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sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Capítulo XX

Lisa caminhou lentamente em direção à porta de seu quarto. Passou por Junior e entrou no ambiente tão familiar, mas que naquele momento a fazia sentir-se como que indo para a forca. A seriedade de seu irmão a fazia perceber que o assunto era sério e que tinha tudo, mas tudo mesmo, a ver com ela. “Seja otimista, Lisa” pensou. “Ele não vai falar de você e muito menos sobre o assunto que imagina”
 - Bom, Ju, cá estou. Aconteceu algo? Quer ajuda em alguma coisa? Conselho? Sei lá, parece urgente, hein!? – sorriu meio sem graça, coçando a cabeça.
- Lisa, já disse que comigo está tudo beleza. É sobre você que quero falar – olhou-a meio cauteloso. – Há muito tempo adio este papo com você, mas ultimamente tô te sentindo muito angustiada.
Lisa engoliu seco. Junior sempre fora muito observador e isso era, no momento, algo que a assustava muito.
- Eu... Tô com uns problemas ai... Mas resolvo, fica tranquilo - Passou a mão pela testa.
- E esses problemas têm a ver com o papo que quer ter com mamãe? Ou... com o telefonema de agora a pouco?
- Mamãe? O telefonema? O... o telefonema... Ju... uai... era a Jô... a Joyce... eu... bom era a Joyce... que é isso? - perguntou Lisa, empalidecendo um pouco.
- Lisa... mana – Junior se aproximou da irmã e segurou sua mão. - Senta aqui. - Sentou-se na cama com ela. - Lisa há muito tempo tô sacando você e Jô - Olha sério para a irmã.
- Eu... e Jô? Como assim? Que é isso? Eu não tô te entendendo, não - Lisa tentou se levantar da cama, mas o irmão a segurou. Sentia uma angustia enorme no coração. “Este papo é com a dona Paula e não Junior! Meu Deus, isso não tá acontecendo”.
- Lisa... conversa comigo. Sou teu irmão. Eu tô preocupado com esse papo que vai levar com a mãe.
Ela o observou calada, com um bolo se formando rapidamente em sua garganta. Abriu a boca para tentar dizer algo, mas não conseguiu pronunciar uma palavra sequer.
- Ok mana, se não vai dizer nada falo eu – virou-se de frente para ela. – Lisa, você sabe de toda a paixão louca que tive por Joyce. Mesmo me propondo a esquecê-la eu ainda, por muito tempo, tive ela aqui - apontou para o próprio coração. – Mas já não tinha esperanças de tê-la. Mesmo assim, eu adorava cada vez que ela vinha aqui. Só a presença dela me deixava feliz. Passei numa loucura bem boba, diga-se de passagem, a observá-la escondido - balançou a cabeça meio inconformado. – Pô, ela cada dia mais gata, bonita... eu ficava doido. E isso não me deixava ver o que tava ali na minha cara – olhou-a, agora sério e condescendente. Lisa sentiu o coração dar uma parada e segurou o peito com a mão. “Vou enfartar... é hoje”.
- Eu... eu não tô entendendo porque tá me dizendo tudo isso...
- Lisa, tudo era desculpa, entende? Eu queria estar assim, no mesmo ambiente que ela. Junior soltou a mão da irmã e se levantou da cama. Caminhou lentamente pelo quarto, aumentando a angustia de Lisa com seu silêncio. Virou-se repentinamente para ela. - Eu vi você e Jô.
- Hã?? – Lisa empalideceu.
- Eu vi você e Jô – repetiu como a falar com uma criança.
- Viu... viu... como?
- Lá na área... Fui atrás de vocês e não estavam – olhou-a constrangido e... com algo no olhar similar à pena. – Mana, quando achei vocês... vocês... estavam atrás da parede da dispensa...
- PÁRA!!! Para, Junior! - Lisa ergueu-se apavorada da cama. - Você viu errado! Não é isso que pensa! Eu... Que isso! Eu... NÃO QUERO FALAR DISSO - gritou, enquanto passava a mão nervosamente pelo cabelo e apertava a testa. – Deus... Deus... Deus...
Junior caminhou até ela para segurar suas mãos.
- Quando vi aquilo, Li, eu não acreditei. Bateu uma raiva enorme. Senti meio que traído, sei lá. Eu achando que você estava me apoiando pra ficar com ela... E quem estava era você!
- NÃO! Eu... não, Ju, quando você me contou tudo eu não tava com ela!! Foi depois!! – arregalou os olhos e tapou a boca quando percebeu o que gritara. Junior a olhou entristecido.
- Bem Li, já não importa muito não é!? Mas na época... cara... doeu muito. Fui pro quarto planejando mil formas de fazer todos descobrirem vocês. Senti muita raiva... Mas depois, já na sala, vendo vocês... o carinho... sei lá... Eu fiquei meio perdido. Decidi me calar. E fui observando. Cada gesto, cada olhar. Mana, vocês não disfarçavam. Só cego não via. - passou a mão nos cabelos. – Aqui em casa a gente não via maldade por que... Pô, nós vimos vocês crescerem juntas, né.
Lisa já não falava, não retrucava. Sentia um sufocamento por dentro, uma sensação angustiante, como se uma mão lhe apertasse o coração. Baixou a cabeça, escondendo o rosto com as mãos.
- Lisa... agora que vem o pior – ela olhou angustiada para ele.
- Pi... Pior?
- Li, mesmo decidindo me calar... eu... tava puto. Eu andava revoltado e você nem percebia de tão envolvida que estava com ela. Mas a mãe... você sabe que ela... bom, ela vê tudo.
- Ahhh, não! Junior, diz que não!
- Eu contei a ela Li... eu contei...
- Aii... - apertou o rosto, ainda mais angustiada.
- Ela, claro, não acreditou... disse que eu tinha visto errado, que vocês eram só amigas e que o assunto morria ali. Eu me calei e, a partir dali, o assunto morreu. Pus a cabeça no lugar, decidi que ia viver minha vida. Com o tempo passei a sentir pena... pena de vocês... pena da situação de vocês.
Lisa quase não o ouvia. A mãe sabia. Preferia fingir que não sabia, acreditar que não era verdade... Mas sabia. “Vou me matar”
- Lisa... Lisa! - ela o olhou perdida. Sentiu uma raiva repentina invadir seu peito.
- Sai daqui, Junior!
- Não, Lisa
- Sai agora!!!
- Não, Lisa, não acabei! – segurou-a nos braços. – Lisa, quando disse que sinto pena, não é só pelo envolvimento de vocês.
- Sai Junior!! - Lisa gritou, tentando se soltar dos braços do irmão.
- Tenho pena de você, Lisa!!! De você! Porque a Joyce gosta de homem! Ela gosta de homem Lisa! - grita lhe dando um arranque com os braços fazendo-a se calar e olhá-lo em choque.
- NÃOO! Você quer me magoar, ferir porque acha que te sacaneei! Não sacaneei, cara! Para com isso!
- Lisa! Você que não quer ver! Eu a beijei, droga! Ela gostou. Mesmo não querendo, ela gostou! E ela nunca deixou de olhar os caras! Lisa acorda, ela sempre fez charminho pra eles mesmo não indo em frente. LISA, ela faz charme pra mim!!!
- É o jeito dela!!! Ela sempre foi assim Junior! Que é isso?? Nunca me traiu, não!
- Você faz isso? Fala! Faz?
- PÁRA!!
- O que acontece aí dentro???
A voz da mãe por trás da porta fez com que se calassem. Olhavam-se medindo forças, até que Lisa desviou os olhos e respondeu à mãe.
- Está... tudo bem, mãe. Eu... Junior... estamos conversando.
- Me deixem entrar!
- Não mãe, não. O Junior... já tá de saída. – olhou o irmão impondo que este se retirasse de seu quarto. Junior sentiu a tristeza tomar conta de si. Não era assim que queria que as coisas terminassem.
- Tudo bem Lisa, eu vou - caminhou até a porta e, ao segurar a maçaneta, novamente a olhou. – Eu não sou seu inimigo, Lisa. Quis te alertar, só isso. Posso ter feito errado, fui emotivo, deixei um pouco da mágoa tomar conta. Mas... te quero bem e na boa, você merece mais. Não importa suas escolhas... você merece mais - abriu a porta, olhou a mãe e segurou seu braço sorrindo meio triste. - Vem mãe, eu disse umas coisas à Lisa e ela precisa pensar. Vem comigo.
A mãe o seguiu séria. Mais tarde falaria com Lisa.
- O que fez Junior? O que disse?
 - A verdade, mãe... A verdade – beijou-lhe o rosto e caminha em direção ao próprio quarto. Apesar de tudo se sentia leve. Fizera o certo.
Dentro do quarto, Lisa continuava em choque. Seu mundo virara de cabeça para baixo. Ele sabia... A mãe sabia... Quem mais saberia?? Sentou-se na cama e tentou esvaziar a mente. Não queria pensar... só ficar ali... Quieta... Vazia... Vazia... Vazia...

