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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Capítulo VIII

'O tempo aproxima as pessoas, reata os laços perdidos.'
Lisa suspira e joga o pequeno papel com a mensagem na lixeira. Tanta verdade em um pedacinho de papel! Senta-se na mesa do pequeno restaurante e, com um sorriso suave, pede um suco de laranja. Cutuca a mesa com os dedos longos, em um sinal claro de impaciência.
- Cheguei!!
- Merda! Que susto! Já não sou mais adolescente para me assustar assim, Jô. A infância está lá atrás, ok.
Joyce senta-se rindo e joga os longos cabelos para trás.
- Você não muda Lisa. Sempre assustou com facilidade. Sabe - Apoia o queixo na mão - sempre me perguntei por onde vão seus pensamentos, quando viaja assim.
Lisa olha Joyce silenciosa. Onde iam seus pensamentos? Nem ela sabia responder. Faz um gesto de descaso com os ombros e beberica o suco. Observa a morena erguer a mão e chamar o garçom. Como a vida era estranha. Depois de anos de brigas e silêncio cheio de magoa, lá estavam elas, tentando recuperar um pouco da amizade perdida.
- Então Jô? Que tanto queria conversar?
- Pô Lisa, precisa de um motivo para se encontrar comigo? Queria apenas papear. Sempre tivemos tanto para conversar. - Dá um sorriso insinuante – E outras coisas mais....
Lisa suspira impaciente. Joyce não tinha jeito. Sempre que se encontravam, não deixava de soltar uma piadinha sobre as duas.
- Ok Jô … converse. - Tenta evitar a lembrança de Joyce nua em seus braços.
- Você está uma chata Lisa. Bom, ganhei a causa.
- Que causa?
- Lisa! Lembra da causa que te contei, do homem que estava dirigindo na contramão?
- Ah sei! - Lisa faz ar irônico – Do bêbado que dirigiu na contramão e matou pai e filho ao bater de frente com outro carro. E para completar saiu ileso! - Faz ar de fingido espanto.
- Esse mesmo – Jô suspira um pouco sem graça.
- Está mesmo me dizendo que ganhou a causa desse assassino?
- Sim... bom... ele não vai a júri popular. Esse era meu medo.
- Traduz isso Jô.
- Bom Lisa, consegui que ele não responda por homicídio doloso, mas sim culposo, que é quando a pessoa não tem intenção de matar.
Lisa arregala os olhos chocada.
- Pelo amor de Deus, Jô! Vou comemorar o que? Que minha amiga acaba de livrar um assassino de responder por seus atos? Que a Justiça de Minas é uma merda? Que esse… lixo humano, vai voltar a dirigir nas mesmas ruas que eu, e amanha posso ser a próxima vitima??
- Lisa, que exagero! Ele vai responder por seus atos, só que pegará uma pena muito mais branda.
- Resumindo. Pizza, como tudo no Brasil. O cara nem preso será. Me diga, por favor, que o outro advogado vai recorrer!
Joyce a olha séria.
- Se fosse eu, recorreria Lisa. Olha, esta é minha profissão. Meu papel é evitar que ele pague um preço alto demais por sua imprudência.
- Por seu assassinato, quer dizer né Jô.
- Que porra Lisa! Ele cometeu um erro. Mas não é assassino! E se fosse seu parente? Não seria tão dura.
- Diga isso a esposa e mãe, que ficou sem marido e filho e até hoje sofre a perda.
Joyce faz um gesto impaciente
- Lisa. Sou advogada. E das boas. Faço meu papel em todo este processo. Agora, ele que responda com sua consciência, diante de seu ato irresponsável. Se tem que culpar alguém, culpe nossas leis que são brandas, nossos legisladores que não fazem cumprir o que está no papel. Eu faço uso, e bom uso, dos recursos que me dão, em defesa do meu cliente!! - Termina o discurso inflamado, quase aos gritos.
Lisa balança a cabeça inconformada.
- Tem razão. Mas acho ingrato você defender alguém que tem culpa, de responder por seu delito. Eu não seria advogada nunca!
Joyce passa a mão pelo cabelo.
- Já vi que não vê motivo de comemoração.
- Sinceramente, não. Desculpe, mas não sou a pessoa certa para isso. Não nesta situação.
- Bom... - Joyce a olha decepcionada. - Então... conta algo novo?
- Tudo igual. - Olha a morena séria – Desculpe Jô... não quis estragar sua vitória.
- Quis sim Lisa. Mas deixa pra lá. Será que um dia conseguiremos resgatar um pouco do que fomos?
- Sim... acredito que sim Jô. - Tenta esconder a incerteza. Como dizer que sentia receio e insegurança na presença da morena?
- Tudo Lisa? - Joyce a olha com um sorriso de lado, passando a mão delicadamente sobre o decote farto.
Lisa acompanha o olhar sobre o decote. Não havia como deixar de notar a beleza da amiga. Jô não desistia.
- Jô...
- Eu sei...eu sei. É brincadeira. - Suspira e olha o relógio. - Bom, vou ver então se termino de olhar umas papeladas no escritório. Desculpe ter te feito deslocar sem motivo.
- Que isso Jô! Senta aí!
- Não, vou nessa.- Põe um dinheiro sobre a mesa. - Minha parte. Olha Lisa, você luta contra o inevitável. Pense nisso.
Sai andando rapidamente. Lisa a acompanha com o olhar. Joyce era uma mulher linda e sensual. Como negar que ela ainda lhe desperta a libido? Difícil. Mais difícil ainda resistir a ela. Suspira observando o quadril deliciosamente esculpido da morena. A cada encontro, vinha com uma insinuação, um toque, um olhar. 'Está na hora de arrumar uma mulher... nem que seja para uma transa rápida.' Depois de Luiza nunca mais dormira com ninguém.
'Está na hora de correr atrás do prejuízo' Pega o celular e começa a olhar sua agenda. Flávia! A encontrara semana passada em uma das entrevistas de emprego e esta se insinuara para ela.
'Isso! Lisa... de volta a ativa!'
Sorrindo, olha o visor do celular e percebe que este continuara correndo pelos nomes da lista de contatos. Tira o dedo do pequeno visor e olha perturbada sobre o nome que parara. Mariana. Logo perde a vontade de ligar. Deita a cabeça desanimada sobre a pequena mesa. 'Mariana...' Se a mãe lhe despertava a libido, a filha lhe despertava os sentimentos mais confusos. Fecha o celular desgostosa. O desejo se fora, a vontade de transar também. 'Vou virar celibatária'

