Mariana
caminha displicente, pelo campus da universidade. Os pensamentos longe, vagando
nos últimos acontecimentos de sua vida. Alias, nos últimos dias era tudo que sabia
fazer. Relembrar cada acontecimento que mudara tanto sua vida. Aperta os passos
tensa. Não tivera mais nenhuma notícia de Lisa. Os padrinhos, apesar de ligarem
para saber se estava bem, também nada comentavam. Suspira e joga a longa
cabeleira negra para trás. Não conseguia se desligar de Lisa, do prazer que
sentira em seus braços. 'Tenho que esquecer!'. Muda o rumo de seus pensamentos
e inevitavelmente volta-os para a mãe. O clima em casa estava péssimo. Carlos
dormindo no quarto de hospedes, a mãe sempre tensa, nervosa olhando-a com mágoa
como se ELA tivesse culpa dos últimos acontecimentos, e os pobres dos gênios
perdidos no clima ruim. Ela mesmo, tinha que admitir, estava rancorosa,
evitando até mesmo ficar em casa. Endurece o andar e aperta mais forte os
livros que carregava nos braços. A verdade é que a mãe era o esteio da casa. Se
Joyce estava mal, todos ficavam mal. E ela estava triste, abatida e depressiva.
Logo, todos estavam meio perdidos, sem saber bem como agir. Detestava tudo que
estava ocorrendo em sua vida, mas não podia mudar os acontecimentos. Tudo que
sabia é que queria mudar, se descobrir. Bem ou mal, sentira insegurança em
relação aos seus sentimentos nos últimos dias. Não esquecia as palavras da mãe,
dizendo que era obcecada em Lisa. Volta novamente os pensamentos à loira. O
coração se oprime quando relembra a mãe agredindo Lisa. Ela nem mesmo revidara,
só se defendera. Por que? Por que ela não contou tudo? Por que silenciou,
sabendo seus sentimentos por ela? Lisa a magoara tanto quando sua mãe.
Mas...
cada momento sentido com ela, cada carinho, cada pensamento, eram de amor, não
obsessão. Vinham naturais, únicos. Balança a cabeça numa negativa. Mas também
eram constantes. Sua vida sempre fora focada em Lisa, por Lisa, para Lisa. Isso
tinha que mudar.
-Bela?
Mari
olha surpresa com o chamado, quase em seu ouvido. Estava tão distraída, que não
percebera a chegada de seu colega, Flávio.
-
Flávio... nossa desculpa, estava distraída.
-
Percebi – O rapaz dá um sorriso simpático. - Os últimos dias está vindo vestida
para matar hem!?
Mariana
sorri simpática. Isso era verdade. Em uma necessidade de se auto afirmar,
estava indo para as aulas muito bem vestida e maquiada. Até mesmo para
disfarçar as olheiras que tomavam conta de seu rosto. No momento, estava
vestida com uma calça jeans de cós baixo e um corpete preto bem justo na
cintura, realçando os belos seios e o colo bem feito. A bota de salto alto
completavam o conjunto, dando-lhe uma silhueta alongada e muito elegante. Os
cabelos caiam em ondas pelas costas e a maquiagem realçava a beleza de seus
olhos verdes.
-
Pois é Flávio. As vezes tenho esse rompante de me arrumar mais. - E ri um pouco
sem graça.
-
Pois está cada dia mais linda, bela. Se é que isto é possível. É um desperdício
se arrumar assim só para a aula. - Dá um sorriso insinuante. - Podíamos dar uma
saidinha.
Mariana
olha o colega de lado. Era um rapaz bonito, com seus vinte e poucos anos. Era
simpático e cativante com seu jeito alegre e alto astral. Num impulso, Mariana
para e o olha.
-
Ok Flávio, eu topo.
O
rapaz se surpreende. Bela aceitando sair com ele?
-
Uau! Topa mesmo sair comigo? - Mari faz um gesto afirmativo com a cabeça. -
Quer ir a algum lugar em especial?
-
Ah, não sei... só gostaria de me distrair um pouco.
-
Bom, tem um barzinho muito legal no Jaraguá. Quer?
-
Quero - Mariana dá um sorriso aberto ao rapaz, e segura seu braço afetuosa.
Flávio retribui o sorriso. Bela ia sair com ele! Ninguém ia acreditar!