Joyce desligou o telefone em pânico. “Isso é uma merda!! Só acontece comigo! E agora? Que vou fazer?”
- Mamãe... você ficou de ler uma estória pra mim – Joyce virou-se para a porta e viu Mariana segurando o urso tão amado, dado por Lisa aliás, olhando-a em expectativa.
- Eu... agora não Mariana. Mamãe tá com um problema e precisa pensar.
- Mas você prometeu!!
- Eu disse não, Mariana!! Vá deitar.
- Cadê sua palavra? Você vive me dizendo que tenho que fazer tudo que digo que vou fazer.
- Marianaa!! Eu tô com problema!! Entendeu? Não tô com cabeça pra ler historinha! Que m... coisa!!!
- Por que tá gritando? Não fiz nada, mamãe.
- Eu... ARRE! Se não sai você, saio eu! – Joyce saiu pisando duro da sala, passando pela mãe que vinha pelo corredor. - Não diga nada!!! Se quer ler a estória para ela fique à vontade. Quero ficar só!! Só isso!! Uns minutos! É pedir muito???
- Eu não disse nada, Jô – A mãe a olhou de lado. – Vem, Mari, mamãe está nervosa. Vem que vovó te lê a estória.
No quarto, Joyce não conseguia parar de andar de um lado ao outro. “Vamos, Jô sai dessa... Vai sai dessa”, bateu a mão na testa “SAI DESSA!”. “Preciso de uma saída. Vamos pensar... merda! É só eu resolver dar uma volta e acontece isso. Lisa é foda! Como vou dizer a ela que não vou a festa porque vou sair com... um cara!!!”. Jogou-se em pânico sobre a cama, abraçando o travesseiro. “Ah, mas vou sair sim! A Li que me desculpe, mas poxa... É um passeio diferente, não tô fazendo nada errado. Isso! Nada errado. A merda é que não posso contar pra ela que logo vai pensar besteira.” Sua mente vagou para o rapaz... Relembrou a trombada que deram, ele segurando sua mão, se sentando em sua mesa. Sentiu-se tão bem!! “Poxa, isso não é errado! Não é mesmo! Gostei dele, é legal! Ai que droga!! Que faço? Que droga!”

