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sexta-feira, 29 de maio de 2009

Capítulo V

Deise observa Lisa ao volante. Dirigia com segurança no caos da cidade. Recosta-se buscando uma posição mais confortável no banco do carro e suspira profundamente.
- Cansada?
- Ah? Não... sei lá. Acho que saudosa. Tenho saudade da minha vida.
- Garota, quem te ouve acha que esta aqui há séculos e não há poucas semanas.
- Para mim parecem séculos. Deise suspira de novo. – Tenho saudade dos meus amigos, da faculdade, de tudo
- O que estuda?
- Direito. Na verdade sou formada. Tenho curso de letras, mas estou investindo em Direito porque dá mais opções de carreira. Lisa a olha de esguelha.
- Na minha opinião, devemos investir no que gostamos. A vida é muito longa para nos dedicarmos ao que não gostamos
- Ah, mas eu curto Direito... acho. Sorri lhe lançando um olhar mais serio. – Na verdade meu pai é advogado.
- Ah, agora entendi.
- Pois é. Sabe... Lisa – observa a loira quando a chama pelo nome, mas esta parece não se importar. – O que gosto realmente é de musica. Adoro! Toco violão, guitarra, um pouco de piano... e canto também.
- Então porque não investe Deise? Não posso deixar de comentar, mas seu rosto se transforma quando fala em musica. Você ilumina. Deise observa o transito.
- Vira agora à direita Lisa. É aquela casa amarela.
- Aquilo é uma pousada? Parece mais uma residência.
- Verdade... bonita né... – fala sem animo. Lisa para o carro em frente à pousada e vira-se no banco de frente para a ruiva.
- Parece desanimada.
- Tava pensando no que disse. Adoro mesmo musica, mas... preciso pensar no futuro... sei lá... musica é para poucos. – Faz um gesto desalentado com a mão machucada. Lisa lhe acompanha o movimento satisfeita. Ela não podia notar, mas a cada dia seus movimentos com a mão machucada se tornavam mais naturais e inconscientes. Sinal que a dor já não incomodava tanto e que a recuperação estava já quase que totalizada.
- Quando se tem perseverança chegamos a qualquer lugar. – Lisa a olha firme. – arrisque enquanto é jovem Deise. Deise séria, a observa com os olhos mais brilhantes.
- Gostaria de entrar um pouco? Só um pouco. Lisa a olha. Ela parecia solitária, um pouco triste.
- Claro... mas será que aqui serve jantar? Confesso que tenho fome. Sorri um pouco sem graça.
- Oferece sim. É só pedir. Aqui é cheio de folhetos de pronta entrega de comida. – franze o nariz brincando numa pose arrogante. Rindo as duas entram na pousada e caminham em direção a recepção onde fazem o pedido de um jantar japonês. Já no quarto da jovem Lisa observa um violão perto da cama.
- Está mesmo treinando com o violão? Deise observa o instrumento um pouco desalentada. O pega nas mãos e o manuseia pensativa. - Ele é lindo né. Olha aqui. – Com um gesto pede à loira que se aproxime. - Tá vendo aqui? É uma assinatura do Caetano Veloso.
- Uau! Como conseguiu? Deise a olha sorridente.
- É mais que conseguir Lisa. Este violão pertenceu mesmo a ele. Meu pai que conseguiu. Foi num show que teve em Floripa. Chique né.
- Demais. Apesar de que não curto muito Caetano.
- Nem eu. – as duas riem – mas é gostoso dar uma esnobada com ele. Sem falar que o som dele é excelente. Quando meu pai me deu nem acreditei.
- Seu pai também toca?
- Toca sim... aliás tocava. Tem muitos anos que ele deixou o violão de lado. – Deise se senta na cama e coloca o violão no colo. Desliza as mãos suavemente no instrumento musical como que a acariciar um amante e sorri. Um sorriso distante e nostálgico.
Lisa sem querer interromper aquele momento tão dela a observa silenciosa. Seus olhos acompanham o deslizar da pequena mão sobre o instrumento e sente uma quentura no seu estomago. Como seria aquela mão deslizar sobre seu corpo? Deise posiciona o instrumento e lentamente começa a tocá-lo. Lisa se impressiona. Percebe a dificuldade da jovem em tocar algumas notas, mas nada que obscureça seu talento com as cordas. E quando sua voz se eleva acima das notas musicais Lisa põe a mão sobre o coração e senta-se ao lado da ruiva na cama. Que voz!!! Que era aquilo? Como uma voz tão forte e harmoniosa podia sair de alguém tão delicada?
Deise a observa enquanto canta e sorri levemente ao perceber o espanto da loira. Já estava acostumada à surpresa das pessoas quando cantava. Com uma leveza impressionante começa a tocar uma nova musica com os olhos fixos na outra

