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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Capítulo XXVI – Final da 1º parte (Traição)

O sábado começou triste para ambas, Lisa e Joyce. Joyce, sem ânimo para sair, observava a mãe se arrumar para passar o dia num clube local. Voltou o olhar para Mariana que tentava ler as palavras no jornal, rindo dos próprios sons que fazia. Tinha tanto! Por que então se sentia tão derrotada? Porque faltava Lisa, concluiu colocando os cotovelos sobre a mesa. Novamente olhou a mãe que já estava pronta para sair. Nada fora comentado entre elas sobre a noite passada. Melhor assim.

Lisa arrumava-se devagar. Escolhe aleatoriamente uma blusa para usar com o jeans sem se preocupar em colocar um sutiã. Sabia que tinha que tomar uma atitude, ver Joyce. Tentava inconscientemente adiar o confronto de ambas. Estranhou que não chorara. Sentia uma ansiedade enorme, uma imensa angustia pelo que podia acontecer, mas não sentia vontade de chorar. Queria ouvir o que Joyce iria dizer para justificar o que vira no bar, ao mesmo tempo, porém, sentia raiva. Muita raiva. Como se todo sofrimento pelo qual passara tivesse sido em vão.
- Bom dia, mãe.
- Bom dia, Lisa. Tudo bem?
- Não mãe, mas vai ficar - sorriu tristemente dando-lhe um beijo no rosto e caminhando em direção à porta da rua.
- Não vai tomar café, Lisa?
- Não mãe, to sem fome. Vou... resolver algo que to adiando há muito tempo. Abriu a porta e, antes de sair, virou-se para a mulher mais velha. - Mãe... Eu sei que ainda não lhe disse, mas... Obrigada. Eu amo muito você.