Jô senta ao volante e balança a cabeça desgostosa. Lisa não entendia sua vida! Sempre dona da verdade, sempre se achando melhor que ela! Nunca cedia a seus avanços mesmo a devorando com o olhar. Estava de saco cheio disso. Pega o celular e disca para Juliana.
- Ju, é a Jô.
- Não me diga! - A voz do outro lado da linha é divertida – Deu saudades morena?
- Eu... ganhei uma causa custosa e queria comemorar. Tem um tempinho para mim?
- Agora amoreco?
- Se possível sim.
- Hum... sempre dou meus pulos, você sabe. Mas qual causa?
- Lembra o processo do acidente, naquela avenida de zona sul?
- Da contramão? Mentira que conseguiu ganhar! Uau, parabéns!!! Essa vitória não é para qualquer um.
- Pois é... não é para qualquer um. Na verdade, só ganhei uma batalha. Muita coisa vai acontecer ainda. Mas te explico pessoalmente. Posso passar ai e te pegar?
- Agora!
As duas mulheres rolam sobre a cama violentamente. Juliana suga os seios morenos sem dó, saboreando-os com volúpia.
- Ju! Não marca!
- Delícia... você é muito gostosa!
Sentindo um desejo louco e obsceno, Joyce empurra Juliana e a coloca de costas sobre a cama.
- Eu te quero!! Eu te quero!
Juliana se surpreende com a força de Joyce e com suas palavras, carregadas de raiva e desejo. Os belos lábios possuem os dela, com poder e habilidade. A língua lhe penetra a boca, acariciando-a. Sente os mamilos enrijecerem doloridos, os seios doerem pesados. Estava sem folego, impotente de desejo. Um desejo animal, voraz. Joyce parecia possuída por um desejo insaciável e levava Juliana com ela.
Jô agarra os seios pesados e os acaricia. Juliana protesta ao sentir os lábios se afastarem do seus, mas geme aos senti-los percorrer seu corpo. Sente- a sugar o mamilo dolorido, a língua, os dentes envolve-lo, causando-lhe um prazer que era quase dor. Com as mãos aperta-lhes os seios com tal intensidade que estes pareciam se erguer por vontade própria, para deleite da boca sedenta.
Joyce desce os lábios e beija o ventre exposto. Desce as mãos pelo corpo, agarrando-lhe os quadris e depois as leva para dentre as coxas, acariciando-as. Com um gemido longo afasta-lhe as pernas, quase já sem controle. Olha a vulva exposta e abre-a com os dedos provando-a longa e langorosamente.
Juliana grita, arqueando as costas. Espasmos de prazer a abalavam. A tensão cresce dentro dela levando-a se mexer para cima e para baixo. A língua trabalhava nela, lambendo num momento, no outro fazendo círculos contra o centro rijo do anseio. Toma os seios novamente nas mãos sem parar de lambe-la. Quando Jô a penetra, não consegue controlar os tremores se segura contra a cabeceira. A língua a penetra mais profundamente para depois lamber com agilidade seu centro de prazer. Sente um dedo a penetra-la...depois dois, três. Seu corpo estremece e geme balançando a cabeça enlouquecida.
- Ahhh!!!
- Você é minha! Gosta?? Gosta????
Juliana abre os olhos e vislumbra a bela morena que a fodia, quase em desespero. A cada estocada com os dedos, seus seios balançavam livres. Os bicos estavam tesos e a pele toda arrepiada. Os olhos fechados e a boca entreaberta, não escondiam o corpo todo tomado pela satisfação de estar no domínio.
- Você se acha melhor? Pois vou te mostrar! Você me quer! Você me deseja sua vagabunda! Você é minha!
Juliana não consegue mais segurar o grito de prazer. Começa a mexer o quadril sem controle.
- Mexe vagabunda! Mexe! Você é minha! Minha, Lisa!! Minha!
O orgasmo vem forte. Enquanto gritava, Juliana houve as palavras ao longe; então, não sentiu mais nada.

