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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Capítulo XXII - Final Conto

Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você – respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma.

Já era meio dia.
Sabendo que Nádia iria chegar a qualquer momento Mari sugere a Lisa levantarem.
- Humm... deixa ficar quietinha aqui. – Coloca o braço na cintura da bela morena.
Mariana sorri feliz. Este era o dia mais perfeito de sua vida.
- Amor – Toca o rosto de Lisa com carinho – Estamos nesta cama desde a tarde de ontem. – Estala os dedos. – Lembra que estava com fome?
Lisa abre um dos olhos divertida e com olhar sem vergonha.
- De comida Li!!
- Ah é... lembro... – Sorri preguiçosa e se espreguiça expondo os seios deliciosos.
Mariana engole em seco. Nunca iria cansar de olhar seu amor.
- Ai Li... não me tenta. Nádia disse que ia estar aqui na hora do almoço para pegar a gente. Temos que... levantar. – Ofegante acompanha Lisa sensualmente passar a mão sobre o colo.
Lisa a olha agora mais séria.
- Hora do almoço? Então melhor levantar.
Põe-se de pé, plena em sua nudez. Mariana a acompanha.
- Vamos tomar um banho e depois comer alguma coisa. Pode ser?
Lisa deslumbrada não tirava os olhos da beleza morena. ‘Meu Deus! Isso tudo me pertence!’
- Podemos...
- Beleza... Então quem chegar por ultimo na piscina faz o almoço!
E rindo sai correndo do quarto. Após o primeiro minuto de surpresa, Lisa corre atrás dela, mas não a tempo de se jogar antes, na piscina convidativa.
- Eba!!! Fugi do almoço!
Lisa olha seu amor que, a esnobando, dava pulinhos dentro da piscina.
- Pode ser sua safada! Mas de mim não escapa!
E agarra Mari que, sem resistência, se entrega a seus braços.

- Paz?
Nádia adentra a grande copa com um lencinho branco nas mãos.
Mariana sorri e se levanta da mesa a abraçando. Lisa, se short e camiseta a encara mais séria. Era a jovem mulata que vira na companhia de Mariana há semanas atrás.
- Poxa Nádia. Você extrapolou na idéia. Lisa chegou aqui em pânico total.
- Uai Mari, você não queria algo inesquecível?
Responde à amiga, mas não tira os olhos da bela loira. Engole em seco ao ver o olhar frio.
Mariana percebe o clima pesado.
- Ela... Ah Nádia. Li desmaiou quando me viu.
- Desmaiou?
- Desmaiou.
Arrependida, Nádia encara Lisa sem graça.
- Poxa me desculpe. Acho que perdi um pouco a noção das coisas. Não queria apavorá-la tanto.
Lisa percebe o suave sotaque e avalia melhor a amiga de Mari. Não era bonita, mas tinha um charme agradável. E o corpo... bom... Engole em seco, um pouco enciumada, e olha a amada. A mulata tinha um corpo maravilhoso. Será que Mari não percebia isso?
- Tudo bem... Ao menos o resultado final foi satisfatório. - Sorrindo se ergue e abraça Mariana possessivamente. - Tenho minha mulher definitivamente em meus braços e minha vida.
Nádia sorri entendendo a mensagem.
- Isso é ótimo. Estava cansada de ouvir Mari lamuriar seu nome pelos cantos.
- Nádia!!
Lisa sorri, percebendo a inconveniência da outra. Parecia ser alguém divertida.
- Então Mari falou de mim...
- Ô! Te conheço com a palma de minha mão – Nádia sorri debochada.
Mari sente o rosto avermelhar e olha a amiga com um olhar mortal.
- Não é tanto assim.
Lisa a abraça mais forte pelas costas e devolve o sorriso de deboche de Nádia.
- Que bom Nádia. Se me conhece tão bem sabe como sou vingativa – Faz um olhar inocente – Temos contas a acertar. E veja bem, saberei o momento certo para minha desforra.
O sorriso de Nádia esmorece e ela olha desconfiada a loira a sua frente. Depois balança a cabeça conformada.
- Nunca menosprezo as palavras de uma loira. Conheço a raça. Por precaução saiba que estarei prevenida.
As três sorriam já mais relaxadas. Lisa solta Mariana e volta a se sentar-se à mesa, observando o papo alegre e descontraído das amigas. Era perceptível o carinho de ambas... e também a total falta de atração sexual. Respira aliviada. Era capaz de eliminar qualquer criatura que se colocasse entre ela e Mari.
Olha a amada e esta retribui seu olhar sorrindo. Elas estavam juntas, e isso bastava.
O destino de ambas estava selado.