A campainha tocou e Joyce se ergueu lentamente. Sabia, na verdade, sentia ser Lisa. Abriu a porta e as duas se encararam. Em ambas, uma postura de sofrimento e angustia. O amor aflorou dentro delas e uma ânsia de se tocarem se faz presente. Então a loira, vencendo este sentimento, cortou o contato visual e se abaixou para beijar Mariana, que lhe sorria.
- Olá Mari, que saudades!
Jô observou Lisa abraçar sua filha com carinho e sentiu um aperto no coração. Precisava ser forte. Pediu à filha que fosse para o quarto. Mariana relutou, como a querer impedir a conversa, mas se retirou, não sem antes olhar para trás. Os olhos verdes se encontraram com os de mel e Lisa lhe sorriu tranqüila, com um olhar doce. Não importava o que pudesse acontecer, elas nunca se perderiam.
O silêncio entre ambas parecia interminável. Joyce passou a mão nos cabelos.
- Eu... Lisa... sei que deve estar com raiva...eu...
- Jô, sua mãe disse à minha que está namorando - interrompeu Lisa. - É verdade? O que vi ontem... É verdade? Joyce encarou Lisa, angustiada. Não esperava um ataque tão direto. Não era assim que queria as coisas.
- Não é bem assim, Li. Loirinha eu...
- Não me chame loirinha, ok.
- Eu... Li... não... bom... Eu to saindo com Carlos.
- Carlos é o nome dele, então. Lisa a encarou séria. Jô não sabia como lidar com a mulher que surgia à sua frente.
- Lisa. Eu... errei. Eu to mesmo saindo com ele, mas é como uma fuga! Eu tentei esquecer você, mas não dá. E mesmo assim vou tentando, tentando. O beijo... não foi o primeiro - levantou os braços, desanimada. – É tudo para esquecer você.
Lisa passou a mão na testa e baixou o rosto. Joyce a traia, só isso conseguia entender.
- Quanto tempo?
- Quanto tempo o quê?
- Quanto tempo me trai?
- Lisa, não é assim - Joyce sentiu uma tristeza enorme no coração. Lisa ergueu o rosto repentinamente para ela e lhe apontou o dedo.
- Aquele dia... o dia que saiu... que lhe contei de minha mãe, tudo. Foi com ele que saiu não foi? Responde! Joyce a encarou culpada. Foi quando Lisa perdeu totalmente o controle.
- Você tem noção do que me fez, Joyce? Que merda você fez? Meu Deus, você já me traia antes de toda a briga! - passou a mão no rosto. - Você me traía!
- Calma lá, Lisa... eu não namorava ninguém . Foi a primeira vez que saí com ele, ok. Você me soltou a bomba naquele dia e eu fiquei sem saber o que fazer. Eu...
- Sei!!! SEI. E isso justificou você ir trepar com um cara!
- Eu não trepei com ninguém! Que isso, Lisa! Qual é! Só porque você resolve se assumir quer que eu siga o mesmo caminho? Sempre assim, né! Acha que é dona da verdade! Nunca erra Lisa? Nunca?
- Erro. Erro! - Lisa gritou. - Errei de amar você, sua idiota, egoísta. Com que direito me trai assim? Fosse mulher! Assumisse suas atitudes!
- Atitudes? Atitudes! - Joyce abriu os braços. – E viva a senhorita virtude. Sempre certinha, tomando atitudes corretas. Nossa! Pôs a mão no rosto, irônica. – Como ela pode ser sapata?
- Sua falsa! Você é tanto quanto eu! Ou pensa que eu estive sozinha todos esses anos, comendo um fantasma?
- Maneira o palavreado, Lisa! Eu não disse que não gosto. Apenas não sou como você, entendeu. Não quero essa vida para mim. Lisa a olhou incrédula.
- Como assim? Esta abrindo mão de mim? Vai se casar com o babaca porque não quer ser... sapata? Joyce passou a mão no cabelo e caminha impaciente pela sala. Olhou para o corredor e espiou se a porta do quarto de Mariana estava fechada. Voltou-se para Lisa e respondeu.
- Lisa... Eu amo você. Amo mesmo. Por favor... eu sei que estou errada, mas... Deus, é tão difícil! Tento de todas as maneiras fugir disso. Tenta entender. Eu não sei lidar com isso! - terminou gritando.
Lisa a observava. Desviou o olhar de seu rosto e passeou por seu corpo. Como era linda! Porque lhe fizera isso? Sentiu os olhos lacrimejarem. Joyce percebendo seu momento de fraqueza e seu olhar de desejo não hesitou. Agarrou-a ali mesmo, na sala e a beijou profundamente. A loira não resistiu e se entregou aos braços da morena. Passou os braços pelo seu pescoço e se deixou levar pelo desejo que despertou em seu íntimo. Sentindo sua entrega, Joyce segurou - lhe os seios pequenos apertando-os enlouquecida. Que saudade daquele corpo, de seu calor. Levantou-lhe a blusa e levou a boca aos seios alvos. Sua loirinha...sua. Segurou seus quadris apertando-a mais junto a si. Lisa gemeu apertando-se ainda mais a morena. Buscou - lhe novamente a boca, exigindo, tomando, buscando esquecer  todo o sofrimento que lhe ia na alma.
- Lisa... Lisa. Como te desejo, Li! - Jô passou as mãos pelo corpo esbelto e suspirou profundamente. Lisa, como que acordando de um sonho ao som da voz de Joyce, se afastou. Tremula, abaixou a blusa e passou a mão na testa.
- Isso não era para acontecer... não era.
- Amor... loirinha. Olha para mim. - Mostra-lhe as mãos tremulas - Vê?  Eu te amo. Nós nos amamos. Você não pode nos privar disso! Vamos ficar juntas. Pare de querer tanto. Podemos ter tudo se você aceitar as coisas.
- Jô... como? Não vejo aonde quer chegar. O que quer dizer? - Lisa a olhava sem compreender nada. Joyce respirou fundo. Era a cartada final. Lisa a amava. Iria dar certo.
- Lisa, podemos para sempre sermos amigas... amantes. Entende? Sem ninguém saber. E... casar... casamos agradamos a sociedade, nossas famílias e...
- Espera. Quer que eu seja sua amante... enquanto casa, tem filhos, etc? Ser a outra?
Joyce a olhou sem graça. Ficou estranho dito assim, em voz alta, pela boca de outra pessoa.
- Não é bem assim, Lisa. O que não quero é ser apontada como a sapata do bairro.
- Vá à merda, Joyce! Nunca aceitaria isso. Quero amor, não ser uma... uma... amante. Quero alguém que me ame e para quem eu seja sempre a primeira! Eu mereço isso! Você é uma idiota! Abre mão do nosso amor por causa de pessoas mesquinhas e preconceituosas.
- Então me recusa, é isso? - Joyce sentiu o peito se oprimir.
- Sim! - Lisa a olhou triste, mas decidida. - Assim não quero, Jô. Quero você completa, sendo só minha. Joyce apontou o dedo a ela, inflamada.
- Diz isso porque sua família te apoia. Acha mesmo que o mundo vai te bater palmas, Lisa? Acha? Pois saiba que te hostilizarão. Virarão a cara para você, terão nojo de teu toque. Perderá oportunidades, empregos, amigos. Quer mesmo isso?
- Pode ser, Jô. Sofrerei muito, pagarei por minhas escolhas. Mas serei autêntica, não um fantoche social como você.
Joyce a olhou, sentindo-se agredida e, com a língua cheia de veneno, revidou suas palavras.
- Pois saiba que assim não quero também. Acha mesmo que não gosto de homens? Pois saiba que adoro estar com eles. Não sou sapata. Sapata é você. E não passará sempre de uma sapata. Uma sapata de quem tenho vergonha e que jamais assumirei como alguém que faz parte de minha vida. Tenho nojo de você!
O som do tapa ecoou por toda a sala. Joyce calou-se levando a mão à face sem acreditar que Lisa lhe esbofeteara. Ainda segurando o rosto, sentiu um calafrio percorrer toda a extensão de seu corpo ao ver o olhar da loira. Nunca em toda a sua vida vira os olhos de Lisa tão claros. Não mais expressavam aquele amor, aquela suavidade que aproximava as pessoas e as cativavam. Ao contrário, estavam frios, vazios, sem nenhum calor humano. Não conseguia dizer nada, parecia que suas cordas vocais estavam paralisadas. Sentia como se o chão se abrisse sob seus pés e uma escuridão tomasse conta de sua alma. As duas se encararam por vários minutos. Na sala, só o tic tac do relógio parecia anunciar os últimos segundos de duas vidas que a partir dali tomariam rumos totalmente diferentes. Lentamente, com uma calma que deixou Joyce ainda mais angustiada, Lisa virou-lhe as costas. Abriu a porta da saída e se retirou, sem um único olhar para trás. As pernas de Joyce fraquejaram e ela se deixou escorregar pelo chão da sala. Um sentimento de perda gigantesco tomou conta de seu ser e ela solta um grito dolorido, desesperado. Conscientiza-se que com suas atitudes perdera não só a mulher, mas também a amiga, aquela que sempre estivera a seu lado, que nunca lhe faltara. Lisa não merecera suas atitudes, sua TRAIÇÃO..
Levantou-se e correu à porta, na esperança de Lisa, sua Lisa, ainda estar ali, esperando-a com os braços estendidos para que pudessem juntas superar mais este momento de provação. Em seu egoísmo, mesmo com tudo o que fizera, ainda quer resgatar a amiga. Sim, sentia que elas podiam ainda ser amigas, tinham que ser amigas. Mas não havia ninguém, não havia mais Lisa. Joyce não soube por quanto tempo ficou ali parada até que sentiu um puxão em sua blusa. Olhou para baixo e viu dois calorosos e maravilhosos olhos verdes a encararem.
- Mamãe, você está bem?
Mariana parecia perceber a angústia de Joyce e estendeu então os bracinhos em sua direção. Joyce se ajoelhou e abraçou a filha, estreitando-a nos braços. O pranto se fez presente e Mariana, em silêncio, se deixou ficar ali nos braços da mãe. Aquele momento não era mais a criança e sim uma alma solidária, ciente de toda a dor que acometia Joyce.
Ela fizera sua escolha.