A noite estava sendo divertida. Mariana ria muito com os casos que o colega contava. Estavam num papo animado quando o celular toca. Mariana olha o visor. Sua mãe.
-
Alô – não consegue disfarçar a voz tensa.
-
Mariana, onde está! Já passam da uma da manhã!
A
morena lança um olhar discreto para o rapaz.
-
Mãe, estou num bar com um amigo. Não se preocupe.
-
Você tem que avisar quando vai sair e chegar tarde! Deixa todos nós
preocupados!
-
Está tudo bem. Na próxima aviso. - Sua voz era de impaciência.
-
Você está... com um rapaz?
-
Mãe, tenho que desligar. Tchau.
Desliga
o celular com um sorriso de desculpas ao colega.
-
Esqueci de avisar em casa que ia sair.
-
Tudo bem... sei como é isso. Quer ir para casa?
Mariana
olha Flávio. Era um rapaz atencioso. Por algumas horas esquecera todos seus
problemas.
Sua
mãe tinha que ligar! Droga!
-
Eu...se não se importa Flávio, gostaria sim.
Já
era quase duas horas da manha quando encostam o carro frente a casa de Mariana.
Esta se vira sorrindo para o rapaz.
-
Adorei a noite Flávio. Me diverti muito. Obrigada.
-
Eu também, Bela. - Segura seu rosto com carinho. - Foi... muito gostoso.
Devagar
aproxima sua boca da de Mariana e lhe beija delicado. Percebendo que esta não
reage, tenta aprofundar o beijo.
Mariana
sente a língua de Flávio invadir sua boca e afasta-se repentinamente.
-
Flávio... não.
-
Eu... desculpe... pensei...
-
Flávio, eu adorei sair com você, mas... é amizade ok.
O
rapaz não consegue esconder a cara de decepção.
-
Tudo bem... bom... - Dá um sorriso sem graça – Não pode me condenar por tentar
né. Mas olha, nada impede de sairmos de novo. Podemos sair em turma. Tenho uma
galera legal. Quer?
-Vou
adorar, Flávio. Estou mesmo precisando me sociabilizar mais. Amigos? Sem
mágoas?
-
Que isso, Bela! Sem mágoas. Gosto de você e ...bom... sei que podemos ser
amigos.
-
Que bom... bom... vou entrar. - Dá um beijo na face do rapaz. - Boa noite
Flávio.
-
Boa noite, Bela.
Mariana
entra na casa sem fazer barulho. Encosta o corpo na porta e toca a boca.
Devagar começa a esfregar a palma da mão na mesma. Odiara o beijo. Que nojo
aquela língua! Depois de experimentar o beijo feminino, era impossível gostar
do beijo de um homem. A boca era mais firme, nada macia. E aquela barba
arranhando sua pele... argh. Faz um gesto de repulsa. Decididamente uma coisa
podia ter certeza. Gostava de mulher. Pele de mulher, cheiro de mulher. Cheiro
de Lisa... NÃO! Balança a cabeça incisiva. Cheiro de mulher e pronto!
Joyce
afasta-se da janela pensativa. Mariana com um rapaz. Ela demorara a sair do
carro. Quem sabe não iniciava ali um belo namoro. Senta-se na cama pensativa. A
filha parecia decidida a esquecer os últimos acontecimentos. Quem sabe ela não
esquecia Lisa... elas esqueciam Lisa. Queria tanto que voltassem a se dar bem!
O clima estava péssimo em casa. Olha para o lado da cama, que Carlos antes
dormia. Por incrível que pareça, sentia falta do calor do corpo do marido a seu
lado. Suspira. Cada dia se sentia pior. E sem saída.
Quinze
dias...
Quinze
dias que Mariana saíra de sua vida. Lisa esfrega a testa. Sentia sua falta.
Demais. A jovem morena a fazia rir, tornava seus dias mais leves. Sua presença
a acalmava e ao mesmo tempo a energizava, num arroubo maravilhoso de vida. Geme
baixinho e apoia a testa sobre a mesa da clinica. Que saudade meu Deus! Que
saudade!
-
Lisa?
A
loira ergue a cabeça devagar, reconhecendo a voz da colega de serviço.
-
Oi Kelly
-
Tudo bem?
-
Levando...acho.
Kelly
se senta frente a mesa de Lisa.
-
Amiga, você está mal.
-
Não me diga! - Lisa não consegue esconder a ironia.