Mariana adentra a casa com um sorriso nos lábios. Parecia viver um sonho. Seu êxtase era tão grande que solta a mochila sobre o sofá e começa a dançar pela sala.
- Quanta felicidade!
Para surpresa e observa a mãe entrar no cômodo.
- Mãe!
- Oi filha... – O olhar de Joyce é indecifrável. – Parece que tudo deu certo em seu... encontro.
Mariana se aproxima da mãe carinhosa e tranquila.
- Mãe... Eu... Sim, deu tudo certo. Eu e Lisa estamos oficialmente namorando.
Observa a mãe engolir em seco e um sorriso tremulo surgir em seus lábios.
- Fico feliz Mari... Mariana. Eu... desejo muito sua felicidade.
- Mãe... estou feliz... demais. Como nunca estive em toda minha vida.
- Vocês... Vocês... Fizeram... – Jô a olha com um olhar torturado, mas antes da filha dizer qualquer coisa ergue a mão – Não! Não quero saber. Você já é adulta. – Engole em seco soltando um suspiro tenso. Depois olha a filha com uma olhar triste e ao mesmo tempo suplicante.
- Mariana... Não desista nunca de sua felicidade. Não permita que o mundo lhe aponte o que considera certo ou errado. Não deixe que as pessoas ditem regras em sua vida. Não importam os empecilhos, as dificuldades... A maldade alheia. Não abra mão de você. – Olha a filha com amor – Porque amanhã... Amanha ninguém se importará com seu destino... Ninguém vai querer saber de suas renuncias, suas perdas... Nem vai se importar que você tenha aberto mão de sua felicidade, de suas escolhas intimas para agradar uma sociedade que não liga para você. – Aproxima da jovem e a segura, com ambas as mãos, o rosto. – Quem se importa realmente está a seu lado. Nunca se esqueça disso.
Mariana olha a mãe com um amor profundo. Nunca antes dera tanto valor ao amor da mãe. Agora percebia o quanto ele era grande, imensurável. Segura as mãos da mãe e as beija com carinho e reverência.
- Nunca esquecerei mãe. Nunca esquecerei.

O jantar estava divino.
- Putz mãe. Hoje você caprichou. A comida tá boa demais!!
- Fecha a boca menino! Credo vi a comida revirar dentro de sua boca!
Joyce faz uma falsa cara de nojo. Todos sorriem à mesa
- Além que – Joyce faz ar esnobe. – Foi o jantar mais fácil de minha vida. Bastou ligar pro restaurante e mandar vir.
As gargalhadas tomam conta da mesa.
- Bem que percebi que o sabor estava divino demais. –Carlos sorri divertido – Desde que me casei não sinto um sabor tão maravilhoso!
Joyce sorri divertida para o marido e de brincadeira joga uma batata frita em sua direção.
- Não mãe! Cara que desperdício! - Luiz segura o prato de fritas protegendo-o.
Mariana, sorrindo, observa a alegria reinante na mesa. Olha os pais desconfiada. Os gêmeos estavam extasiados de os verem brincando e sorrindo um para o outro; estavam tranquilos, risonhos. Franze a testa indagativa. A verdade é que há muito tempo não sentia este clima ameno no lar.
- Será... Que eu perdi alguma coisa aqui em casa?
Joyce franze a testa ligeiramente. Olha para Carlos que a olha em expectativa. Devagar põe os talheres sobre o prato.
- Ok... ok. – Respira fundo. – Tenho uma coisa para falar a vocês. Na verdade eu e Carlos temos. Estende o braço e segura mão do marido sobre a mesa. A aliança de ouro reluz.
- Eu e Carlos... fizemos as pazes. – Olha os gêmeos sorrindo. – Não vamos mais nos separar.
Os gêmeos gritam de felicidade e correm para abraçar os pais.   Carlos gargalha agarrando o filho que pula em seus braços. Nos braços de Joyce o outro gêmeo a enche de beijos.
- Mamãe, que bom! Eu tava cansado de ver vocês tristes! – Bate palmas alegre. – Vamos voltar a ser de novo uma família feliz!
Carlos estende o braço e abraça Joyce por trás da cadeira. Joyce lhe sorri e abraça o filho em seus braços carinhosa. Do outro lado da mesa Mariana com um sorriso congelado no rosto observa a mãe. Joyce ergue o olhar para ela e faz um pequeno gesto afirmativo, como a dizer que tudo ficaria bem. Mariana coloca os talheres que estavam em suas mãos sobre a mesa. Suspira e balança a cabeça conformada. Respeitaria as escolhas da mãe.
Joyce percebe a desconfiança da filha. Levanta-se da cadeira, contorna a mesa e para frente à filha.
- Não mereço um abraço?
- Ahh mãe...
Mariana se ergue e abraça a mãe. Jô fecha os olhos e enlaça a filha fortemente. Quando os abre percebe Carlos as olhando com um sorriso feliz. Retribui carinhosa e cúmplice.
... O sorriso não chegava aos olhos.