Porque foste na vida 
A última esperança 
Encontrar-te me fez criança 
Porque já eras minha 
Sem eu saber sequer 
Porque és minha mulher 
Minha mulher 
Porque tu me chegaste 
Sem me dizer que vinhas 
E tuas mãos foram minhas com calma 
Porque foste em minh'alma 
Como um amanhecer 
Porque foste o que tinha de ser 

Lisa a olha surpresa. Conhece a musica (Que tinha de ser - Elis Regina) e percebe claramente a mudança que a jovem fizera na letra. Deise a olha fixadamente e vendo que ela percebera sua jogada sorri suavemente.
- Gosto mais da letra assim. – diz a observando atentamente. Lisa respira fundo. Jamais esperara por aquilo. Esfrega a testa nervosa e tenta se levantar quando sente uma mão a segurar pelo braço.
- Não vou te fazer nada... desculpe. – diz Deise ansiosa ao ver o pânico no rosto da loira. Tudo que queria era testar, ver a reação dela diante da sua atitude. Não esperava realmente aquela expressão de choque. – Eu... eu tava brincando. Não me leve a mal, por favor.
Lisa a olha atenta e ofegante. Isso era muita tentação. Seu olhar se desvia para os lábios rosados da ruiva. Suaves... Ergue os olhos um pouco mais e repara como as sardas estavam mais marcantes por causa da vermelhidão no rosto.
- Deise... As batidas na porta interrompem o que Lisa ia falar. Deise se ergue da cama e furiosa abre a porta tentando se controlar para não agredir o jovem que interrompera um momento que ela sabia não ter volta.
- Que é? O rapaz da entrega, um pouco assustado com a recepção educada responde cauteloso.
- Entrega de jantar...
- Hã... ok... pera. Nesse momento, Lisa se ergue da cama, pega a bolsa e caminha em direção à porta para pânico da ruiva.
- Você não pode ir embora! Deise se põe à frente de Lisa sem perceber que elevara a voz. Assustada a loira a olha.
- Calma Deise, só vou pagar o rapaz. Desvia-se da outra e com um sorriso meio sem graça paga o rapaz que as observa assustado.
- Tá tudo bem dona?
- Está sim... obrigado. – Agradece fechando a porta. Caminha em direção à ruiva que ainda segura os pratos embalados nas mãos e calmamente os pega, levando-os à mesa. Deise, ainda sem graça com sua atitude intempestiva, tenta se justificar.
- Desculpe, eu... achei que ia embora... eu... por causa da musica. Eu... eu nem pensei. Desculpa... não farei de novo prometo. É que to tão sozinha sei lá. – desajeitada, ainda tentando se justificar vê a loira caminhar lentamente em sua direção. Esta lhe segura o braço com delicadeza e a puxa para a mesa.
- Vem Deise... vem jantar. As duas jantam em silêncio. Lisa sempre observando a postura de Deise e esta cada vez mais constrangida tentando comer... comer o que? Olha para o prato. Ah, comida japonesa é isso. Suspira e põe outra porção da comida na boca. Sentia-se um ET diante do olhar da loira.
- Não está bom? – Deise se assusta com a pergunta.
- Hã? Ah, tá sim... é que to meio sem fome é isso. – Observa o prato de Lisa já vazio. A olha nos olhos
- Esqueci das bebidas né. Acho que tem suco no frigobar pera. Ao tentar se erguer é segura pelo braço.
- Não precisa Deise. Não tomo líquidos enquanto como.
- Eu também não... bom... já to satisfeita. Você quer... ver televisão? Lisa sorri divertida. Agora que passara o primeiro momento de choque se divertia vendo a insegurança da outra diante da própria situação que criara.
- Não Deise... não quero ver televisão...quero que me explique porque mudou a letra da musica.
Deise, nesse momento, sente vontade de se matar. Literalmente. Maldita impulsividade. E agora?
- Eu... bom... sempre brinco de mudar as letras da musica. – Novamente se ergue para sair da mesa e desta vez não é impedida pela loira. Começa a recolher os vasilhames - Vou ligar pedindo para virem buscar o que sobrou. Caminha ate o telefone, mas antes que o erga sente vê uma mão pousar sobre a sua. Levanta os olhos cautelosos ainda a tempo de ver a boca suave descendo suavemente em direção a seus lábios. Fecha os olhos, o coração a bater descompassado. Sente a língua da loira a forçar passagem entre seus lábios e os abre. 
Lisa a segura delicadamente pela cintura e percebendo que a ruiva lhe corresponde aprofunda ainda mais o beijo. Ouve um gemido suave e desce as mãos aos quadris estreitos apertando-os. Devagar para o beijo e se afasta. Deise mantinha os olhos fechados e a boca entreaberta. Sorri e, ainda olhando seu rosto, toca-lhe o bico do seio que se evidenciava na blusa. Deise arregala os olhos e suspira. Lisa sorri  com desejo e aperta o monte suave beliscando lhe o bico do seio, fazendo-a gemer mais uma vez. É o suficiente para que Lisa novamente a puxe para si e lhe de outro beijo, mais sedento que o anterior. Volta-lhe a apertar o quadril acariciando-o lasciva, insinuando os joelhos entre suas pernas. O beijo se torna profundo. Deise geme baixinho. E abraça Lisa com força. É quando sente uma dor aguda na mão.
- Aiiii
Lisa assustada interrompe o beijo e se afasta.
- Que foi... Deise??
- Minha mão... nossa como dói. – a ruiva segura mão com força tentando controlar a vontade de gritar.
- Calma... Lisa a encaminha para a cama onde sentam. – Foi só um mau jeito. Logo a dor passa.
O silencio impera no quarto, as duas perdidas em seus próprios pensamentos. Deise após alguns minutos e já sem dor a olha timidamente.
- Lisa... eu... Tá tudo bem?
- Deise me responda com sinceridade. Você é lésbica?
Com o rosto vermelho e sem saber onde colocar a cara Deise abaixa o olhar.
- Eu... bom... não sei... nunca tive nada com mulher.
- Como assim nada? –Lisa se levanta assustada. – Você praticamente me cantou!! Pediu o beijo!
- Tá doutora, mas não precisa jogar isso na cara né!! Quer me matar de vergonha? Credo! – balança a cabeça constrangida - Eu... bom eu sempre tive atração por mulheres, é isso. Mas nunca tive coragem de arriscar.
- Deixe-me entender... você é bi?
- Sou? Sei lá... você tá querendo respostas que nem eu sei.
- Você curte homens?
- Curto... quer dizer... não desgosto deles. Eu... mas também curto a beleza feminina. Lisa eu sou confusa! Eu nunca tive mulher... não sei por que com você me abri... Você me passa uma segurança, uma confiança. Desculpa mas... poxa, eu adorei o beijo... eu ...eu ...quero mais... Lisa, eu quero mais.
- Tenho que ir. – Lisa pega a bolsa e caminha rapidamente para a porta.
- Lisa... desculpa... por favor. Não vai não. Eu preciso de você. Lisa... A porta se fecha com estrondo. Deise sente um vazio tomar conta de si e suspira angustiada. Onde estava com a cabeça? Toca os lábios e geme baixinho. Bi? Bissexual? Balança a cabeça em negativa. Isso não existe. Ou é lésbica ou não é. Ou é hetero ou não é. Simples assim. Olha a mão que ainda segura firme com a outra. Solta-a revoltada. ‘Maldita mão’
 Lisa dirige em direção ao centro pensativa. Que fim de noite! Para no sinal vermelho e deixa a mente vagar para os últimos acontecimentos. Sua própria atitude a surpreendera. Normalmente não deixaria a oportunidade de ter uma bela mulher passar. Mas sem saber bem porque, refreara seu desejo quando percebeu a insegurança da ruiva e sua inexperiência com mulheres. Suspira e ao som de uma buzina acelera o carro. Bissexual... já tivera algumas... tudo muito natural e sem compromisso. Mas Deise tinha algo de ingênuo, carente que lhe tocara o coração. ‘ Lisa... você esta amolecendo.’ Respira ruidosamente ‘Só me faltava essa. ’