-
Sem ironias, Lisa. Você emagreceu. Está pálida. Olha, não sei porque esta nesse
baixo astral, mas esta na hora de dar uma sacudida.
Lisa
ergue o corpo e cruza os braços, olhando a colega indagadora.
-
Ok...E o que me sugere?
Era
a deixa que Kelly queria.
-
Pois bem. Eu e umas amigas compramos um camarote para o show da cantora Deise,
sexta que vem, mas infelizmente, duas desistiram. Você podia ir conosco.
Lisa
faz um ar de rejeição.
-
Ah, não Kelly! Nem conheço esta cantora!
-
Como não conhece!! Ela é a nova sensação da musica brasileira. Tem um estilo
meio Marisa Monte. O repertório dela é lindo!
-
Não sei...
-
Lisa, você precisa se distrair! Vamos lá... você vai curtir.
Lisa
coloca a cabeça de lado pensativa. Ao menos seus pensamentos mudariam de rumo
por alguns minutos.
-
Ok, eu topo. Ah... Kelly, você disse duas?
-
Sim...conhece mais alguém que queira ir?
-
Sim...conheço. Minha cunhada. Acho que já a ouvi falar nesta cantora. Vou ligar
para ela.
-
Nossa, isso é ótimo. Assim, completamos o número de pessoas por camarote. Me dê
o toque depois, se ela for.
-
Combinado.
Sheila olha para os lados dentro da grande biblioteca. Percebe Mariana sentada em uma das mesas e caminha resoluta até ela.
-
Ok, vamos conversar.
Mariana
ergue os olhos conformada.
-
Oi Sheila.
-
Oi Bela. Quanto tempo não!?
-
Eu... - Suspira
-
Eu nada! Você esta fugindo ostensivamente de mim ! O que aconteceu!
-
Nada eu... eu... estudando, só isso.
-
Mariana, você esta escapulindo de mim pelas beiradas. Sei que aconteceu algo.
Você esta mais triste, fechada, perdeu aquele jeitão arrogante, sei lá.
Mari
a olha surpresa.
-
Que isso Sheila!
-
É sério! Agora fica andando por ai igual modelo, esnobando as amigas. Saindo
com um pessoal que nunca teve afinidade. Resolveu trocar suas amizades?
-
Tá louca Sheila! Nada a ver!
-
Mari, olha, eu sei que esta mal. Ou me diz o que acontece, ou passo a te
esnobar também. Você decide.
Mariana
olha a amiga tensa. Não queria falar sobre os acontecimentos que mudaram tanto
sua vida.
-
Olha Sheila, eu estou em crise com minha mãe. A coisa lá em casa está feia. Ela
e eu... quase saí de casa.
-
Putz – Sheila arregala os olhos. - Por que?
Mariana
a olha séria.
-
Bom... eu... procurei meu pai verdadeiro.
-
Como?
-
Sheila, minha mãe engravidou solteira e o cara, meu pai, a abandonou. Bom... eu
encontrei com ele.
-
Puta que pariu! Sem contar a ela?
-
É...
-
Você é louca? O cara é um filho da mãe e você ainda o procura?
-
Não é bem assim, Sheila! Ele errou sim, mas... tentou contato várias vezes.
Meus... pais que não permitiram.
-
E estão certos! Pai é quem cria.
-
Ai, que saco! Por isso não queria contar. Olha, ele é gente boa. Errou, mas
esta tentando consertar a besteira que fez.
-
Beleza... entendi.... e sua mãe? Você está dando a mesma oportunidade para ela?
-
Como é? - Mariana a olha surpresa.
-
Uai... se você abre as asas para um cara que nunca te quis, por que não abre
para sua mãe, que sempre esteve a seu lado, de uma maneira ou de outra? Tô
entendendo não. Mais fácil perdoar um estranho, que quem nos ama né.
Mariana
a olha pensativa. Perdoar...
-
Eu... não sei o que pensar.
Sheila
segura sua mão.
-
Bela... seu coração é enorme. E você está mal nessa situação. É como você
disse. Ele errou, mas esta tentando consertar. Não precisa pagar o resto da
vida pelo erro do passado. Não é assim que pensa?
-
Sim..
-
Sua mãe também, uai. Ela errou, mas está tentando consertar o passado. Você
deve a ela a mesma oportunidade. Não acha?