 - Sua mãe... voltou para Carlos?
- Pois é Li... eu sei que ela não está feliz! Porque ela fez isso!? - Já se passara dois dias do anuncio dos pais. Ainda não conseguia assimilar bem a noticia e somente agora a colocava em voz alta para Lisa e seus pais.
- Mariana.
- Oi madrinha. – Marina volta sua atenção a Paula. Jantava na casa dos padrinhos que, apesar de surpresos e relutantes com o fato dela e Lisa assumirem um namoro, as apoiavam e amavam sem nenhum questionamento.
- Não julgue sua mãe. Acredito que ela é feliz à maneira dela. Joyce não é uma pessoa de aceitar pouco. – Olha a afilhada sorrindo - Acredite. Ela achará um caminho que a satisfará por toda a sua vida. E neste caminho, se incluiu seu padrasto, é porque ele tem um lugar especial em seu coração.
Lisa toca a mão de Mari com amor.
- Minha mãe tem razão vida. Jô buscará uma forma de ser feliz, de se realizar nas suas escolhas. Confie.
Mariana faz um ar de duvida sobre as palavras proferidas.
- Se vocês dizem, vou acreditar. – Sorri para Lisa. – Quer saber? Se for feliz metade do que sou, com certeza ficará bem. – Ergue-se e abraça Lisa esfuziante, apertando-a tanto que esta se sente sufocar.
- Mariana, minha afilhada, não vá matar minha filha. Não é grande coisa, mas é a única que tenho.
- Pai! – O grito de Lisa sai abafado.
Marcos sorri divertido e lhe manda um beijo no ar.
- Padrinho pode ter certeza. Meu amor traz vida, não morte. Você vai me aguentar e a Lisa pro resto de sua vida. – Sorrindo atravessa a mesa e estala um beijo na face de Marcos. – Mas ainda prefiro beijar Lisa. - E gargalha
Todos sorriem à mesa. Mariana com certeza nunca perderia este ar moleque de menina. Mas Lisa não se importava. Era seu amor, sua vida.

O shopping estava cheio. Lisa caminha pelas lojas, sem saber exatamente o que dar a Mariana em seu aniversário. Para em frente a uma vitrine em especial e suspira. ‘Devo ou não devo?’
- Ei Lisa.
Surpresa ela se volta e dá de cara com Joyce.
- Jô! Que... surpresa!
Desde que começara a namorar Mariana não vira mais Joyce. Esta parecia a evitar sempre.
- Procurando um presente para Mariana?
Lisa sorri um pouco constrangida.
- Pois é... está difícil. – Evita olhar a vitrine.
- Mas me parece que já fez sua escolha. – E aponta discretamente a vitrine.
Lisa avermelha sem graça.
- Acho que ainda está cedo.
- Por que perder tempo? É... isso que querem. – Suspira e aponta uma aliança delicada, incrustada com pequenas pedras de diamante. – É a cara de Mariana.
- Eu... – Lisa volta o olhar à vitrine – Acha?
- Sim...
Lisa olha Joyce de lado. Estava vestida num terninho elegante. Sempre linda. Joyce seria sempre linda mesmo na mais avançada idade.
- Jô... eu... gostaria de tomar um lanche comigo?
A morena a encara com um olhar indecifrável.
- Sim... Porque não.