Joyce ergue a cabeça devagar, observa a amante e suspira. Fora tomada de um orgasmo intenso ao senti-la gritar e comprimir seus dedos, ainda dentro dela. Faz ar de satisfação se vira para tocar Juliana, e se surpreende quando esta se ergue repentinamente.
- Ju?
Juliana observa-a sobre a cama. Joyce estava mais desejável que nunca, com os olhos febris, nua e expostamente molhada. Tensa, procura na bolsa um cigarro.
- Cigarro Juliana? Você não fuma!
Trêmula, Ju acende o mesmo.
- Como vê, não me conhece tanto quanto pensa Jô.
Suspirando, caminha em direção a cama e se senta. Ergue o lençol e cobre a amante.
- Precisamos conversar e não preciso de mais tentações.
Jô, irritada, afasta o lençol e senta também.
- Que acontece agora? Não gostou do sexo?
- Sexo... - Juliana balança cabeça. - Eu adorei Jô. Adorei mesmo. Foi um prazer sem igual.
- Então... - Jô tenta abraça-la novamente – Vem... vamos namorar mais um pouco.
Juliana novamente se ergue e vira-se para a outra.
- Nós não namoramos Joyce. Nós... apenas nos divertimos juntas.
Joyce se assusta com o tom da outra.
- Ok... eu... não falei por mal.
Juliana procura controlar a raiva que surge dentro de si. Traga o cigarro com lentidão e olha a nudez maravilhosa da outra. Solta um suspiro quase de lamento.
- Você é linda Joyce. Mas... acho que devemos parar por aqui.
- Como é? Que isso Ju! Porque isso agora?
- Por que? Por que Jô? Eu te digo porque. - Juliana joga o cigarro no chão do quarto de motel e segura Joyce pelo queixo, obrigando-a olhá-la nos olhos.
- Porque, por mais que seja delicioso estar com você, por mais gostosa que você seja , quero que seja a mim que toque quando estiver numa cama comigo.
Joyce arregala os olhos assustada.
- Eu... não entendo.
Juliana se afasta dela desanimada.
- Jô... eu sei que nunca nos cobramos em nada, mas... quando estou com você, estou com você! Não quero ser usada . Já fui usada antes e não quero mais passar por isso.
- Eu... não entendo Ju...
- Sim, você entende. Me diz... em quem pensava quando me tocava com tanto desejo?
Joyce olha para o lado desconcertada.
- Ninguém... eu... eu pensava em você.
- Não Jô... você chamou o nome de Lisa.
- Que?? Não, eu... não, eu não fiz isso! - Joyce se ergue angustiada da cama.
- Sim Jô, você chamou por Lisa. - Aponta a cama desfeita - Era Lisa que você tocava naquela cama.
- Não!! - Joyce grita – Eu já disse que não! Eu... - Passa a mão sobre os cabelos bagunçados – Eu... estive com ela hoje e me estressei... foi por isso.
Juliana cruza os braços irônica
- Ah sei... e quando se estressa vai para cama com outra e clama por ela.
- Para já com sua ironias Juliana! Sabe que não foi isso!
Juliana suspira cansada.
- Olha Jô... Ok, vamos falar na boa. Eu sou a outra de sua vida, mas não quero ser a outra em sua cama, consegue me entender? Quando alguém está comigo, é a mim que deve chamar.
- Ju... não foi por mal.
- Eu sei que não foi, mas aconteceu. - Balança a cabeça e fala, mais para si mesma - Lisa... é incrível como ela sempre deixa alguma marca por onde passa.
Joyce a olha triste. Como desfazer a burrada que cometera?
- Ju... desculpe.
Juliana a olha sem ressentimentos.
- Tudo bem, Jô. Mas... posso ser sincera com você?
- Sim.
- Esqueça Lisa. Ela não é mulher para você.
- Por que diz isso?
- Primeiro, porque ela jamais aceitaria o papel que me dedica em sua vida. E segundo, porque ela jamais lhe dará o amor que deseja.
Joyce a olha perdida.
- Ela... pode sim. Ela já me amou antes. Já foi minha antes. Pode ser de novo.
Juliana balança a cabeça desalentada.
- Ah Jô...Jô... Que vontade de te matar por me usar assim! - Afasta-se e começa a se vestir.
- Ju... vamos conversar. Não precisamos terminar! Olha para mim!
- Joyce, sabe quem mais me usou? Sabe quem me fez sentir que não vale a pena se dedicar a quem ama outra pessoa? Pois lhe digo. Lisa.
- Como é?
- Lisa, Joyce. Houve uma época que me apaixonei por ela. Muito. Mas ela nunca dedicou o mesmo sentimento por mim. Ela me tocava, me dava prazer, mas não estava ali comigo. Não de espirito. Então fui embora. E ela me deixou ir.
- Eu...
Juliana suspira e a olha sem rancor.
- Tenho uma mulher que me faz bem em casa. Alguém que dedico grande carinho. E que, quando dorme comigo, grita meu nome. Você é linda, mas... não dá mais.
- Juliana... você...e Lisa... não pode ser.
- Mundo pequeno né Jô. Daria um belo conto. Mas é vida real.
Jô se senta sobre a cama e segura a barriga balançando-se angustiada. Juliana senta-se a seu lado e a abraça.
- Jô... foi bom enquanto durou. Mas sabemos que teria um fim. Vem... temos que ir para casa.