Mariana
abaixa o olhar triste. Não parara para pensar as coisas sob este prisma. Agia
com dois pesos e duas medidas. Buscava aceitar e compreender o homem que a
rejeitara mesmo antes de nascer, mas resistia a perdoar o passado de sua mãe,
seus erros... Lisa...
Olha
a amiga .
-
Sheila... você tem razão! Eu... eu não estou sendo justa. Passado é passado. O
presente é... outra vida.
Sheila
a olha magnânima, sem perceber que o assunto ia além do que acreditava falarem.
-
Mas... vem cá. Gostou mesmo dele?
-
Dele quem? - Mariana a olha indagativa.
-
Seu pai, gente!
-
Ah! É... claro... gente boa. A gente se fala ainda por telefone, mas... bom...
só vi ele uma vez. Prefiro ir devagar.
-
Está certo. Muito certo. Bom Bela, mudando de assunto, já que voltou a falar
com nós, mortais... que tal me acompanhar num show massa, sexta feira?
-
Show de quem?
-
Deise. Aquela gostosa! Ai... - Põe a mão sobre o coração.
-
Ah Sheila, ela é bonitinha, mas nem é isso tudo.
-
Que isso, Mari! Eu beijava uma a uma daquelas sardas!
-
Sei... hum... até que é um bom programa. Vai sozinha?
-
Vou com a Claire, minha amiga. Lembra dela?
-
Claro. Gente boa
-
E como! Topa? Se quiser mesmo, já ligo para ela comprar mais um ingresso. Tem
que ser rápido, que já está quase esgotado.
-
Não sei...
-
Mari! Para de corpo mole! Vamos lá! Vai ser algo diferente! Depois podemos sair
um pouco, sentar num barzinho.
-
Ah, beleza então. Pode comprar que vou.
'Tomara
que não me arrependa'
Mari, Sheila e Claire se espremem na pista para estar o mais próximo possível do palco.
-
Cara, nem acredito que vou ver essa maravilha de perto!
-
Nossa Sheila, que babação! - Mari ri divertida. Tentava a todo custo se divertir.
Afinal as amigas faziam de tudo para alegrá-la e não era justo as desapontar.
-
Babação, Mari? Cara, fala sério! A mulher é tudo de bom, canta e toca barbaridade.
Ela é a nova sensação da música.
-
Eu sei que ela toca muito. Mas você extrapola na tietagem – Se vira para
Claire. - Você não acha Claire?
-
É ela! É ela! - Os olhos de Claire estavam vidrados no palco. De repente ela
solta um grito histérico – Diva!!!!!
Mariana
arregala os olhos. Que isso, meu Deus! Suspira. Vai ser uma noite longa. Logo
se sente empurrada por Sheila.
-
Anda Mari. Quero ficar o mais perto possível dela.
A
cantora adentra o palco. Os gritos de euforia tomam conta da plateia. Mariana
fixa os belos olhos verdes no palco. A jovem cantora sorri simpática ao público.
-
Olá galera!!! Maravilha, estar aqui em Belo Horizonte com vocês! Mas vamos com
música!
Logo
a melodia invade todo o ambiente. Mesmo sem querer, Mari se deixa envolver na
melodia. Não havia como negar o talento que se apresentava. Seu estilo era mais
MPB, com letras fortes e intimistas. Estava em total sintonia com o modo de
pensar dos jovens, e fugia totalmente do estilo superficial e cheio de modismo
da nova geração da musica brasileira.
-
E aí pessoal? Vamos com mais música?
O
Show corria maravilhoso e cheio de adrenalina. Mari repara que não só os homens
gritavam o nome da cantora. Mulheres quase histéricas, gritavam verdadeiras declarações
de amor a ela.
-
Sheila! - Grita a amiga – A Deise é lés?
-
Que???
-
A cantora, Deise! Ela é lés???
-
Mari, dizem que ela é bi, mas sei lá. Se for to na área. A mulher é gata!!!!
Deise!!!!! Me olha!!! - Grita toda espalhafatosa.
Mariana
volta novamente o olhar para a cantora. Simpática e envolvente, com o rosto
cheio de sardas e longos cabelos ruivos, a cantora cativava a todos. Era bonita
sim, sendo que seu maior trunfo, era o sorriso espontâneo e maroto. Logo se
deixa envolver pela alegria contagiante da plateia. Tinha que admitir. Valera a
pena vir.