Conversavam amenidades. O tempo seco, a política brasileira... Até futebol.
- Ah Jô... Não é sobre isso que quero conversar. – Lisa esfrega a testa. Vendo este gesto o olhar de Jô se ameniza.
- Você não perde este vicio.
Lisa sorri sem graça
- É que estou nervosa.
- Por que Lisa?
- Jô... Joyce... eu... – Lisa a olha triste - Sinto falta de nossa amizade.
Joyce arregala os olhos um pouco surpresa.
- Não digo por estes últimos anos... mas... ultimamente tenho pensado tanto no passado. Quando éramos adolescentes, como éramos sempre o apoio, o suporte uma da outra. Sabe, Jô, eu tinha muita raiva de você. Mesmo dizendo que tudo estava superado, que não tinha magoas do passado... eu mentia. Eu... nem eu sabia disso.
Olha a morena com carinho, os olhos castanhos claros límpidos, suaves.
- Quando esteve lá em casa, esta ultima vez, enxerguei minha amiga de volta. Aquela que não aceitou abortar, que amou a filha desde a primeira vez que a teve nos braços. Que virava uma onça quando mexiam com ela... ou comigo. Capaz de um amor único, especial... Mesmo que não o saiba expressar em toda sua extensão ou mesmo que não seja... como as pessoas o esperam ser expresso.
Lisa termina a frase baixinho e abaixa a cabeça sem saber mais o que dizer. Sem saber nem mesmo se conseguira expressar o que sentia dentro de si.
Joyce sente o coração se apertar. Observa a amiga cabisbaixa, intimidada, tentando reatar algum elo entre elas. Seu coração se abranda.
- Sim Lisa... acho que aquele dia resgatei um pouco da Joyce que abandonei para me tornar esta pessoa que as pessoas que pouco me importam adoram e que as que realmente me são preciosas não admiram.
Suspira e passa a mão no longo cabelo negro. Os olhos se tornam calorosos.
- Lisa... eu... sei que ama Mariana. E sei que estão bem. E acredite, estou feliz por isso. Mas também não posso negar que sinto inveja. Não esta inveja destrutiva, perniciosa. Mas a inveja de saber que abri mão de tudo isso por... pessoas que nem mesmo se importam comigo.
- Sua família importa Jô.
- Lisa... Eles são a parte preciosa... vocês são a parte preciosa... a minoria.
Estende a mão e segura a de Lisa.
- Ah Lisa... Queria ter tido a visão que teve em nosso passado. Ter tido sua certeza, sua segurança diante da vida, do destino. – Olha a loira pensativa - Não posso dizer que fui infeliz em minhas escolhas. Gosto do que tenho, do que conquistei. Mas sinto falta do que perdi.  Sei que tentei as recuperar das formas mais... inusitadas. – Dá um ligeiro sorriso de deboche e olha Lisa meio de lado. – Sendo leve.
- Ô... muito leve – Lisa não consegue segurar a língua.
Joyce dá uma gargalhada.
- Ah Lisa... pensei muito estes últimos tempos. Sabe que voltei para Carlos né.
- Sei...
- Está na hora de aceitar o destino que escolhi para mim. E... corrigir os passos falsos que dei pelo meu trajeto tempestuoso.
Lisa sorri sem saber exatamente o que falar. Joyce puxa sua mão para mais próximo dela.
- Lisa... Perdão. Me perdoe por minha intransigência, meus erros, minhas escolhas que tanto lhe feriram. Na época eu acreditava realmente que era o melhor.
- Jô...
- Fui egoísta... Mas sabe. Hoje percebo que... era como tinha que ser. Você ama minha filha... esta é a verdade. –Sorri um pouco triste. – Percebe que mesmo em nossos momentos mais íntimos jamais pensou em uma aliança entre nós?
Lisa estremece ligeiramente. Era verdade. Era como se seu espírito soubesse que ali estava uma alma afim, não sua alma gêmea.
- Jô... sinto muito. Te peço perdão também. Éramos jovens, não soubemos lidar com algo tão complexo, complicado.
- Não acho Lisa. A verdade é que não tivemos empenho realmente. No fundo sabíamos que aquele não era nosso destino. Mas... a amizade sim. - Sorri para a loira.  
- Jô... – Lisa aperta-lhe a mão mais forte – Acha que podemos recuperar a amizade, o carinho que temos uma pela outra?
- Loirinha... ele sempre esteve aqui – Solta-lhe a mão e toca o coração. – Sempre esteve aqui.
As duas sorriem uma para a outra. Sabiam que muito havia ainda para trilhar para reconquistarem a amizade perdida. Mas estavam no caminho certo.
Com certeza estavam no caminho certo.

