  

“Semeia um pensamento e colherás um desejo; semeia um desejo e colherás a ação; semeia a ação e colherás um hábito; semeia o hábito e colherás o caráter.”
(Tihamer Toth)

4 comentários:

  1. Ola tudo bem?
    Você não me conhece mais a um tempo eu venho acombanhado o seu blog e esto adorando cada capitulo.
    Gostaria de saber se eu poderia add vc no msn?
    Você escreve muito bem, esta de parabéns.
    Beijos.

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  2. wow! esse reencontro promete. pensei que a joyce, com o passar dos anos, não se sentisse tão afetada pela lisa. mas pelo visto as feridas dela ainda continuam abertas.
    beijo
    ^^

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  3. aeeee, mais um capitulo. \o/
    nossa! o conto esta ficando cada vez mais cativante.

    bjoo

    o/

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  4. T-U-D-O D-E B-O-M AMOR!
    Tive o privilégio de 'aprovar' esse capítulo pra ser postado e nao tenho duvidas do seu talento!
    TE AMO DEMAIS linda esposa

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