Deise
adorava ver a alegria e empolgação da plateia. Se sentia em total sintonia com
seu público. Sorri, quando percebe uma fã gesticular, quase se jogando em cima
das outras a seu redor. Devagar caminha em sua direção e lhe manda um beijo
carinhoso. Era tão bom fazer o que gosta! Valera a pena investir em seu talento
pela musica. A musica termina e ela caminha até perto do baterista para beber
um pouco de água.
-
É isso aí pessoal! Vocês são demais!! - Troca o violão e sorrindo caminha mais
ao centro do palco dedilhando a entrada da música que cantaria. Volta o olhar
distraidamente para os camarotes. É quando seu olhar se cruza com outro. O
coração falha uma batida. Só havia uma pessoa no mundo com olhos como aquele.
Belíssimos olhos cor de mel. Percebe que perde a introdução da música e volta
novamente a tocá-la. Os músicos se entreolham , mas a acompanham. Deise sente o
coração acelerado. Lisa! Tinha certeza que era Lisa. Começa a cantar e
novamente olha para o camarote. Era Lisa! Esta lhe dá um suave sorriso. Deise
se sente imundada de alegria e prazer. Sua voz eleva um tom, como a expressar
seu momento presente. Retribui o sorriso e volta-se novamente para a plateia. A
noite estava perfeita.
Lisa
sorri alegre. Tinha certeza que Deise a reconhecera. Não acreditara quando a
vira entrar no palco. Ela realmente investira na música! Não mudara nada. O
modo de vestir, sorrir, tudo. Parecia que a tinha visto ontem. Quando esta a
olha, com seus olhos verdes brilhantes, o coração de Lisa se oprime.
'Mariana...' Mas logo afasta os pensamentos tristes. Hoje não queria tristezas.
Aliás, tinha muitos motivos para sorrir. Encosta o corpo na cadeira. Se antes
estava desanimada de ir ao show, agora se sentia agradecida.
-
Tá vendo Lisa! Te falei! Essa cantora é sensacional! - Alice a olha quase
arrogante - Essa cantora está sendo considerada a nova revelação da musica
brasileira. Guarda o que estou te falando. Ela é a nova Marisa Monte. Adoro o
estilo dela.
Lisa
a olha com um sorriso.
-
Com certeza, Alice. Ela é sensacional.
A
musica acaba e Deise caminha devagar em direção aos músicos abafando o
microfone. A plateia a olha em expectativa. Depois, caminha em direção aos
instrumentos ao lado do palco e pega um dos violões, o acariciando com ternura.
Devagar se coloca ao centro do palco.
-
Adoro este violão. Estão vendo essa assinatura aqui? - Aponta o canto do violão
– Ok, sei que não veem. Mas é de Caetano Veloso! - Sorri alegre – Bom, hoje quero
lhes contar uma pequena história. Sei que terão paciência de me ouvir. - E
torce o nariz com um jeitinho todo maroto.
-
A alguns anos tive um acidente e machuquei seriamente minha mão. - A ergue
olhando-a pensativa. Pois é... - Lamenta ao ouvir algumas exclamações no palco
– Mas me recuperei totalmente como podem ver – E brincando faz um som
arrepiante com o violão. - Bom, resumindo... se hoje estou aqui, tocando para
vocês, tenho muito a agradecer a uma pessoa. Alguém que me incentivou quando
achava que não voltaria a tocar, que me fez ver que a musica era meu caminho...
minha luz. E essa pessoa hoje está aqui, para minha grande alegria. E é a ela
que dedico a musica que vou tocar. Sei que muitos estranharão, pois não faz
parte de meu repertório. Mas... que posso fazer? Sou fã de… Elis Regina!
Suavemente,
começa a tocar o violão. Logo a voz se faz presente e todos suspiram. Quem era
a pessoa que ela falava? A expectativa toma conta da plateia, quando a veem
caminhar em direção a um dos camarotes.
Alice
arregala os olhos ao ver a cantora caminhar em direção a elas. Surpresa, olha
as outras mulheres no camarote, mas estas também estavam de olhos arregalados.
Vira-se então para Lisa e chocada percebe a cor escarlate que esta se
encontrava. Deise conhecia... Lisa???
-
Lisa?
Alice
não era a única que olhava chocada o encontro entre as duas mulheres. Mariana
abre a boca surpresa de ver Lisa presente no show. O que ela fazia ali? Como?