Depois de deixar Lisa fazendo compras, Joyce caminha distraída pelas ruas da Savassi. Inventara uma desculpa para sair do Shopping, pois não suportava a ideia de vê-la comprar uma aliança para Mariana. Passa as mãos no cabelo. Ainda tinha muito que superar, mas ia conseguir.
Tinha que conseguir. Tinha que transformar este amor dentro dela em algo fraternal, afetuoso, amigo.
- Tenho que conseguir... Preciso conseguir... Vou conseguir. VOU conseguir.
Não percebe que pronuncia as palavras em voz alta ate perceber uma mulher olhando-a com ar maroto.
Vendo-se notada esta lhe sorri.
- Com tanta convicção com certeza você vai conseguir.
Joyce sorri sem graça.
- Espero que seja a única que tenha notado... minha atitude.
- Difícil. – A loira a observa com um sorriso insinuante. – Com sua beleza dificilmente passa despercebida.
Joyce arregala ligeiramente os olhos. A mulher discretamente lhe cantara. Observa-a melhor. Não era bonita como Lisa, mas tinha seu charme.
- Na verdade não gosto realmente de passar despercebida. – Inconscientemente muda sua postura, se tornando mais sensual e insinuante – Assim consigo atrair as pessoas certas.
- Hum... mesmo? – A loira sorri e se aproxima dela. – Casada? – Aponta a aliança
- Sim...
- Sempre mais emocionante.
Sorri expondo abertamente seu interesse na morena.
- Que tal uma xícara de café?

Três anos depois

Mariana acorda um pouco desconcertada ao som do despertador. Olha as horas arregala os olhos, joga a coberta longe e corre para o banho. Mais uma vez perdera a hora. ‘Logo hoje!’
Hoje era um dia mais que especial. Era o dia de sua formatura. Sorri em expectativa. Também era o dia que iria anunciar à família e amigos a decisão de ir morar definitivamente com Lisa.
Sorri intimamente. Não que isso fosse ser uma grande novidade as pessoas. Ela praticamente passava todos os dias e noites com Lisa desde que esta comprara um apartamento no mesmo bairro da clinica onde trabalhava. Na verdade desde que começaram a namorar queria que morassem juntas. Mas Lisa fora irredutível

Amor moramos perto, na mesma cidade. Quero que tenha certeza do passo que vai dar. Forme-se primeiro. Se ainda for o que deseja, aí sim, vamos morar juntas’

Achara um absurdo as palavras de Lisa. Mas a respeitara. Agora contava os segundos para finalmente, definitivamente estarem juntas para sempre. Mesma casa, mesma cama, uma única vida.
O celular toca.
- Oi amor!
- Ei minha vida! Pronta para o grande dia?
- Nem me fale! Maior ansiedade.
- Vai tudo dar certo amor. Eu estou com você. Já disse a você que é linda hoje?
O coração de Mari se derrete.
- Ainda não amor...
- Você é linda amor... E eu te amo... Muito.
 
A festa de formatura estava linda. Mariana, maravilhosa num vestido da cor de seus olhos, atraia os olhares de todos os homens presentes no evento. Joyce a observa e sorri orgulhosa. Ela se tornara uma linda mulher. Nota- lhe o olhar sempre a procura de Lisa. Esta conversava, gesticulando espalhafatosamente, com o irmão Junior e a cunhada.
‘Ah Lisa... toca ligeiramente o coração... sempre teremos nossa historia.’
Desvia o olhar e percebe Marcos, Paula com o neto no colo, sua mãe, Fernando, o outro irmão de Lisa, conversando alegremente em uma mesa. Ao lado deles, Daniel ria divertido de algum comentário da noiva. Mariana fizera questão da presença do pai. Na verdade não vira nenhum empecilho a isso. Há alguns anos decidira deixar o passado para trás e somente olhar para frente. Daniel era um bom homem.
Franze a testa vendo os outros lugares vazios. Onde estava Carlos e os meninos? Caminha em direção ao jardim fora do salão e o vê brincando alegremente com os gêmeos. Carlos mudara muito. Estava mais presente, mais carinhoso. Logo, ela também correspondera à afeição. Assim era o relacionamento dos dois. Afetuoso, amigo. Estava bom no rumo que tomara. Às vezes ele saia sem dizer aonde ia e Joyce evitava perguntar. Não queria mais conflitos no casamento. Ela mesma sentia a mesma necessidade de... arejar a cabeça em outras paisagens.
Sorri lançando um ultimo olhar a família amada e volta ao salão. Não percebe a jovem morena que caminha apressada entre os convidados.
- Opa! Desculpe! Ah, olá Dona Joyce.
Jô olha surpreendida a jovem mulata que trombara nela.
- Nádia?
- Eu – Sorri mostrando os dentes charmosamente desalinhados.
Não era uma jovem classicamente bonita, mas tinha seu charme.
- Está diferente.
- É... Eu deixei o cabelo crescer. Está procurando Mari?
- Não... eu... já a vi. Posso lhe pedir uma coisa?
- Claro – Nádia se sentia estranhamente ansiosa. Joyce estava simpática, agradável. Nas poucas vezes que estivera na casa de Mariana ela lhe dedicara pouca atenção.
- Me chame de Joyce. Somente Joyce.
- Eu... tudo bem.  Bom... eu vou... vou... – Aponta o caminho que ia seguir desajeitadamente  – Buscar um vinho.
- Se imposta de pegar um para mim?
- Claro que não!
- E toma-o comigo? - Sua voz sai sensual
Nádia sente-se avermelhar ligeiramente.
- Eu... claro... Vou adorar. – Olha a bela mulher morena em silencio e parada. Jô a encara divertida.
- Então... vai?
- Vou... – Nádia balança a cabeça um pouco desconcertada. – Vou indo.
Joyce observa a jovem mulher afastar-se.  Que corpo perfeito! O rosto agradável, os cabelos agora longos. Os cachos pareciam bem macios. Combinava com o tipo exótico dela. E o olhar... não tinham aquela inocência dos de Mariana. Era uma jovem vivida. Com certeza sabia diferenciar uma ilusão passageira do verdadeiro amor.
Olha distraída pelo salão e percebe Lisa e Mariana a um canto sorrindo e conversando com os rostos muito próximos. O rosto de ambas estava iluminado. Realmente se completavam. Desvia o olhar triste e conformado.
- Aqui está. Seco e encorpado.
Joyce sorri para Nádia.
- Obrigada querida. Mas me fale de você. Sinto que... vou gostar muito de sua história.