Sexta feira chegou ensolarada! Em nada combinava com o astral de Lisa e Joyce. Lisa evitou todas as formas encontrar sua mãe. Ela, ostensivamente, virava a cara para Junior. Até de seu pai preferia fugir. Só do leso do Nando, sempre alheio, não tinha motivos para evitar. Não era preciso, ele nunca estava em casa mesmo. Sua angustia aumentava ainda mais com a ausência de Jô. Desde quarta feira, o dia do telefonema, elas não tinham se falado. Sempre que ligava, não conseguia falar com ela. Fora à sua casa e realmente ela não estava. Mari disse que a mãe estava muito brava e que o melhor era ela não ir mesmo lá. Que a mãe estava igual à madrasta da Branca de Neve e os Sete Anões. E que ela e a avó eram os anãozinhos. Lisa riu e perguntou por que ela não era a Branca de Neve. A resposta veio certeira: “Que é isso, Li, ela é muito boba e branquela! Além do que, detesto maçã!” Lisa balançou a cabeça e riu. Apesar da pouca idade, Mariana tinha tiradas ótimas. Logo, porém, ficou séria, pôs a mão na testa e a esfregou.
 "Nossa, desde quando minha vida virou esta confusão?”

Joyce olhou o lindo dia pela janela da sala. “Linda sexta” pensou irônica “tudo a ver com meu lindo astral”. Apoia a cabeça na mesa, não tinha mais como evitar falar com Lisa. Já pensara numa desculpa, mas sentia dentro de si uma pontada... na verdade um rombo de culpa pelo que estava fazendo. Ao mesmo tempo, entretanto, uma ânsia louca de rever Carlos a assolava cada vez que pensava nele. Ergueu a cabeça. “Seja o que Deus quiser. Bola pra frente, que atrás vem gente! Os fins justificam os meios! Não deixe passar a oportunidade, pois ela não volta mais! Caminhe sempre contrário à forca!” pôs a mão na boca, mordeu os dedos e gemeu baixinho... “Ai Jô, você tá na forca!!”

 A primeira e pior de todas as fraudes é enganar-se a si mesmo. Depois disto, todo o pecado é fácil.
(J. Bailey)

3 comentários:

  1. AMEEEIIII
    continuuuuaaa
    xD
    beeem matei um poko da curiosidade.
    mas to loca pra ler o proximo capitulo.
    bjoo

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  2. Ai ta maravilhoso seu conto, mas por favor n demora tanto assim pra postar n, fico mto ansiosa...rs
    To adorando!
    Bjao

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