Lisa
observa pela janela do carro o transito parado. Engarrafamento em bairro
residencial beirava o absurdo. BH estava com um fluxo de carros excessivo. Era
estressante. Liga o rádio e uma suave música toma conta do interior do
automóvel. Fecha os olhos e respira fundo, procurando se acalmar. De nada
adianta ficar nervosa. Após alguns segundos, abre os olhos e os arregala
surpresa.
Atravessando
entre os carros, Mari ria abertamente de alguma frase dita por uma jovem mulata
que a acompanhava. Estreita os olhos e põe a mão sobre o coração. Prende
a respiração ao ver a jovem pegar na cintura de Mari com naturalidade e intimidade.
Segura com força o volante para evitar sair do carro e aos gritos tirar
satisfação. Observa as duas se afastarem e começa a tremer. Mari... Mariana...
sua Mari, cheia de intimidades com outra mulher?
Põe
a cabeça sobre o volante... Quase dois meses que não a via. Procurava de todas
as formas evitá-la, cumprindo o que prometera. Como era difícil! Ela
preenchia sua vida, trazia alegria a sua existência. Maldito dia no sítio.
Maldita falta de coragem para enfrentar a situação. Será que ela e a jovem
mulata eram namoradas? Esfrega a testa angustiada. Não pode ser! Mariana não
podia fazer isso com ela. Sente uma onda de ciúmes dominá-la.
‘Não
aceito isso! Você não tem este direito Mariana!’
Bate
a mão sobre o volante.
‘Ok...
respira fundo Lisa... respira fundo... coloque os pensamentos no lugar... não
tire conclusões precipitadas. São amigas... o toque era amigo. Isso...
amizade...amizade. Que ódio!!!’
-
Mentira que ele deu um tapa na sua bunda, Nádia!
-
Cara abusado, Mari! Imagina! Ainda ficou rindo de mim! Ai se pudesse, corria
atrás daquela moto e eliminava este tarado da fase da terra.
Mariana
ri ainda mais alto.
-
Quem manda andar com estas calças justas?
Nádia
a olha indignada.
-
São de ginástica Mari! Queria que fosse para a aula de terninho?
-
Não – Mariana balança a cabeça divertida. – Imagino a sua cara...
-
Não imagine... – Olha para os lados intrigada - Gente que transito
caótico é este aqui no bairro?
-
Acidente na Avenida Amazonas. O pessoal tenta desviar por aqui.
-
Hum... não sente saudades de morar aqui?
-
Às vezes... Mas onde moro também é legal.
-
E chique – Nádia faz um ar maroto.
-
Ah, cala a boca! Nem me ligo nisso.
-
Chegamos.
Nádia
abre a porta do prédio onde morava.
-
Mamis! Tô em casa!
-
Willkommen
Tochter
Nádia
sorri ao ver o pai adentrar o ambiente e o abraça.
- Hallo Papa ... das ist mein Freund Mariana
Mari sorri educada ao senhor alto, branco de imensos
olhos azuis.
- Mari, este é meu pai.
- Oi... prazer.
O alemão sorri educado, vira-se para a filha e fala em um
português carregado.
- Sua mãe foi fazer compras. Vou sair para caminhar.
Fiquem a vontade.
Dá um novo sorriso a Mari e acena em despedida.
- Putz Nádia! Seu pai é enorme!
Nadia sorri.
- É um ursão. Gostoso de pegar. Vem. Vou te mostrar os
vídeos que falei.
Mariana sorri ao entrar no quarto de Nádia. Parecido com
ela. Esfuziante, mas ao mesmo tempo formal. Uma mistura eclética, imprevisivel.
- Mari, queria realmente saber o que pensa quando dá este
sorrisinho de lado.
- Gostei do seu quarto.
- Também adoro... mas deixa ver onde está este vídeo. Sei
que está por aqui.
Mari caminha por entre as estantes. Para frente a um
pequeno porta retrato onde uma loira sorria abraçada a Nádia.
- Quem é?
Nádia olha na direção que apontava, aproxima-se e pega o
retrato.
- Ester... Minha... amiga. Alemã.
- Bonita.
Nádia acaricia a pequena foto.
- Bonita não... linda! Ela é linda. –Devagar volta o
retrato para a estante. –Era minha namorada.