A vida é um caminho cheio de curvas sinuosas. Nesta estrada nos mantemos atentos, prontos a desviar dos obstáculos da vida. Aqueles que buscam uma estrada reta, sem surpresas inesperadas, se tornam displicentes, distraídos. E assim deixam passar as mais belas oportunidades da vida.
Ah! Haverá um dia que o homem perceberá que a verdadeira felicidade se encontra nos caminhos mais perigosos, mais cheios de curvas e imprevistos. Ávido pelas descobertas da vida verá surgir pelas diversas trilhas que compõe a estrada, os melhores amigos, as mais belas historias de amor. Perceberá também que, logo depois da próxima curva estará o seu destino, sua meta maior. E que, neste destino terá grandes encontros.
A traição... Que trará as lágrimas, as desilusões.
O amor... Repleto de alegrias e perdas.
O perdão... Que alivia o coração e retira todas as magoas da alma. Que renova o espírito, nos elevando para mais perto dos anjos.
E quando cansado parar e desanimado pensar em desistir, uma mão se estenderá em sua direção. E uma voz dirá... “não desanime”.
Erguer-se-á renovado, com uma energia inexplicável, para então perceber que outro alguém se ergue com você. E não se sentirá mais só.
Será completo, único. Amado.

Lisa coloca a pequena caneta sobre a mesa. Suspira feliz e fecha o caderno sobre a mesa.  Fixa o olhar sobre a capa clara, sem nada escrito. Há algumas semanas sentira uma estranha necessidade de colocar sua historia no papel. Não sabia se um dia alguém a leria, mas sentia-se bem em deixar um pouco de sua existência marcada em algumas folhas de papel. Poder recordar toda a obra de sua vida até o momento atual, as pessoas que fizeram e fazem parte dela, suas alegrias, tristezas, acertos e enganos, lhe mostravam o porquê estar viva, o porquê crescer e evoluir. Confirmavam a certeza de sua fé.
Folheia o pequeno caderno delicadamente. Ainda tinha muitas páginas vazias...
Ergue o olhar e se encara no espelho da pequena cristaleira à frente da mesa. Mas com certeza seriam preenchidas. Estariam repletas de momentos marcantes, especiais, únicos.
- Amor? Cadê você? Cheguei!
- Mari?  - O coração dispara ante o chamado da amada esposa. – Estou na sala de jantar vida.
Fecha o caderno novamente e o alisa com carinho.  Sua vida... Com um sorriso pega a caneta e escreve sobre a capa.
Mariana adentra o ambiente e com o semblante iluminado se senta sobre o colo amado.
- Mulher! Dê atenção a sua vida!
As duas se beijam cheias de saudade e paixão.
- Hum... Que delicia!
Mari a olha com os olhos verdes, profundos, cheios de amor e felicidade.
- Trouxe um presente. – Sorri safada.
- Mesmo? – Lisa a olha desconfiada. – Conheço este olhar.
- Amor... Lembra quando estivemos naquele sexshop da Savassi e vimos um... – Começa a sussurrar baixinho no ouvido da esposa.
Os olhos de Lisa escurecem de paixão.
- Mari...
- Ah amor... Não vai abrir o seu presente?
Sem pensar duas vezes Lisa se ergue levando Mari consigo.
- Ah Mari... Como te amo! Como te amo!
- Lisa... – Mariana toca seu rosto com carinho e enlevo - Sou sua... Sempre fui... Sempre serei.  No ontem, no hoje, no amanha. Obrigada por ser minha, por me fazer sua. Obrigada por acreditar em mim, confiar em mim, em meu amor. Te amo... Te amo pra sempre. Te amo por toda minha vida.
Juntas, trocando beijos e carinhos caminham em direção ao quarto, para mais uma vez reafirmarem, em momentos maravilhosos de paixão, o amor que as une.
Esquecido sobre a mesa o caderno... Testemunha silenciosa de todos os segredos de Lisa.
Na capa, a última frase escrita por ela, num resumo desta linda historia de amor.