Mariana suspira, enchendo a boca de pipoca. Observa os irmãos rirem com o DVD que passava e suspira entediada. Que noite fenomenal a sua. Pensa em Lisa e na amizade de ambas.
' Amizade... grande merda' . Mas, como era a forma de se aproximar da loira, aceitava cada migalha que esta jogava em sua direção. Ainda assim, não podia deixar de notar o quanto ambas se tornavam próximas a cada dia, o quanto a proximidade lhes fazia bem. Como Lisa podia não perceber isso? Com ela, o vazio que sentia dentro de si desaparecia, a vida se tornava colorida, cheia de alegrias.
Lembra os momentos de ambas, como tudo parecia motivo para se tocarem , sorrirem uma para a outra. 'Saudade de você Lisa...'
Lisa a buscaria amanha na faculdade, para irem juntas a fraternidade. Mari a convidara e ela prontamente aceitara. Depois, poderiam tomar um lanche. Mais um momento para guardar no coração. Suspira enlevada e assusta-se quando a porta abre repentinamente.
- Mãe?
Joyce passa como uma bala pela sala. Mariana observa os irmãos e com um gesto tranquilizador indica que devem continuar a assistir o filme. Levanta-se e vai atrás da mãe.
- Mãe? Tudo bem? - Abre a porta do quarto devagar.
- Mariana... eu... me deixe só.. eu... quero ficar só, ok.
Mari percebe que a mãe chora.
- Mãe! Que acontece?
- Mariana! Eu... tive umas desavenças no trabalho e... por favor... quero ficar sozinha.
- Tudo bem eu... olha estarei lá fora se precisar de algo, ok.
- Tudo bem... vai.
Observa a filha sair do quarto. Se sentia impotente. Estava cansada. Cansada do peso de suas escolhas.