Lisa caminhou tranquilamente pelas ruas até chegar à sua casa. Abriu o portão e deu de cara com seu pai.
- Oi, pai.
- Li? – o pai observou a filha. Percebeu algo de diferente. - Alguma coisa errada?
- Não, pai, por quê? Parece? - perguntou, virando-se em sua direção
- Bem, não sei, está... diferente.
- Impressão sua pai, tem alguém em casa?
- Não, filha. Sua mãe saiu e seus irmãos estão desde cedo estão na gandaia – sorriu saudoso. – Ahhh, que saudades do velho tempo!
- Continua safado, né, velho? - Lisa riu e deu um beijo no rosto amado. – Bom, vou entrar que também vou dar uma saída mais tarde.
- Mesmo? Aonde vai? Vai sair com Joyce? O olhar de Lisa endureceu.
- Não pai, será com outra amiga. Bom, vou tomar banho. Tchau – disse erguendo a mão e entrando na casa. Caminhou em direção a seu quarto, pegou bolsa e tirou dela um pequeno cartão. Foi à sala, pegou o telefone e discou um número.
- Alô, poderia falar com Juliana?
Após o telefonema, tirou toda sua roupa e entrou em baixo do chuveiro. Ergueu o rosto e deixou a água bater nele e escorrer pelo seu corpo. Ficou ali por longos minutos. Seus pensamentos foram para Joyce, mas era como se nada sentisse. Nem amor, nem angustia, nem raiva. Simplesmente nada. Apenas um vazio que parecia tomar conta de seu ser. Como que fugindo da realidade deitou-se e dormiu durante todo o dia. Acordou já no fim da tarde e começou a se arrumar para sair. Maquiou-se com esmero e pôs um lindo vestido preto que faz um maravilhoso contraste com os olhos cor de mel e os longos cabelos loiros. Olhou-se no espelho. “Perfeito”. Calçou um lindo sapato de salto alto, pegou as chaves do carro, despediu-se do pai e dirigiu-se a uma famosa boate GLS de Belo Horizonte. Adentrou o ambiente indiferente aos diversos olhares em sua direção e caminhou em direção à bela morena que se ergueu quando a viu com sorriso deslumbrado.
- Está divina, Lisa – disse Juliana, já antecipando deliciada os momentos delirantes que as duas teriam. Não se perguntara porque a loira lhe ligara. O que importava é que ela estava ali. Observou-a melhor. “Ela está maravilhosa”. A nova expressão em seu rosto, distante e introspectiva, dava-lhe uma aparência mais inatingível, tornando-a a partir daquele dia, foco da atenção de mulheres várias que acreditavam poder atingir seu coração. Lisa fechou ligeiramente os olhos e, por um momento, sente seu coração sangrar e uma dor fina ameaçar crescer em seu peito. Então, num decidir mudo, ergueu os ombros, deu um sorriso frio à morena a sua frente e disse:
- Você também esta linda, Juliana. Algo me diz que hoje é seu dia de sorte – disse irônica. Sentou-se à mesa, ciente que, a partir daquele dia, uma nova Lisa nascia. Mais madura, mais forte, e muito mais precavida. Nunca mais lhe machucariam. Nunca mais. A partir daquele dia ela comandaria sua vida e seus relacionamentos. Ergueu o corpo e deu um beijo rápido na morena
- Ah sim, Juliana você também está divina, deliciosamente divina – riu deliciada com o olhar surpreso e excitado que esta lhe mandou.
O garçom trouxe uma caipivodca que Juliana pedira sem que ela se apercebesse. Ergue o copo para a morena e faz um brinde solitário a si mesma antes do primeiro gole.
“Amanha é um novo dia”