TRAIÇÃO, AMOR E PERDÃO


FIM

15 comentários:

  1. Cada linda escrita com tanta dedicação, cada palavra escrita com tanto amo e sabedoria. Uma historia apaixonante e envolvente, que me fez rir, chorar, com cada personagem e suas historias.
    Cada personagem teve seu final de acordo com seus valores morais e éticos.
    A espera de 2 anos valeu apena.
    Amo a historia, sou fã nº1 e tudo q eu falar fica suspeito.
    Só tenho a agradecer por me fazer entender que a pessoa certa esta destinada a cada um de nos.
    Parabéns Mistery.

    Beijos.

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  2. Caraaaaaaaaaa é o cap final.. num creio

    Fiquei muito tempo voltando aqui para ver se tinha um novo cap. E nossa, você já era excelente, deu um salto!
    me apaixonei pela Lisa, pela Joyce
    pouco depois qria bater tanto nessa Joyce
    depois veio a Luiza.. aiaii Luiza ^^
    kkkkk
    mas Mari é Mari né

    nossa vou sentir mta falta de vir aqui ver se tinha um cap novo.. a expectativa


    Parabens Mistery
    Lindo, excelente, fascinante, maravilhoso demais.. Não tenho palavras... são incapazes de expressar..
    Um grande abraço.. e novamente parabéns.

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  3. To orfã, chorei, chorei, chorei rs.

    ai lindo mistery, maravilhoso.

    parabens!

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  4. Chorei, chorei, chorei, chorei, chorei, chorei, chorei, chorei, chorei, chorei, chorei, chorei...

    :'(

    Mistery, fala que é brincadeirinha esse final, e que vai ter continuação =(

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  5. Agora sem drama
    kkkkkkk

    Mistery!
    Parabéns!
    A-M-E-I o conto inteiro!

    Tu sabes muito bem como prender um leitor, a maior prova disso sou eu e outras meninas que acompanhamos teu conto desde 2008!

    Não vou ficar repetindo tudo o que já comentei contigo no chat, mas...

    Parabéns pelas palavras, pela escrita, pelo talento!

    Não nos deixe orfã por muito tempo!
    Caso contrario, faço greve de fome!
    kkkkkkkkkk

    Beijos!

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  6. aaaaaahhh...
    acabou?
    poxa...
    ..
    essa parte aki...
    " Não desista nunca de sua felicidade.
    Não permita que o mundo lhe aponte o que
    considera certo ou errado.
    Não deixe que as pessoas ditem regras em sua vida.
    Não importam os empecilhos, as dificuldades...
    A maldade alheia. Não abra mão de você.
    Porque amanhã... Amanha ninguém se importará com seu destino...
    Ninguém vai querer saber de suas renuncias, suas perdas...
    Nem vai se importar que você tenha aberto mão de sua felicidade,
    de suas escolhas intimas para agradar uma sociedade que não liga para você.
    Quem se importa realmente está a seu lado.".

    sempre fazendo parte da minha vida..
    sempre encontro meu conforto em suas palavras!!
    hoje minha formatura...
    minha mae qria sair fazer a festa..
    mas eu preferi ficar com algm mt especial pra mim..
    ela tem 23 anos um filho de 4anos..
    e acho q foi a pior escolhe q fiz..
    essa garota entrou na minah vida e virou ela de ponta cabeça..
    eu a amo muito..
    mas hj..
    q era pra ser um dia especial.. alegre..
    q a gente tinha combinado de passar a noite juntas..
    ela terminou cmg..
    diz q nao pode continuar..
    q nao é a vida q ela quer...
    e q nunca poderia fazer isso com o filho dela..
    ..
    acabou cmg..
    ai..vim pra casa..
    liguei o pc..
    e deparei com essas palavras ..
    queria tanto q ela pudesse notar isso..

    ela falou.. q sou a unica garota q ela teve
    coragem de ir fundo..
    estavamos juntas ah 4 meses..
    todo mundo via a nossa felicidade..
    e agora? só resta lembraças..
    sera mais uma joice da vida..
    ..
    droga pq mulheres tem
    o prazer de destruir coraçoes??
    ..