 “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.”
Vinícius de Moraes

9 comentários:

  1. Uau, adorei o capitulo, esta ficando cada vez mais interessante. e espertando ansiosa o proximo.

    o/

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  2. Idem a mensagem de Vínicius.

    Mas são esses desencontros qu emuitas vezes nos levam a lugares que no sfazem muito bem.

    Lindo o texto.

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  3. Nossa muito bom mesmo obrigada!

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  4. Nossa!! Não demore a postar não! Tá muito bom... vc escreve maravilhosamente bem! Parabéns!

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  5. Muiiiito bom... Mas não demora não!! Tá causando uma expectativa que vc nem acredita!!! Tô doida pra ver o desenrolar desta história!!

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  6. nossa...mt bom seu conto...
    pensa q eu li ele inteirnho em 1 só dia....
    rsrs
    é q eu comecei a ler, ai queria saber td
    ai fui lendo lendo e lendo q quando dei por conta, ja tinha acabado de ler todos os capitulos postados....adorei
    e espero q possa terminar rapido q queroo mt saber o fim dessa historia, e tbm quero um novo conto..
    adoooorei..
    bjOoOoO

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  7. eih, o que ta acontecendo nem vc nem a Bruh posta mais o resto do conto poxa....
    to tao tisti e a unica coisa q me alegra sao os contos de voces, masi nao estao sendo postados....buabuabua..
    bjao

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  8. hhhhhhhhhaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh..................termina o conto poxa...
    todo dia eu entro e num tem nova postagem....
    ta dando afliçao ja....
    POXA CONTINUA VAI.....
    bjao

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  9. ah...
    e o conto...
    num vai terminar?
    poxa...
    ando tao triste..e seu conto sempre me ajuda...
    volta a escrever vai..
    bj

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