Mariana engole em seco. Surpreende com a sinceridade da
amiga.
- Eu... parece ainda gostar dela. Por que não estão
juntas?
- Ah Mari! Pensa! Que amor vence uma distancia tão grande
como Brasil e Alemanha? Que amor pode ser tão grande para vencer essa barreira?
‘Meu amor por Lisa‘
Mariana suspira e caminha até a cama, onde se senta. Seu
amor por Lisa vencera todas as barreiras. Menos a ultima. Por que? Por que
desistira?
- Mari... de novo está com este olhar perdido, triste.
Você está bem?
A amiga se senta a seu lado e lhe acaricia o cabelo.
- Nádia... a vida podia ser mais simples ... bem mais
simples não acha?
- Sim... com certeza.
- Devíamos amar quem não nos faz sofrer, quem está
perto de nós.
- Mari... – Nádia fecha os olhos angustiada. – Daria tudo
para ter Ester aqui comigo. Mas... está alem de nós. Ela não podia vir... eu
não podia ficar. Eu... é bom saber que pude viver este amor tão lindo.
- Acha que um dia vai voltar a vê-la?
- Com certeza. Tem que ser. É isso que me sustenta.-
Nádia a olha um pouco receosa. – Não te assusta saber que gosto de mulher?
- Não... –Mariana a olha triste – Eu também gosto de
mulher Nádia... na verdade de uma mulher. Mas...ela está alem de meu alcance.
- Ah Mari... algo me dizia que você era como eu. Só isso
para explicar tanta identificação. Adoro você sabia. Muito.
- Também adoro você Nádia. Muito.
Mariana a abraça com carinho. As duas permanecem unidas
por longos minutos. Devagar Nádia a solta e segura com carinho o belo rosto de
Mari.
- Seus olhos são tão lindos Mari... tão expressivos.
Mariana pisca sem graça. Instintivamente desce o olhar
para a boca carnuda da amiga. Percebe-a se aproximar e fecha os olhos. O beijo
delicado, caloroso, aquece o coração de ambas.
Por toda a tarde permanecem abraçadas sobre a cama,
caladas, pensativas. Por vezes trocavam beijos, cada vez mais profundos. Não
buscavam entender suas atitudes. O que importava é que não se sentiam sós.
Joyce caminha pelos corredores do fórum. Distraída não
percebe o homem loiro que a observa.
- Jô? Joyce?
Surpresa vira-se para trás e arregala os belos olhos
negros.
- Da...Daniel?
Daniel lhe sorri simpático e constrangido.
- Sim... eu mesmo.
- Que... coincidência encontrar você por aqui.
‘Nao acredito! Que merda! Merda!‘
- Jô, olha, sei que sou a ultima pessoa que queria ver
nesse mundo, mas... é bom vê-la, saber que está bem.
- Não graças a você Daniel!
- Eu sei... – Abaixa a cabeça desalentado. – Fui um
cafajeste, eu sei, mas... serve de consolo saber que se pudesse mudaria tudo?
Joyce o olha séria e rancorosa.
- Na verdade não. Olha, preciso ir. Tchau.
- Pera Jô.
Daniel a segura pelo braço.
- Faz o favor de tirar as mãos de mim!
Ele a solta imediatamente.
- Desculpe. Jô, eu errei. – Olha para os lados – Aqui não
é lugar para conversarmos isso. Por favor, gostaria mesmo de conversar
com você. Um café! Só isso que lhe peço.
Joyce observa o homem a sua frente. O tempo fora benéfico
com Daniel. Estava bonito, as rugas e os poucos cabelos brancos na basta
cabeleira, apenas lhe davam um charme a mais. Suspira tensa.
- Só um café?
- Só um café.
- Ok... um café.
- Então é isso Joyce. Sei que não posso consertar todo o
mal que lhe fiz, nem mesmo querer o seu perdão, mas... precisava lhe dizer
isso.
Joyce o olha séria e mexe mais uma vez, nervosa, a
colherzinha no café já frio.
- Daniel, sinceramente, não me importa o quanto sofreu,
se se tornou alguém melhor, se está rico, o diabo a quatro. Não pode voltar à
minha vida e achar que num passe de mágica, tudo volta a ser como antes.