  "Difícil não é lutar pelo que mais se quer, e sim desistir do que mais se ama. Eu precisei desistir. Não pense que desisti por não ter mais forças para lutar, mas sim por não ter mais condições de sofrer." 

Fim 

7 comentários:

  1. Uauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu...
    Me senti na novela das oito...com todo esse suspense..drama e vendo a Joyce se f.....kkkkkkk
    Ai como ela é idiota...adoro...rs
    Muito bom vida, você realmente escreve muito bem...
    Será que pode me adiantar o que vai acontecer?! hehe
    Te amo
    Bjo

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  2. Espero q vc volte logo!
    bjssss...
    estou adorando!

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  3. Um dia. Foi o que precisei para me perder nas suas linhas!

    Infelizmente, pelo último post, vi que terei que controlar minha ansiedade e aguardar, paciente, pela segunda parte do conto.

    Fico esperando.
    Parabéns!

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  4. To adorando o conto, mas vc ta a mto tempo sem postar =/. To ansiosa, parabéns, vc escreve mto bem. Bjo

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  5. Nossa, adorei o final da primeira parte do conto, vc realmente é maravilhosa.
    Por favor n demore mto, espero ansiosa pelo próximo capítulo...rs.

    Parabéns!
    Bjs Dani.

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  6. Mistery assim como me encantei com o Blog e o Conto da Bru também estou encantada com este seu trabalho. Seu cuidado,carinho e paixão com o desenvolver da história é contagiante.
    Como todos estou a espera de mais, espero que logo o conturbado fim de ano passe vc volte a nos prestigir com um novo capítulo.
    Aliás não me canço de reler o 1° e ter a cena em minha mente daquela doce e pequena menina nos braços da mulher por quem ela sempre sonhou e óbivo a anta (para não ser mais ofensiva) da Luciana surpreendendo a cena, fico aqui a imaginar a continuação...

    Abraços
    Aelia

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  7. só para constar... mesmo sabendo que não terei um novo capítulo para ler... todo dia passo por aqui na esperança... assim que possível, posta mais um pouquinho, assim a ansiedade diminui...
    beijos e parabéns mais uma vez, você escreve muito bem...

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