Olha o rosto da loira. Ela estava... vermelha??? Olha a cantora que se
aproximava sorridente do camarote, ainda dedilhando a musica. Lentamente, sente
a raiva tomar conta de seu corpo. Lisa não parecia sofrer por sua perda. Ao contrário.
Sorridente e com pose tímida, retribuía com evidente prazer a aproximação de
Deise.
-
Hã... Mari... Aquela loira não é a sua... hã... Lisa?
Mas
Mariana não responde. Com olhar flamejante, acompanhava sem perder um segundo,
o encontro das duas mulheres.
Deise
sorri e volta a repetir a letra da musica que cantava. Observa o rosto de Lisa
vermelho. Ela reconhecera a musica. Devagar, caminha em sua direção.
“Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez
criança
Porque já eras minha
Sem eu saber sequer
Porque és minha mulher
Minha mulher
Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram
minhas com calma
Porque foste em
minh'alma
Como um amanhecer
Porque foste o que
tinha de ser
(Que tinha de ser -
Elis Regina)
Sorri
marota, quando vê Lisa tremer por, propositalmente, mudar novamente a letra da
musica. 'Como da primeira vez'. Dá um suspiro saudoso e, finalizando a melodia,
estende a mão para Lisa. A plateia grita e aplaude. Que momento lindo! Quem era
esta que Deise, sem hesitar, se declara em pleno palco?
Lisa
a olha com olhar assassino. Ainda com a mão estendida, Deise faz um ar
engraçado.
-
Lisa, help. - Diz pelo canto da boca, fingindo não perceber que a plateia a
ouvia. - Depois pode me dar os tapas desejados, mas agora sorria e diga...
Deise! Adorei!! Disfarça menina! - E sorri exageradamente para o publico. Todos
riem divertidos. Diversos flashes disparam em direção as duas. Lisa,
conformada, balança a cabeça e pega na mão da ruiva. Deise não mudara nada. O sucesso
não lhe subira a cabeça. Aperta-lhe a mão com carinho. Era bom estar perto dela
novamente.
O
show fora perfeito. Deise sorri e cheia de expectativa espera Lisa no camarim.
Pedira aos seguranças para lhes permitirem a passagem. Olha cheia de expectativa
quando a porta se abre. Sorri abertamente ao ver Lisa adentrar junto a uma
jovem mulher grávida. 'Quem seria?'
-
Lisa!! - Abraça a loira fortemente. - Meu Deus! Você esta... diferente! Mais...
natural, solta. Adorei!!
Lisa
sorrindo retribui o abraço.
-
Pois você não mudou nada, Deise! Você está linda! - Se vira para a cunhada. -
Esta é Alice, minha cunhada e grande fã sua.
-
Prazer Alice – Deise sorri simpática.
-
Prazer Deise. Surpresa saber que é amiga de Lisa.
A
cantora sorri e volta o olhar para a loira.
-
Amiga? Hum... sim sou. Se estou aqui hoje é graças ao seu incentivo, Lisa.
Nunca esqueci o que me disse sobre correr atrás dos meus sonhos, sabe. Desisti
do Direito e investi na carreira musical. Tive sorte e aqui estou. - Ergue as
mãos com modéstia.
-
Muito bem, pelo que vejo.
-
Demais!! Mas... por que não me acompanha até o hotel? - Olha o relógio um pouco
ansiosa. - Sei que esta tarde, mas... eu adoraria.
Lisa
volta o olhar para Alice que ergue as mãos e sorri.
-
Por mim tudo bem. Volto para casa de taxi.
Lisa
volta o olhar para Deise.
-
Fazemos assim. Me diz o hotel que está, e depois de deixar Ali vou para lá.
-
Ok. Vou deixar uma comunicação que você pode subir, ok. Espera que vou chamar alguém
que saiba o hotel - Faz uma careta e rindo chama alguém no corredor. Feliz, se
vira para Lisa – Vai ser um barato! Temos muito que falar.
Mari
caminha com raiva em direção a saída do show. Seu rosto transtornado, cala as
duas jovens que a acompanhavam.
-
Que tem Bela? - Claire sussurra baixinho para Sheila, que a olha de lado.
-
Sei não... - Sheila evita manifestar suas duvidas – Deve ser alguma dor de
cabeça, sei lá. Claire... acho melhor largarmos o barzinho pra lá. Vamos outro
dia, pode ser?