As mágoas estão aqui, as cicatrizes permanecem. Não tem como eu olhar
para trás e não ver aquele rapaz arrogante, me mandando a merda e me
virando as costas quando mais precisei de alguém.
-
Jô... eu... errei. Eu queria de coração voltar o tempo, poder estender-lhe a
mão. Queria ver Mariana, nossa... sua filha crescer, ver sua transformação na
jovem incrível que é hoje.
Joyce
o olha dura.
-
Já sei que se encontraram... pelas minhas costas.
Daniel
a olha surpreso.
-
Foi ela quem marcou o encontro Jô. E não me arrependo de tê-la conhecido.
-
Pois espero que fique apenas nisso. Não quero que mantenha contato com ela.
Daniel
a olha firme
-
Joyce, já paguei muito caro por meus erros. Se Mariana quiser manter contato
comigo, assim será.
Joyce
sente o rosto avermelhar.
-
Você não tem este direito! Não pode voltar anos depois e achar que nada muda!
Querer que ignore tudo que me fez, todo o mal que causou.
-
Por Deus Jô! Você nunca errou? Nunca magoou alguém, virou as costas e se
arrependeu?
Joyce
sente o coração se oprimir.
-
Nunca! Jamais faria isso a um ser humano! E jamais abandonaria um filho!
-
Jô, este passado é algo que terei que carregar para sempre comigo. Mas lutei e
luto muito para ser um ser humano melhor, evito magoar as pessoas. Tirei meu
aprendizado de tudo isso. Não vou dizer que sou perfeito, mas tenho orgulho da
pessoa que sou hoje. Você pode não me dar seu perdão, mas eu me perdoei.
E isso me torna alguém melhor. Sinto muito por suas cicatrizes, pela
ferida que não fecha. Tenho consciência que seria exigir muito que você
esqueça tudo que aconteceu. Olha, sei que refez sua vida, que está casada e
feliz. – Daniel a olha sério. – Bom, não vou ocupar mais seu tempo. Eu...
você fez um bom trabalho com Mariana. Ela é um ser humano maravilhoso.
Levanta-se
com tranquilidade.
-
Obrigado pela atenção. – Sorri atencioso. – Você continua linda.
Joyce
o observa se afastar. Tremula, beberica o café e faz cara de desgosto. Frio.
Suspira e coloca as mãos sobre os olhos.
‘Por
Deus Jô! Você nunca errou? Nunca magoou alguém, virou as costas e se
arrependeu?’
A
frase insistia em se repetir em sua mente. Sim, ela errara. E esperava de Lisa
o perdão que recusara a Daniel. Ignorara suas atitudes do passado e mesmo do
presente, querendo Lisa de volta a sua vida, sem abrir mão de nada. Como se
nunca tivesse lhe virado as costas, a menosprezado, humilhado, ignorado por
tantos anos. E depois... Geme com vergonha. Correra atrás dela, desejosa da
satisfação sexual, ignorando seus sentimentos, sua dor.
Observa
a porta pela qual Daniel, o pai de sua filha, se retirara. Que moral ela tinha
de criticá-lo? Por acaso ela fizera menos ao amor de sua vida? A pessoa
que lhe apoiara, sofrera com ela, estivera a seu lado em todos os momentos,
bons e ruins?
Levanta-se
e sai da lanchonete, acabrunhada e pensativa. Nunca pensara nos
sentimentos de Lisa, nas cicatrizes que ela carregava. Achava que o fato de
amá-la resolvia tudo. Mas o amor muitas vezes não era a solução. Ergue a cabeça
e observa o movimento das pessoas a seu redor. Gira numa volta de 360° sobre si
mesma e respira fundo. Nada era tão simples assim. Nada se acomodava no lugar. Tudo
caminhava, evoluía. Até o amor. Ergue o olhar triste para o céu. Talvez ela
estivesse errada em seus pensamentos.
O
amor podia ser a solução.
-
Transito dos infernos!
-
Lisa! Olha a boca! Dizem que tem diabinho que adora cozinhar loiras só para ver
se elas ficam morenas. – O pai gargalha da própria piada.
-
Ra Ra Ra, eu ri.
-
Credo, que mau humor filha!