Lisa caminha pelo campus da universidade. Parecia uma cidade. Uma maldita cidade onde se perdia com extrema facilidade. Olha o mapa que Mari lhe ditara. Ok, era fácil. Vamos lá.
Deixa o carro estacionado e caminha em direção ao prédio que, acreditava, ser o que procurava.
Olha distraída a grama que circunda o prédio e se surpreende ao ver Mari sentada, debaixo de uma árvore, acompanhada de outra jovem. Sorrindo se aproxima, mas estanca ao ver a jovem tocar Mari com intimidade no rosto e lhe beijar delicadamente a face. Sente uma opressão no peito e uma vontade louca de afastá-la da outra. Vira-se, mas antes que se afaste, Mariana lhe percebe a presença.
- Lisa!
Vai em sua direção, puxando a outra pela mão.
'Não é possível que vai me apresentar a namorada'
- Ah... ei Mari! Não tinha lhe visto.
Mariana se aproxima e beija-lhe carinhosa o rosto. Vira-se para a outra sorrindo e lhe apresenta.
- Sheila, esta é Lisa, uma querida amiga.
'Amiga? Agora sou amiga? Até umas semanas atrás estava chorando, declarando um amor eterno'
- Olá Lisa, Bela não para de falar de você! - Sheila sorria simpática.
Com grande esforço Lisa retribui o sorriso e aperta-lhe a mão.
'Bela? Ela a chama de … Bela?'
- Coisas boas espero. - Sentia o maxilar doer pelo sorriso forçado. Percebe Mari estreitar os olhos verdes e treme ao vê-los clarear. Isso não era bom sinal.
- Claro que boas né, Sheila. - Mari abraça a jovem carinhosa. - Sabe Li, Sheila é a melhor coisa que me aconteceu na faculdade.
- Sei... ah...melhor... coisa. - Lisa começava a avermelhar.
Sheila, sem entender bem o que ocorria, mas dando todo o apoio a amiga, a abraça pela cintura.
- Claro né amor... - Beija-lhe o rosto carinhosa – Nunca vou esquecer como me defendeu daqueles trogloditas preconceituosos. - Olha Lisa com um sorriso – Bela mora aqui, ó – E aponta o coração.
A vontade de Lisa era arrancar Mari dos braços da outra. Aperta os dedos na palma da mão e respira fundo.
- Que lindo! -Lisa não consegue esconder a ironia – Vamos então... Bela?
Sheila a olha surpresa, mas divertida. Com um olhar cheio de mensagens mudas, solta Mari do abraço.
- Prazer conhecer você, Lisa. Bela, não deixa de me ligar quando chegar em casa viu!
Mariana sorri e acena em despedida, correndo atrás de Lisa que a deixara para trás.
- Lisa, calma. Que pressa é essa?
- Estamos atrasadas não estamos? Já viu o trânsito como está? Levante as mãos pro céu, se conseguirmos chegar a tempo na fraternidade!
Emburrada, não diz mais nenhuma palavra. Mariana se senta no banco do passageiro e pelo caminho observa Lisa. Esta, ao trocar a marcha do carro, sente Mari segurar sua mão com carinho.
- Obrigada por me buscar. - E lhe dá um sorriso suave.
Lisa sente o coração abrandar. Não contivera o ciúmes ao ver Mari com outra pessoa.
- De nada querida.