    Linda historia Mis..

    acabei chorando aki..
    lindas palavras!!

    um forte abraço

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  7. Não Creio que acabouu!!
    Nãooooo :D
    Choreiii, Choreiiiii akii!!
    realmente divino o final de cada um..
    Cara, nem acredito que qnd eu vier aki não vai ter + cap. novo.. ain qe door!

    Parabéns Mistery, vc escreve muiito bem e a história e muiito lindaaa!!
    Vlw apena esses 2anos de leitura.. 0/

    E mais uma vez Parabéns pelo conto, Linndooo!! ♥

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  8. ahhh acabou =(
    q dor no coração.
    um belo conto, apaixonante e envolvente.. me envolveu tanto q to até sentindo uma dorzinha no peito =(
    parabéns. ainda acho q deveria virar um livro ^^
    mas me diz..ficaremos abandonadas de vc? rs
    beeijos
    sucesso

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  9. E finalmente chegamos ao tão esperado momento: o capitulo final!
    E com ele vem também a expectativa de ver como foi o final de cada personagem que por tanto tempo fez (e sempre farão) parte de nossas vidas, e a tristeza de saber que não teremos mais um novo capitulo...

    Mistery, meus parabéns, seu 'conto' foi e é perfeito, ao ler ele, parecia que eu era parte da historia, com ele chorei,sorri, quis esganar a Joyce pra depois perdoa-la... me apaixonei pela Lisa e pela Mari e senti saudades de Luiza...

    Parabéns e continue sempre a escrever, ou farei greve de fome com a Le Japinha, rsrs

    beijão

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  10. Oi Mistery,

    Bom, o que posso dizer... seu conto foi lindo do começo ao fim! Uma linda história que me fez sorrir, chorar, refletir, torcer pelas personagens... aprender a gostar de cada uma delas... Saiba que as guardarei em meu coração. A cada novo capítulo me emocionei muito e sempre senti uma energia muito positiva. Mais uma vez parabéns pelo talento e obrigada por compartilhar essa linda história conosco.

    Um grande beijo e muitas felicidades,
    Dani G.

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  11. Parabéns, Parabéns, Parabéns!

    Uma verdadeira história de amor, com muita emoção.
    A sua história me inspirou muito o meu amor pela minha mulher.
    Me fez demonstrar mais o quanto eu a amo, não apenas nas palavras, mas nos gestos de afeto, nos beijos, em tudo.
    Quem ama cuida, mas às evzes não percebe que não está cuidando tanto assim.

    Vamos por essa história num livro!!!
    Imagine a festa de lançamento, você conhecendo todas as suas leitoras fiéis desde 2008?
    Se eu que conheci esse blog nesse ano, já amo sua criativade, imagine as outras??

    Bom, acho que é isso.
    Adorei a sua visita no meu blog.
    Vamos ver o que você guardará pra gente né....

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  12. Perfeito. cara, nss
    Nem acredito que acabou, parecia de alguma forma algo que de tao complexo e profundo, nao teria fim.
    Adorei todo o conto. Muito envolvente!

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  13. Se você publicar como um livro eu quero que autogrofe o meu :)

    PS: Publica vaaai!!!!!

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  14. cara como assim acabou ñ dá pra acreditar.
    foi o melhor conto q já li.
    Mistery já sou sua fã, acompanhei o conto desde do começo, seria um lindo filme, to muito triste com o fim, mas a espera de um novo.
    parabéns!!!!

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  15. Nossa eu achando que o conto não tinha
    como fica mais perfeito.
    Geralmente os contos pecam no final mais esse foi emocionante do começo ao fim me fez rir,chora quase ruer as unhas de ansiedade esperando um novo capítulo mas todos esses sentimentos foram recompensados.
    Obrigado Mistery por nos dar o prazer de ler e nos emociona com essa história espero ver o livro do conto e claro outras históris.Fica com Deus e boas festas!

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