-
Tudo bem... to cansada mesmo. Bom... melhor eu pegar um taxi. - Param em frente
a um ponto de taxi - Vai comigo?
Sheila
se vira para Mari.
-
Mari, olha, acho melhor irmos para casa. Você quer dormir lá em casa?
Mariana
fica sem graça ante o convite. 'Elas desistiram do bar'
-
Oô, gente desculpa... eu... fiquei de mal humor... me desculpam? É que ...deu
dor de cabeça.
-
Não... tudo bem, Bela... olha, como eu e Sheila moramos para o mesmo lado,
vamos dividir a corrida. Não fica chateada?
-
Que isso! Vou pegar um também. Mas a gente sai numa próxima, né! - Mariana a
custo conseguia controlar a voz e o sentimento de angustia. Sheila a olha
atenta.
-
Claro Bela. Eu... - Olha discretamente para Claire que já abria a porta do taxi
- Depois posso te ligar né.
-
Claro Sheila. Bom... então tchau. - Acena para as duas e caminha para o taxi
logo atrás. Seu sangue fervia de ódio. Entra brusca no automóvel e dá o
endereço ao motorista. Claro que Lisa devia estar no camarim com … Deise.
Lembra o rosto da cantora. Era cativante, quase irresistível. Um arzinho de
moleca que encantava a platéia. Geme angustiada, sem perceber o olhar discreto
do motorista sobre si. Lembra Sheila dizendo que a cantora era bissexual. Será
que ela e Lisa... elas... Bate a mão na cabeça. 'Eu mato aquela vaca se ela
encostar em Lisa!'. Bate a mão sobre o banco. E se as duas ficarem juntas a
noite? Geme mais alto desta vez. Será que foram amantes? A musica que ela
cantou para Lisa... o modo que brincou, insinuou... tudo revelava uma grande
intimidade. As duas … ai meu Deus não quero pensar nisso.
'Deixe
de ser idiota Mari! Você mesmo disse a Lisa não querer mais saber dela! Você
não tem nada com isso! Se ela quiser dormir com a cantora é problema dela!'
-
Não!!! - Mariana grita, respondendo em voz alto aos seus próprios pensamentos.
O motorista se assusta.
-
Ei... er... moça... você está bem?
Mariana
o olha sem graça.
-
Eu...hã...desculpe eu... to sim...estou bem. Desculpe...
Suspira
oprimida.
Corria
em direção oposta a tudo que acreditava. E estava mais infeliz que nunca. Será
que estava valendo a pena?
...e ela cada vez
maior, vacilante, túmida, gigantesca
se conseguisse chegar mais perto de si mesma, ver-se-ia inda maior...
e em cada olho podia-se-lhe mergulhar dentro e nadar sem saber que era um olho...
se conseguisse chegar mais perto de si mesma, ver-se-ia inda maior...
e em cada olho podia-se-lhe mergulhar dentro e nadar sem saber que era um olho...
Nossa Mistery não vejo a hora da Mari se entender de uma vez com a Lisa. Elas tem q ficar juntas o amor das duas é tão lindo, tão verdadeiro.
ResponderExcluirTo amando a historia cada vez mais.
Beijos.
ai fiquei tensa =s
ResponderExcluirhahaha
beijoos
Capitulo MaravilhosooOoOoOoooOoo ... Adorei a Mari morrendo de Ciumes da Lisa ...
ResponderExcluirO Conto ta cada vez mais Perfeito ... Parabéns Mistery ...
Beijos ... Xuxa ...
Ahhh meu dels, pq vida de lesbica é sempre assim cheio de reencontros kkkkk.
ResponderExcluirMundo pequeno, ou melhor brejo pequeno kkkkk
Adorooooo
concordo com a Rebeka...
ResponderExcluiré um saco parece q todas s conhecem..
rumm..
dá ate raiva..rsrs
mas o conto ta maravilhoso
parabens Mistery
Adorei o capítulo! Muito legal a parte da Deise... até reli a parte do conto que aparece a Deise pela primeira vez na história... Puxa, mas que dó que dá do sofrimento da Mari e da Lisa...
ResponderExcluirMais uma vez parabéns Mistery!
Beijos,
Dani.
cara cade o proximo cap to tao ansiosa vc n sabe o quanto
ResponderExcluirsou muito sua fã mistery
bjs
e o próximo capitulo?
ResponderExcluir