A reunião fora proveitosa. Sentadas na mesa do bar, ambas discutiam sobre a palestra da noite.
- Nada a ver Lisa! Tem gente que não entende que o espiritismo não é religião, é doutrina. Se baseia em evidências.
- Mari, Mari. Que evidencias? Podemos acreditar em fenômenos?
- Foram comprovados cientificamente, Li!! E outra, odeio dizer que sou espirita e um monte de gente me imaginar rodando de baiana num terreiro. Sem desmerecer quem faz isso, mas as pessoas deviam entender que, como no catolicismo, o espiritismo tem varias ramificações. Kardecismo, umbanda, candomblé.
- Hum... as pessoas deviam procurar ler mais sobre religiões antes de debater o assunto.
- Também acho. Sabe, uma vez conheci o Padre Zezinho... padre tá. Foi num hipermercado aqui de BH. Ele estava sozinho numa mesa, então comprei um CD dele, e fui pedir para autografar pra minha avó. Começamos a conversar e ele me disse uma coisa que nunca vou esquecer. Que devemos respeitar todas as religiões do mundo, porque, apesar de caminhos diferentes, todas tem um mesmo destino. Deus. Amei sua sabedoria! Pô, custa as pessoas buscarem o melhor de cada um?
Lisa sorri ao ver o entusiasmo com que Mari defende suas ideias. Era teimosa, não aceitava com facilidade opiniões diferentes da sua. Mas, reconhecendo a veracidade dos argumentos, recua e pensa, analisando cada palavra dita. Adorava sua agilidade de raciocínio.
Mari percebe o olhar de Lisa sobre si e, envergonhada, percebe que se exaltara em suas falas.
- Desculpe Li... e que... eu adoro falar desse assunto.
- Que isso Mari...estou adorando debater com você. - Segura-lhe a mão com carinho por cima da mesa. Sente uma eletricidade lhe percorrer o braço e levanta os olhos para Mari. Esta, percebendo o momento, lhe acaricia com o polegar o topo do pulso. Se Lisa considerasse que estava cruzando a linha ao tocá-la assim lhe diria. Mas, em vez disso, pareceu gostar do gesto.
- Eu que agradeço Li... - Os belos olhos verdes escurecem. Lisa sente o coração bater forte. Sempre assim.
- Her... mas... quem é a jovem que estava com você no campus?
- Sheila?
- Hã-hã. - Lisa faz um ar indiferente e puxa a mão, se soltando de Mari, que se endireita na cadeira.
- Uma amiga, Lisa.
- Amiga...sei. Como eu sou amiga!
- Lisa? Tá com ciumes? - Mari sorri alegre.
- Ciumes? Somos amigas Mari! Nada a ver. É...só curiosidade.
- Bom... É amiga sim. Como eu e você, ok.
Lisa sente o sangue subir ao rosto.
- Quer dizer que já se declarou a ela tambem?
Mari a olha surpresa.
- Claro que não Li! Oie! Foi você que pediu para sermos amigas! Não to te entendendo. Ela é minha amiga sim.
- Sei não... me pareceu lésbica. - Lisa a olha agora já mais calma.
- Mas ela é lésbica.
O coração de Lisa se oprime.
- Ela...é?
- Assumidassa! Adoro isso nela! - Mari sorri orgulhosa da amiga.
- Também sou!
Mari olha Lisa surpresa.
- Sei que é, amor. - Segura novamente a mão de Lisa, desta vez lhe acariciando a palma da mão - Você é meu exemplo, meu maior exemplo.
Lisa treme ao ser chamada por um termo tão carinhoso. Amor...
- Ela te chamou de bela.
Mari ri divertida e solta a mão de Lisa, que sente esta se esfriar, sem o calor da outra.
- Todos me chamam de Bela na faculdade. Já acostumei.
- Você realmente é linda Mari...
- Nem acho tanto. O cabelo preto com os olhos verdes que dão impacto.
- Não é não. Você é linda mesmo. Como sua mãe.
Mariana não consegue esconder o desagrado com a comparação.
- Sempre me compara com minha mãe né, Lisa.
- De forma nenhuma Mari. Foi só um comentário. Vocês são totalmente diferentes. Ambas são muito bonitas e você não pode negar que puxou muitas coisas dela. Mas parecidas... não. Não são mesmo.
Mari a olha fixadamente.
- Li... você conheceu meu pai não conheceu?
Lisa a olha surpresa. Nunca imaginara conversar sobre isso.
- Sim... eu conheci.
- Como...ele era?
- Sua mãe nunca falou disso com você?
- Quando tento, ela diz que meu pai é o Carlos. - Levanta as mãos impotente.
- E tem curiosidade de conhecer um homem que nunca quis saber de você?
- Li... Ai Li, eu sei disso. Mas sim, queria saber um pouco dele.
Lisa a olha séria. Mari sustenta o olhar firme.
- Ok... olha, seu pai não era gente boa, não. Nunca gostei dele, mas sua mãe não queria ver seus defeitos. Estava deslumbrada com ele, com seu físico.
- Ele era bonito?
- Sim Mari... ele era lindo fisicamente. Loiro, alto. Beleza ele tinha. - Olha Mari delicada. - Você tem os olhos dele.
- Verdes?
- Sim... Se chamava Daniel. Mais que isso, só sua mãe pode falar Mari.
- Tudo bem...
Desta vez, Lisa quem pega na mão de Mari.
- Só que você é linda Mari... Bela, por dentro e por fora.
Tentando disfarçar os olhos lacrimejantes, Mari tenta se soltar de Lisa brincando.
- Ah não!! Você tambem me chama de Bela agora!
- Eu gostei. Combina com você. - Seu olhar é tao cheio de carinho que Mari se aquieta – Bela...
Sentindo a mudança de ambiente entre elas, Lisa busca mudar o assunto.
- Mas deixe lhe contar uma grande novidade!
- Hum... - Mari ainda se sentia anestesiada pelo olhar de Lisa.
- Fui chamada pela clinica que me interessei em trabalhar!
- Mentira!
- Verdade!
- Parabéns Li!!!
Mariana empolgada se ergue da mesa, a contorna, e abraça Lisa.
- Você merece! Merece tudo!
- Obrigada querida... eu... obrigada. - Lisa estava tensa, com o desejo despertado pelo abraço.
As duas se soltam lentamente. Mari, devagar, volta a seu lugar.
'Paciência, Mari.. paciência'