-
É porque não foi você que enfrentou um transito horrível, só para chegar em
casa.
O
pai sorri, estica as pernas e coloca os braços atrás da cabeça.
-
Inveje... Contemple minha mordomia. Sem horários, sem pressa, sem compromissos.
E viva a aposentadoria.
Lisa
o olha, entre indignada e divertida. Vira-lhe as costas sem responder e bate a
porta do quarto. Senta-se na cadeira da cômoda e se olha no espelho.
‘Pode
amanhã esta pessoa não a querer mais Lisa... É isso mesmo que quer?’
Lisa
relembra as palavras de Deise.
‘Lute...
Lute por sua felicidade. ’
Devagar
abre uma pequena gaveta na cômoda, de onde retira um álbum de fotografias.
Acomoda-o no colo e o abre. Sorri ligeiramente ante as fotos dela
pequenina. Troca as paginas até ver uma foto dela e Joyce ainda crianças.
Pequenas, sorridentes, inseparáveis. Por páginas e páginas fotos dela e Jô. O
primeiro dia juntas no clube, na escola, cheias de tinta por tentarem pintar a
parede da sala de estar. Jovens, com fingido ar de sabedoria, abraçadas, com um
olhar cúmplice de quem guarda um segredo valioso. Jô grávida, com ela
possessiva segurando-lhe a barriga. Mariana, bebê em seus braços... Criança,
sorrindo sem os dentes da frente, abraçada ao bichinho de pelúcia que lhe dera.
Fotos variadas da jovem morena, com seus pais e ela, durante as visitas que
fazia a BH, quando ainda morava em São Paulo.
Luiza...
Devagar passa os dedos pela imagem querida. A foto tirada na festa de quinze
anos de Mariana fazia jus a toda a imponência da bela morena. Suspirando passa
a página. Ela e Mari... Linda, na flor dos quinze anos. O sorriso de
ambas exalando felicidade. Ela olhava diretamente para a câmera e Mari... esta
focava toda a atenção a ela. O olhar, brilhante e amoroso, não escondia o
sentimento de sua alma jovem.
Volta
o olhar para a gaveta, de onde tira outra foto. Sorri saudosa. Era dela e
Mariana, em uma das vezes que passearam juntas pela cidade. Os belos
olhos verdes estavam sorridentes, apaixonados, o sorriso aberto. Era tão linda
sua Mari. Percebe mais uma foto na gaveta e estreita o olhar, balançando a
cabeça numa negativa angustiada. Nunca a vira antes. Possivelmente fora sua mãe
quem a colocara ali.
Segura
tremula a foto. Nela, Joyce e Mariana sorriam abraçadas, os olhares voltados
para a câmera. Vê a data impressa. Fora tirada um pouco antes de sua volta a
BH. Novamente observa a imagem das belas mulheres. Eram tão únicas. ... Tão
maravilhosamente únicas. Fixa o olhar em uma delas. Uma dor imensa vem a seu
coração.
-
Ah Deus... – Sussurra baixinho colocando a cabeça entre os braços. – Não
aguento mais senhor... não posso mais lutar contra este sentimento. Eu a
amo... eu a amo... ajude-me pai... eu a amo. Me ajude.
“Se uma pessoa perguntar durante
meia hora "eu", essa pessoa se esquece quem é. Outras podem
enlouquecer. É mais seguro não fazer jamais perguntas - porque nunca se atinge
o âmago de uma resposta. E porque a resposta traz em si outra pergunta.”
Ai Mistery, que nos matar de ansiedade?
ResponderExcluirAdorei saber que a Lise finalmente admitiu seu grande amor pela Mari.
Espero sinceramente que elas terminem juntas.
Beijos
Ps: não gosto da Nadia.
2 votos, Nadia apareceu só pra complicar mais.
ResponderExcluiru.u
vivaaaaaaa...
ResponderExcluirsem atrazo..
3votos...
a nadia q volte pra alemanha..rum
..
mt bom!!
bjao
4 votos
ResponderExcluirmuy bueno!!!
continue assim, e plis escreva todo diaaa !!
Grande passo para Lisa de aceitar seus sentimentos...
ResponderExcluirSeria tão mais fácil que isso acontecesse na vida real né...
aiiiiiiiiiii cade o proximo! =/
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