Lisa caminha cansada até sua sala na clinica. Trabalhar numa clinica de reabilitação para idosos era um desafio, já que nunca trabalhara realmente com a terceira idade. Mas a noticia que uma de suas pacientes falecera de ataque cardíaco minara suas forças. Amanda era uma senhora de oitenta anos, tão cheia de vida, tão risonha, alegre! Durante dois meses fora a alegria da clinica. Quebrara o fêmur, mas não se deixara abater pela imobilidade. 'Fogo...nunca vou saber lidar bem com a morte.'
Dois meses... põe a mão sobre o queixo... o tempo passa depressa. Espreguiça e pega sua ficha de recados. Logo um sorriso desponta em seus lábios. Mariana ligara.

-Eu não conseguiria Lisa. Trabalhar com a terceira idade é muito difícil. Parece que você só fica esperando a morte deles chegar. Eu ficaria o tempo todo pensando... amanha pode não estar aqui. E eles então. Deve ser muito difícil viver sabendo que o amanha pode não chegar.
-Mari, não é assim. As pessoas mais velhas te passam um amor pela vida impressionante. Eu me surpreendo todo dia com eles. Sabe o que me disse uma senhora um dia desses? Que diferente do que pensam os jovens, os velhos valorizam demais a vida. Porque eles encaram cada dia vivido como um presente de Deus, muito valorizado. E vivem plenamente este dia.
-Nunca pensei assim...
-Pois é... esse nosso imediatismo que nos tira o prazer de perceber as pequenas coisas da vida e...

Sorri, já com a mente de volta ao presente. Mari, mesmo por pensamentos, lhe fazia sentir melhor. Adorava conversar com ela. Pega o celular.
- Bela?
- Oi Li! Tranquilo?
- Não muito querida. Perdi uma paciente que adorava.
- Poxa Li...lamento mesmo.
- Eu sei... Vem cá, vamos dar uma volta mais tarde?
- Ih Li, não vou poder... eu... tenho um compromisso.
Lisa tenta esconder a decepção na voz.
- Mesmo? Que pena, mas... fica pra próxima.
- Isso. Lamento mesmo sua perda Li.
- Tudo bem querida... eu... bom encontro.
- Obrigada. Tchau.
- Tchau...
Um encontro...

Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.

4 comentários:

  1. Hii...não curti esse encontro no final....

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  2. Como assim encontro????????????????????????????

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  3. muiiiiito Bom..
    a Lisa com ciumes é otimoooo..
    adoreiii..

    bjão

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  4. hahahha ai gnt... esse encontro nem deve ser nadaa demaiss rsrs deve ser p cutucar... pq a Lisa com ciumes é uma coisinha hahaha
    deveria virar livrooo
    beeijooo

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